Reviravolta escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 7
Revelação


Notas iniciais do capítulo

E chegamos aos momentos decisivos de Reviravolta. Bora?



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A voz de Rita me traz novamente à realidade.

— Quando ele morreu, voltei da Dinamarca porque mamãe entrou em colapso. E como meu outro irmão é um omisso, foi a minha responsabilidade resolver muitas coisas pendentes. Inclusive as contas, as roupas e até o próprio funeral. A minha mãe já é suscetível a entrar em depressão, até porque nosso pai a abandonou por uma moça bem mais nova. E no fundo, mamãe era apegada ao meu irmão, mesmo que não se entendessem muito bem.

Ela ainda me conta com a voz embargada:

— Quando estava dando um jeito nas coisas dele, achei essa carta. Não sabia o que fazer, mas por respeito a ele procurei quem era a moça citada. Além do mais, nem Berenice, nem ninguém tinha conhecimento sobre ela e nem sobre seu conteúdo. Fui de forma mais discreta possível descobrir quem era Catarina e as informações chegaram a você. Inclusive uma moça muito simpática que foi sua chefe foi a grande informante sobre seu paradeiro...

“Só podia ser Marta”, penso.

— Rita... - fecho os olhos, suspiro e continuo: - Rita, vou ler outra hora, está bem? Digo isso porque já foi um choque essa notícia. E no momento, não posso passar nervoso.

— Catarina, me desculpe. Você está...

Não a deixo terminar a frase e digo:

— Estou grávida há um mês e meio... Aliás, acredito que não soube do ocorrido porque estava no Japão no mesmo período.

Boquiaberta, Rita demora um pouco para pronunciar novamente. Reparo que quer dizer algo, mas o máximo que consegue falar:

— Na mesma época em que... Me desculpe! - e as lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Não sei o que me deu, mas a abraço, e ela chora mais forte de um modo sentido e dolorido. Depois de certo momento, se afasta e me encara no fundo dos meus olhos:

— Catarina, ele te amava...

É como se eu tivesse levado um soco no estômago.

— Oh, céus, por que sou tão desastrada? Desculpe, desculpe!!

Rita enxuga as lágrimas, pega a bolsa e se dirige para a porta. Fico meio sem ação, mas a acompanho até o hall:

— Mil perdões mais uma vez. Bem, acredito que cumpri a minha última missão. Agora posso voltar à vida normal, voltar para Dinamarca...

E o sinal sonoro avisa que o elevador chegou.

Fecho a porta, volto para a cozinha e fico olhando para a carta. O chá esfria e os meus olhos estão quase marejados. Por que o passado quer bater novamente à porta se ele está morto?

— Você não vai abrir a carta?

Levanto os olhos e Edu me encara.

— Acho que vou jogar no fogo, queimar...

— Cathe, ele não está mais entre nós. E sei que antes de me conhecer, você chegou a amá-lo.

Amar é algo muito forte. Não sei se era amor, porque a dor era um sentimento muito mais constante do que o aconchego, do que o conforto.

Suspiro e concordo:

— Está bem!

E começo a abrir a carta.

— Cathe, você quer que a deixei sozinha? Acho que esse momento ...

— Não, espere!

— Cathe...

— Então vou para quarto e leio lá, está bem?

— Se precisar de mim, você sabe, pode me chamar.

Levanto-me, vou até o quarto e fecho a porta. Abro devagarinho o envelope e ali está...

“Cathe, querida,

Estou no meio da noite e não sei como falar isso. Nunca fui bom com as palavras, nunca escrevi bem. Por isso não dei certo como jornalista, algo que você é muito boa. Sou melhor administrador de negócios do que com a minha vida.

Acho que por isso tenho deixado tantas oportunidades passarem em frente aos meus olhos e deixar você partir...

Hoje a vi tão bonita, feliz, que invejei aquele rapaz com quem você conversava ao celular.

Queria que você estivesse assim comigo... Mas o que poderia dizer para você voltar atrás?

Sim, hoje percebi que a amo. E como a amo! Sei que a machuquei, e talvez em meu orgulho tolo não fui capaz de ser sincero e olhá-la nos olhos e dizer tudo que sinto.

