Sun Devoured Earth escrita por bloodhail


Capítulo 6
Capítulo V - Nostalgia


Notas iniciais do capítulo

Pouquinho clichê, mas espero que gostem.

Boa leitura.



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O sol brilhava intensamente naquele dia. E isso significava que era dia da aula de Educação Física.

A aula de Educação Física era, de longe, a minha preferida. O uniforme era extremamente ridículo e curto: um calção cinzento que vai fica dois centímetros acima dos meus joelhos. Joelhos que, por conta da minha palidez, são um pouco avermelhados, assim como meus cotovelos e as juntas da minha mão. E a regata também cinza.

Era como uma desculpa para as garotas esbanjarem seus corpos perfeitos, mas eram péssimas em vôlei. Ambre acertara três vezes a cabeça da garota arroxeada, amiga de Armin. Acho que era proposital mesmo, Ambre era uma cobra; e cobras são bem traiçoeiras. A garota estava sentada num dos bancos da arquibancada que havia no ginásio, juntamente de uma ruiva. Nathaniel estava um pouco mais afastado, ao lado de uma garota de cabelos castanhos e roupas vintage. Parecia até uma boneca de porcelana. Eles não iriam fazer a aula, e eu achava aquilo uma puta sacanagem.

Aproximei-me de Armin, que estava de braços cruzados, bufando e lançando olhares assassinos por todo o ginásio.

— Está assim por causa da aula? — perguntei e ele colocou as mãos no rosto, suspirando.

— Sim! O risco de levarmos uma bolada na cara é bem alto! — resmungou ele, irritado.

Eu ri um pouco.

De longe, um garoto de cabeleira azul corria até nós. Parou em nossa frente e olhou para mim, avaliativo.

— Você é bem próxima de Armin... — disse o azulado, cruzando os braços e semicerrando os olhos. Mas logo abriu um sorriso sublime, deixando os olhos cor-de-rosa bem mais intensos — E isso significa que ele gosta de você, e se meu irmão gosta de você, eu também gosto!

Ele abriu os braços, fazendo um ato bem previsível: um abraço. Ele me apertou tanto que achei que meus ossos iriam virar farelo

— Mas fique ciente de algo... — Alexy aproximou nossos rostos, olhando no meu olho, sobrancelhas franzidas — Se você tocar no meu Armin, eu não sou capaz do quê fazer! — e em um pulo, abraçou o irmão. Minhas bochechas ainda estavam bem quentes — Ah, e eu sou Alexy.

— Eu... Eu...

Ele me interrompeu.

— Não precisa me dizer o seu nome, Armin não para de falar sobre você!

— Alexy! — o azulado olhou para o seu irmão — R-Rosalya está te esperando...

E ele voltou para a companhia de Rosalya, que ria da ação que acabara de ver. Aproximei-me de Armin, que ainda estava meio desnorteado.

— Seu irmão é sempre assim... Tão...

— Gay? — disse ele e eu ri — Sim, ele é sempre desse jeito. Mas gosto dele mesmo assim, mesmo... Mesmo não demonstrando muito.

— É, eu percebi. — tive de concordar, ainda rindo. A relação de Armin e Alexy parecia ser bem harmoniosa... Diferente da minha situação com Elmo.

— Você tem algum irmão ou irmã? — perguntou ele.

Eu estava um pouco perdida. Pensativa, na verdade. Devanear era como se eu ficasse anestesiada do inferno que era a realidade. A minha realidade. O desabafo eram apenas palavras, escritas num antigo diário cor-de-rosa que ganhei de minha falecida tia paterna.

— Aurora!!! — Armin sacudiu meus ombros por segundos, chamando minha atenção.

— O quê? — despertei, irritada.

— Você sonha acordada demais! Parece até o Lysandre!

Fiquei em silêncio, encarando o chão.

Um homem de pele bronzeada, alto e esbelto chegou ao ginásio, seguido por outras garotas, em uma fileira. Pareciam até modelos, dava gosto de olhar. Ele trajava uma regata azul, deixando seus músculos à mostra. Uma aparência bem "cheguei". Era Boris, professor de Educação Física.

— Não! Não, não, não! Não é assim que se joga vôlei, senhorita! — ele exclamou para Ambre, parecia incrédulo. Pegou a bola das mãos da loira, apontando para um dos bancos da arquibancada — Você está fora do time!

Os alunos riram como se fosse alguma piada engraçada. Não esbocei reação alguma.

Ambre bufou de raiva e andou até os bancos, seguida por Li. Charlotte ficou no seu devido lugar, olhando atenciosamente para o professor.

Boris jogou a bola para nós, e em um ato voluntário, Armin a segurou.

