Por Trás das Palavras. escrita por kkcullen


Capítulo 10
Tufão / Revelações: a verdade nua e crua.


Notas iniciais do capítulo

Holaa, chicos e chicas!!!
Depois de (muito) tempo, chegou mais um capítulo fresquinho e recém saído do forno! =D
No capítulo de hoje teremos descobertas e o clima vai fechar na casa do Pierre.
Espero que gostem!!!



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— Mãe, podemos ir ao parquinho hoje? - perguntou Ally enquanto jantávamos. - Colocaram um novo balanço cor de rosa lá, eu quero ir. - encarou a mais velha com olhos suplicantes. O condomínio havia reformado a praça para as crianças na segunda-feira, e fazem três dias que minha irmã vem pedindo incessantemente para ir lá.

— Por favor. Por favor. Por favor. Por favor. Por favor. - irritou juntando as mãos como se rezasse.

Esta noite minha mãe estava inquieta e quase não encostou na comida, o relógio já marcava 20:15 e nada do meu pai. Seu olhar naquele momento focava através da janela a vaga onde deveria estar o carro dele, mas seus pensamentos voavam distantes.

— Manhêê! - chamou mais alto, e nossa mãe virou fechando a cara pronta pra explodir com a pequena.

— Seria bom sair um pouquinho de casa. - intercedi por Ally, recebendo a atenção da minha mãe pra mim, a menina não era a culpada pelo atraso do meu pai, não seria justo minha mãe descontar nela.

Entretanto, ela sabia que eu não estava falando só da minha irmã, me referia a ela também, e ponderou um pouco.

— Está bem, desde que você coma tudo. - é claro que ela vai comer. Sorri de lado.

~~''~~

Irradiando alegria, Ally saltitava na frente como mostrando o caminho, o sorriso grudado na cara indo de orelha a orelha, a noite estava estrelada e com temperatura agradável, convidativa a sair de casa nem que seja somente para observar a lua radiante. Não éramos os únicos a adotar essa prática, a praça estava cheia para uma sexta-feira, as crianças se divertiam correndo de um lado para o outro como se suas vidas dependessem disso na parte dos brinquedos sendo observadas minuciosamente por seus responsáveis que descansavam próximos as grades nos bancos de madeira. A parte mais distante e tranquila a oeste daquela gritaria toda foi escolhido por alguns casais como cenário para seus romances.

— Mas aquele dali não é o ... - pensei alto, observando melhor.

Oliver estava sentado em um banco embaixo de um poste de luz junto de uma garota. Nós moramos no mesmo condomínio de casas, a minha é o número 12, próximo a portaria enquanto a dele é 20 do lado da praça.

Esse meu irmão não perde tempo, sorri sozinho. Vi a garota se debruçar e roubar um beijo, já que ela teve a iniciativa esperava que ele correspondesse, mas em vez disso parecia que ele havia travado, levou uns segundos até que a puxasse para si e a pegasse de jeito. - Boa Moleque!

— Irmãozão. - era Ally chamando.

— Fala. - procurei por ela encontrando-a no tal balanço rosa.

— Balança aqui. - pediu na expectativa. - Bem altão, lá nas estrelas. - apontou pra cima, e seus olhos captavam a luz emitida ficando parecidos com diamantes.

— Pode deixar, você vai lá no sol.

— Mas o sol tá dormindo. - respondeu sem entender.

— Claro, dormindo! Onde eu estava com a cabeça pra dizer uma asneira dessas. - respondi começando a empurrar o balanço, qualquer dia desses vou ter que arranjar um tempo pra ensinar-la como funciona o sistema solar da forma correta. - De noite é hora do sol dormir, não é isso?

— Isso aí - assentiu.

Quando ela cansou do brinquedo foi na direção do escorrega, e me sentei ao lado da minha mãe no banco mais próximo.

— Relaxa, ele já deve estar chegando. - tentei tranquiliza-la.