Nesse meio tempo, tudo que fiz foi ficar com Berenice, que nunca me amou ou me fez sorrir. E algo que percebi, você faz muito bem.

Este desmiolado que um dia cruzou seu caminho durante uma batida de carros, onde foi o responsável. Foi responsável também por algumas lágrimas que você derramou. Mas, não se sinta culpada pela dor que sinto agora, aqui, neste minuto e durante essa madrugada fria, onde apenas uma garrafa de uísque me acompanha.

Errei, errei feio! Terminei com Berenice por sua causa, mas será que você me quer de volta?

Agora, tudo que me resta é minha dor e a minha verdade que é amar você.

Peço que pense com carinho, e reconsidere se ao menos esse pobre idiota ainda pode ter uma chance com você.

Beijos,

Giovanni”

Fecho os olhos e o nó na garganta não me permite segurar as lágrimas... Sim, tinha o amado. Mas, não sei se era amor ou era apenas uma dor, uma obsessão que nunca foi concluída.

Releio a carta, e percebo que ele ficou desesperado quando já estava longe, muito longe de seu alcance. Logo ele que pensava que todos lhe pertenciam. Sim, Giovanni era bonito, rico e havia várias mulheres aos seus pés. Mas no fundo, no fundo, era um infeliz, que nunca soube cuidar dos que amava, e os que o amavam.

Passo a mão em meu ventre, aqui está meu filho, fruto da minha relação com Edu. Um relacionamento que me trouxe de novo para luz, outra vez para vida até que fui possibilitada de gerar outra vida.

O que no fundo sentia pelo Giovanni era piedade, compaixão. Uma vontade desesperada de ajudá-lo. Ou mesmo de salvá-lo.

Mesmo debaixo daquele homem que tinha sorriso grande e aparentava ter tudo, estava um menino sofrido, que precisa desesperadamente de carinho. Eu tentei, mas ele não permitiu. Não foi a minha responsabilidade. Orgulhoso do jeito que era, não aceitaria que alguém o ajudasse.

Para Giovanni, humildade era apenas para os fracos.
Reflito: "Se estivéssemos na Europa em uma época de frio e houvesse uma lareira aqui, não teria dúvida que a acenderia somente para queimar esta carta". Pego o pequeno cesto cromado do quarto, risco um fósforo e encosto a chama na carta. Fico observando-a consumir em chamas. Abro a janela e afasto as cortinas.

Queimei-a porque ela tinha cumprida a promessa: informar-me que Giovanni teve sua chance e se recusou. Podíamos ter ficado com juntos? Sim. Podíamos ter dado certo? Não sei. Acredito que seria mais um prolongamento da minha dor. Ou se Giovanni tivesse abaixado a guarda e fosse humilde desde o começo, sim... ou talvez.

Mas quem esteve, está e estará sempre ao meu lado é o Eduardo. Adorável no riso, companheiro na dor. Amigo, amante, namorado, pai. Ele me mostrou tantas facetas e quando teve a oportunidade dele, foi lá e a agarrou. Assim como ele fez quando nos beijamos pela primeira vez em aquela padaria que tanto adoramos.

— Posso entrar?

A voz do outro lado da porta é a mesma do homem em que estou pensando. É o pai do meu filho, do meu grande amor.

— Sim.

— Quer um chá?

Tudo que faço é levantar-me, correr para ele e abraçá-lo.

— Obrigada! – agradeço. - Obrigada por você ter aparecido na minha vida!!

Ele mira seus olhos nos meus:

— Cathe, escute. Nada mais me importa na vida do que sermos felizes. E isso, sou com você.

Assim que termina de falar, aproxima-se mais e me beija. Sim, esse era o tipo de vida que tanto procurava. Era essa vida que busquei em tantos lugares e das mais variadas formas. E com ele aprendi a amar e encontrei a paz.

Fim


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Notas finais do capítulo

Aí está o final tão inesperado (ou não) do conto. Agradeço a você por ter acompanhado, favoritado esta história. Aos fantasmas: deixem o complexo de lado e digam um “olá”. Afinal, esta é a hora. E nada impede que vocês deem seus pareceres.
Bem, é isso! Espero vocês em uma próxima oportunidade (história) aqui na plataforma. Um grande beijo e até mais!



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