Pedro andava rapidamente pelas ruelas daquela pequena cidade, ansioso para chegar em casa, mas havia um problema em seu caminho: o cemitério da cidade o aguardava, com seus túmulos, jazigos e tumbas que se esfarelavam com o tempo. A noite era de lua cheia, e os raios lunares lançavam sombras alongadas contra o chão. Engolindo em seco, lembrou-se que era noite de Samhain, por mais que não fosse comemorada em seu país.

Ouviu uma cantoria estranha sendo trazida pelo vento e acelerou o passo. Mas de repente, como se puxado por uma força invisível, viu-se frente à porta do lugar, onde uma estranha multidão translúcida o aguardava.

Um senhor de idade, de cabelos brancos e bengala, foi o primeiro a se aproximar do menino, dizendo com a voz animada:

-Aproxime-se, caro amigo! Não tenha medo de nós. Só te chamamos aqui para contar nossa história!

Pedro quase enfartou ali mesmo, e os fantasmas começaram a abrir caminho na multidão, até um círculo onde uma fogueira e alguns troncos caídos jaziam. Havia outras pessoas sentadas nos troncos, pessoas vivas que o observavam em silêncio trajadas com longas capas negras.

-Olá, companheiro! – uma figura estranha, um Joker, apareceu à frente da fogueira, com seu sorriso misterioso. Sente-se, sente-se! Seja bem vindo à sessão da meia noite!

Atrás de si, os espíritos bloquearam a passagem de volta. Em controle de suas pernas novamente, aproximou-se a passos hesitantes do estranho círculo, composto pelo coringa e pelas pessoas de capa que, observando melhor, eram garotas e garotos adolescentes como ele.

Naquela noite, Pedro ouviu as mais estranhas, aterrorizantes e também, as mais românticas histórias de vida que já poderia ter ouvido. Quase quis ficar para sempre naquela roda, ouvindo os contos dos mortos, contrariando o ditado que “Mortos não contam histórias”. Mas tudo que é bom acaba, e quando o primeiro raio de luz chegou ao cemitério, o Joker deu por encerrada a sessão, com um floreio refinado e um sorriso misterioso. Tirou a cartola negra que havia sobre seus cabelos ruivos e curvou-se.

-Essa foi a nossa 600° Noite de Samhain, pessoal. Vejo vocês daqui um ano!

Tudo se escureceu. Quando Pedro acordou, estava em sua cama, de pijama e tudo. Confuso, perguntou-se o que havia acontecido.

-Será que foi um sonho?

Mal sabia o garoto, no cemitério uma figura dava um grande sorriso:

-Maravilhoso! E agora, quem serão nossos próximos convidados? Serão vocês, caros leitores?