Andamos por alguns minutos até que a discussão que acontecia na nossa frente ficou um pouco mais urgente, ouvimos Katie reclamar alguma coisa com sua amiga que parecia algo como “Não tem nada a ver com você, Leanne!”. Essa tal de Leanne tentou pegar seja lá o que fosse da mão da Katie que desviou do ataque da amiga e deixou o pacote que carregava cair no chão, e então aconteceu uma das coisas mais esquisitas que eu já vi em toda a minha vida, e olha que eu já vi bastante coisas estranhas.

Katie subiu no ar graciosamente, os braços abertos e os pés juntos como se tivesse sido lançado algum tipo de feitiço nela. O Cabelo balançava misticamente em volta de seu rosto por conta do vento que ainda circulava junto com a neve, o rosto dela parecia muito sem expressão o que a deixava com uma aparência tranquila até ela atingir a medida de seis pés acima do chão.

O silencio foi quebrado assim que Katie abriu os olhos. O grito dela penetrou em meu corpo, arrepiou até a minha espinha de tão intenso que era o desespero dela. Seja lá o que ela estivesse vendo ou que ela estivesse sentindo lhe causava uma angústia fora do normal.

Os gritos não paravam, pelo contrario, forma dobrados por que Leanne começou a gritar junto muito assustada com a situação da amiga, ela tentava segurar Katie pelo tornozelo na esperança de traze-la para baixo, mas Katie se movimentava de mais no ar, indo de um lado para o outro, até que Rony e Harry conseguiram puxar ela com muita dificuldade para o chão, mesmo assim ela continuou gritando como quem não reconhecesse a gente na sua frente, ou como se fossemos algum tipo de psicopata que quisesse mata-la.

– Fiquem ai, eu vou procurar ajuda – Harry disparou na corrida em direção ao castelo nos deixando totalmente sem reação. Katie continuava gritando e se retorcendo, enquanto tentávamos mantê-la quieta, e aos poucos alguns alunos começaram a parar perto do local assustados.

– Se afastem – Gritou Hagrid que corria na nossa direção com Harry logo atrás – Deixa eu vê-la – O Grandão se abaixou para ver a situação de Katie.

– Aconteceu alguma coisa com ela – Leanne já estava soluçando de tanto chorar – Eu não sei o que!

Hagrid demorou poucos segundos, então pegou a garota no colo e correu com ela direto para o castelo em seus passos de gigante meio estabanado. Os gritos foram ficando distantes até que sobrou só o canto do vento que passava entre nós, e nada mais que isso.

– É Leanne não é mesmo? – Perguntei para a garota que tinha uma expressão muito apavorada. Ela só confirmou com a cabeça em meio a soluços, o que me deu um pouco de pena dela.

– Tenho certeza que Madame Pomfrey fará o melhor para curar Katie, não fique tão preocupada – Disse Hermione abraçando ela de lado a fim de dar um pouco de conforto.

– Aconteceu de repente, ou...? – Deixei no ar para ela completar.

– Foi quando aquele embrulho rasgou – Apontou para o embrulho pardo que agora estava totalmente ensopado no chão e revelava um brilho esverdeado de um colar. Rony se inclinou para pegar mas tratei de salvar aquele ruivo rapidamente.

– Hey, não mexe nisso – Quase gritei e ele voltou a ficar de pé assustado.

– Eu já vi esse colar antes – Harry disse olhando diretamente para o embrulho – Esteve exposto na Borgin & Burkes há séculos. Estava escrito na etiqueta que era amaldiçoado. Katie deve ter tocado nele – Ele parecia tão concentrado em sua teoria que eu quase conseguia ver o cérebro dele gritando o nome do culpado - Como foi que Katie arranjou isso?

– Bem, era por isso que estávamos discutindo – explicou Leanne. – Ela voltou do banheiro do Três Vassouras trazendo o colar, disse que era uma surpresa para alguém em Hogwarts que precisava entregar. Estava muito esquisita quando falou isso... ah, não, ah, não, aposto como foi amaldiçoada com a Imperius e eu nem percebi!

– Ela não contou quem tinha lhe dado o embrulho, Leanne? – Rony não quis se aproximar muito, parecia um pouco perturbado com tudo isso.

