Jason não estava preocupado em receber a divisão dos quartos que um monitor entregava pomposamente: todo ano, os alunos de Birchcreek recebiam a relação dos quartos indicando qual seria a ala do prédio para aquele período, o que não importava muito além de saber com quem dividiria o quarto até o fim do ano.

"Jason, você tem que admitir: ela é um absurdo. ”
“Mas é uma Wright! ”
“E você vai comprar a briga dos velhos que não estão nem ligando para isso? ”
“Ela também comprou, ela quase me matou hoje. ”
“Você está se escutando, Jason? ”
“Não, você está se escutando, Jason? ”
“Você é um idiota... você e esse seu orgulho.... Idiotas."

A discussão em sua cabeça estava deixando o garoto louco o suficiente para ficar pensando em camas. Pelo menos para dormir.

As portas do refeitório se abriram e Hayden o cutucou, retirando-o do seu transe: algumas mesas de distância e lá estava ela. Não que Scarlett tivesse percebido, é claro, mas seu ataque contra Jason no trem invocou um desafio a ele: nenhuma mulher em um milhão de anos poderia negá-lo. Por que ela seria diferente?

♦

— Chegamos. — Blair jogou a bolsa em cima do ombro enquanto Ethan procurava alguém para carregar a pesada mala que ocupava todo porta-malas.

Todos receberam envelopes e seguiram pelo longo corredor feito de pedrinhas brilhantes e paredes de tijolo, que levava a garagem subterrânea até a entrada do colégio. Nesta, uma senhora fria e distinta, envelopada em um tailleur azul marinho que destacava ainda mais sua magreza exacerbada, esperava no topo da escadaria, com olhar de desdém.

— Boa noite e obrigada por se juntarem a nós. Sou Tereza Alberdeen, Vice-Diretora desta instituição. — Ela levantou as sobrancelhas em direção aos garotos. — Birchcreek é um marco arquitetônico de 300 anos, com muita cultura em suas paredes e uma bela história. Espero que todos vocês as honrem. Alguma pergunta?

Um silêncio tomou os alunos novos. Caleb ergueu os olhos para Blair, daquela maneira tão característica que não precisavam falar para se entenderem.

“Vamos nos meter em encrenca, sim ou claro? ”

— Ótimo, me acompanhem. — Tereza seguiu o caminho do corredor, sem ao menos olhar para trás novamente.

♦

Muitas palmas encheram o refeitório quando a Diretora Mavis terminou o discurso no auditório principal com as mensagens motivacionais e a apresentação dos novos professores e atividades.

Os grupos, duplas e enormes panelinhas seguiram para o refeitório, um grande espaço coberto de mesinhas brancas com toalhas de linho, enfeites florais frescos e enormes buffets fartos de comida. Mais parecia um salão de formatura do que um salão de almoço.

Blair Green já chamava atenção ao longe na apertada saia de couro. Alguns grupos travavam ao vê-la passar, mas ela não se importava, a Abelha-Rainha também era a Rainha do Gelo. No entanto, a sorte não durou muito, pois mesmo com a cara de má e de se esquivar de dois rapazes, falhou no terceiro.

— Você é Blair Green, certo? — O garoto abriu um enorme sorriso, e ela não pode deixar de reparar que ele era certamente um ótimo presente de boas-vindas. — Eu sou Matthew Owens, capitão do rúgbi e líder do Comitê, mas pode me chamar de Matt.

— Legal. — A morena assentiu em sua maneira fria, mas não pode deixar de dar uma piscada.

— É... Bom... — Matt ficou um tanto sem graça pela recepção confusa de Blair, mas tentou fingir que não se abalara. — Só queria dizer que... seja bem-vinda e não hesite em pedir o que precisar.

Ao primeiro sinal de distração de Blair, a boneca de porcelana Harriet Strauss se acomodou na frente do mural de aulas, em busca do estúdio de dança, os olhos acinzentados claros como água indo de um lado para o outro até encontrar o que precisava para manter sua forma nas cinco danças que praticava, do hip hop a tango.

