Por Trás das Palavras. escrita por kkcullen


Capítulo 2
Filho e Irmão, as mulheres da minha vida. / Em Busca de Respostas


Notas iniciais do capítulo

Oláá Pessoal !!
Mais Um Capítulo Na Área! Nele Vamos Descobrir Um Pouco Mais da Vida do Pierre.
Boa Leitura!!



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Desci do ônibus a alguns metros da minha casa, caminhei torcendo pro clima lá dentro estar bom, segundo meu relógio eram 16:15, a essa hora minha irmã já deve estar em casa.
Observei da calçada a fachada da casa de pedras acobreadas, na sacada do segundo andar encontrei minha mãe com a vassoura na mão, arrumando.
— Oi, meu filho. - disse feliz assim que percebeu minha presença. Deixei escapar um sorriso alegre involuntário de volta, é sempre bom saber que ela está feliz.
— Oi, mãe. - falei acenando sutilmente. É incrível como mesmo com os problemas ela consegue se manter indiferente a estes, mesmo que temporariamente.- Tudo legal aí em cima? Precisa de ajuda?
— Tudo bem! - e sublinhou a última palavra - se é o que você tá me perguntando. - alfinetou, minha mãe não é muito adepta a gírias, ela diz que empobrece o vocabulário. - E ... se não estiver muito cansado preciso de uma ajudinha pra mover a cama. - pediu sem graça.
— Claro. - e fui entrando.
Atravessei a sala que estava radiante de limpeza, e me dirigi as escadas, só percebi que ainda estava de tênis quando o barulho dos meus passos ecoaram.
— Droga! - brandei. Fui na ponta dos pés até meu quarto sem que minha mãe notasse, joguei a mochila na cama e arranquei os tênis dos pés ficando de meia. Me dirigi ao quarto dos meus pais, quando entrei estranhei o cômodo todo bagunçado, ainda saí pra ver se não entrei no lugar errado, mas era lá mesmo. Estava tudo fora do lugar e revirado, menos a cama e o armário que eram os mais pesados, e permaneciam rente a porta.
— Mãe? - chamei.
—Aqui, Pierre. - ouvi sua voz vindo do banheiro, me dirigi até lá. Ela estava no box esfregando o chão com a vassoura.
— Que que aconteceu que você fez faxina na casa inteira? - perguntei encostando-me na quina da porta de braços cruzados.
— Pi, tudo o que tenho pra fazer é cuidar de vocês e da casa, e como estava sozinha..., - deu de ombros - mas domingo ela é sua.
Minha mãe parecia uma adolescente, se eu não soubesse sua verdadeira idade diria que era realmente uma. Não passava dos 1,65, cabelo cacheado castanhos claros que chegavam quase a cintura e dona de um corpo de dar inveja a qualquer garota da escola, apesar de seus 36 anos, resultado da yoga que ela fazia, e das suas feições doces e ternas que escondiam muito bem o fato dela já estar na casa dos "30", a única coisa que poderia denuncia-la são algumas pequenas rugas no canto dos olhos quando sorri, mas com seus olhos castanhos-mel sobressaindo quem repara em rugas de expressão?
— Hunf, - de novo botando a casa a frente dela - você deveria cuidar mais de si, mãe, quanto tempo faz que você não sai com as suas amigas da yoga? Ou vai ao cinema? Sei lá, comprar um livro, fazer alguma coisa que você gosta?! Conversar a tarde inteira com seu Flávio e a tia Dayse. - foi-se o tempo que minha mãe perdia a hora conversando com o tio Flávio sentados na sacada dos quartos, ele da casa ao lado e ela daqui, até tia Dayse, esposa dele, e meu pai chegarem.
— Nunca mais fale o nome dele dentro dessa casa, Pierre, meu ouviu bem? - mudou completamente minha mãe. Estranhei sua atitude.
Ela passou por mim pisando forte.
— Você vai me ajudar a colocar a cama nessa parede ou não? - foi ríspida, erguendo a saia do colchão.
— Meu pai não deixa, não é? - perguntei inseguro e triste. - Por que não posso falar o nome deles? Nem da minha vó, sem que a terceira guerra mundial comece nessa casa? - esbravejei, perdido.
Fui ignorado. Teimosa como sempre tentava arrastar a cama king sozinha, só conseguindo seu feito em 10 centímetros.
— Mãe. - chamei, mas ela continuou me ignorando. - Mãe!! - elevei um pouco mais a voz.
— O que que é, Pierre!? - perguntou já sem paciência, o olhar injetado sobre mim.
— Me responde. - falei simplesmente, em súplica.
— Já conversamos sobre isso. - tentou me dispersar.
