13º Instituto Remanescência escrita por Vico


Capítulo 4
Capítulo 4 - Planos




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Os garotos descem a escada. Um lance e depois o outro. Viram à esquerda e correm pelo caminho paralelo ao Bloco C. Do seu lado esquerdo, as janelas do edifício passam por eles a toda velocidade. Do lado direito, as pequenas árvores voam no sentido inverso ao que eles seguem. O lago que está à direita dos garotos não aparenta sair do lugar, devido ao seu tamanho. Na frente, Cláudio, correndo tão rápido que parecia dar passos com os dois pés ao mesmo tempo. Sua pele negra adquirindo cada vez mais um tom avermelhado, fazendo-o parecer um índio de negros cabelos ondulados fugindo de uma onça pintada. Vitor um pouco atrás e mais para a direita, também rubro devido ao esforço que fazia para fugir daquelas criaturas. Seus cabelos escuros e lisos desenhavam ondas no ar, como uma mancha de petróleo boiando sobre um mar de ventos. Mais atrás, Vico. Seus cabelos curtos e crespos não pareciam se movimentar com a corrida. Sua pele bronzeada brilhava à luz dos pequenos postes que passavam à sua direita a todo vapor.

Os três garotos estavam em uma formação de triângulo isósceles, com Vico sendo o vértice que ligava os dois maiores lados do triângulo. Estava atrasado e temia ficar cada vez mais para trás. Vico tropeçou uma vez e quase caiu, mas se equilibrou e retomou a corrida.

Quando os três estavam quase no fim do Bloco C, chegando ao Bloco E para subir a escada que ficava exatamente no encontro entre os dois blocos, Vico olha para trás e vê que os cinco Cranks acabaram de descer a escada e tinham começado a correr rentes ao Bloco C. Todos ainda gritando e gargalhando alto. Vico não podia deixar de imaginar o caos que seria se aquele momento fosse uma manhã de algum dia da semana que não fosse o Sábado ou o Domingo, quando aquela área do Instituto estaria cheia de estudantes.

Cláudio e Vitor pisam nos primeiros degraus da escada, logo em seguida Vico faz o mesmo. Perdeu de vista os Cranks e agora tinha em mente apenas uma missão. Subir a escada, virar o corredor, correr até a sala e entrar antes que os Cranks possam vê-lo novamente. Os garotos sobem os dois lances da escada e viram à esquerda, para irem de volta à sala onde os outros estão. Aquele momento é o mais tenso. Eles precisavam correr o mais rápido possível, para não estarem mais no corredor do Bloco C quando os Cranks chegarem ali.

Os garotos correm no início do corredor. Dos dois lados parapeitos que evitavam que as pessoas caíssem no térreo, onde havia salas de laboratórios de mecânica que tinham o teto no mesmo nível do teto do primeiro andar. Vico aproveitou para olhar as sala da esquerda e ver através de suas janelas. Os Cranks ainda não haviam chegado ali. Os garotos continuam correndo, até que chegam à parte onde começam as salas do primeiro andar e não é mais possível ver as salas debaixo. Passam por várias portas e chegam à última do lado esquerdo. Cláudio abre a maçaneta e irrompe no local com violência. Vitor faz o mesmo. Antes de Vico entrar na sala, ele olha para trás e vê sombras vindas da escada chegarem ao corredor, mas não corpos.

Ele fecha a porta silenciosamente e toma um grande gole de ar.

– Não nos viram! - fala ele ofegante - Ainda não haviam chegado aqui em cima.

– Vocês podiam ter entrado com mais cautela! - reclama Thaís - Quase nos mataram de susto.

– E aquelas coisas quase nos mataram! - retruca Cláudio.

– Não tínhamos tempo para sutilezas. - diz Vitor.

– Mas e agora, o que a gente faz? - pergunta Rafaela.

Vico identifica as vozes que falam, mas não consegue enxergar nada. A sala está um breu. O cômodo tem quatro grandes mesas dispostas de maneira a formarem um "C" e rodeadas por cadeiras acolchoadas. Nas paredes, vários armários com livros e outros objetos para realização de experimentos físicos. No centro, uma mesa menor com formato de "L" e uma única cadeira, maior que as demais; é a mesa do professor. Na parede em que fica a porta, há um quadro digital e algumas estantes com livros, computadores e workpads.

Cláudio pega uma das mesas com a ajuda de Jonathan e começa a levá-la em direção à porta.

– Precisamos primeiro bloquear a entrada. Depois discutimos o que fazer. - ele diz.