— Disso eu tenho certeza, o problema é o que ele fez nesse tempo.

Encarei-a confuso. 

Espera, minha mãe insinuou que meu pai está fazendo algo de errado?

— O que quer dizer? - instiguei, e ela percebeu que falou demais.

— Nada de importante. - sorriu desconversando. - Tinha me esquecido como era passar um tempo fora de casa sem fazer nada, só pra descansar. - desabafou.

— Deveríamos fazer isso mais vezes - incentivei, enquanto assistíamos Ally descer pelo escorrega e correr para fila novamente. - A pirralha com certeza aprovaria. Digo, minha irmanzinha.

— Sem sombra de dúvida. - sorriu de lado acompanhando os passos da menor.

— Olha aquele não é o Oliver. - olhou algum ponto atrás de mim.

—É ele mesmo. - olhei na direção contrária.

— Está tudo bem entre vocês? - procurou meus olhos, e virei a cara de propósito, ela tinha uma coisa de ler a minha alma através dos olhos que não entendo. - Não. - se auto respondeu.

— Tivemos uma "pequena divergência de ideias" - dei de ombros, fazendo-a levantar uma sobrancelha. Só uso esse termo quando a discussão foi feia, e minha mãe sabia disso.

— E o que impede de as "ideias se unirem"?

— O campeonato. - pronto falei, e respirei fundo o ar gelado da brisa.

Não queria envolver minha mãe em assuntos meus aparentemente relevantes, mas quando dei por mim as palavras saltavam da minha boca com uma velocidade incrível, uma medida desesperada de que me desse uma de suas soluções de mãe talvez, onde eu não tenha que perder nem meu campeonato nem meu irmão. Contei dos erros no treino, da briga e da conversa com Schneider.

— Abrir o jogo com ele seria o ideal. - concluiu me encarando. Bola fora.

— Schneider acha a mesma coisa.

— Talvez porque seja o certo a ser feito?! - me deu a opção de pensar.

— Isso resultaria em um campeonato, meu campeonato perdido! - sublinhei.

— Isso resulta em encontrar um consenso para problemas de cara limpa e conseguindo dormir a noite.

— Com que você ... ?- tentei perguntar espantado. Como é que ela sabia? Estou começando a acreditar que mães tem alguma intuição a mais, não é possível!

— Seus pés fazem muito barulho por causa do futebol, te escuto descendo as escadas.

— Meu pai falou a mesma coisa. - ela sorriu pelo fato de te-lo chamado de pai e não de Martin. Antes que eu pudesse dar uma resposta alguém a chamou.

— Fernanda!! - era uma das mães que antes estava em um banco oposto a nós. - Quanto tempo, minha amiga, não te vejo aqui na praça! - seu rosto era familiar, talvez a conheça de vista.

— Giovana! - minha mãe saudou-a animada abraçando-a. - É, faz só uns meses, coisa pouca.

— Pediu um dia de folga de casa? - perguntou sem devaneios como quem não queria nada, essa é realmente cara de pau jogou verde com a curiosidade de uma fofoqueira nata implícito em cada letra. 

— De vez em quando é bom ver os velhos amigos. - ela estava mentindo. Mas dava para ver que estava feliz por encontrar com a amiga.

Aquela seria uma das conversas que não me faria bem em ouvir. Que o casamento dos meus pais tinha problemas eu sabia e todo mundo sabia, agora falar mal dele eu podia, mas todo mundo não podia, e aquilo ali parecia ser uma tricotação de assuntos desnecessários principalmente acerca do casamento conturbado dos dois, além de um constante falatório da tal Giovana difamando meu pai, e para não me estressar tratei logo de sair dali.

Apoiei-me na cerca de ferro que delimitava a área dos brinquedos da pista de skate observando o céu, me arrependendo de não ter trago um livro.

— Desde quando "cê" fica parado observando o céu? - interrogou-me a garota que brotou ao meu lado.

— Desde que vim fazer uma caridade pra uma irmã mais nova, e deixei celular, livro, caderno, tudo em casa.