— Aurora, você substitui a Ambre. — ele avisou, apenas — Serão duas equipes. Equipe número um será composta por: Armin, Kim, Lysandre e Bia. — os alunos que foram chamados se reuniram no outro lado do ginásio — Equipe número dois: Castiel, Aurora, Kentin e Charlotte.

Fui até minha respectiva equipe, ficando ao lado de Castiel. Olhei para ele, os cabelos tingidos de vermelho presos para trás, a regata preta – que não fazia parte do uniforme – mostrando seus braços com músculos definidos, que eram bem comuns em sua idade. Cruzava os braços, sem paciência e também irritado, de fato, a aula de Boris não era das melhores.

Fiquei meio sem jeito ao seu lado, não pronunciava uma palavra sequer.

— Oi, Wednesday Addams. — começou ele, com o seu humor sarcástico.

— Ué, mas não era Bela? — indaguei, entrando na brincadeira.

— Você tem vários apelidos. Carrie, Bela, Wednesday, Daria... — ele fingia contar nos dedos — Mas e aí, qual é o seu lance com o novato viciado em games? — perguntou ele, olhando para os bancos. Segui o seu olhar, parando em Violette – a garota de cabelos roxos.

Castiel e Violette. Que casal mais improvável.

— Apenas amizade... Você e Violette? — o ruivo desviou, olhando para frente.

— Acho que Boris quer começar o jogo agora. — ele mudou de assunto rapidamente, escondendo o rosto.

— É... Vamos lá. — resolvi não insistir.

Os grupos se organizaram, um em cada lado, separados pela enorme rede. Eu decidi ficar um pouco mais atrás. Primeiro: eu era MUITO ruim em vôlei. Segundo: eu não queria levar uma bolada na cara, principalmente de uma terceira discípula de Ambre, a Bia.

Estava completamente desconfortável. Eu suspirei, unindo os dedos, afastando a ansiedade.

A partida começou. Tentei me afastar o tanto possível, ficando logo atrás de meus parceiros de grupo. Castiel era bom, rebatia quase todas as jogadas que os demais faziam. Mas ele não contava com uma morena, a Kim. Ela era realmente muito boa, melhor que Castiel até. A "plateia" que se formou das poucas pessoas na arquibancada gritavam, berravam, pareciam até uma torcida organizada, a favor do meu grupo, claro, Castiel estava nele. "Todas" as garotas de Sweet Amoris eram apaixonadas pelo ruivo.

— Vai, Castiel! Lindo, gostoso! — gritou uma garota histérica, mas Castiel a ignorou completamente.

— Cale a sua boca, vadia! O Castiel é só meu! — rebateu Ambre, com sua voz irritante e aguda. Elas começaram a jogar ofensas uma contra a outra, e eu as observava. Era um meio de fuga daquela aula chata.

E eu fiquei lá, assim, parada, como um boneco de posto. Não prestava mais atenção nas pessoas, e era como se não houvesse mais ninguém ali. A bola flutuava de um lado para o outro.

— Aurora, cuidado! — reconheci a voz de Armin chamando minha atenção. Olhei para frente e vi a bola branca e azul vindo em minha direção.

Eu vi várias coisas ao mesmo tempo. Nada estava se mexendo em câmera lenta como acontece nos filmes. Ao invés disso, a adrenalina pareceu fazer o meu cérebro trabalhar muito mais rápido, e eu fui capaz de absorver em detalhes claros várias coisas ao mesmo tempo. Castiel correndo como um maratonista até a mim, professor Boris apitando desesperadamente, Ambre e Li gargalhando diabolicamente, as pessoas me alertando para correr, voar, ou qualquer outra porra que não iria dar certo... E eu apenas sorri. Minhas pernas estavam travadas demais para correr. Abaixei minha cabeça, preparada para a minha sentença do dia.

Ótimo. Agora eu seria o assunto por uma ou duas semanas do jornal de Peggy.

E foi aí que senti duas mãos agarrarem minha cintura firmemente, empurrando-me para longe, caindo no chão frio do ginásio logo em seguida. Como um vulto. Eu nem sequer tremia de medo, nem conseguia abrir os olhos, nem suava. Estava petrificada. Minhas mãos estavam apoiadas em não-sei-o-quê, e deduzi que algum terceiro estava em cima de mim. Senti uma respiração quente na área próxima do meu rosto, ouvi alguns murmúrios e assobios, coisas de adolescente retardado. Resolvi abrir meus olhos – com muito esforço – e vi um garoto de olhos esverdeados e cabelos castanhos em cima de mim. Exato: um garoto em cima de mim. As maçãs do rosto estavam com duas bolinhas vermelhas, e ele sorria por cima da sua expressão de pavor. Sua mão grande continuava em minha cintura, fazendo com que meu rosto explodisse de tanto rubor. E a outra estava atrás da minha cabeça, evitando um possível traumatismo craniano futuro. Ele pensou muito rápido.