Uma vez me disseram que quem come quieto come duas vezes e aparentemente disseram a mesma coisa para Harriet. Ela se fechava em seu casulo particular, dando a entender que a bonequinha de luxo era realmente quietinha. E ela não era. Ah, mas definitivamente não era.

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— Você não perde tempo, né? — Kyle gargalhou assim que Matthew voltou cabisbaixo para a mesa em que eles, Drake e o franzino Simon ocupavam perto de uma parede. — Quem é a garota?

— Blair Green, peixão da alta como vocês. Acabou de chegar com o irmão, Aaron, e mais umas garotas. — Simon assentiu, namorando com os olhos uma garota loira a algumas mesas de distância. — Nada de novo o Matt tentar pescar com vara o que só se pega com rede.

— Odeio você e suas metáforas. Só estava tentando ser gentil, não sou igual ao Kyle que precisa trepar a cada cinco minutos. — Matthew fechou a cara, voltando à sua expressão de bad boy quando um grupo de garotas do sexto ano passavam e o encaravam apaixonadamente. — Ela provavelmente será a nova capitã do lacrosse. Mas marquem minhas palavras, ela ainda estará na minha cama.

— Não é por nada, não Matt, mas pela cara dela, acho que está bem claro quem decide quem vai estar na cama de quem. — Drake olhou curioso para a garota que acabava de se sentar com Scarlett, Madison, Zoe e outras duas garotas. — Pelo menos temos o canal certo.

Mas antes que Drake conseguisse reparar melhor em Blair ou nas outras novas garotas, seu olhar caiu sobre Scarlett, e em seguida sobre Madison. Por um breve momento, ele se sentiu tonto: aquilo era problema demais para se administrar.

♦

Após Harriet encontrar tudo o que precisava saber para seu hobby e Blair conseguir se esquivar do senhor Matthew Grude Owens, elas avistaram o grupo em uma mesa bem no centro do salão.

— Hei. — Blair falou no seu tom casual, cool total. Harriet sentou-se ao lado de Alex e cumprimentou todas. — Eu sou a Blair, tudo bem?

— E eu sou a Harriet!

— Scarlett e Madison. — As duas se apresentaram, simpáticas. — Como vocês vieram para cá?

— Carro. Viemos direto de Stonefall, alguém notou que eu estou acabada?

— Não, você parece uma modelo recém-saída do camarim. Como sempre. — Zoe deu risada da cara de Blair. — Drama Queen.

— Estão aceitando qualquer um aqui. — Alex deu uma risada desgostosa, olhando em volta. — Caleb.

— Quem? — Madison passava os olhos nos novos alunos.

— Ainda não superou isso, Alex? — Blair sorriu.

— Eu sei que ele é seu melhor amigo, mas ainda não perdoei, desculpa. De onde ele saiu?

— Você exagera, Al. Eles vieram com a gente depois do Aaron me encher. — Blair se dirigiu as outras garotas. — Vocês têm que entender que minha vida poderia ser fácil, mas não é. Aaron, o garoto de chapéu, é meu irmão e estava com eles. Eles são melhores amigos e acabei tendo que ir buscá-los em casa.

— E o Caleb? — Scarlett perguntou para Alex, evidentemente interessada. — É o alto com cara de mau ou aquele que tem um crachá de cafajeste na cara?

— Adivinha. — Blair e Alex gargalharam. A loira continuou a história. — Dois anos atrás ele simplesmente me agarrou enquanto eu estava bêbada, brigamos feio e tudo o mais. Mas Caleb é extremamente cara-de-pau e eu realmente nunca dei muita bola, até porque quantas vezes eu já não fui agarrada bêbada e surtei, certo?

— Bem, eu não me importaria se ele me agarrasse. Bêbada ou sóbria. — Madison olhou sonhadora para Caleb.

— Eu me importaria, temos uma regra. — Blair sorriu, fria. — Não fico com os amigos dele, ele não pega minhas amigas. Assim eu evito de ter que ouvir choro quando ele dispensa elas, e ele evita de perguntar o que eu não quero responder.

