13º Instituto Remanescência escrita por Vico


Capítulo 13
Capítulo 13 - Quinto boxe




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Os garotos ficaram ali. Parados. Se entreolhando. O barulho era ensurdecedor e logo passou a incomodar o grupo.

— O que é isso? - pergunta Juliana.

Ninguém fala nada, mas o olhar de cada um serve de resposta. Ninguém entende o que está acontecendo.

— É lá fora. Me sinto mal em ficar aqui sem saber o que está acontecendo. É mais inteligente descobrir. Vamos sair da sala agora. Sejamos todos cuidadosos. - sugere Cláudio.

— Tem certeza que é uma boa sair daqui? - pergunta Juliana. - Não parece seguro.

— Iríamos fazer isso de toda forma. E não podemos ficar sem entender mais uma coisa em toda essa história. Cada informação é crucial. - o garoto responde.

Apesar de apreensivos, todos concordam e se preparam para sair. Jurandir e Leandro afastam o birô e abrem a porta. Os garotos saem da sala um a um e se reúnem no corredor à frente. Olham em todas as direções, tanto para procurar eventuais Cranks quanto para descobrir o que era todo aquele barulho.

Não foi difícil encontrar a origem do som. Ao olhar para a cerca que fica na parte da frente da escola, a aproximadamente duzentos metros, todos viram uma enorme parede de metal se elevando. Já atingia cinco metros de altura.

— O que significa isso? - pergunta Juliana confusa.

— Droga! Estão elevando a muralha que fica ao redor de toda a escola! - diz Adrielly. - Ela foi feita para impedir que ameaças entrassem na escola. Se alguém pensava em sair pelos portões... Sinto avisar que essa opção não é mais viável.

— As coisas devem estar feias lá fora. - diz Jurandir.

— Eu discordo. - fala Vitor logo em seguida.

Jurandir não entende o que Vitor quis dizer, mas ele logo se explica.

— As coisas estão feias aqui dentro. Não querem que o que está aqui dentro saia.

— Por isso o professor tinha pressa! Ele sabia que iam selar a escola! - diz Juliana.

— Seria bom encontrá-lo e fazê-lo explicar o que está acontecendo. Ele com certeza sabe de muita coisa, mas duvido que queira bater um papo com a gente depois do que aconteceu. - diz Cláudio.

— Foi culpa daquele imbecil! Ninguém aqui fez nada! - Eliza fala com revolta.

— Façam um pouco de silêncio. - pede Adrielly. Todos falavam muito alto para superar os ruídos metálicos. - Pelo que eu e Andreia estudamos, quando a muralha chegar a dez metros de altura, algo incrível vai acontecer.

Os garotos ficam sem entender. Mas apenas continuam olhando para a muralha. Depois de cerca de um minuto, acontece o que os garotos supõem ser o que Adrielly mencionara. Saem vapores da muralha e em um piscar de olhos um grande turbilhão de chamas parte do chão até além do muro de metal.

— Espero que o vírus não tenha conseguido chegar lá fora. - torce Andreia.

— É difícil, a muralha demorou para começar a ser erguida. Mas com certeza devem ter instaurado o Código Negro em todo o Polo. Vão dar um jeito de evitar contaminações. - Adrielly conforta a amiga.

— Então quer dizer que a ameaça surgiu daqui de dentro da escola. Essa é a informação mais importante que temos. - diz Cláudio.

— Ao que tudo indica, sim. - diz Vitor.

— Ou as coisas estão ainda piores lá fora... - pondera Juliana.

A discussão é interrompida quando Maynara se assusta com algo, mas se controla e se mantém em silêncio. A garota apenas aponta para o local de onde vieram correndo, perto da escada com os armários. A muralha continuava subindo e fazendo muito barulho, mas era possível ouvir gritos e batidas de dentro da escada. Contudo, o que Maynara apontou não estava na escada. Havia sombras de muitas pessoas no fim do corredor.

— Podem ser pessoas normais. Outros sobreviventes. Mas eu prefiro achar que são Cranks loucos querendo a nossa carne. Corram discretamente, talvez não tenham nos visto por causa do escuro. - Jurandir sugere essa fuga e todos parecem concordar.

Os garotos se apressam e correm. Nem poderiam saber se estavam sendo perseguidos, pois não conseguiam enxergar ou ouvir direito. Quando iam dobrar a esquina para o Bloco A, uma colisão os atrapalha. Pessoas se chocam contra os jovens. Não demora para perceberem a loucura e terem certeza de que eram Cranks provavelmente assustados com a muralha em ascensão.

O caos se instaura ainda mais no ambiente. Alguns garotos caem, outros mudam o rumo, outros tentam auxiliar os caídos, outros tentam se livrar de Cranks furiosos. Não é possível identificar as pessoas naquela situação.

