Sun Devoured Earth escrita por bloodhail


Capítulo 8
Capítulo VII - De Dekadentas Dikt




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All I really need is nothing, see this life is just a lie
My favorite time is when it’s me in the dark with a beat
Bad thoughts in my head, blunt guts at my feet
Love the sound of the silence, I just wish it would never end...

Acordei com minha cabeça latejando, algo vibrando debaixo de meu travesseiro. Soquei a mão debaixo do mesmo e fisguei o meu celular, que vibrava histericamente. Seis mensagens. Cinco de Armin, apenas uma de Alexy. Gostaria de saber como eles conseguiram o meu número.

"Armin", 23/03/2015, 05:52, a.m

Aurora, você vai para a escola hoje?

"Armin", 23/03/2015, 05:53, a.m

Aurora, você está aí?????

"Armin", 23/03/2015, 05:53, a.m

Acorda!!!!!!

"Armin", 23/03/2015, 05:54, a.m

Meu Deus! Você está morta ou apenas dorme demais?!

"Armin", 23/03/2015, 05:54, a.m

EU TE ODEIO!!! ¬¬

Deslizei o meu dedo e abri a mensagem de Alexy.

"Alexy", 23/03/2015, 06:01, a.m

Armin pediu para que eu te enviasse uma mensagem, pois ele não entende que as pessoas precisam dormir! Não são como ele que passam a madrugada toda enquanto fica nesses jogos de tiro!

E outra mensagem acabara de chegar.

"Armin", 23/03/2015, 06:02, a.m

Não ligue para o meu irmão idiota, FPS e TPS são se zeram sozinhos!

E mais outra...

"Alexy", 23/03/2015, 06:02, a.m

Não me envolva na sua ansiedade de falar com Aurora. Por favor, responda-o! Ele está ameaçando jogar café no meu cabelo!

Caralho, eu estava a ponto de enlouquecer com tantas mensagens! E ao mesmo tempo, achava aquilo deveras engraçado. O humor e alto astral daqueles gêmeos era tão contagioso.

Resolvi responder à Armin, já que ele estava tão agoniado.

23/03/2015, 06:05, a.m

Eu acabei de acordar, Armin. Você foi mais rápido que o meu despertador. Não, eu não morri. E sim, eu vou para a escola. Também te odeio, mande um beijo para o Alexy, e não jogue café no cabelo dele! Te vejo na frente da escola. SEM MAIS MENSAGENS!

Quando enviei a mensagem, eu havia acabado de receber mais outra. Ignorei-a e comecei a olhar em volta pelo quarto. Sentei-me na cama, conformando-me com a ideia de levantar e seguir com as obrigações, sendo que eu poderia ficar no meu quarto o dia inteiro, dormindo apenas.

Não me dei o trabalho de pentear os meus cabelos, apenas me levantei e os amarrei de qualquer jeito, deixando duas mechas atrás da orelha. Por cima da minha inseparável meia calça preta, vesti um vestido preto com textura vintage – de gola alta, até o pescoço – que ficava dois dedos acima dos joelhos. As mangas eram pouco longas, e optei por dobrá-las até os cotovelos.

Passei a alça da mochila em meu ombro, descendo as escadas logo em seguida. Algumas fotos da família estavam na parede bordô que ficava nos corredores do andar de cima, relembrando-me o passado. Fui até a porta, ignorando um possível café-da-manhã. Poderia comprar um café no refeitório da escola se quisesse.

Aurora Hall O'Conner. — Elisa me chamou pelo meu nome completo, o qual eu odeio. Virei para ela, e a mesma estava com os braços cruzados, olhando-me com semblante reprovativo — Para onde vai sem tomar café? Quer desmaiar de fome no caminho à escola?

Soltei os ombros, suspirando.

— Estou levando dinheiro comigo aqui para comprar um café na cantina da escola, mãe. — dei uma tapinha no bolso da mochila.

— Mas por que não toma café conosco?

— Não quero me estressar logo cedo. — falei enquanto abria a porta — Tchau.

Quando disse que odeio Elmo, eu não estava brincando.

— Tchau... — sua voz soou como um murmúrio após sair de casa.

Apenas mais um dia na minha vida filha da puta.

— E lá vamos nós... — murmurei para mim mesma, seguindo à escola.

(...)

Os corredores já estavam sendo preenchidos por outros alunos. Vi Armin com os ombros encostados em seu armário – que era ao lado do meu – olhando para mim, sem seu PSP em mãos – o que era bem estranho.

— Finalmente você chegou. Quase roí todas minhas unhas! — ele aproximou suas mãos em meu rosto, mostrando as unhas tortas.

— Oi para você também, Armin. — disse em tom de sarcasmo enquanto abria a portinha de meu armário, guardando minhas coisas.

Armin e sua inseparável ansiedade.

— E aí, o que vai fazer hoje? — interrogou ele.

— Hm... Deixa eu ver... — fiz uma cara pensativa — Assistir aulas, aguentar o mau humor da diretora Shermansky, beber muito café e desejar morrer. Acho que só isso mesmo, e você?

Ele gargalhou.

