A vida fora do plástico escrita por mokoli-me
Da série: no rosto escorre água e sal.
Não me recomponho, essa água é adubo
pra terra que me veste (sobre emoção racial).
Você é uma criança, olha para seus colegas e se pergunta por que você é a única menina de pele escura na sala, se pergunta por que só tem duas pessoas na sala com cabelo não liso e você é uma delas. Olha para o livro que diz "as mulheres brasileiras têm a cor tropical", "existem milhares de negros no Brasil", as pessoas dizem "não existe mais racismo, os negros estão em pé de igualdade", mas quando você olha para a sala de escola particular, só vê o que ninguém vê: dois negros que, de alguma forma, foram parar naquele mar de crianças brancas de classe média.
Você, criança, tenta, mas não enxerga o que te faz igual, aceita que é exceção e talvez precise de óculos, porque ninguém vai entender sua falta de visão.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
História autoral. Pensamentos que tive aos 7 anos de idade. Eu não sabia o que era racismo, nem entendia muito bem a escravidão, mas senti em mim o peso do que era ser uma pessoa de pele escura e te digo: ali, de modo empírico, natural, nasceu em mim o sentimento de que a minha cor sugava o peso da igualdade que me faltava. Assim, de modo natural, comecei a negar o que eu era.