— Bem, não ter nada pra fazer aí é você quem decide. - informou Bella sentando-se na grade. - Tem umas três garotas aqui que não desgrudam os olhos de você. - e fingiu estar preocupada em admirar as unhas. - Desde que chegou aqui.

E vendo que me sentei ao seu lado interessado ficando de frente para o parque conseguindo uma ampla visão, prosseguiu:

— A Penny da Rua 2 - indicou com a cabeça - a Renatinha da rua 4, e é claro que a Mel não poderia ficar de fora, sua fã número um. O cardápio está servido é só escolher qual será o prato principal da sua noite.

Sorri com seu argumento.

— Hum, decisão difícil... as três tem "muitos atributos" se é que me entende, isso complica minha vida.- sorri travesso.

— Na minha humilde opinião, a Melzinha é a maior pimenta nos olhos, pura encrenca, você tá careca de saber.

— Eu que o diga.

— Então a Penélope será a melhor opção, linda, simpática, gostosa.. - exagerou.

— Epa acalma esses ânimos aí que a Gaby não vai gostar nada nada dessa sua mais que admiração pela Penny. - alertei. Bella estava em um relacionamento sério com Gaby a sete meses, um namoro regrado a ciúmes de ambas as partes, costumo zombar dizendo que homem nenhum aguentava tanto grude por isso elas mudaram de lado.

— Meu amor sabe que tenho um fraco pela Penny, é natural.

— Quero nem estar perto quando rolar a briga. - sai da reta - Só que antes das três, tem uma pessoa que ainda sinto saudades de agarrar, você.- falei virando-me em sua direção arrancado um beijo, surpreendendo Bella.

— Qual é, Pierre!!? - brandou afobada - Para de brincadeira, mano! - irritou-se limpando a boca com a borda da manga da sua camisa xadrez rosa, e tomando uma distancia segura de mim.

— Antes você gostava e pedia mais . - instiguei segurando o riso da sua cara de nojo. Nós já fomos namorados a uns anos atrás, ela foi minha primeira namorada de verdade, daquelas que apresenta para família e tudo, e eu o primeiro namorado dela também.

— Antes. - enfatizou - Ainda bem que você falou, agora tô em outra.

— E essa outra tá te fazendo muito bem, hein.- a inspecionei de cima a baixo gostando do que via, mesmo com a blusa xadrez como sobreposição de uma regata simples meus olhos não deixaram escapar que seus seios estavam maiores, e o shortinho jeans então, estava de enlouquecer qualquer um. - "Cê tá" gostosa pra caramba! - Bom, tinha que admitir que Bella ganhou massa muscular depois que começou a fazer Muay Thai.

— Obrigado, eu acho. - sorriu feliz mexendo no cabelo encabulada, velhos hábitos que nunca mudam.

De repente ouvimos um estrondo abafado como se martelassem um travesseiro com força, e um choro contínuo de criança chamando nossa atenção num átimo de segundo pro local. Júlia, a irmã mais nova de Bella, havia descido o escorrega rápido demais indo parar direto no chão demorando demais pra levantar, sendo com isso chocada pela garota que descia do brinquedo logo atrás, sem querer, mas ela abriu o berreiro do mesmo jeito.

— Droga. - praguejou a garota ao meu lado correndo na direção da menor comigo em seu encalço. - Tá tudo bem, foi só um susto. - falou agachando-se e erguendo a criança do chão sendo ajudada por mim; Dona Beatriz também zarpou do lado da minha mãe e foi parar ao nosso lado em segundos, me assustando.

— Machucou, Juju? - perguntou Ally pondo-se ao lado da amiga, ainda no colo da irmã, que limpava os olhos com as costas da mão.

— Machucou - manhosa fez bico - eu quero o papai! - choramingou antes de largar a irmã e correr para o homem que conversava distraidamente com a minha mãe sobre o ocorrido gesticulando na nossa direção, aninhando-se em seu colo cortando a conversa.

