Sun Devoured Earth escrita por bloodhail


Capítulo 4
Capítulo III - Funeralopolis


Notas iniciais do capítulo

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Boa leitura.



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Observava os pinheiros, na janela da cozinha de minha casa. Minha mãe, Elisa, fazia o café enquanto nós – o meu pai, Vincent; e o meu irmão, Elmo, e eu esperávamos. Todos sentados naquela velha mesa de madeira, como uma família alegre e feliz.

Estava distante demais para prestar atenção neles.

O balançar dos pinheiros verdes e vívidos era cativante. A névoa, aos poucos, cobria aquela imagem graciosa. Minha casa é um pouco afastada das demais, próxima de uma floresta de pinheiros extremamente estranha, mas ao mesmo tempo o cenário mais lindo que já vi em minha vida. Domingos, folgas e feriados, eu me atrevo a me aventurar nas redondezas, sentindo a paz e harmonia que o ambiente me proporciona, esquecendo por alguns instantes, a vida que me deprecia.

Era lindo. Tudo era verde: as árvores, o musgo verde-escuro grudado nos troncos, o chão coberto de flores e plantas de tudo quanto é tipo. Até mesmo o vento e o ar ficavam mais verdes e ao passar pelas folhas que caíam das árvores.

E no inverno, tudo fica escuro, sombrio... Sem vida.

Acordei de meus devaneios assim que senti a fumaça quente e o cheiro do café em minhas narinas. Desta vez, mamãe adicionou um pedaço farto do bolo de ameixa seca de semanas atrás. Ninguém além de mim gostava daquele bolo. Dei o primeiro gole com urgência no líquido preto e amargo, mas tão preciso. Café era um bom fardo de morfina para mim, cada gole e a minha dor de cabeça matinal sumia. Na verdade, era o vício que me deixava assim. Quando sinto falta, começo a ter dores de cabeça e falta de concentração, além de muito sono.

Vincent – que estava lendo o seu jornal, como de costume – olhou para mim, intrigado.

— Está tudo bem, Aurora? — perguntou o meu pai, voltando o olhar cansado para o jornal — Você me parece tão abatida...

— Essa cara dela é normal, pai. — disse Elmo, em tom de zombaria — É de nascença esse rosto de defunta.

Bebi outro gole de café, ingerindo as palavras que meu irmão idiota disse. Ele sempre, SEMPRE me menospreza ou lança piadinhas de mau gosto, fazendo minha autoestima ir para a lama. Eu o odeio muito.

— Não, Elmo, não é de nascença. — respondi tranquilamente — Eu apenas estudo demais, além de ir trabalhar numa loja que é bem distante de nossa casa. — a sua expressão passou para séria — E o meu rosto cansado é a mais pura prova do meu esforço, coisa que você não reconhece. Mas deveria, até porque, praticamente, eu te sustento.

Vincent sorriu para mim, reconhecendo minhas palavras.

— Vá para o inferno! — retrucou, fazendo minha mãe lançar aquele olhar repreendedor.

— É o meu maior sonho, Elmo, pode crer! E quando eu estiver no inferno, eu voltarei justamente para te levar comigo, onde você sofrerá o resto de sua eternidade.

As brigas entre mim e Elmo já faziam parte da minha rotina. Aquilo era estressante.

Eliza se pôs de pé, batendo a mão na mesa de madeira.

— Chega! — vociferou ela — Aurora, eu acho que você está atrasada. — ela fingiu olhar as horas no relógio colorido que estava em cima do balcão da cozinha. Elmo lançou um sorriso vitorioso para mim.

Ela sempre o defende. Sempre, sempre, sempre, sempre! Chega a dar raiva!

— Eu sei que não estou atrasada, mas vou mesmo assim. Não fico nem mais um segundo nessa cozinha. — peguei o casaco e minha mochila, e saí em disparada até a porta de casa.

Minha casa era como se fosse uma guerra, onde todos são meus inimigos. Um martírio.

