Além do Caos escrita por Um Alguém


Capítulo 7
Capítulo 7




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Eu odiava o Zeke. Não havia dúvidas quanto a isso. Mas agora o meu ódio por ele era ainda maior. Maior do que a culpa e a tristeza que eu sentia. Maior que o medo e os arrependimentos. Maior que tudo.

Eu me sentia afundando, mergulhando cada vez mais fundo em um mar escuro e denso. Estava cada vez mais distante de mim mesma.

"Isso não devia ter acontecido", repetia para mim mesma. "Não devia".




Depois de pensar muito acabei aceitando ir com o Dexter para o casarão. Primeiro achei que estava aceitando por causa do Dexter, depois achei que era por mim mesma. Mas na verdade eu era impelida por um pressentimento ruim. Precisava ter certeza de que todos estavam bem. Não aguentaria a culpa se algum deles tivesse se ferido por minha causa.

Dexter me guiou pelas ruas escuras e destruídas enquanto eu tentava me manter de pé mesmo com a dor na perna. Caminhamos a noite toda. Eu estava exausta. Até Dexter que passara a viagem toda firme, parecia cansado.

– Eu não aguento mais, Dexter. - reclamei me apoiando no ombro bom dele. - Minha perna está me matando.

– Eu sei, sinto muito. - disse ele abatido. - Já estamos perto.

De fato estávamos perto, mas andávamos tão devagar que o que demoraria alguns minutos demorou mais de uma hora. Quando por fim chegamos ao casarão o sol já havia nascido.

Mas assim que chegamos aos fundos da casa me arrependi de ter aceitado ir lá. Havia acontecido de novo. Mais uma pessoa havia pagado o preço por ficar perto de mim.

Jeremy, Sally, Kristin e Brandon estavam parados enfrente a um monte de pedras empilhadas. Sally estava ajoelhada chorando com Jeremy ao seu lado lhe amparando, enquanto Kristin e Brandon só observavam com tristeza.

Eu não precisava que ninguém dissesse o que havia acontecido, e o Dexter também não. Nós sabíamos. Estava bem ali, na nossa frente, nas lágrimas derramadas, nas palavras não ditas, no sofrimento quase tangível. A barreira que eu construí dentro de mim rompeu como uma represa. Todos os sentimentos que eu lutei para manter sob controle vieram à tona.

Comecei a chorar, me sentindo extremamente fraca e exposta. Dexter me puxou para junto de si, me abraçando apertado. Minhas lágrimas estavam molhando sua camisa enquanto eu ouvia as batidas descompensadas do coração dele.

– Eu sinto muito, Dexter. - sussurrei contra o seu peito.

– Não foi culpa sua, Rach. - ele sussurrou de volta, com o rosto no meu cabelo. - Só me prometa que não vai me deixar agora, por favor. - ele implorou parecendo vulnerável. - Não posso perder você também.

– Eu não devo. - disse-lhe sentindo a culpa e a dor me queimarem por dentro.

– Mas eu preciso. - insistiu. - Você é minha faísca de esperança no meio dessa escuridão.

Eu não devia ficar. Pessoas demais já haviam morrido e sofrido por minha causa. Mas eu estava cansada. Cansada de fugir da dor e da morte. Porque por mais que eu fugisse elas sempre me encontravam. E ali, naquele momento, com o coração em chamas, senti que não havia nada que me mantivesse de pé além do Dexter e da coragem que ele me dava para continuar seguindo enfrente.

– Não vou a lugar nenhum. - sussurrei-lhe por fim. Ele me abraçou com mais força e eu deixei que a força dele me guiasse para fora do buraco negro em que eu estava presa.



Dexter me levou para dentro de casa para um cômodo que parecia ter sido uma sala de estar, mas que agora era só mais um lugar destruído, como tantos outros. Sally mesmo visivelmente triste se prontificou a cuidar da minha perna quando Kristin se negou a me ajudar.

Um turbilhão de sentimentos se agitava dentro de mim. Tantos arrependimentos. Tanta culpa. Tanta dor. O mundo ao meu redor parecia desfocado. Não conseguia distinguir os rostos e formas, e as vozes pareciam distantes demais, abafadas pelos pensamentos conturbados na minha cabeça. Por fim acabei apagando e voltando a ser assombrada pelos pesadelos.

Acordei com uma terrível dor de cabeça, além de sentir minha perna latejar. Estava sozinha naquela sala cheia de móveis quebrados, poeira e destruição. Ouvi vozes vinda de algum lugar perto e parei para prestar atenção.

