Depois da Meia-Noite escrita por Miinx


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Tomara que gostem desta fanfic.
Começarei com a minha versão de Chapeuzinho Vermelho.
O próximo capítulo será de a Bela e a Fera.


Aproveitem.



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LITTLE RED RIDING HOOD

— Pegue isto, e entregue a sua avó.
Sua mãe estava cansada e fadigada pelo trabalho árduo do dia, mas a filha não prestava atenção em nada, apenas a si mesma. Egocêntrica como o pai que um dia abandonara ambas por puro ódio. Mal sabiam que havia muito mais em tal história do que uma simples ambição e raiva.
A filha levantou-se da cadeira emadeirada na qual repousava, um olhar frio e sombrio deformando seu semblante belo: cabelos cobres que se estendiam até sua cintura, olhos azuis como o lago cristalino em que ela costumava nadar quando pequena, perto de sua casa.. Quando ainda era a inocente garota com a capa vermelha. Mas eram águas passadas, segundo a própria filha.
A mãe a olhou, quase que tristonha e cabisbaixa. Os olhos verdes agora estavam mais escuros e deprimidos.
— Me dê isto — a filha arrancou a cesta que a mãe carregava entre os dedos finíssimos como os galhos das árvores secas da floresta que cercava seu casebre. — Onde está minha capa? Procure-a agora.
Sua mãe não pareceu surpresa pela algidez da descendente, mas sim, acostumada e submissa. Deu cinco a seis passos até a pequeníssima sala de jantar, e retornou com a bela, longa capa negra de sua filha. Ela havia abandonado a famosa capa vermelha — que tinha lhe dado o ridículo apelido de Chapeuzinho Vermelho, pois ela sempre a vestia — e a substituído por uma maior, mais decorada e negra como a noite. Era sua própria rebelião, seu primeiro ato de desobediência e contrariedade para com a mãe, após a perda do pai.
— Não voltarei cedo. Talvez nem volte em alguns dias, irá depender de minha vontade. — a filha franziu o cenho, sem querer dar satisfações a quem não devia. Deu um último olhar a mãe e saiu, sem dizer adeus a ela.
A floresta densa parecia neutra, as árvores translúcidas ao receber a luz do luar. Sons da vida selvagem, como o trilar dos grilos e o gorjeio dos raros pássaros noturnos soavam como sinos desafinados. A garota pôde ouvir um arganaz chiando à sua direita, e avançou para a floresta logo em seguida. Não tinha medo; estava apenas frustrada consigo mesma. Ao ouvir mais ruídos, agora mais altos e repetitivos, a pele da garota se arrepiou com tamanha sua tensão.
Cerrou os punhos, apertando os dedos na alça roliça da cesta, até o ponto deles se tornarem brancos.
O vento soprou nela com fervor, à medida que ela adentrava na floresta, invadindo e congelando seus ossos. Parecia ser acariciada por dedos gelados, enquanto ela se derretia em uma poça cinzenta de temor. Poderia ser apenas sua imaginação, mas ela ouvia com clareza seu nome sendo chamado por uma voz estridente e misteriosa, capaz de congelá-la até mais do que o frio e o seu medo, o qual ela já admitia sentir infielmente.
— Angeline, ambiciosa e rebelde menina de frio e maldoso coração, retorne para a segurança de tua casa e não ouse voltar para o lugar que não te pertence. — a voz sussurrou, onipotente. Era forte e densa como a bruma, e causou mais calafrios de frustração na pele cor de alabastro da bela garota da capa negra. Ela acelerou seus passos, tornando-os mais largos. Tentou acalmar a si mesma, dizendo em sua mente que já tinha vindo a floresta diversas vezes, mas todas as suas tentativas eram destruídas pelo simples fato de que era a primeira vez que ela vinha durante uma noite de lua cheia. A noite famosa por acontecimentos de puro sobrenatural. A lenda que ainda rondava o vilarejo do norte piscou em sua cabeça como vagalumes. O temível lobo gigante, que assassinava qualquer um a vagar na floresta à lua cheia. Temerosa, a garota da capa negra apertou as vestes contra a pele e continuou andando, até perceber que estava em um caminho sinuoso, e não reconhecia o lugar. Estava perdida na floresta, e sem ninguém para auxiliá-la a prosseguir ou voltar.
Tentou alongar a capa sobre a sua cabeça, e tomou alguns passos para trás, com a esperança que achasse seu caminho original, que por sinal era bem conhecido por ela. A casa da avó era um de seus últimos refúgios após os constantes conflitos contra a patética e melancólica mãe.
— Ó Angeline, ouça meu aviso — a voz insistiu friamente. — Irdes para tua casa e jamais voltes para cá!
— Estou louca, — a garota da capa negra rosnou para si mesma, com igual frieza. — Vá-te embora, voz de mal caráter e tristonha desgraça!
— Ainda ousas insultar-me, menina indisciplinada. — a voz elevou o tom, transparecendo o tom masculino. A garota deu mais passos para trás, e correu de volta, esperando achar seu casebre. — Pois farei questão de nunca libertar-te desta floresta!
A menina da capa negra continuou a correr, mas tropeçou, desajeitada, em uma grande rocha. Ao cair no chão, viu algo imenso aproximar-se dela com uma velocidade quase que sobrenatural. A voz era a mesma de antes, que a atormentou.
— Me diga, o que queres de mim?
A sombra revelou ser um lobo negro, com músculos sobressalentes e o pêlo grosso e opaco. Tinha cheiro de sangue, pútrido. Cheirou-a com certo desgosto, e seu olhar azul cinzento era familiar para a garota..
