Voltei quase pulando de alegria para a sala comunal da grifinória. Era incrível saber que Dumbledore confiava em mim a ponto de querer trabalhar comigo para destruir Você-Sabe-Quem, e ele iria me incluir em seus planos para ganhar essa guerra. Eu não me sentia mais como uma traidora, estava de consciência limpa e com a alma lavada de toda a culpa que estava sentindo. Iria me desculpar com o trio que eu mais amo no mundo inteiro e iria tentar conseguir a amizade deles de volta a qualquer custo.

– Onde você estava? – Assim que cruzei o buraco do quadro da mulher gorda eu dei de cara com ele. Claro que Harry estaria me esperando para conversarmos, aquele garoto era muito persistente quando ele queria. Olhei para a sala comunal vazia, deveria ser muito tarde para não ter nenhum aluno ali, todos já estavam em suas camas.

– Como descobriu que eu não estava na minha cama? – Rebati com outra pergunta, sou horrível para inventar uma desculpa na hora, preferia contra atacar.

– Isso não importa, você estava até essa hora rodando o castelo com quem? – Ele estava ficando vermelho e o tom de voz cada vez mais alto. Eu já estava vendo a hora de alguém descer ali para ver o que estava acontecendo.

– Não seja grosso comigo Harry Tiago Potter, por que eu não mereço – Retruquei ainda mantendo o tom de voz mais baixo que o dele.

– Não me faça de tonto Sophia Carrow, por que isso eu não sou! Responde minha pergunta, com quem você estava? – Ele se aproximou devagar enquanto falava, as orelhas vermelhas não combinavam nada com seus olhos verdes.

– Com ninguém, estava sozinha, porque? Está com ciúmes? – Encarei ele sem medo nenhum. Eu não iria ceder e ele sabe disso.

– Eu? Ciúmes? – Ele parecia ofendido com minhas palavras, e isso sim me ofendeu – Me poupe garota...

– Me poupe você garoto! – A raiva subiu na minha cabeça e parecia que eu ia explodir – Mereço algo melhor do que ficar aqui discutindo com uma criança – Passei por ele mas fui segurada pelo braço com uma força fora do normal justo no lugar da minha marca, e isso doeu como uma queimadura do inferno – Me larga, está me machucando – Disse entre-dentes quase ficando fora de mim.

– Só se você retirar o que disse! – Ele apertou ainda mais e uma lágrima escapou junto com meu gemido de dor, o que fez ele me soltar na hora muito preocupado – Soph... Me descul...

– Me esquece Harry, não olha mais na minha cara – Virei um tapa bem servido no rosto dele e corri para o meu quarto sem olhar para trás – Inferno... – Murmurei ao entrar no quarto e me sentar em minha cama.

Todas as meninas já dormiam tranquilamente, menos uma.
Hermione veio até a minha cama preocupada com meu estado, pois eu chorava bastante sem conseguir conter uma única lágrima. Ela me abraçou forte e me fez carinho, tudo que eu precisava no momento. Abracei ela de volta e continuei chorando silenciosamente em seu ombro.

– Harry é um idiota – Sussurrei com a voz falha devido ao choro.

– Sim, ele é – Ela concordou me apertando ainda mais no abraço.

***

Vaguei sozinha pelos corredores do castelo rumando para o salão principal. Desde que briguei com Harry eu ficava assim, sozinha e triste. Hermione e Rony claro que ficavam com ele pois por uma semana inteira no começo das aulas eu os desprezei. Não tirava a razão de ninguém, só de Harry que foi um estúpido comigo naquela noite à uma semana atrás.

Me sentei no começo da mesa da grifinória afim de evitar alguma troca de olhares com Harry. Me servi com o mínimo de comida por que a fome já não me visitava por uma semana inteira. Quando terminei de comer o correio coruja invadiu o salão trazendo embrulhos e cartas para os alunos, minha coruja John John, mais escura que todas as corujas juntas, pousou ao meu lado com um pergaminho preso a perna.

– Saudades de você John John – Fiz carinho nela e desamarrei o bilhete de sua perna suavemente – Aqui, pode levar esse pedaço de peixe, você sabe que eu odeio isso – Peguei o pedaço de salmão do meu prato e coloquei no bico dela que não pensou duas vezes em sair voando alegre pelo salão.

Desenrolei o pedaço de pergaminho e comecei a ler.