— Vou aplicar essa regra com o Drake. — Scarlett deu risadinhas, ignorando o fato da cara de Madison estar estatelada no chão. Metaforicamente, é claro.

— Dificulta um pouco porque o ex-namorado da Blair é melhor amigo deles... E Ethan sempre andou com Aaron e Caleb... — Alex suspirou olhando para grupo, procurando uma mesa vaga. — Blair, vocês...

— Não. — Ela comentou como se estivesse falando sobre o tempo.

— E ainda a gente teve que trazê-los para cá... — Harriet sentenciou desagradavelmente. — Você quer falar sobre isso?

— Estou bem. — A morena deu um sorriso frio. — Então.... Alguma novidade sobre os quartos?

— Vou caçar o Kyle, ele deve saber. — Scarlett levantou e correu atrás do irmão, sentado a algumas mesas de distância.

♦

Jason Black a acompanhou com o olhar por todo o trajeto até ela encontrar Kyle. Não conseguia parar de olhá-la e estava profundamente irritado com aquilo.

— Ei... podemos sentar aqui? — Hayden cutucou Jason quando três garotos se aproximaram da mesa deles. O mais alto deu um sorriso e completou: — Sou Ethan Archibald, e esses são Aaron Green e Charles Jones.

— Caleb. — O garoto de olhos verdes lançou um olhar fulminante ao amigo. — Desculpe, ele faz isso só para me irritar.

— Eu sou Hayden e esse aqui é o Jason. Novatos?

— Algo assim. Vocês são os caras que dividem o dormitório com a gente, não é? — Aaron perguntou.

— Oh meu Deus, são eles! — Caleb forçou uma ridícula voz de falsete. Assim que se sentaram, o radar de garotas de Caleb Jones apitou para a mesa mais bonita do lugar. — Engraçado como as quatro sempre atraem coisas boas não? Alex, Zoe, Harriet e a incrível Blair.

— Não fala assim dela, Caleb. — Ethan olhou feio.

— Blair? — Jason procurou entre as garotas, curioso.

— É a irmãzinha do Aaron, cabelos castanhos e saia de couro, bem ali. — Caleb estufou o peito, orgulhoso. — Se eu precisasse provar que existe amizade entre homens e mulheres, seria ela. É a garota mais incrível que eu já conheci.

— Realmente, ela é demais. Pelo menos no que dá para ver. — Hayden ficou estático. — Como você consegue ter isso no quarto do lado, cara? — Se dirigiu a Aaron, que deu uma risada lenta.

— Depois que ela trocou os pijamas de ursinho pelas camisolas de seda foi mais difícil. Mas é minha meia-irmã e a ideia é meio nojenta.

— Mais respeito por favor. É minha ex. — Ethan suspirou ignorando os comentários de Hayden e Aaron. — Ainda gosto dela.

— Vai chorar? É sério E, Blair já desencanou, está na hora de você fazer o mesmo. — Aaron revirou os olhos. — Não cai nas mentiras da Alex, ela adora vocês juntos.

— Vocês conhecem a Fischer? — Hayden arregalou os olhos.

— A Alexandra? Claro que sim. Melhor amiga da Blair desde que nos lembramos. — Caleb assentiu. — Agora vamos falar de negócios, quem é a ruiva?

— A garota mais nojenta do mundo.

— O que? — Ethan, Aaron e Caleb olharam em choque para Jason.

— Não deem corda para o Jason, eles têm uma rixa meio boba que ele não sabe superar. — Hayden ignorou o olhar de censura do amigo. — Essa aí é a filha do Ministro. Scarlett Wright.

— Entendi. — Um sorriso enviesado de malícia carregou o rosto de Ethan. Aaron tinha acabado de dar o aval, então por que não?

— Aquela é Madison Hastings. — Jason e Hayden sorriram maliciosamente a loira que abraçou Scarlett dois segundos depois dela chegar ao grupo. — Todos a chamam de Mads, apelido louvável, porque ela é completamente louca. É bem conhecida, colunista da Teen Vogue.

— Está de parabéns também. — Caleb deu um sorrisinho para Madison e fez uma anotação mental.