– Não... não quis me contar... e eu disse que estava sendo burra, que não levasse aquilo para a escola, mas ela não quis me escutar... então tentei tirar o embrulho da mão dela... e... e... – Leanne soltou um grito de desespero.

– É melhor irmos para a escola – disse Hermione, ainda abraçando Leanne –, poderemos saber como ela está. Vamos...

Não consegui fazer nada a não ser assentir. Vi Harry ainda pensando e logo em seguida ele foi em direção do embrulho com o cachecol na mão, pegou com o máximo cuidado do mundo e foi na frente com uma postura de quem está determinado a alguma coisa.

Seguimos em um só ritmo até o castelo, e assim que entramos na propriedade Harry começou a falar suas suspeitas, que eu também considerava como minha.

– Malfoy conhece esse colar. Estava em um estojo na Borgin & Burkes há quatro anos, vi Malfoy dando uma boa olhada no colar enquanto eu estava escondido dele e do pai. Era isso que ele estava comprando naquele dia em que o seguimos! Ele se lembrou do colar e voltou para buscá-lo...

– Nã... não sei, Harry – disse Rony hesitante. – Um monte de gente vai à Borgin & Burkes... e aquela garota não disse que Katie pegou o colar no banheiro?

– Hey, não estou me sentindo muito bem, eu vou voltar para a sala comunal tudo bem? – Me coloquei a frente do grupo e fiz minha melhor careta de quem está sofrendo.

– Claro, o que você tem? – Perguntou Harry me olhando preocupado.

– Não sei, só não estou legal – Eu sei sou péssima mentindo – Vou esperar vocês lá em cima. Acho que deveriam mostrar isso – Apontei para o colar na mão do Harry – Para a madame Pomfrey, ela vai saber o que fazer.

– Eu também acho, iria sugerir isso agora mesmo – Disse Hermione.

– Tudo bem, melhoras Soph, já já a gente vai lá para a sala comunal também – Harry me olhava com compaixão e então puxou o grupo para dentro do castelo.

Eu só esperei eles desaparecerem da minha visão e corri em direção ao lago negro, eu sabia que ele estaria por lá, não me pergunte como. Deve ser alguma coisa dessa marca idiota.

Me aproximei lentamente do loiro e me sentei ao seu lado de frente com o lago congelado, o rosto dele estava mais pálido que o normal, com exceção do nariz que estava bastante vermelho devido ao frio.

– O que você quer?

– Vim conversar, sem educação – Resmunguei sem muita paciência para as atitudes infantis e arrogantes dele.

– Eu não tenho nada para falar com você – Retrucou ainda sem me olhar diretamente.

– Mas eu tenho algumas coisas para falar com você.

– Estou meio sem paciência hoje, Carrow – Ele foi se levantando mas eu fiz questão de segura-lo ali.

– Me escuta, Malfoy – Falei nervosa – Eu sei o que você está fazendo – Apertei um pouco mais forte que o normal o aquele braço fino e ouvi ele reclamar também irritado – Sei que o que aconteceu com a Katie foi culpa sua.

– Funcionou? – A voz dele ganhou um pouco mais de emoção que o normal, e os olhos brilharam de uma maneira fraca, mas já era melhor que aqueles olhos mortos que ele tem – Ela conseguiu entregar o colar para aquele velho?

– Não – Falei firme, tentando mostrar minha desaprovação a atitude dele – Ela acabou abrindo o pacote e a maldição caiu sobre ela mesmo.

– Droga – Resmungou fraco e se desvencilhou do meu aperto.

– Draco aquele colar era para chegar nas mãos do professor Dumbledore? – Tentava não soar tão incrédula, mas eu era nova naquilo, não me acostumei com esses tipos de fatos ainda.

– Claro – Me olhou como se eu estivesse doente – Achei que essa hora você já saberia sobre a missão, mas ao que parece o Lorde das Trevas confia mais em mim do que em você. Não que isso seja uma surpresa... – Estava tão claro que ele estava me esnobando que eu quase virei um soco naquela cara palida ali mesmo, mas me lembrei que estamos “tecnicamente” do mesmo lado, então me controlei.