“Me encontre perto do campo de quadribol depois do café da manhã.
Preciso conversar com você.
Ass: Malfoy”

Assim que terminei de ler foi muito automático meu olhar cruzar o salão e encontrar os olhos dele na mesa da sonserina. Um arrepio cruzou meu corpo do dedão do pé até o topo da minha cabeça, aquele seria meu primeiro contato com ele depois da conversa que eu tive com Dumbledore na semana passada, e eu não sabia se estava preparada para isso sem um segundo encontro com meu diretor para me aconselhar a passar por isso sem levantar suspeitas.

Desgrudei meus olhos de Malfoy e comecei a percorrer os mesmos pela mesa dos professores. A cadeira gigante de Hagrid estava vazia, provável que ele esteja muito chateado com o trio e comigo por não termos dado satisfação sobre não continuarmos com a matéria de trato das criaturas mágicas. A cadeira de Dumbledore também estava vazia já tem uns dias, ele provavelmente está em uma missão da ordem da fênix ou coisa parecida. E finalmente encontrei quem procurava: Snape.

Fixei meu olhar nele até aqueles olhos negros cruzarem com os meus que transmitiam um certo desespero. Interpretei um “me encontre na minha sala” pelo movimento dos lábios dele e fiquei muito aliviada de saber que não foi só fingimento na frente de Dumbledore, ele realmente se preocupava comigo.
Peguei meu livro que eu estava lendo antes de vir tomar café da manhã e sai praticamente correndo do salão sem olhar para ninguém. Fui direto para a sala de defesa contra as artes das trevas e Snape me surpreendeu quando eu abri a porta, ele fora sem dúvidas muito mais rápido que eu.

– O que foi senhorita Carrow? – Disse Snape com a voz tediosa de sempre.

– É o Malfoy. Ele quer conversar comigo agora e eu não sei como agir na frente dele depois do que aconteceu na semana passada – Não me aproximei muito, mas minha voz denunciava meu medo.

– Simples! Pode agir como se nada tivesse acontecido na semana passada – A voz dele ganhou um pouco mais de emoção – Malfoy não pode nem sonhar o que está acontecendo – Snape parecia que me dava uma bronca e não um conselho – O que ele perguntar você conta, mesmo que seja uma informação confidencial. Depois de contar certifique-se que Dumbledore saiba o que você contou, é primordial ficarmos sempre um passo a frente deles.

– Tudo bem... – Hesitei um pouco, mas decidi perguntar – Dumbledore... Ele está em uma missão pela ordem da fenix?

– Tudo o que você precisa saber é que ele não vai demorar muito, precisamos atualizar você sobre o que está acontecendo o quanto antes – Disse Snape voltando com a voz tediosa – Agora vá, Malfoy já deve estar te esperando.

– Pode deixar – Abracei meu livro um pouco mais forte que o normal – Obrigado Professor – Disse ao sair, pensei ter escutado ele resmungar um “não há de que”, mas acho que foi só a minha imaginação.

Andei sem pressa para fora do castelo, o dia estava chuvoso o que não me ajudou em nada com meu ânimo para sair. Caminhei até chegar perto do campo de quadribol, o movimento de alunos estava fora do normal, perguntei-me se haveria alguma coisa diferente mas não consegui lembrar o que era.

– Graças a Merlin, por que demorou tanto Carrow? – Disse Malfoy irritado.

– Não sou obrigada a te obedecer Malfoy, só vim até aqui para saber se tem alguma novidade de Você-Sabe-Quem, por que desde o primeiro dia de aula ele não fala mais comigo – Fechei a cara e cruzei meus braços em cima do meu peito para tentar mostrar seriedade no assunto.

– Ele disse que vai querer algumas informações sobre o que está ocorrendo com Potter e Dumbledore, você é a nossa infiltrada numero um para descobrir esse tipo de coisa.

– Ele não deu nenhuma instrução a mais para mim?

– Tenho algumas instruções novas, mas essas são só para mim – Disse com um ar de superioridade - Ele pediu para eu avisa-la que ele vai entrar em contato em breve para as suas instruções – Deu um meio sorriso para mim e logo em seguida fixou o olhar em alguma coisa além do meu ombro.

Não aguentei de curiosidade e me virei para ver o que era que Malfoy observava com a expressão do rosto de nojo que ele sempre tinha, e as minhas suspeitas se concretizaram. Era Hermione, Rony e Harry que andavam juntos, todos tinham uma expressão de quem comeu e não gostou, mas a careta que Harry fez foi de cortar meu coração, ele me olhava com desgosto, um pouco de tristeza e com raiva também. Agora eu estava mais ferrada ainda!

– Falo com você depois Malfoy – Nem esperei o loiro irritante responder e já corri atrás do trio que se afastava muito rapidamente para o campo de quadribol – Hey, dá para me escutar?

– Acho que não – Disse Rony bem grosseiramente. Isso foi como um soco no meu estômago emocionalmente.