Fiz a trilha na floresta, estava cedo demais para ir à escola. Ao menos eu iria me distrair um pouco naquele “planeta verde”. O cheiro de terra molhada entregava que havia chovido há pouco, e as folhas das árvores balançavam harmoniosamente, liberando algumas gotas d’água em meus cabelos. O paraíso não era um lugar para ir, mas um sentimento, então... O que eu sentia ao passar naquela floresta era algo parecido.

Decidi parar um pouco. Joguei a minha mochila cor pinho – que meu pai me deu de presente quando tinha dez anos – perto de uma árvore, e caí em cima dela. Envolvi meus braços nas minhas pernas, afundando meu rosto nos joelhos. Meu corpo era magro e de estatura média, por isso era um pouco mais fácil ficar curvada desse jeito. Os chuviscos começaram a cair, assim como as pequenas lágrimas cristalinas saíam dos meus olhos. Aquele lugar melancólico despertou algo dentro de mim, tristeza talvez.

Chorei o quanto tinha que chorar. Chorei o tanto que estava guardado no fundo da minha mente. Liberar os sentimentos em forma de lágrimas era como um desabafo, alívio. Enxuguei os meus olhos com a manga do meu suéter bordô, levantei-me e segui à escola. Era mais um dia a se enfrentar e eu não devia me deixar levar com essas bobagens.

Continuei trilhando pela floresta. A cada passo, um aperto no coração. A atmosfera do local era pacífica, porém pesada e bem depressiva. Decidi caminhar de cabeça baixa até a escola, assim, não teria de ocupar minha mente com coisas pessimistas desde cedo. Assim que cheguei à frente da escola, levantei a cabeça. O vento bateu nos meus cabelos ondulados, deixando a fragrância do meu shampoo se misturar no vento bucólico. Morango. Uma fragrância inocente, mas uso desde sempre.

Insegura, dei passos tímidos e lentos – ainda cabisbaixa – até os antigos portões de madeira antiga da escola. As vozes alegres e entusiasmadas faziam brotar uma “inveja branca” dentro de mim. Suspirei, pronta para entrar.

— Bom dia, senhorita Hall. — a voz alegre de meu melhor amigo, Louis, o porteiro da escola, invadiu a minha audição. Levantei a cabeça, olhando o seu rosto alegre. O sorriso mostrava todos os seus dentes, era um sorriso sincero. Os olhos azuis fechavam-se quando ele sorria, mais um sinal da idade que não demorava a chegar. O cabelo grisalho estava escondido no boné – que fazia parte do uniforme da escola – cor-de-rosa e branco. — Como está a manhã? — perguntou ao perceber minha cara de derrotada.

Eu não havia me visto em espelho algum, mas sei que meu rosto não deveria ser dos melhores.

— Bom dia, Louis. Eu estou bem. — mostrei um sorriso falso, a última coisa que queria era Louis saber que eu estava triste. Não só ele, mas como o resto da escola também.

Ele assentiu ainda sorridente, e eu adentrei nos portões da escola. Os alunos de Sweet Amoris não pareciam se importar com a grama molhada, muito menos com os chuviscos. Continuavam sentados naquele mar verde, conversando sobre várias coisas. Eu vi Armin, ao lado de seu irmão nada gêmeo, Alexy. Estavam com eles algumas garotas; uma ruiva, uma morena e outra de cabelos roxos. E outro garoto com vestimentas militares. Evitei olhar para eles.

No outro lado do pátio, Castiel estava igualzinho ao John Travolta. O par de óculos escuros que ele usava deixava-o com uma cara oitentista, sem falar da sua jaqueta preta lembrando o filme Grease. Ao lado do ruivo, estava o inseparável Lysandre, que parecia estar preso ao olhar para o céu acinzentado e claustrofóbico. O céu capturou o albino, já que o dia nublado e cinzento assemelhava-me a uma gaiola. Uma imensa gaiola.

Castiel acenou para mim. E eu apenas assenti com a cabeça, voltando a caminhar para dentro da escola. Isso é um sinal de que ele ainda se lembra de mim, depois do ocorrido de dias atrás. Senti-me um pouco bem.