— Acho que o mesmo, tirando a parte do café. — ele passou o braço em meus ombros enquanto andávamos — Falando em café, vamos à cantina, eu quero beber aquela dose de Coca-Cola matinal.

Trinquei os dentes.

— Não sei como você consegue beber Coca-Cola em plena manhã...

— Assim como você bebe café em plena manhã. — retrucou, divertido. Lancei uma careta para ele — Touché!

Caminhamos até à cantina, que não ficava tão longe assim. Passamos pelo pátio, e já estávamos lá. Encontramos Alexy, que estava na fila para comprar sei-lá-o-quê. Aproximamos dele, que estava distraído enquanto ouvia músicas com seus headphones verdes.

— Oi Alexy. — cumprimentou Armin.

— Oi gente! — e os seus olhos pararam em mim, arregalados — Esse vestido! — exclamou ele. Alto demais para que as pessoas que estavam próximas de nós olhassem. — Estou apaixonado por ele!

Levantei as mãos timidamente, observando cada movimento do azulado. Armin permanecia de braços cruzados, rindo da situação que presenciara.

— Referência à Myrtle Snow? — perguntei divertida.

— Sim, a Myrtle salvou Coven, e... — ele deu uma pequena pausa — O quê? Você gosta de American Horror Story? — arregalou os olhos cor-de-rosa novamente — Mas você é a garota mais perfeita dessa escola! Depois da Rosalya, é claro.

Asylum é a melhor temporada. — sorri sem humor.

All monsters are human. — ele lançou uma piscadinha para mim, sorrindo.

Eles começaram a conversar sobre algo que não prestei muita atenção.

Após esperarmos um pouco, éramos os próximos da fila.

— Um milk-shake de morango e... — falou para a atendente, que esperava os pedidos de Armin e eu.

— Um café grande e sem açúcar. — disse. Alexy lançou um olhar incrédulo para mim.

— Uma Coca. — Armin esboçou nenhuma reação.

— É pra já! — a moça falou gentilmente, piscando para Alexy.

Alexy virou para mim e perguntou:

— Como você consegue beber café em plena manhã?

Armin riu.

— Ela fez a mesma pergunta para mim, sendo que com Coca-Cola. — disse Armin.

— Eu não sei... Apenas aprecio o gosto amargo do café. — sorri forçado.

Ele deu de ombros.

Nossos pedidos foram entregues, e caminhamos até um espaço do pátio, onde havia grama e algumas sombras proporcionadas pelas árvores. Encostamos no tronco da árvore enquanto eu observava as pessoas da escola.

Rosalya se aproximou de nós, saltitante.

— Oi! — cumprimentou ela, eufórica.

— Oi. — os gêmeos disseram em uníssono.

Eu apenas fiz um breve aceno com a cabeça, sorrindo fraco.

— Nossa, que alegria! O que aconteceu? Leigh visitou você ontem à noite? — perguntou Alexy, com malícia no tom de voz. A platinada corou um pouco.

— Sim, sim! Foi realmente incrível! — disse sorridente, apaixonada.

— Esse é um assunto que eu prefiro não ouvir... — murmurou Armin, rolando os olhos.

Meh, somos dois. — "brindamos" com nossas bebidas.

— Aurora, Lysandre quer ver você.

— Lysandre? Quer me ver? — a platinada assentiu — Onde?

Não pude deixar de sentir um frio na barriga.

— Ele estava no clube de jardinagem. — ela apontou com o polegar para a esquerda.

— Tudo bem então... Você sobrevive? — perguntei ao Armin.

Ele bufou.

— Sempre sobrevivi às conversas de Alexy.

— Legal. Vejo você depois. — sorri.

Como Rosalya instruiu, fui ao clube de jardinagem. Lysandre estava lá, de costas, encostado na fonte, que ficava à frente de um lago cristalino, onde havia dois assentos de frente para o mesmo. Bem diferente da cena horrorosa que presenciei no sábado.

As árvores davam uma sombra bem agradável ao ambiente, deixando-o mágico. Caminhei até Lysandre, mantendo a calma. Ora, era apenas uma conversa com o garoto mais calado de Sweet Amoris. E quando me aproximei, olhei para ele. O mesmo segurava o seu bloco com uma de suas mãos, fitando o lago com um olhar vago e triste, seu semblante era o mais apático que eu já vi em toda a minha vida.

Parecia até com minha expressão de todos os dias.

Toquei o seu ombro, despertando-o de seus devaneios. Ele olhou para mim, sua expressão continuava do mesmo jeito que a vi de início.

— Você queria me ver? — perguntei na mais pura inocência.

Ele assentiu, fechando o bloco logo em seguida. Parecia pensativo.

— Eu confesso não estar conseguindo fazer esse trabalho de Sociologia. — confessou, olhando para mim — Você é bem difícil de ler... Digo, de... De descobrir algo.

— Digo o mesmo. Estudo aqui há três anos, e tudo que descobri sobre você foram pouquíssimas coisas. Você é bem misterioso.

Lysandre deu uma risada sem humor.

— É apenas o meu jeito de ser... Não há nada de extraordinário para saber sobre minha pessoa. — murmurou.

