A Árvore da Vida escrita por A Garota Chamada Estrela, Tia Ems


Capítulo 1
Capítulo 1 - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá! Essa história conta uma vida sobre uma garota comum que você pode ver andando por ai, sobre as ruas. Espero que gostem!



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Quando eu era apenas uma menina, não me importava com o que os outros pensavam, afinal, quando se é uma criança, você nunca se importa com esse tipo de coisa. A coisa mais preocupante do mundo para você é tentar achar o lápis amarelo para pintar o sol. Eu sempre via os adultos desesperados, preocupados, sérios, estressados, sempre mal humorados. Não entendia o motivo de tanto mau humor e preocupações, quando perguntava sobre algum assunto de “gente grande", eles diziam que eu era muito nova pra entender, talvez eu fosse. Não me encanava tanto pelo fato de não poder saber essas coisas, muito diferente das outras garotas da minha idade que queriam desesperadamente ser adultas e faziam de tudo para parecerem mulheres adultas. Passavam maquiagem, andavam de salto e estavam até pensando em namoradinhos, o que eu não entendia, eu não tinha pressa alguma pra crescer, vivia cada momento como se fosse o único. Andava descalça o tempo inteiro, rolava na grama, não ligava pra aparência, nem para números, dormia o tempo inteiro, brincava com os moleques. Comia qualquer coisa que eu via pela frente, sem se importar com calorias, doenças ou engordar, chorava por tudo e sempre acabava conseguindo tudo o que eu queria, enfim, ignorava qualquer senso de estética que hoje tenho.

A maioria das garotas gostavam de brincar de boneca ou de casinha, tinham nojo de sentar na grama ou de brincar no barro, o que eu não entendia muito bem, como elas podiam dizer que não tinha graça nenhuma na natureza? Como podiam dizer que era nojenta? E como elas podiam matar insetos apenas por diversão? Elas tratavam tão bem os cachorrinhos delas, por que pisar na pobre formiguinha? Enquanto elas passavam horas fofocando sobre garotos, eu passava horas brincando na minha árvore. MINHA árvore e brigava com qualquer criança que quisesse brincar também, nem os meus próprios amigos podiam brincar lá, diziam que eu era egoísta, mas as pessoas não entendiam o significado que ela tinha pra mim.

Sobia bem lá no topo da árvore pra poder admirar o nascer-do-sol, levantava umas cinco horas da manhã sem ninguém perceber e ia assistir o show que era aquela explosão de cores no céu. Tudo era uma maravilha quando eu era uma criança, mas chega aquela fase da puberdade, onde nosso corpo começa a mudar e a nossa cabeça também, toda a nossa inocência vai embora e começamos a nos preocupar com o que as pessoas pensam, começamos a fazer o que a sociedade diz que devemos fazer.

Eu não me importava com essas coisas de escola, até a quarta série, onde tudo era bem fácil e eu tirava dez em quase tudo, mesmo não estudando para nada, mas quando fui pra quinta série, tudo era tão diferente. Aquelas matérias todas confundiam minha cabeça. Tinha número em toda a parte, tinha português em matemática, era uma confusão atrás da outra. Eu tirava notas horríveis, de cinco pra baixo. Nunca fazia as lições e escondia tudo dos meus pais, sempre mentia dizendo que estava tudo certo e que eu não estava com problemas na escola, eles acreditavam, mas não paravam para tirar satisfações já que estavam sempre ocupados com o trabalho, era uma fase onde tudo estava de cabeça pra baixo e eles não estavam lá pra me ajudar, ninguém estava. Nessa fase, uma das coisas que mais me incomodava foi a mudança dos meus amigos. Eles não brincavam mais e só queriam saber de pegar garotas, e eu acabava brincando sozinha, na real, eu era a única que brincava, as pessoas caçoavam de mim por isso. Então, depois de um tempo parei. Deixei as coisas de crianças de lado. Estava sem amigos para brincar. Sem pais pra me salvar. Estava sozinha,

As coisas mudaram, mas uma coisa que nunca mudou foi a minha paixão pela minha árvore, quando eu ficava estressada com as coisas da escola, eu subia lá e me esquecia de todos os problemas. Minhas notas continuavam horríveis, eu até tentei melhorar no estidos, mas realmente foi complicado, depois de um tempo deixei isso de lado e entregava quase todas as provas em branco, mas meus pais descobriram o que estava acontecendo e ficaram furiosos. Eu realmente não estava nem ai para os estudos, mas era difícil ignorar tudo aquilo quando meus pais sempre faziam questão de jogar na minha cara que eles se esforçavam muito para dar um excelente estudo pra mim e eu não valorizava nada disso. Eles diziam que se eu não estudasse não seria ninguém na vida e eu ia acabar na rua. Depois de tempos, meus pais e professores desistiram de mim, disseram que eu não tinha jeito mesmo e que eu poderia decidir meu futuro e todo esse negócio de estudos começou a afetar minha vida, com toda aquela pressão de vestibular.