– Não sejam maldosos meninos – Disse Hermione e logo parou para eu conseguir alcança-la – Tenho certeza que não foi nada de mais...

– Você tem certeza? – Resmungou Harry – Ela está saindo com Malfoy, eu tinha certeza disso – Ele disse entredentes com a raiva tomando seu corpo.

– Desde quando você tem certeza disso? – Olhei nos olhos dele também um pouco nervosa.

– Semana passada, se esqueceu que chegou na sala comunal quase meia noite? Estava saindo com ele desde aquele dia? – As lagrimas começaram a ameaçar cair pelo rosto dele.

– Para Harry, você acredita mesmo que eu estou ficando com o Malfoy? Por favor, eu mereço algo melhor que aquilo – Com minhas palavras parece que ele ficou mais tranquilo – Precisamos conversar sério.

– É, precisamos – Ele me olhou com vergonha – Vou fazer a seleção do time de quadribol agora, me encontra depois disso?

– Pode ser, e você – Apontei para Rony dando um susto nele – Me perdoa pelo que eu fiz na primeira semana de aula? Sua amizade é muito importante para mim, praticamente essencial – Abri meus braços e fui surpreendida por um abraço de urso dele.

– Ta perdoada, mas nunca mais ignore minhas conversas sobre quadribol – Disse ele num tom brincalhão e logo me colocou de volta no chão.

– Vamos – Hermione me puxou pelo braço – Esses dois tem um teste para fazer – E então começamos a andar em direção as arquibancadas.

Me sentia um pouco mais leve com o perdão de Rony, agora só faltava eu conseguir o perdão do Harry e tudo voltaria ao normal. Hermione tagarelava alguma coisa sobre a Lila estar dando em cima de Rony e de como ele era idiota em querer se mostrar para ela, foi assim quase todo tempo do teste que Harry fazia.

Vi ele ficar muito nervoso dentro do campo, todos queriam fazer parte do time dele, primeiro anistas, meninas futéis e até alunos de outras casas, só pelo fato dele ser nomeado o “escolhido” pelo profeta diário, pessoas inventavam boatos incríveis sobre ele e toda nossa aventura do ultimo semestre no ministério da mágia contra os comensais da morte e Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

As arquibancadas foram ficando cheias conforme o tempo passava, Harry estava mais irritado que nunca e ainda faltava o teste de goleiros. Varios garotos voaram até os aros para defender os lançamentos de Gina e da outra menina que tinha sido selecionada algum tempo antes. A disputa ficou basicamente entre Rony e um garoto chamado McLaggen que parecia mais um armário em cima de uma vassoura.

– Boa sorte! – Gritou uma voz que estava um pouco mais abaixo de nós assim que Rony direcionou-se para os aros. Era Lila, eu quis rir mas segurei firme para aguentar Hermione logo em seguida.

– Quem ela acha que é? Conheceu ele quando para já falar assim? Quantas quase-morte já passou ao lado dele? – Hermione me questionava e eu me esforcei ao máximo para manter a expressão séria.

– Isso é um absurdo – Concordei.

– Claro que é! – Emburrada ela cruzou os braços e fechou a cara – Se ela ficar de muita gracinha eu azaro ela assim que possível.

– Eu te ajudo amiga – Troquei nosso toque de mão – Olha só, Rony continua sendo um excelente goleiro – Apontei para o campo onde Rony estava pegando cada chute ou lançamento que Gina fazia, levando as arquibancadas a loucura com isso.

– Acho que com isso ele fica com a vaga – Disse Hermione satisfeita - Você foi brilhante, Rony! – Ela gritou conseguindo cobrir todo barulho da arquibancada, eu vi ele se virar para nós e dar um sorriso caloroso.

Após anunciado o final dos testes meu estomago começou a ficar estranho com a sensação se ansiedade que surgiu, minhas mãos ficaram geladas e um pouco suadas. Era estranho me sentir assim só com o pensamento de que eu iria ficar cara a cara com Harry, meu melhor amigo desde que eu tinha doze anos. Mas ultimamente ele tem causado isso em mim sem nem mesmo eu perceber.

– Resolve suas coisas com Harry e vamos falar com Hagrid, não aguento mais ver ele chateado com a gente – Hermione se separou de mim e foi em direção a Rony que conversava animadamente com Gina e Harry.

Acenei de longe para o grupo e Harry veio na minha direção após se despedir deles.

– Vamos andar um pouco? – Ele sugeriu e só esperou uma confirmação minha para começar a andar – Dá para acreditar que todas aquelas pessoas só estão lá por que o profeta diário espalhou que eu sou o “escolhido”?