— E eu fiquei com mais dúvidas do que tinha antes.
Ela suspirou cansada, e seu semblante transparecia sua estafa, parecia que ganhara alguns anos de idade deviso ao seu abatimento.
— São coisas que você não vai entender, meu filho, não agora, - explicara pacientemente, me aproximei dela e afaguei seu rosto, tentando captar alguma resposta, por menor que seja, pra minhas dúvidas do porquê dela continuar vivendo assim. - São coisas de adulto. - finalizou.
— Tenho 18 anos, já sou um adulto. - revoltei-me ofendido. Ela limitou-se a sorrir daquela forma que só os mais velhos conseguem fazer.
— Você está no começo da vida adulta ainda, mesmo que explique você não irá entender.- e tirou a minha mão de seu rosto, porém não a soltou.
— Tenta.
Ela negou com a cabeça, informando que aquele assunto havia morrido, frustrando-me, e me fazendo queimar de raiva, porque droga eu não podia saber o que ainda unia esse casamento?! Porque é mais que óbvio que eles se odeiam.
— Não sei porque se rebaixa a ele, mãe, o que te prende ao meu pai? A senhora é linda e jovem, é formada, tem sua carreira, não precisa estar com esse idiota. - brandei enfurecido.
—Ok. - suspirou pesado, entendendo que não desistiria assim tão facilmente. - Meu filho, hoje é segunda é o único dia que eu tenho pra dar uma caminhada antes do seu pai chegar, me ajuda logo a por esse quarto no lugar, só falta ele, a Ally arruma o dela sozinha.
— Tá. - cuspi contrariado. Ela não iria falar nada, não hoje, e eu não queria empatar sua caminhada, justo no único dia em que meu pai chega mais tarde.
Arrastamos a cama pra parede oposta a porta, de modo com que a esta ficasse de frente pra parede bege onde pusemos a cômoda com a televisão, o armário branco permaneceu a direita e a esquerda a sacada. Quando terminamos, o sorriso bobo voltara ao rosto da mulher ao meu lado, e eu meio que me arrependi de te-la feito remoer o assunto " casamento".
Avaliando minha situação, eu estava acabado! Meus braços estavam meio dolorido, e o suor descia pelas costas e testa, minha mãe ofegava bastante, mas tambem, dois andares de arrumação constante não é pra qualquer um não.
— Obrigado pela ajuda, filho. - disse sorrindo ternamente pra mim. Sorri incômodo com a conciência pesada.
— Mãe, desculpa pelo...
— Esquece isso! - cortou-me.- Agora vai tomar um banho que você está todo suado e eu vou me arrumar pra sair. - mandou se dirigindo ao armário. - Pode deixar que faço o jantar antes de ir.
— Sem problemas, eu ajudo. - falei reacendendo o sorrindo - Agora deixa eu ir que tô fedendo. - e saí, encostei a porta e fui pro meu quarto.
Assim que entrei no meu refúgio fui no armário pegando a primeira roupa que vi na minha frente, pra logo sair e ir pro banheiro.
— Maninho. - escutei minha irmã me chamar quando passei em frente ao seu quarto.
— Que foi, Allyson? - perguntei desconfiado.
— Vem aqui ... por favor. - fez sua melhor cara de anjinho. " Aí vem bomba." - pensei, entrando no quarto dela todo rosa. A pequena estava sentada na escrivaninha, de frente pro caderno da escola, e mexia desconfortavelmente com os pés que não tocavam o chão. - Tem como você me ajudar a fazer essas continhas? - pediu. Era incrível como se parecia com a nossa mãe, e não eram somente os olhos cor de mel, elas eram tão auto-suficientes que quando precisam de ajuda sentem-se incomodadas, por se sentirem inferiores.
— Deixa eu ver . - falei ficando por trás dela e apoiando na bancada. - Hum, multiplicação...
— Que cheiro de porco morto é esse? - perguntou farejando o ar, chegando até mim encarando-me abismada. - Pierre, você está fedendo!! E todo suado, ecaaa. - me olhou com nojo.
— Tô suado é? - perguntei com segundas intenções. - Só tem uma coisa divertida pra fazer com esse suor todo sabia? - segurei o riso.
— Um banho?! - disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Não. - sorri com com a sobrancelha erguida.
— Divertida com suo...?! - vi o entendimento atravessar seu rosto sendo substituído pelo medo. - Não, Pierre... - negou com a cabeça - Cê não vai... - inqueriu se preparando pra correr - Mãããeeee, o Pierre vai... - berrou pondo-se a correr pra porta.