Com quinze anos resolvi que ia me focar muito nos meus estudos, devido a quantidade excessiva de notas vermelhas no ano anterior, mas meus planos foram todos por água abaixo, quando conheci a Laís, uma garota extraordinária e maravilhosa, conhecer ela foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Ela tinha algo diferente dentro dela, uma simplicidade que carregava e aqueles olhos azuis tão profundos que mexiam comigo de um jeito que não sei explicar, enquanto todos os outros jovens só se importavam com os aparelhos tecnológicos que estavam ficando cada vez mais avançados, ela ainda gostava de observar a paisagem, a natureza e apreciava as coisas mais simples da vida. Uma das coisas que eu mais admirava nela era que ela não se importava com o que as pessoas diziam. Nos tornamos grandes amigas, porém com essa nossa amizade minhas notas iam ficando cada vez mais baixas e com o desinteresse de Laís pelos estudos acabávamos matando aulas, meus pais não desconfiavam disso, achavam que ainda estava estudando muito, estavam até orgulhosos de mim, apesar de não aprovarem minha amizade com a Laís, pois diziam que ela era má influencia e eles queriam minha concentração total nos estudos, mal sabia eles que eu aprendia muito mais com Laís do que qualquer coisa que eu via naquela escola, acho que a Laís era uma espécie de gênio incompreendido.

Temia a chegada do meu boletim, e sabia que se ele chegasse meus pais me colocariam em uma escola pública, já que estava ciente do que aconteceria tentava aproveitar cada momento que tinha com Laís, convidei ela pra dormir na minha casa, apesar dos meus pais não curtirem muito essa ideia, deixaram pois achavam que eu estava estudando demais. Naquele mesmo dia, quando fui acordar pra ver o nascer do sol, resolvi que chamaria a Laís, então subimos na árvore e admiramos aquele espetáculo, não precisávamos falar nada, sabia o que ela estava sentindo. Aquele momento foi único e quando ela pegou na minha mão, eu senti que era ela a pessoa que eu queria pra minha vida inteira, senti que ela era minha alma gêmea, todos os problemas foram embora com aquele simples toque. Ela foi a primeira pessoa que eu levei pra a minha tão querida árvore e foi na minha árvore que dei meu primeiro beijo. Eu e Laís nos beijamos. Eu nunca tinha certeza de nada que eu fazia com a minha vida, mas quando eu a beijei tive toda a certeza do mundo que estava fazendo a coisa certa, mas mal sabia eu que aquele seria um dos últimos momentos com Laís, quando meus pais viram meu boletim ficaram furiosos e me mandaram direto para uma escola pública.

No começo, eu estava revoltadíssima e só queria saber de ver a Laís. Não conseguia aceitar o fato dos meus pais terem feito isso comigo e ainda fui embora sem se quer dar satisfações para Laís, não parava de pensar em como ela devia estar se sentindo, logo depois do nosso beijo. Eu contei pra minha mãe sobre tudo e implorei pra que ela convencesse meu pai a me matricular lá novamente, mas isso só a deixou mais zangada e disse que era até melhor eu continuar na nova escola, pois sem a Laís poderia me focar mais nos estudos, além de dizer que ela só atrapalhou meu caminho e ainda disse na maior ousadia que quem sabe dessa maneira me apaixonasse por um garoto. Já tinha entendido o recado, minha mãe queria que eu me casasse na igreja com um indivíduo que fosse capaz de reproduzir pra ter duas filhas lindas e me tornar uma advogada séria, que trabalha o dia inteiro, mas mesmo assim quando chega em casa deixa a comida prontinha e chão limpinho pro marido e pros filhos.

Nesse tempo inteiro tinha tentado ficar com várias pessoas pra ver se sentia a mesma coisa que sentia pela Laís, mas não adiantava, ela foi meu primeiro e único amor. Para esquecer do vazio que estava na minha alma, dedicava metade dos meus dias estudando, me esforçava muito para obter notas altas e meus pais se orgulharem de mim, o que estava funcionando. Consegui passar no vestibular, coisa que nunca pensei que aconteceria, por algum motivo me senti capaz. Assim que sai da escola fiz uma faculdades de Direito no Rio de Janeiro. Agora meus pais tinham vários motivos para se orgulharem de mim, e sempre comentavam com os amigos do trabalho, o orgulhou que eu era pra eles. Enquanto eles estavam super orgulhosos, ainda estava procurando sentir o que eu sentia pela Laís. Não era algo passageiro, não se passava um dia se quer que eu não pensava nela.