*

Na confusão, Eliza vai para dentro do corredor escuro do Bloco F. Ela tenta abrir algumas salas, mas elas estão trancadas. Tateia pela parede até encontrar a porta de um banheiro, o qual ela não sabia se era feminino ou masculino. Ao entrar, a garota acende um Workpad que carregava e ilumina o local, abre as portas das divisórias sanitárias um a um para verificar se havia alguém. Ela abre todos e entra no último, trancando-o. Fica ali, durante um bom tempo. O barulho das muralhas haviam cessado, mas a tensão fez Eliza perceber tardiamente a mudança, não sabendo há quanto tempo tudo havia parado.

Tudo estava em silêncio. Era possível ouvir o som de gotas em algum lugar do banheiro. Distante dali, notava-se o som de gritos. Eliza ficou parada, nervosa. O Workpad apagado. Seu corpo estava encostado na parede e recolhido. Sua respiração estava ofegante, mas a garota fazia o máximo para mantê-la silenciosa. Mais alguns gritos soaram em seus ouvidos, aliados a certas risadas. Alguns segundos depois Eliza ouve uma única risada, contudo mais próxima que as outras.

O som vai se aproximando cada vez mais, aumentando gradativamente o pânico de Eliza. A risada parecia ser emitida por alguém que não abria a boca para gargalhar, pois era um som nitidamente vindo da garganta.

— Olá! Eu acho que você entrou aqui!

Eliza estremece ao ouvir a frase dita por um homem que com certeza já estava dentro do banheiro. Ela escuta uma batida em madeira, seguida de um barulho mais alto de impacto entre madeira e mármore. O homem havia empurrado com toda a força a porta da primeira divisória sanitária.

— Você não está nesse. Vou continuar procurando. - diz o homem cantarolando e entre suas risadas típicas.

Eliza respira fundo e incorpora sua típica personalidade destemida. Não podia fraquejar em um momento de vida ou morte.

Mais uma pancada.

— Você se esconde bem!

Ouve-se uma terceira batida.

— Onde será que você está?

Só havia cinco boxes no banheiro e Eliza sabia que só faltava mais um até que o homem chegasse ao dela. Estava se preparando para revidar no momento certo.

De repente, uma batida. A porta bate com tudo no mármore da divisória.

— Eu sabia! No último! - diz o homem com um sorriso que podia ser enxergado mesmo no escuro. Ele havia pulado um boxe e ido direto ao quinto, onde Eliza estava. Isso a deixou desestruturada, pois ela não previa que ele chegaria até ela tão cedo. No segundo seguinte, o homem diz uma frase que assusta a garota:

— Me sinto incrível por ter conseguido te identificar. Mas como eu iria me esquecer de você? Aliás, acho que está na hora de pedir desculpas, Eliza! - depois disso, um som forte de um zumbido, como se uma broca girasse em uma furadeira movida a bateria.

**

Distante dali, Leandro, Jurandir, Maynara e Heloísa fogem de alguns Cranks. Os quatro também se separaram do grupo, por terem pego um caminho diferente. Estavam indo ao Bloco A, para procurar o Transportal, porém, pegaram o caminho pelo exterior do bloco, para entrarem direto pela entrada que dava na escada para a parte superior. O caminho por fora do bloco era largo, pois havia uma parte da rua que levava do estacionamento até o ginásio nos fundos da escola. Além da rua, havia também um estacionamento menor perto de vários espaços abertos com gramas e arbustos floridos. Ali os garotos poderiam ver melhor as ameaças, embora também pudessem ser vistos com maior facilidade.

— Vamos subir as escadas e encontrar os outros lá em cima! Não se preocupem! - diz Leandro.

— A gente devia ter ido por dentro do bloco! - diz Maynara.

— Seria arriscado! Seria apenas um corredor. Se viessem Cranks pela frente, ficaríamos presos. - responde Leandro.

— Boas notícias! Não tô vendo ninguém atrás de nós! Nem mesmo Cranks. - Jurandir fala isso no momento em que atravessam a rua embaixo de uma passarela que liga os blocos A e F no primeiro andar.

Depois disso, sobem uma pequena elevação até o estacionamento menor. Havia apenas três carros lá, mas mesmo assim, quando os garotos passam correndo perto deles, um Crank que estava escondido atrás de um dos carros salta contra Heloísa, derrubando-a e ficando por cima dela. Maynara solta um grito, dá um salto para trás e cai assustada. Jurandir imediatamente pega impulso e chuta o Crank na barriga, antes que ele pudesse atacar a garota. O Crank é levemente arremessado para o alto, caindo de costas no chão.

— Fica calma! - Leandro diz a Maynara enquanto oferece suporte a ela.

— É impossível! - ela grita. Leandro entende que é realmente difícil se manter calmo naquela situação.

Jurandir oferece ajuda a Heloísa, que agradece com o olhar. Quando eles estavam se levantando, o Crank foi mais rápido e já se preparava para se lançar contra os dois. Leandro se joga contra as costas dele, fazendo-o cair novamente, batendo, dessa vez, a face no chão de concreto. Leandro tenta se levantar, pegando apoio com os braços. O Crank faz o mesmo, mas logo Jurandir vai em sua direção, lançando-lhe outro chute. Porém, o Crank, dessa vez, segura sua perna e a joga para cima, fazendo Jurandir cair de costas no chão. O impacto fazendo-o sentir uma forte dor na espinha.