– Dá próxima vez que for tentar fazer alguma coisa com o diretor, faça direito Malfoy – Me levantei e sacudi toda a neve da minha roupa – Você-Sabe-Quem não ficará feliz com fracassos – Fiz minha melhor expressão de desprezo e observei o rosto dele ficar quase amarelo, era fácil entrar na mente daquele loiro irritante, e eu gostei de descobrir isso – Vejo você por aí...

– Hey, Carrow – Ele me alcançou quando eu já estava alguns passos longe de onde ele estava antes e me segurou pelo braço – Quero te dar um conselho... – Olhou fundo nos meus olhos – Se afasta do Potter, essa amizade de vocês só vai te prejudicar, falo isso para o seu bem...

– Desculpa Malfoy, mas quem cuida da minha vida sou eu – Soltei a mão dele do meu braço devagar.

– Tudo bem, então se vira, eu só falei para o seu bem – Ficou nervoso rapidamente e saiu andando como quem quer se afastar de uma coisa nojenta. Fiquei ali por pouco tempo processando tudo aquilo que ele tinha me falado e tomei meu rumo para o castelo. Tudo que eu precisava era de uma fogueira e um bom livro para distrair minha mente, não aguentava mais tantas perguntas martelando meus pensamentos a todo momento.

Não sabia ainda qual era o plano de Voldemort, e estava com medo dele ter desconfiado de alguma forma de mim, e se esse fosse o motivo dele não ter falado comigo até agora então nosso próximo encontro seria somente para a minha morte. Não sei mais se queria que ele me contatasse, tinha muito medo de quando ficassemos frente a frente todas minhas aulas de oclumência não prestassem para nada. Eu tenho me esforçado muito, Snape me ajuda muito e ele disse que eu tenho ficado boa, melhor que Harry quando ele precisou dessas aulas.

O plano do Lorde das Trevas eu já desconfiava à muito tempo, e hoje tinha ficado muito claro que o objetivo dele é matar Dumbledore, assim ele conseguiria tomar o controle mais facilmente. É uma briga de gigantes essa que acontecia entre Dumbledore e o Lorde das Trevas, e eu ainda tenho aquela pulga atrás da orelha que sempre me pertubava, afinal, será que eu tinha tomado a decisão certa em me juntar ao lado do meu diretor?

Segui as escadas até conseguir chegar no quadro da mulher gorda e murmurei a senha “Sopa de coração” rápido para ela abrir passagem resmungando igual uma velha chata. Não estava com paciencia para aquilo hoje, estava nervosa de mais com a atitude de Draco, quem ele pensa que é para mandar eu me afastar do Harry? Eu sei me cuidar, sei o que faz bem e o que faz mal para mim, e sei que a amizade do Harry é uma das únicas coisas que me mantem nesse castelo. Por muitas vezes durante o verão eu pensei em desistir de tudo e sumir do mapa, pensei em deixar meus pais e deixar tudo e todos que eu conheço, mas eu sabia que não conseguiria viver longe dos meus amigos, são eles que me dão forças para continuar, é cliche, eu sei, mas é a verdade.

– Onde você estava Sophia? – Harry veio quase correndo na minha direção com Rony e Hermione logo atrás, quase trombou em metade da sala que estava lotada de alunos.

– Precisei passar na biblioteca – Menti, e rezei para eles acreditarem.

– Estávamos preocupados, não sabemos se foi um aluno que fez aquilo com a Kate, e você solta por aí poderia ser mais uma vítima – Hermione disse claramente assustada.

– Na verdade, sabemos sim que foi um aluno...

– Harry, não começa – Disse Hermione saindo do estado de assustada para irritada – Já disse para você, é impossível o Malfoy ter feito isso, ele ficou no castelo o dia inteiro...

– Mas ele tem seus capangas...

– Dessa vez eu vou concordar com a Hermione, não pode ter sido Malfoy – Rony disse calmamente como quem já espera a desaprovação do amigo – Não foi um ataque muito inteligente no final das contas...

– Mas desde quando Malfoy é um dos maiores pensadores do mundo? – Harry resmungou contradizendo tudo que estávamos dizendo sobre Malfoy não ter nada a ver com esse ataque.