— Abraço de urso!!! - berrei divertido. Dei três passos e agarrei minha irmã pelas costas erguendo-a do chão, que se debateu com todas as forças, tentando em vão se livrar de mim, era impagável sua cara de nojo.
— Me larga!! Ô manhê, o Pierre tá me sujando!! - gritou desesperada, me fazendo morrer de rir enquanto a abraçava e esfregava meu rosto no dela, a pequena estapeava meus braços na sua cintura e qualquer parte do meu corpo que ela conseguisse encontrar. - Ai que nojo!!!
— Ah tá com nojo é? - gargalhei provocando. - Hora de beijo!! - anunciei beijando sua bochecha e ela mais que rapidamente limpou, grunhindo.
— Que ódio!! Tanto irmão pra eu ter, fui ter logo um porco!! Porco com P de Pierre!!!
— Isso, reclama de mim mesmo, sou um péssimo irmão. - dramatizei ainda com ela no colo.
— Pode ter certeza disso. - fechou a cara.
— Então pra me redimir vou te fazer sorrir, ok?
— Vindo de você vai me fazer ficar mais irritada do que já estou. - vociferou cruzando os braços. - Duvido muito você conseguir. Vai contar uma piada?
—Não.
— Que bom, pois você é péssimo nisso. - foi duramente sincera.
— Poxa, obrigado. - ironizei, mas fiquei realmente sentido. - Vai ser muito melhor que piada... Cosquinha!!!
— Não, Pierre, pode contar uma piada!! - gritou já rindo antes mesmo de eu começar. A deitei na própria cama, fazendo cócegas em sua barriga enquanto ela se desdobrava de rir, me fazendo rir tambem, era muito bom ve-la sorrindo, feliz, e não imersa em pensamentos e perguntas negativas demais pra uma menina de 8 anos, como quando me questionou se ela era culpada pelas brigas dos nossos pais.
— Irmão, para!... Minha barriga tá doendo... - gargalhava mais do que falava. Parei com as cócegas e fiquei admirando a pequena voltar a respirar tranquilamente. - Isso foi... golpe baixo... - inquiriu arfando, quando se sentou na cama com as mãos na barriga.
Sorri satisfeito por ainda ter tempo pra brincar com ela, e ver seu sorriso brilhar.
— Não sei de nada. - levantei as mãos pro ar como se me rendesse e, fosse inocente. - Deixa eu ir tomar banho que eu vou ajudar nossa mãe com o jantar. - informei pegando minhas roupas e indo pra porta.
— Olha o meu estado! - esbravejou, se olhando no espelho do armário. - Tô fedendo a pizza podre. - fez bico - Eu tinha acabado de tomar banho, Pierre, tinha passado perfume.
— Agora toma outro, só que depois de mim, que nem eu tô me aguentando mas. - sorri, e fui saindo.
— Você vai me ajudar? - pediu com os olhos pidões.
— Claro que vou, vai decorando a tabuada pra começar.
— Tá bom. - sorriu alegre, a vi pegar um frasco de perfume no armário e se passando com vontade. Eu não tô tão fedendo assim... tô? E olha que nem treino teve.
Com esse pensamento corri pro banheiro, arranquei o uniforme e joguei no cesto de roupa suja, entrei no box deixando a água rolar. Lavei o cabelo, passei sabonete duas vezes, só pra garantir. Após vestido passei perfume e sacudi meus cabelos pretos, herança do meu pai.
E saí.
Desci as escadas que levavam a cozinha encontrando minha mãe pondo a mesa, trajando uma blusa branca larga até as coxas, calça legging preta e tênis rosa, uniforme de corrida.
— Cheguei. - anunciei.
— Que bom, meu filho. Pode pegar a lasanha no congelador e pôr no micro-ondas, por favor. - não foi uma pergunta. Acatei sua ordem enquanto ela arrumava o arroz e o macarrão colorido no fogo.
— Deixa que eu termino de arrumar a mesa. - falei pegando as talheres pra nós três, os copos e tirando o refrigerante da geladeira e pondo sobre o móvel de vidro. - A corrida vai ser aonde?
— Na praça D. Pedro I, além do exercício programamos um mini piquenique só pra descontrair - informou levando as travessas com a comida pra mesa.
— Pensou no que eu te disse mais cedo?
— Na verdade não. - achou graça - As meninas já costumavam levar um lanchinho pra repor as energias, eu que nunca participei, você sabe, esses problemas, seu pai, chegar cedo...
— Sei.
— Então, nunca dava certo, mas hoje como vai começar mais cedo, vai terminar cedo tambem, ou seja, vou poder participar! - comemorou.
O apito do micro-ondas cortou nossa conversa.