Os corredores estavam bem vazios – era bem raro aquilo acontecer. Acho que cheguei cedo de mais. Aproximei-me do meu armário, deixando o meu material, retirando apenas o necessário. Acredito ter ouvido um estrondo assustador, mas quando olhei para o possível lugar, não havia ninguém. Estranho. Assim que peguei tudo que precisava, rumei à biblioteca.

Estava vazia, parecia um mausoléu.

Estava muito bem aquecida e iluminada. A biblioteca era grande, com várias mesas, cadeiras e computadores para estudos, carpete de madeira, estantes de livros, avisos e alguns prêmios e troféus sobre as prateleiras que estavam na parede laranja. No canto, havia um enorme balcão com alguns cestos de revistas, além de anúncios, pôsteres e uma máquina de café. Atrás do balcão havia uma cadeira, e nela estava ocupada uma mulher de cabelos negros, ela era magra e reta, parecia até uma tábua. Ela vestia um xale verde-musgo muito bonito até. Era a bibliotecária.

Comecei a explorar o espaço, olhando para todos os corredores que as enormes e empoeiradas estantes faziam. Avistei uma cadeira perto da parede, no final do penúltimo corredor. Sentei na mesma, dei play em uma música qualquer e folheei um antigo caderno de desenhos meu.

— Maldição! — resmungou alguém, alto demais para um lugar como a biblioteca — Céus! Por que eu nasci? Por quê? Que merda de vida! — e logo em seguida lamuriou. A voz era familiar, serena, mas no momento estava fria, glacial.

Olhei para frente, procurando o autor daquela lamúria, e nada mais, nada menos, vi que era Nathaniel. Uau, eu estava observando o declínio do representante de turma. Magnífico.

Nathaniel era um garoto bem inteligente e tímido, o representante de turma. A maior parte do tempo, ele fica no Grêmio, ajudando na papelada e obrigações que a senhora Shermansky, a diretora da escola, lhe entrega. Às vezes eu o observava, de longe, mas observava. Ele demonstrava ser algo que não era. Sabia que ele escondia algo, mas não uma suposta “depressão”.

Ele corou assim que me viu.

— P-Perdoe-me... — ele suspirou; vermelho demais para pensar em algo — Esqueça o que foi dito há pouco, por favor. — ele praticamente se jogou em um assento que estava quase ao meu lado.

— Problemas? — indaguei, avaliando-o. Ele passou a mão nos cabelos dourados, na tentativa de deixá-los arrumados, mas falhou. Os olhos semiabertos mostravam o quão cansado ele estava; cansado até demais. A gravata azul colocada de qualquer jeito, alguns botões faltando em sua camisa social... Quem diria que Nathaniel seria tão desleixado?

Ele suspirou antes de responder.

— Meu pai exige de mim o quê eu não posso lhe dar! — ele deu um grito abafado pelas suas mãos. A bibliotecária murmurou ‘shh’ para nós — Ele quer que eu me mate de estudar, sendo que Ambre pode fazer o que ela bem quiser e entender!

Ambre é irmã gêmea de Nathaniel, mas eles são que nem Armin e Alexy, nada iguais, em termos de personalidade.

— Entendo... — murmurei.

— Não, você não entende! — seu tom de voz aumentava cada vez mais — Eu levo a culpa das bobagens que minha irmã faz. Por quê? Por quê? Porque eles simplesmente acreditam nela! Que eu sou um inútil, que eu não faço nada direito! — parecia até que ele iria chorar se dissesse mais do que aquilo — Eu nem sei por que estou te contando isso...

Eu poderia falar algo decente para ele, mas minha garganta não permitia.

— É bom desabafar às vezes... — ele sorriu.

— Você tem razão.

— Não se preocupe comigo... Eu não sou nenhuma Peggy. — Peggy era uma garota extremamente fofoqueira e intrometida, a responsável pelo jornal escolar.

Ele se levantou, pegando a sua prancheta que estava em cima de uma mesinha.

Eu sei que não. — sorriu novamente e rumou até a porta da biblioteca.

Nathaniel parecia um pouco comigo, isto é, a relação familiar que ele tem. Espero que algum dia ele fique bem...


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