Tudo tão clichê, argh. — pensei assim que voltei à realidade.

Ficamos em silêncio, um encarando o outro, sem nem entender o quê estava acontecendo.

E aí eu percebi que ele era o garoto que andava com Armin, o mesmo de vestes militares. Isso explica o fato de ser tão ágil e forte.

— Te peguei. — disse ele, sorrindo e ao mesmo tempo arfando.

— É... Você... Pegou. — foi tudo que consegui balbuciar, ainda em estado de choque e pânico — Obrigada...

Ele se levantou, ainda olhando para mim. Fiquei sentada, ainda atordoada, processando o que acabara de acontecer. As pessoas estavam ao meu redor, ainda com aqueles murmúrios infernais e olhares maliciosos. Senti dois braços me erguerem, finalmente ficando de pé. Olhei para o lado e vi Armin segurando meu ombro e o meu cotovelo.

Muito contato humano para apenas um dia. Eu estava morrendo por dentro.

— Céus, Aurora! — exclamou ele — Eu disse que você realmente sonha acordada! Você está bem, hein?

— Sim, Armin. Foi apenas um susto.

Professor Boris e suas "ninfas" correram até a minha direção.

— Senhorita, você está bem? — eu juro que se alguém perguntar isso mais uma vez, eu vou explodir.

— Sim, professor Boris, eu... — ele me surpreendeu, segurando-me pelos seus braços — O que... O que é que está fazendo?!

— Irei te levar para a enfermaria! — respondeu ele — Kentin! Venha também! — o garoto que me "salvou" assentiu.

Então o seu nome era Kentin.

Boris me carregou até a enfermaria da escola, mais clichê impossível. O lugar era extremamente pequeno, esbranquiçado com tons de bege em alguns cantos, macas, além de uma mesa de madeira, duas cadeiras brancas, a poltrona preta e alguns instrumentos para aferir pressão.

Boris me deixou numa das macas, e logo em seguida saiu da sala. O garoto, Kentin, ficou por lá também, sentado e imóvel numa das cadeiras de espera. Ele batucava os dedos – que estavam escondidos por sua luva preta – na coxa, agoniado, ansioso talvez.

Estava achando estranho o fato de que Armin, Castiel ou até mesmo a Peggy não estejam aqui presentes, questionando-nos sobre o "acidente". Eu comecei a balançar minhas pernas, explorando o local. Prateleiras, estantes, algumas fotografias e um garrafão d'água, provavelmente para que os pacientes possam engolir os remédios em "segurança".

Eu olhei para Kentin. Aquele rosto não me era estranho. Eu sei que ele andava com Armin, mas... Era de antes. Bem antes da entrada de Armin e Alexy em Sweet Amoris. Aquele garoto me trazia nostalgias.

— Obrigada, Kentin. — agradeci, meio sem jeito. Abri um sorriso fraco — Você foi incrível lá no ginásio, e... É.

Ele abriu um sorriso, deixando os dentes esbranquiçados e em fileiras sublimes a mostra.

— Troca de favores, Aurora. — eu arqueei a sobrancelha — Acho que você não está me reconhecendo, mas tudo bem.

— Perdoe-me, mas eu realmente não me recordo de você...

Ele riu.

— Isso quer dizer que o trabalho de meu pai não foi em vão. — ele se levantou e sentou ao meu lado, na maca — Eu sou o Ken. O garoto de cabelo coquinho e óculos fundo-de-garrafa. O garoto que, quando tínhamos quatorze anos, você defendeu de Castiel e sua gangue de garotos rebeldes. E então eu sumi logo após aquele incidente... Eu fui para uma escola militar, a pedido de meu pai, e cá estou eu, te retribuindo o favor que você me fez. Que ironia do destino, não?

Fiquei boquiaberta.

— Ken! Meu Deus, Ken! Como você mudou! Desculpa, por favor, eu não te reconheci! — sem pensar duas vezes, eu o abracei. Ken era o meu único amigo, apesar de que uns dias para cá, eu havia esquecido totalmente de sua existência.

Ele retribuiu o abraço.

— Por favor, não me chame de Ken... Eu prefiro ser chamado pelo meu nome. Kentin. E esse apelido bobo me lembra do passado... Eu tenho uma vida nova!

Definitivamente um novo Ken. O antigo "eu" dele foi morto, cremado e as suas cinzas jogadas ao mar...

...Que sorte a dele.

— Tudo bem, Ken... Tin.

— Você também mudou Aurora. Está mais bonita... — ele colocou a mão no rosto, corado — Q-Quer dizer, diferente da garota que conheci... V-Você entendeu.

Ao menos a parte fofa e doce dele estava lá, intacta.


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Notas finais do capítulo

Acompanhe no Social Spirit: https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-amor-doce-sun-devoured-earth-3904201



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