Todos concordam e se afastam da porta. Os jovens se reúnem no centro da sala, exceto por Jurandir, um garoto baixinho que decide ficar embaixo da mesa olhando pela fresta da porta se algum pé caminha pela frente da sala. Alguém abre um pouco as cortinas persianas, de maneira a fazer a sala ganhar um mínimo de iluminação provinda do crepúsculo e dos postes lá fora.

– Quem está aqui? - pergunta Luiz.

Os garotos vão se identificando e são contabilizadas quinze pessoas, o que significava que cinco pessoas haviam fugido para outro lugar e uma era Suzy, que não conseguiu escapar. Eles dizem seus nomes um a um. Vico, Vitor, Cláudio, Thaís, Rafaela, Juliana, Fernanda, Jonathan, Luiz, Débora Costa, Eliza, Eneri, Heloísa, Jurandir, Leandro e Maynara.

– Quem não está aqui são Rayane, Luana, Débora Santos, Bia e Joana. - conclui Vico. - Elas devem ter corrido para o outro feixe de salas no momento da fuga.

– Pelo menos sabemos que os cinco malucos não as seguiram. - pondera Eneri.

Vico não conseguia imaginar como Eneri conseguia ficar tranquila. Como conseguia chamar aquelas aberrações de "malucos". Coragem era algo que não se esperava de uma menina com aparência tão doce, de cabelos loiros e ondulados e pele branca. A pequena estatura e as bochechas rosadas a faziam parecer uma criança.

– Esse laboratório tem muitas coisas que podemos usar como armas. - diz Vitor.

– Não tem os bons e velhos ácidos com os quais sabemos lidar tão bem. - replica Thaís.

– Precisamos formular um plano mais concreto. - diz Débora Costa.

– Pessoal, o Quartel General fica logo ao lado da escola. Os militares podem nos ajudar. - diz Leandro.

– Isso me lembra do quão estranhas estão as coisas. Como esses Cranks vieram parar aqui, no fim da cidade, sem aviso? Como eles passaram pela entrada, percorreram toda a cidade para chegar aqui e nenhuma notícia foi passada à população? - reflete Thaís.

– Será que os militares estão enfrentando um problema bem maior na entrada e esses poucos Cranks conseguiram chegar aqui despercebidos? - pergunta Fernanda.

– Não faz sentido. Se tivesse acontecido uma invasão a prefeitura e o Instituto seriam os primeiros a tomar conhecimento do caso e os primeiros a fugir. - responde Leandro.

– Precisamos de respostas. - diz Heloísa.

Aquela frase vinda da tímida garota de volumosos cabelos cacheados e óculos, alguém que não costuma falar com outras pessoas, exceto com Eneri, resumia a vida de todos no momento. Eles precisam de respostas.

– E chaves! - diz Vico. - Precisamos de chaves também!

As pessoas não entendem o que ele quis dizer. E logo ele precisa se explicar.

– Precisamos de chaves para conseguirmos as respostas e para conseguirmos afugentar esses caras nojentos. Precisamos de chaves para irmos ao almoxarifado pegar os ácidos. Precisamos de chaves para irmos às salas do Bloco A procurar pelos administradores e encontrarmos respostas com eles.

– Aqueles Cranks estavam muito bem vestidos. E eles vieram do Bloco A. Não tenho muita fé de que os administradores estejam bem. - diz Thaís.

– Sem contar que não há muitos administradores trabalhando nesse horário. Vai ser difícil encontrar algum que esteja vivo. - fala Débora de uma maneira que soa cruel, mesmo não sendo sua intenção.

– Precisamos mesmo é sair dessa escola! Eu não estou gostando nada do que está acontecendo por aqui! - pondera Maynara, nervosa com a situação.

– Agora me respondam uma coisa: por que essa sala estava aberta e com as luzes acessas? - pergunta Vitor.

– Provavelmente o professor fugiu ao ouvir a movimentação. - responde Fernanda.

– Mas a chave estava do lado de fora da porta quando chegamos aqui. E poderíamos ter visto o professor fugindo se ele tivesse corrido no momento da agitação. Eu tenho a leve impressão de que o professor fugiu antes de nós. - supõe Juliana.

– Você está supondo que ele sabia de alguma coisa? - pergunta Thaís.

Antes que Juliana pudesse responder, todos escutam uma batida. Depois ouvem Jurandir reclamando baixinho como se sentisse dor. Ele batera a cabeça na mesa quando estava saindo de debaixo dela. Ele se aproxima do grupo com certa velocidade e sutileza, ainda massageando o ponto onde havia se machucado.

– Tem dois pés bem na frente da porta! - ele sussurra para o grupo com cara de espanto.


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