– O que faremos agora, Dexter? - perguntou Kristin com a frieza de sempre. - Não sei se você reparou mas o Luke morreu.

– Como aconteceu? - perguntou Dexter com a voz controlada.

– Que importância tem isso agora? Ele já está morto. - retrucou Brandon indiferente.

– Como aconteceu? - repetiu Dexter.

– Atiraram nele quando estávamos saindo lá da loja. - contou Jeremy com a voz fraca. - Ele não teve tempo de reagir nem de se defender. Foi tudo muito rápido.

– Nós o trouxemos para cá e fizemos de tudo para salvá-lo, mas… - Sally não conseguiu terminar e eu tive a impressão de que ela estava chorando, ou quase.

– E você não estava conosco. - acusou Brandon. - Se bem me lembro você disse para o Luke que o protegeria. Mas não fez isso, fez?

– Se bem me lembro você disse que ninguém precisaria da minha proteção porque você cuidaria de todos. Mas você não fez isso, fez? - retrucou Dexter feroz.

– Brigar não vai trazer o Luke de volta. - pontificou Jeremy decidido. - Precisamos ficar unidos.

– O garoto tem razão. - concordou Kristin com um tom ácido. - Devemos nos livrar do peso morto e arranjar um lugar seguro para ficar.

– Se com peso morto você está se referindo a Rachel, pode esquecer. Seja lá o que formos fazer, ela irá conosco. - disse Dexter imperativo.

– O quê?! Você ficou louco? - questionou Kristin revoltada. - Nós nem a conhecemos direito.

– Também não te conhecíamos quando deixamos você ficar. - lembrou Dexter.

– E você era muito mais antipática. - completou Jeremy fazendo alguém rir.

– É sério? Vão mesmo deixar essa garota ficar com a gente? - perguntou Kristin indignada.

– Eu gosto dela. - disse Jeremy tranquilo.

– Eu também. - concordou Sally se manifestando pela primeira vez.

– Eu concordo com a Kristin. - disse Brandon.

– Dois votos a favor e dois contra. Você decide, Dexter. - disse Jeremy.

– Ela fica. - pontificou Dexter.

– Mas que merda. - resmungou Kristin.

– E o que faremos, Dexter? - questionou Jeremy ignorando a reclamação da Kristin.

– Vamos sair da cidade. Ficar aqui é perigoso demais. Arrumem suas coisas, procurem mantimentos e descansem um pouco. Vamos sair ao anoitecer. - disse Dexter com firmeza.

– Não sei se a Rachel vai aguentar outra viagem. - comentou Sally. - A perna dela está bem ruim por causa do esforço que fez para vir para cá.

– Tudo bem, damos um jeito nisso. - disse Dexter encerrando o assunto. Depois disso, tudo que ouvi foram passos se afastando até sumirem.

Alguns minutos depois ouvi alguém se aproximando. Imaginei ser a Sally para ver como estava meu ferimento, mas não era ela. Dexter sentou ao meu lado, virando de frente para mim.

– Achei que ainda fosse estar dormindo. - comentou ele parecendo um pouco abatido.

– Acordei agora a pouco. - contei. - Ouvi vocês conversando.

– Não dê atenção a Kristin. Ela fala um monte de besteira.

– Na verdade acho que ela está certa. Vocês realmente não me conhecem…

– Conheço o suficiente. - ele me interrompeu. - Minha irmã dizia que você só conhece bem uma pessoa quando conhece os seus medos e fraquezas. E eu conheço os seus.

– Conhece é? - perguntei curiosa. - E quais são?

– Você tem medo do que não pode controlar. - disse ele com a voz baixa. - E sua maior fraqueza é a distância que você mantém das outras pessoas.

– E quais são os seus medos e fraquezas? - perguntei-lhe em um sussurro também, tentando ignorar o fato de que cada palavra que ele disse era verdade.

– Você já sabe, então me diz você. - retrucou.

– Sua fraqueza é a confiança cega que você deposita nas pessoas. E você tem medo de ficar sozinho.

– Viu só? Nos conhecemos bem o suficiente. - disse ele com um pequeno sorriso.

– Queria ver as coisas com essa simplicidade que você vê. - comentei.

– Em geral nós costumamos complicar as coisas simples. Mas nossas vidas são frágeis demais para todas essas complicações.

– Isso é de alguma outra música? - perguntei-lhe desconfiada.

– Não, dessa vez não. - ele riu. - Mas bem que poderia ser.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por comentarem e espero que estejam gostando. Vejo vocês por ai, Sobreviventes ;)
Próximo capítulo com uma surpresinha *-*



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