- Cuidado, Tyler!

Senti meu corpo ser jogado bruscamente para frente e um silêncio reinou no carro. Encarei Tyler e Peter, meus irmãos gêmeos, o desespero era quase palpável. Tínhamos atropelado alguém e, pela velocidade em que estávamos a situação não era boa. Nada boa.

- Matamos alguém. Minha nossa, matamos alguém. – Peter resmungou mais para si mesmo que para o restante de nós.

- O que diabos nós fizemos? Que porra! – Tyler gritou e socou o volante com força me fazendo estremecer.

Suspirei pesadamente, precisávamos fazer algo. Era alguém jogado ali na frente do carro, era uma vida que poderia ter seu fim por uma irresponsabilidade nossa. Minha cabeça girava e, desta vez não era por causa da grande quantidade de bebida que eu tinha ingerido.

- Precisamos ver como ele está. Quem vai? – perguntei com a voz tremula.

O silêncio teria dominado o carro novamente se não fosse pela respiração descompensada de meus irmãos mais velhos. Eles não iriam e eu sabia disso. Meus irmãos sempre foram covardes demais. Decidida, abri a porta do carro e a fechei com brutalidade.

- Onde você vai, Elsie? – Peter perguntou em um fio de voz.

- Que caralho, vocês dois! Eu vou ver se ele está muito machucado.

Caminhei lentamente até a frente do carro. Eu tinha medo, medo como nunca senti na vida. Meus olhos estavam fechados quando eu parei em frente ao corpo e ao abri-los deixei um grito de pavor escapar por minha boca. O homem estava jogado no chão com os braços abertos ao lado do corpo, ele era jovem, não aparentava ter mais de seus 21 anos, tinha cabelos extremamente pretos e curtos. Sangue escorria por seu nariz e seus olhos verde musgo estavam abertos e arregalados, já sem vida.

- Elsie! Elsie! Você está bem? – ouvi as vozes de meus irmãos vindas do carro me tirando do transe.

Assim que entrei no carro e bati a porta novamente meus irmãos se viraram para mim com pesar nos olhos e, ouso dizer, culpa. Eu sou a irmã mais nova, mas sempre cuidei dos erros dos meus irmãos, que foram muitos, mas matar alguém por irresponsabilidade era demais, até mesmo para Tyler e Peter.

- Ele está morto. – anunciei com frieza e encarei a estrada. Estávamos fodidos.

- Vá, Tyler! Dirija essa merda antes que alguém nos veja e anote a placa do carro! Rápido! – Peter ordenou e antes que eu pudesse protestar já estávamos correndo novamente, em direção a nossa casa.

- O que?! Vocês estão loucos? Vamos deixar aquele homem ali? Ele está morto, precisamos garantir que o encontrem! Volte agora mesmo, Tyler! Volte com essa merda de carro para lá agora! – berrei enquanto socava o banco do motorista, onde estava Tyler.

- Não podemos voltar, Else, você só tem dezessete anos e está completamente bêbada, me diga, quer seus irmãos presos por matar um cara e ainda por corrupção de menores? – Peter gritou em resposta e apoiou a cabeça nas mãos, em sinal de desespero.

- Nós matamos um cara, Elsie, tiramos a vida de alguém inocente, não podemos acabar com a sua também, minha irmã, nem a nossa. Só temos dezenove anos, temos faculdade e uma família, não podemos ser presos. – Tyler disse um pouco mais calmo que Peter.

Assenti em concordância mesmo sabendo que nenhum dos dois poderia ver. Eu sabia que eu não seria a mais prejudicada da situação, isso não era sobre mim, era sobre meus irmãos. E eu não poderia fazer isso com eles, não podia prejudica-los mesmo que isso fosse contra meus princípios.

- Não quero mais ouvir sobre esse assunto. Nunca mais. Vamos esquecer essa noite. – Peter exigiu e ligou o som do rádio no último volume.

Eu gostaria de poder esquecer, mas sabia que não iria. O rosto daquele homem me perseguiria para o restante de minha vida. Eu não tinha dúvidas quanto a isso.