Enquanto fazia a faculdade de noite, arrumei um emprego de manhã, não era um dos melhores empregos. Salário baixo, longas horas de trabalho, continuei lá por vários anos, até fazer o estágio da faculdade. Com vinte e três anos, conheci o Marcelo que fazia o estágio comigo, ele era lindo e todas as minhas colegas diziam que ele estava apaixonado por mim. Ele sempre me mandava várias cestas com flores e chocolates, meus pais diziam que ele era o homem perfeito para mim, mas é claro, "um bom moço, homem de família, etc e etc". Ele me pediu em casamento, e nunca tinha visto meus pais tão felizes, nem quando eu passei no vestibular, acho que é porque queriam que eu fosse normal, e quando souberam disso ficaram aliviados de pensar: "era só uma fase". Mesmo que eu não sentisse o mesmo que eu sentia pela Laís, aceitei o seu pedido.

Com vinte e sete anos, tivemos duas filhas gêmeas, que trouxeram muita felicidade para a minha vida, quando eu olhava para trás e sentia que tinha feito as decisões erradas, mas era só olhar pra elas que logo sentia que eu tinha feito tudo certo, e não tinha como não sorrir. Sempre tentava dar o melhor para elas, queria que elas fossem tão felizes quanto eu fui quando eu era pequena.

Elas cresceram, namoraram, casaram, tiveram filhos, formaram uma família. Eu sentia muito orgulho delas e um amor imenso pelos meus netinhos. Enquanto eles viviam suas vidas, eu ficava cada vez mais velha e doente. Estava entrando na casa dos sessenta anos de idade.Sentia que a morte estava próxima, Marcelo também estava muito doente e o seu câncer nos pulmões estavam ficando cada vez piores. Infelizmente, ele se foi. Após três anos, superamos a morte dele e seguimos cada um com sua vida. Minha filha Luanna hoje é uma excelente médica e a Agatha seguiu meus passos com a faculdade de Direito, senti que elas não precisavam mais de mim, então retornei pra São Paulo, minha terra natal, lugar que nunca retornei após a morte dos meus pais.

Também sentia uma imensa saudades da minha casa que eu tanto amava, mas principalmente da minha árvore, minha linda árvore que não poderia me julgar, foi lá que tive meus vários momentos bons, ela me acompanhou durante a vida e foi lá que beijei Laís, a garota que eu nunca consegui esquecer. Assim que cheguei lá, não vi as folhas verdes que sempre embelezaram aquele lugar, apenas vi um tronco, sem vida, bruto. Meu coração apertou, senti ele se quebrando em mil pedacinhos. Avistei minha antiga casa que já estava velha e abandona, entrei desesperadamente tentando juntar forças para respirar, mas meus pulmões me traíram, estava velha, tão fraca e solitária, mal conseguia me mover. Fui para minha cama e passei metade do meu dia chorando até não poder mais, esperei a noite cair e não vi o por do sol, só queria ficar sozinha e chorar, pensar em tudo o que havia acontecido desde que eu era uma criança, pensar nos erros que cometi na minha vida. Me lembrar da minha infância e do quanto eu era inocente e o quanto tinha me transformando. O quantos todos nós, nos transformamos para nos encaixarmos em uma sociedade. Afinal, é isso que os velhos fazem. Velhos ranzinzas. Eu era uma velha ranzinza.

Não consegui pregar os olhos direito, e quando conseguia tinha pesadelos. Até que não consegui mais dormir, então resolvi acordar ás cinco da manhã e fui assistir ao nascer do sol. Não tive coragem de sair de casa, não queria ver aquela visão triste daquele resto da minha árvore, quando olhei pela janela, vi uma senhora. Ela tinha mais ou menos a minha idade, parecia tão triste e solitária quanto eu. Velha e fraca, estava ofegante. Parecia exausta. Ela estava sentada na grama, observando o resto da minha árvore. Seu olhar era triste, ele carregava dores e sofrimento de um passado trágico. Lágrimas escorriam em seu rosto. Foi então que ela olhou pra cima, mirando em minha direção e eu logo reconheço aquele olhar...

Era Laís.


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Notas finais do capítulo

Comentem com sinceridade o que acharam. Críticas sempre construtivas! Obrigada! ;)



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