— Algumas perguntas nem sempre merecem suas devidas respostas. — ladrou o lobo, remexendo as patas, expondo garras mais afiadas do que adagas. — Não há nada em você que me atraia, muito menos seu cheiro, mas a questão é o que sois, não o que possuis. — finalizou com uma firmeza ameaçadora, rosnando. Seus dentes envolveram o braço da garota caída, e ela tentou se desvencilhar, sem sucesso. A lua iluminava o lobo, e sua altura lhe dava a aparência de um ser simplesmente sobrenatural, um deus metamorfoseado em lobo.
Seus dentes abriram feridas na fina pele da garota, e ela soltou um grito.
— Deixe-me ir — ela gemeu, e o lobo ladrou mais uma vez, a pondo de pé à força. A menina cambaleou, e desferiu um golpe no imenso animal, na esperança de feri-lo. O lobo ganiu, cuspindo sangue da mandíbula imensa, mas não pareceu abatido. Pelo contrário, estava mais furioso. Isso lembrou-a de seu pai, quando brincavam de pega-pega, e ele se irritava cada vez que era pego. Sentiu um vazio no peito ao atingir o chão novamente, e percebeu cheiro do seu próprio sangue surgir ao redor deles.
— Fique quieta, Angeline — ela se perguntou como ele sabia seu nome, mas estava com demasiada dor para pensar com clareza. O lobo a prendeu no chão, arranhando sua barriga com ferocidade. — Sempre esperei por esta oportunidade..
— Me solte! — ela derramou lágrimas pesadas e quentes, que rolaram pelo seu rosto como pedras. Cada parte de seu ser ardia e doía, a garota estava perto de perder a consciência. Ao perceber isto, o lobo negro a rolou no chão e a sustentou contra um tronco maduro e resistente de uma árvore maciça. Ela não sentia mais seus membros inferiores, onde as feridas causadas pelo lobo ainda jorravam uma grande quantidade de sangue escarlate, manchando suas vestes e o solo desgastado.
— Terás que esperar. Tens muito para ouvir, garota da capa negra. — proferiu o lobo, tão friamente quanto normalmente, como se estivesse recitando uma poesia sangrenta. A menina abriu e fechou os olhos, sentindo-se incapaz. — Me dê sua cesta, Angeline. Me dê agora.
— Eu não sei.. onde está a cesta..
O lobo ladrou diversas vezes, e marcou seu ventre com linhas de mais sangue vermelho-escuro. Ele havia aberto mais feridas, e aprofundado as antigas. Ela tossiu o líquido vermelho, sua tontura pregando peças com sua visão. Ela podia ver o lobo rosnar e expor seus dentes afiadíssimos. Não se moveu.
— Eu lhe disse para me dar a cesta, Angeline! — o canino de mais de dois metros de altura rosnou, e, com uma única garra da imensa pata direita, alisou o tórax exposto da garota, como se ameaçasse dar o golpe mortal a qualquer segundo. Ela tossiu novamente, e a garra do lobo adentrou em sua pele, bem próxima do centro, onde estava seu coração. Obviamente, sem muitos danos, mas apenas a ideia do que poderia acontecer amedrontava a menina.
— Apenas pães.. — ela tossiu mais uma vez, apenas saliva saiu desta vez. — Há apenas pães na cesta..
O lobo a olhou em silêncio, fitando-a com aqueles frios olhos azuis. O lado esquerdo de seu focinho se entortou para cima, expondo a arcada dentária do animal, e ele soltou um rugido.
— Não me importam pães! — ele retornou, e fechou os olhos por alguns segundos. Abri-os novamente após suspira. — Esperava mais do que apenas os pães caseiros..
A garota da capa negra arregalou os olhos, estreitando a postura.
— Por favor, me deixe ir.. — ela piscou seus olhos azuis, implorante, encarando o lobo. — Prometo não invadir suas terras, por favor..
O animal ganiu tão alto que o barulho foi entoado e ecoado pela floresta, e a garota assustou-se. Pôs as mãos à frente do corpo, em posição de defesa. Ela esperava um ataque dele.
— Não posso. — murmurou o lobo, que tinha dado passos para trás, com as garras desembainhadas. Olhou-a com seus olhos cheios de remorso. Ela tentou se levantar, mas sentiu um rosnado formando na garganta do lobo e permaneceu no mesmo lugar.
— Apenas me liberte, eu.. eu não contarei a ninguém.. muito menos voltarei.. — ela tentava argumentar, mas se sentia demasiada nervosa. Ao verificar a expressão do canídeo, a garota percebeu que ele se irritara com as suas últimas palavras.
— Isso quem decidirá será eu, garota da capa negra. — ele vociferou, e ela contraiu-se contra a árvore. Suas feridas não jorravam mais sangue, mas estavam doloridas, escurecidas, e ela sabia que não conseguiria fugir.
— Eu apenas te peço..
— Chega! — o lobo saltou até ela, envolvendo seu pescoço com as imensas patas dianteiras. Ela chorou e soluçou, mas ele não a soltou.
— Me deixe-.. — ele a interrompeu, dando-lhe uma patada na face. A garota desmaiou, e, vendo que não sentiria o impacto, muito menos a dor, ele mordeu seu pescoço e a matou, perfurando a sua veia aorta.
Afastou-se do corpo já frio e inerte da menina, segurando sua capa negra entre os dentes e pondo sob todo o seu belo corpo, e resfolegou:
— É para te ver melhor, minha filha.


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Notas finais do capítulo

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Sempre aceitos aqui.

Até depois,


Miin.



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