Mesmos Nomes. Outras Histórias. escrita por Eduardo Marais
– Não se mexa!
– Você já falou isso quatro vezes. Eu já entendi.
– Eu vou aproximar-me bem devagar e vou amarrar suas mãos. Não tente resistir ou serei obrigado a machucar você ainda mais.
O homem ferido começa a rir.
– Mais? Então, terá de matar-me.
– Facilite e não entraremos em embate...- antes que o homem termine de falar, um zumbido é ouvido e algo volumoso cai em cima dele, despencado de um buraco aberto no nada.
Os dois corpos rolam pelo chão da floresta. O homem desmaia com o impacto, enquanto Regina luta contra o edredom para conseguir levantar-se. Luta muito, até que consegue ficar livre. Olha para os lados e tenta entender o que aconteceu.
– Uau! Eu já presenciei chuva de peixes, mas chuva de mulher!
Ela olha para a origem do som e depara-se com um homem protgendo a cabeça com um capuz e arrepiando a longa franja desarrumada.
– Obrigado, senhora! – ele se levanta e segurando a flecha fincada no ombro, embrenha-se no mato. – Fico devendo esta!
Regina olha para os lados e encontra um homem desmaiado. Engatinha até ele e toca-lhe suavemente o rosto, para conseguir devolver-lhe a consciência. Alguns minutos depois, ele começa a recobrar sua consciência.
– O que aconteceu? – ele pisca várias vezes e deixa Regina ajudá-lo a sentar-se. Sua cabeça doía. – O que houve?
– Eu caí em cima de você. Está ferido?
Ele a olha sem entender o que estava acontecendo. Massageia a cabeça e olha para os lados.
– Onde está o pirata?
– O homem que estava ali, fugiu para a mata. – Regina toca-lhe os cabelos curtos.
– De onde você saiu, moça?
– É uma história longa. Mas resumindo: abri um portal e fui sugada por ele.
O homem a encara e fica olhando para ela como se várias cobras dançassem no lugar de seus cabelos. A mulher era assustadoramente bonita.
– Você veio por um portal? Então você é uma bruxa?
– Conheço magia. Você está bem?
Ele olha para o lugar onde estava o homem ferido e depois se ajeita, sentando-se numa pedra.
– Você me fez perder a minha única chance de livrar-me de minha maldição. – ele enterra a cabeça entre as mãos.
Sentando-se ao lado dele, Regina toca-lhe o ombro.
– Não foi minha intenção. Mas eu posso ajudá-lo a prender o bandido. Ele não deve estar longe daqui e poderemos...
– Tem um rio bem perto daqui. A esta altura, ele já mergulhou e regenerou o ferimento. – ele encara Regina outra vez. Sorri, ainda sem entender o que houve. – A propósito, eu me chamo Adam!
– Sou Regina! – ela segura a mão que o homem estendia.
Ainda letárgico pela pancada sofrida, Adam fica em pé e olha para o horizonte.
– Precisamos sair daqui. A noite vai cair em poucas horas e virá com frio. Vamos para uma caverna para ficarmos aquecidos.
Regina responde com um sorriso. Apanha o edredom e acompanha o homem na caminhada. Sem hesitar, segura o braço dele, apoiando-se e dando apoio para que ele não caísse.
Horas depois, já tendo caído a noite, Regina aquecia-se diante de uma fogueira e observa o homem abrir um alforje e retirar um embrulho feito com um pano. Era pão e ela recebe um pedaço oferecido por ele.
– Impeço sua tarefa e você ainda me trata bem.
– Você não poderia imaginar que iria cair em cima de mim. – ele dá de ombros. – Estávamos na hora e no local errado, apenas isso.
– Você me falou de maldição...
– Já que você caiu de um portal, ouvir sobre maldições não deve causar espanto. Eu fui amaldiçoado quando tentei resgatar minha noiva que está em um castelo.
– E o que o ocorre com você?
Ele rasga o pão, fita o pedaço e depois fala:
– Na fase inteira da lua cheia, eu me transformo numa fera. Não um lobisomem. Sou uma fera na aparência, mas continuo plenamente racional e humano. Apenas fico horrendo e preciso ficar escondido para não ser caçado.
– Talvez eu possa desfazer isso. Tenho condições...
– Não, Regina. Somente a Rainha Monstro pode fazer isso. Ela me marcou e somente ela pode me desmarcar.
Um arquear de sobrancelha mostra que Regina havia entendido parte da história.
– O que o bandido que você feriu, tem a ver com isso? Você me disse que eu o havia feito perder sua chance de livrar-se desse mal...
Adam bebe um gole de água e ajeita a capa sobre os ombros.
– Aquele bandido é um pirata habilidoso. Ele cortou a mão da Rainha e ela a quer de volta. Em troca fará minha cura.
– E você pretendia levar o pirata até ela?
Adam acha graça e sorri.
– Tentei, mas não está sendo fácil. Ele sempre escapa de mim, por um motivo ou outro. – o homem aponta para a porta da caverna. – Em duas noites, a nova fase da lua entrará e eu me transformarei.
– Teremos dois dias para encontrar o tal pirata. Assim que você resolver o seu problema, gostaria que me ajudasse a encontrar um meio de abrir o portal para retornar para minha casa.
Adam franze a testa.
– Com seus truques não conseguiria abrir um portal?
– Portais precisam de chave. Pode ser um feijão, um espelho, um chapéu mágico...sem uma chave não poderei abrir.
Por longos segundos, os dois ficam em silêncio. Apenas o som do vento lá fora fazia a sonoplastia para aquele momento.
– Poderemos encontrar um dos gigantes e comprar o feijão. Espero que tenha algum objeto de valor. – ele sai de seu devaneio e esboça um sorriso.
– Mas isso, iremos pensar depois. – Regina inclina-se para frente. – Como pretende alcançar o pirata?
Adam alarga um sorriso. Depois faz uma careta de dor e massageia a cabeça.
– Posso usar você como isca? Eu conheço aquela criatura obscena e sei o quanto é dominado por novidades. Ele é curioso e não irá embora sem saber quem é você e como veio parar aqui. Afinal, não vemos um portal ser aberto em todos os dias.
– Você o conhece bem. Onde ele deve estar agora?
O homem dá de ombros.
– Ele estava ferido, mas o rio o regenerou. Certamente, está esperando por nós.
Percebendo que o homem tremia de frio, Regina vai sentar-se ao lado dele. Ajeita o edredom e envolve os ombros de Adam. Sorriem e ficam em silêncio.
A noite preenche toda a abóbada celeste e cobre aquela parte do mundo, com seu imenso cobertor azulado, salpicado de pontinhos prateados.
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