— Vou chamar a pirralha, digo, minha irmã pra jantar. - acrescentei logo, porque minha mãe me fuzilou com o olhar.
Subi dois degraus por vez, seguindo reto até o mundo rosa.
— 5x7= 35. - tentava memorizar de olhos fechados. - 5x8=
Bati na porta mesmo estando aberta só pra chamar atenção.
— Não querendo atrapalhar sua concentração, mas já atrapalhando, é hora do jantar, pequena.
— Deixa só eu terminar a tabuada de cinco. - e dizendo isso voltou a cobrir os olhos com suas mãos miúdas. - 5x8=40, 5x9=45 e 5x10=50! Pronto, podemos comer. - disse ao pular da cadeira e fechar o caderno.
— Tá mandando bem. - falei me referindo aos estudos.
— Valeu, maninho.
Antes de entrarmos na cozinha o cheiro maravilhoso da lasanha já inundava o cômodo.
— Oba, lasanha! - comemorou a menina, correndo e se sentando à mesa.
— Desculpa crianças, não esperei vocês chegarem, já coloquei meu jantar. - olhou-nos pedindo desculpas.
— Sem problemas, mãe. - falei, indo até a pia e lavando as mãos. - Eu ponho pra gente.
Sequei as mãos e me sentei à mesa, depois me servi e servi minha irmã.
— Mãe, que espécie de jantar é esse?- questionou minha irmã, me fazendo correr o olhar pro prato da nossa mãe. Fiquei abismado.
— Mãe, isso daí é...
— Tomate, beterraba desfiada, um filé de frango na chapa e alface. - respondeu como se fosse um jantar normal de qualquer família brasileira. - Que que tem?
— Eca! É verde! - encrespou-se a menor.
— Isso não é alimentação pra quem vai pegar pesado nos exercícios físicos. - protestei.- Não vai te manter em pé.
— Ainda tem o piquenique, filho, se eu comer normalmente agora e lanchar mais coisa calórica depois, vai ser a mesma coisa que não fazer exercícios. Quando voltar, como um pouco mais de salada pra não dormir com fome.
— 'Ce que sabe.
Terminamos o jantar e minha mãe avisou que depois lavaria as louças porque já estava um pouco atrasada. Só concordei.
— Vamos lá, Ally.
Subimos para seu quarto ao mesmo tempo que minha mente vagava na esperança de resolver uma questão que a torturava " a que horas será que meu pai vai chegar hoje? " . Normalmente, as reuniões de planejamento semanal, era o que meu pai dizia ser a finalidade dessas reuniões, começavam às 18:30, meia hora após o término de seu expediente, e terminavam às 20:00. Se ele chegar aqui e não encontrar sua minha mãe pode ter certeza que teremos mais uma discussão como ceia.
— Vamos lá. Com a tabuada na cabeça, assim espero, - minha irmã assentiu - vou passar direto pra operação. - falei ao passar algumas folhas de seu livro do 2º ano.
O tempo pareceu correr enquanto explicava como ela deveria multiplicar primeiramente o último número pra depois passar pros da frente, sem se enrolar com os números que " subiam", que era onde ela justamente errava. A pequena era esforçada e orgulhosa, quando errava alguma coisa mesmo comigo ao seu lado, ela tentava achar o erro sozinha, só quando realmente desistia era que me pedia ajuda, e não com as melhores caras.
Logo após, separei uma lista de exercícios a serem resolvidos pra eu poder ir lavar a louça, que tinha esquecido completamente, terminando com a sessão de professor particular.
Não que eu quisesse realmente fazer isso, lavar a louça, mas pensando melhor, minha mãe vai chegar cansada só querendo banho e cama, e vai ser muita sacanagem se ela ainda for fazer algum serviço doméstico depois disso; apesar do meu fascículo de "A marca de uma lágrima" estar embaixo do meu travesseiro, local muito impróprio pra um livro admito, me chamando a todo vapor, 15 minutinhos de boa ação não farão mal a ninguém.
Lavava o último copo quando a cozinha foi tomada por uma luz vinda da janela.
Luz de farol de carro.
Meu coração disparou. Meu pai havia chegado. E não havia sinal da minha mãe.
"Merda, merda, merda!! - pensei em pânico.


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Notas finais do capítulo

O que será que tanto a mãe do Pierre esconde dele?? E por que toda essa resistência em falar o que ainda une aquele casamento estremecido?
Alguém arrisca chutar algum palpite?!
Vou deixando vocês por aqui com essas perguntas no ar.
Espero que tenham gostado, e até a próxima !! :)



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