– Dá sim, todos estão vendo você como um herói, e eu não tiro a razão deles – Afundei minha mão esquerda no bolso do meu casaco e com a mão direita eu segurava meu fiel livro.

– Mesmo assim, isso está um pouco exagerado – Ele disse um pouco triste – O que também é um pouco exagerado foi minha atitude semana passada – Me olhou firme esperando uma reação – Me desculpa.

– Eu também peço desculpas, acabei me alterando com você também...

– É, mas eu que comecei tudo isso. Deixei meu ciúmes subir para minha cabeça – Ele parou do nada e me encarou com aquela cara de cachorro abandonado. Eu só consegui cortar aquele espaço entre nós e abraçar ele de uma maneira terna.

– Está tudo bem Harry, vamos esquecer isso – Respirei aquele cheiro gostoso, o mesmo cheiro que eu senti na poção do amor e senti ele me envolver com aqueles braços que por muitas vezes me acalmaram.

– Senti sua falta – Ele sussurrou perto do meu ouvido e afundou um pouco mais a cabeça em meus cabelos.

– Eu também – Sussurrei de volta com a voz fraca e tive que me afastar dele por que meus pensamentos já estavam me levando para outro caminho, e eu não tenho certeza se conseguiria me segurar para longe desse caminho tão tentador por muito tempo.

Harry me encarou sério após nos afastarmos, óbvio que ele tinha percebido que nós estamos diferentes um com o outro, ele nunca sentiu ciúmes de mim como sentiu nessa última semana, e eu nunca tive essas sensações só de estar perto dele. Era estranho, mas eu estava gostando de tudo isso, estava gostando muito!

– Vamos galera, daqui a pouco fica escuro e eu tenho certeza que não vai ser nada fácil conseguir o perdão daquele grandalhão – Rony passou apressando no espaço que tinha entre Harry e eu, o que fez com que nós perdêssemos o foco um do outro.

– Acho que não, ele não pode estar tão chateado assim só por causa de algumas aulas – Harry começou a seguir nosso amigo e Hermione veio logo atrás.

– Você está subestimando os sentimentos de um gigante, se eu fosse você não faria isso – Avisei ele.

– Hagrid chora por pouca coisa, também acho que as emoções não são o forte dele – Hermione concordou comigo.

Chegamos mais perto da casa de Hagrid e vimos bicuço deitado em seu lugar de sempre, parecia até parte da vista que tínhamos da frente da cabana de Hagrid. Ele estalou o bico afiado e virou aquela cabeça enorme de pássaro para nós, meu coração gelou na hora, ele colocava medo em quem quisesse.

– Ele ainda é um pouco assustador – Disse Hermione.

– Um pouco? – Olhei bem para o hipogrífo tentando não passar o medo que sentia – Mesmo depois de andar nele eu ainda tenho muito medo.

– Ele coloca medo mesmo, mas é o bicuço – Harry se aproximou devagar muito cautelosamente, ele fez uma reverência sem desviar os olhos nem por um momento e sem piscar também. Bicuço demorou um pouco, mas logo se curvou em uma reverencia exagerada – Hey garoto – Harry se aproximou agora sem medo - Senti sua falta. Mas você está bem aqui com Hagrid, não está?

Fizemos uma visita um pouco desagradável no começo. Hagrid estava resistente e muito magoado conosco, ele foi grosso comigo varias vezes durante a conversa, mas aos poucos foi cedendo e no final descobrimos que a magoa não era conosco, ele estava chateado com o estado de saúde da sua aranha de estimação que eu, Harry e Rony conhecemos bem em nosso segundo ano no colégio.

Aragogue estava doente e o grandão estava preocupado com isso.
Depois da conversa nós voltamos ao entardecer para o castelo, estávamos morrendo de fome pois acabamos perdendo o almoço e não dava para comer nada que Hagrid fazia naquela cabana, mesmo se estiver morrendo de fome.

Jantamos rapidamente no salão principal e subimos para a sala comunal, eu me despedi deles pois estava muito cansada e fui direto para o meu dormitório, lá minha coruja me espera no parapeito da janela com um bilhete amarrado a ela.

– Está requisitada hoje John John – Acariciei ela antes de tirar o bilhete de sua perna – Pode ir caçar, você merece – Ela nem esperou eu terminar de falar e já levantou voo na escuridão.

Abri o bilhete e reconheci a letra na hora, pois a vejo desde o primeiro dia de aula.

“Dumbledore pediu para marcar nosso encontro para o próximo sábado a tarde. Vamos atualizar você sobre tudo. Não se atrase
ass: Snape”