— A Zoe já estudava aqui, mesmo eu não conseguindo aceitar que é a mesma garota. — Hayden balançou a cabeça para a loira que analisava interessadamente a mesa de Drake e Kyle. — Agora a outra, eu não faço ideia de quem seja.

— Harriet Strauss. Ela é um absurdo, mas é um rolo mal resolvido do Aaron. — Ethan desvencilhou o olhar por um momento se atentando às garotas do salão. Como bem notaria Caleb naquela mesma semana, haviam muitos bons perfumes em frascos mais discretos.

— Não é, não. — O garoto se defendeu. — Não que eu não gostaria, mas não temos nada.

— Em resumo, Aaron vive chapado demais o tempo todo para conseguir se aproximar da Strauss. — Caleb gracejou. — É o oposto da irmã.

— Ainda não consigo entender, Ethan. — Jason olhou indignado para Blair. Como alguém terminaria com aquele tipo de garota? Não que ele ficasse com alguém por mais de uma semana.

— Paige Barnes.

— Quem? Barnes Peitos? Aquela estranha do comercial?

— Essa mesma... — Ethan passou a mão pelos cabelos cansadamente. — Rolou uma festa, eu estava absurdamente chapado, ela veio para cima de mim e a Blair viu. Acabamos discutindo e ela terminou comigo.

— Na verdade, Ethan chorou e Blair usou um tom de como se explicasse que o céu é azul. — Aaron começou a bolar mais um baseado embaixo da mesa. — B é um tanto insensível e isso é um caos.

— Como você troca isso... — Hayden apontou para Blair. — Por isso? — E depois para Paige. — Não que ela seja feia, mas está longe de ser linda.

Ethan sorriu amarelo e começou a comer. O silêncio tomou conta dos cinco. Mais uma panelinha.

♦

Depois do jantar, todos aguardavam pela distribuição dos dormitórios. Scarlett conferiu a lista afixada na parede até encontrar seu nome:

Ala Norte — Dormitório 15
Fischer, Zoe
Hastings, Madison
Wright, Scarlett

Ala Norte — Dormitório 17
Goezte-Fischer, Alexandra
Green, Blair
Strauss, Harriet

— Ótimo! Quartos conjugados. — Scarlett sorriu jogando a bolsa surrada no ombro e se dirigindo a ala norte, seguida de perto pelas amigas. — Essa parte estava em reforma no ano passado, acho que estaremos bem.

Depois do jantar, as garotas passearam pelo jardim, aproveitando a brisa fresca da noite, e saíram em direção à ala Norte, a ala mais antiga do enorme conjunto de construções que era Birchcreek. Com a reforma, parecia muito mais uma mansão moderna com toques medievais do que um castelo de vampiros, como era anteriormente.

Os dois primeiros quartos tinham grandes números 15 e 17 dourados na porta, junto a um olho mágico e um dispositivo de cartão para a entrada.

— Olha que gracinha. — Harriet abriu a porta do quarto. As malas já estavam cuidadosamente dispostas próximas aos criados-mudos para objetos pessoais. — Gosto disso.

— Bem melhor do que antes.... Deve ser porque estamos com a filha do Ministro e tal. Exclusividades. — Zoe tirou um sarro.

— Cala a boca! — Scarlett riu enquanto todas arrumavam as coisas e se juntaram em um tapete felpudo trazido por Alex. A ruiva abriu sua mala e retirou uma garrafa de vinho — Acho que merecemos um brinde por esse ano que vai pegar fogo. A nós!

— A nós! — As garotas gritaram em uníssono e se divertiram noite adentro. Rindo de tudo o que viria em breve.

Ignoravam o último ano. Ignoravam as fortunas que as aguardavam para salvar o patrimônio dos pais. Ignoravam tudo: nessa noite, elas eram apenas adolescentes normais, sem o peso de nenhum nome ou título. Sem as fortunas que não as deixavam dormir à noite, apesar de garantir tudo de melhor na vida.

Hoje elas eram apenas algumas garotas de 18 anos se divertindo. Agora elas eram as rainhas. E elas sabiam disso.