— Eu penso exatamente assim. — concordei — Não gosto muito de falar, nem de muita gente próxima de mim. Minhas conversas são pouco interessantes, minha vida é extremamente repetitiva e melancólica...

Parei de falar assim que percebi que fui longe demais com minha "apresentação". Lysandre parecia prestar atenção em cada palavra que eu disse, deixando nenhuma escapar.

— Não quero te encher com minhas lamúrias. — massageei as têmporas, suspirando — Vê? É por isso que prefiro ficar calada. Quando falo quem sou de "verdade", as pessoas podem acabar interpretando mal, achando que sou uma coitada.

Sentia-me estranha por estar compartilhando o que sinto com alguém. Mas com Lysandre era diferente... Sua aura era extremamente confiável, bonita e pacífica.

— Não acho que você seja uma coitada. Na verdade, te acho bem... Interessante. — ele sorriu. As borboletas voaram meu estômago, eu iria morrer — Faça como eu, ignore-os. Tenho certeza que você não é o que dizem por aí.

— Isso é bem difícil quando não se tem autoestima... — fitei meus pés, envergonhada.

— Eu gostaria de lhe ajudar, mas eu também não tenho autoestima.

Rimos de seu último comentário. Era engraçado, porém trágico.

— Você estava escrevendo algo em seu bloco? — perguntei, apontando para o bloquinho que ele tinha em mãos. Lysandre parecia incomodado com minha pergunta.

Ele fez uma breve pausa.

— Apenas rascunhos. — disse, por fim, chacoalhando o objeto repentinamente.

A curiosidade surgiu dentro de mim.

— Eu posso ler os seus rascunhos?

Ele suspirou.

— Se chama De Dekadentas Dikt, que na nossa língua, significa O poema decadente. — ele me entregou uma folha amassada, com as letras em perfeita caligrafia, sem nenhum borrão ou erro.

De Dekadentas Dikt I

Por Lysandre S.

Ouça-me em seus sonhos
Sinta-me quando acordar
Leve-me embora daqui
Para onde ninguém saiba o meu nome...

Agora entendia o porquê de professora Abigail colocar Lysandre como a minha dupla.

— Uau... É tão bonito. — o elogiei, relendo cada palavra escrita de forma mais que perfeita.

— Não era para ser bonito...

— Então você tem a capacidade de fazer coisas tristes e bonitas ao mesmo tempo. — disse eu e ele sorriu.

— Você é engraçada.

— Um de nós tinha que ser, não é? — ele assentiu. O sinal acabara de berrar, indicando o primeiro horário de aulas — Você tem aula de Artes agora? — perguntei, na esperança de que ele dissesse um "sim".

— Sim, tenho. Você também?

— É... Vamos? Professora Lauren não suporta atrasos...

Na sala de Artes, Lysandre seguiu para junto de Violette, já que Castiel não fazia aquele curso conosco. Kentin, que estava ao lado de Alexy, acenou para mim. Sorri para ele, fitando o chão, indo para minha carteira – que era a mesma de Armin. Ele estava com os braços cruzados, olhando para o "além", batendo o pé no chão, impaciente.

Depositei meu material na mesa, e tropecei ao "tentar" sentar na cadeira. Tão desengonçada, tão desastrada, tão... Argh. Deixei as tintas, cadernos e outros acessórios que usaríamos na aula em cima da mesa.

— Isso tudo por causa da aula de Artes? — perguntei ao Armin, sem tirar os olhos da minha mochila.

Ele bufou.

— Sim. Vamos ter que usar tintas hoje... Eu não sei nem desenhar, quanto mais pintar algo! — reclamou — Só gosto de tintas no PaintBall!

— Vamos lá, não vai ser tão ruim assim... Você só precisa encontrar algo que goste, e então reproduzir!

Ele olhou para mim, rubor surgiu em suas bochechas pálidas. Ruborizar por pouca coisa era uma das manias de Armin, pelo que pude perceber.

— Algo que eu goste?

— Sim, pode ser um jogo, um personagem...

— Uma pessoa? — adicionou.

— É, pode ser. — sorri.

A professora Lauren entrou na sala, já anunciando o exercício do dia. Pintar algo, como eu "previ". Lauren foi de banca em banca, distribuindo as telas para pintura. Armin estava confuso, perdido em seus pensamentos, provavelmente buscando algo de sua mente para pintar.

— Estou confuso, professora Lauren.

— Confuso com o quê, meu jovem? — era notória a impaciência de Lauren para Armin.

— Eu não sei o quê pintar... Espera, eu não sei pintar! — explicou-se o garoto.

Eu já fazia o esboço em minha tela, em mente o quê eu iria reproduzir. A conversa dos dois foi ficando cada vez mais baixa, até cessar de vez.

Meu antigo professor de Artes assim dizia:

"Quando alguém desenha ou pinta, entrega-se à sua arte. A mente viaja para um mundo escondido em seu interior, um mundo que sequer sabia que existia, trazendo para si novas sensações."

Na época, eu era bem pequena.

Agora, valorizo cada palavra que meu primeiro e falecido professor de Artes disse.


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Notas finais do capítulo

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