Enquanto isso, um Crank se aproxima de Maynara pelas costas, fazendo um barulho com a boca semelhante a um rosnado. A garota nota a presença do Crank e, com o susto, o empurra.

— Sai de perto de mim! - ela grita antes de correr para perto dos garotos, onde Leandro se dirigia ao Crank que já estava muito perto de atacar Jurandir. O Crank estava em pé, pisando sem notar no dedão do pé de Jurandir. O sapato social duro da criatura faz o garoto urrar de dor. Seu dedo havia quebrado.

*

No banheiro, Eliza acende o Workpad, iluminando o local para que pudesse agir. Com a luz, ela repara que o homem é na verdade o professor. Fica espantada, mas logo percebe que ele está completamente louco. Ele não demora e a ataca com a furadeira, mas Eliza desvia com muita habilidade e sorte, fazendo a broca bater na parede de trás, perfurando o azulejo. Ela empurra o professor com o ombro, fazendo-o se chocar com o mármore na lateral.

Eliza aproveita o momento para fugir, mas o professor agilmente puxa sua perna, fazendo a menina cair no chão frio do banheiro. O Workpad é arremessado para longe, embora continue aceso. A garota tenta fugir, mas o professor a segura, prendendo-a com seu corpo. Ele sobe lentamente até o tórax de Eliza, que se debate. O professor senta na barriga da garota e pisa em seus pulsos, imobilizando-a. Pega a furadeira, segura com a mão direita e emite sua risada característica. Ele aperta o botão da furadeira e desce lentamente a arma na direção da testa da garota. Eliza não consegue mais aparentar forte e grita por socorro.

Quando a broca estava a cerca de vinte centímetros de seu rosto, o pedido parece ter mostrado efeito. Alguém entra no banheiro e coloca o pé sobre o rosto de Eliza. No segundo seguinte, o menino se impulsiona com força contra o professor, fazendo-o cair para trás e forçando muito a articulação dos joelhos, que continuaram dobrados. Com o impacto, o professor perde a estabilidade e desce a mão com a furadeira rapidamente. Mas a broca perfura o sapato do que Eliza notou ser um garoto, evitando que o equipamento perfurasse seu rosto. O garoto solta um grunhido de dor, mas mesmo assim continua no trabalho de segurar o professor. Eliza se arrasta pelo chão, para se distanciar dos dois. Com esforço, ela nota que o garoto é na verdade Jonathan.

— Amor! - Fernanda grita ao entrar no banheiro, seguida por Débora. - Eliza!

Débora vai dar suporte a Eliza, enquanto Fernanda segura uma chave de grifo e se dirige até o professor. Jonathan luta contra a dor no pé e contra os braços do professor, evitando que ele consiga mover principalmente o braço cuja mão segura a furadeira. O professor consegue desdobrar uma perna e rapidamente chuta o pé ferido de Jonathan. O garoto se desestabiliza com a dor e o professor aproveita o momento de fraqueza para empurrá-lo para o lado, fazendo-o bater as costas contra o suporte da pia.

No mesmo momento, Fernanda chega perto o suficiente para desferir um forte golpe com a chave contra a testa do homem.

— Desculpe, professor. - ela fala antes de atingi-lo, por se sentir culpada.

O professor faz uma expressão com o rosto que nitidamente responde que ele não a desculpará. Ele move os braços para tentar se defender, mas é tarde. O barulho de um zumbido e de uma batida ressoam pelo local. A chave de grifo estava em parte dentro do crânio do homem.

Todos ficam parados, olhando o homem imóvel, com um ferimento na cabeça e uma atadura no braço direito. Fernanda vai até Jonathan e o abraça. Eliza e Débora se aproximam dos dois para prestarem apoio.

— Seu pé... - diz Fernanda lentamente, antes de perder as forças e cair nos braços de Jonathan. No meio de seu tórax, uma mancha vermelha enorme torna-se notável e aumenta cada vez mais.

— Fernanda! - gritam Débora e Eliza. As duas vão até a menina e tentam estancar o sangue de alguma forma.

— Amor! Não! Isso não é verdade! Você tá bem! Nós vamos ficar bem. Vamos ficar juntos até sairmos desse lugar! - Jonathan começa a se desesperar, passando as mãos ensanguentadas pelo rosto da menina.

— Pelo menos... você vai conseguir... mas... seu pé... - Fernanda tem dificuldades para falar essas palavras. Ela fica ofegante e um som de chiado parece sair de sua respiração. As garotas estavam tentando ajudar, usando a água da pia para umedecer um pedaço da blusa de Eliza para higienizar o ferimento. Débora segurava também um pano seco contra o furo.

— Meu pé está ótimo! Vamos cuidar de você!

— Eu... te... - Fernanda fecha os olhos. Seu rosto cai sobre o peito de Jonathan.

— Amo. - ele termina a frase que Fernanda não conseguiu concluir.


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