Foi quando o vi.

Estático na curva que dava acesso a praça com o olhar fulminante.

Meu pai.

Seu olhar queimava sobre minha mãe e Sr. Luís, aterrorizando-me. Meu corpo gelara, falhando com meu fôlego, se ele pudesse com toda certeza estaria acabando com a raça do Sr. Luís, que se dependesse da fúria incontida no modo como Martin encarava a cena, já estaria morto a muito tempo.

Fernanda percebeu que algo de muito errado acontecia comigo concluindo rapidamente que só podia ser uma coisa. Seus olhos procuraram o alvo dos meus, estacando em pânico mal disfarçado. Na velocidade da luz pusera-se de pé mecanicamente indo em direção de Ally pegando-a pelo braço sem cuidado.

— Temos que ir. - falou alarmada.

Não precisava falar de novo. 

Por mais que quisesse esconder sua luta interna, seu semblante duro mascarava seu pavor, porém de forma nada espontânea.

— Mas, mamãe, não fui na casinha da Barbie. - choramingou a pequena.

— Vamos outro dia. - falou duramente.

— Vocês já estão indo? Está cedo. - irritou-me Beatriz, vai ser inconveniente assim na casa do caramba!

— Foi bom enquanto durou o descanso. - sorriu amarelo em resposta, minha mãe. - Só que está ficando tarde, amanhã as crianças tem aula e o pai deles acabou de chegar. - lutou para manter a voz o mais controlada possível fingindo um sorriso amigável.

— Papai chegou? - perguntou Ally procurando efusivamente para os lados até encontra-lo. Correu em sua direção com os braços erguidos e sorriso estampado no rosto, a menor era a única que sentira falta do, até agora, nosso pai, mesmo que ele não retribua esse amor, mesmo que ele nem a considere como filha. O homem que se encontrava sem a parte de cima do terno, a aninhara em seus braços mecanicamente, sem tirar os olhos furiosos da mulher que caminhava em passos lentos ao meu lado.

A noite prometia, e não era uma sessão cinema em família.

Voltando para casa ignoro meu estômago que se revirava inquieto de nervosismo, o fato do Martin não ter proferido uma palavra sequer sobre a cena que presenciou indicava que nada de bom podia acontecer.

~~''~~''~~

Meu celular marcava meia-noite e dezesseis. O sono nublava minha cabeça, mas com a gritaria que ecoava pela casa ficava simplesmente impossível dormir, pela quinta vez coloquei o travesseiro sobre a cabeça iludido de que dessa forma o barulho atenuaria. Acabei desistindo de dormir desenrolando-me, voltei a vestir meu short e fui na direção da cozinha atrás de um copo de leite ou talvez de um daqueles calmantes que minha mãe esconde no armário. No corredor o volume era ainda maior, Martins berrava revoltado por minha mãe estar conversando, sim somente conversando, com o pai da Bella, enquanto a mulher rebatia a todo pulmão que ele não podia falar nada porque pegava as vadias na rua.

Sem dúvida um ótimo assunto para discutir.

Abri a geladeira e peguei a caixa de leite.

Sinceramente, a única coisa que me impossibilitava de dormir era a cena do Martin agarrando descontrolado o braço da minha mãe no outro dia (que não saia da minha cabeça). Nunca o vira levantar a mão contra ela, nem usar a força para machuca-la, só as já costumeiras crise de ciúmes e discussões, mas depois daquele episódio só de cogitar que isso poderia voltar a acontecer e em uma proporção maior me preocupava muito.

— Não teria necessidade de eu ir atrás de mulher na rua se a minha própria mulher ... - e o som de alguma coisa se fragmentando em mil pedaços foi ouvida.

— CALA ESSA MERDA DE BOCA!! - abafou completamente a voz do homem, quase larguei o copo de susto e sujei a cozinha toda. Nunca vi minha mãe exaltada daquela maneira, mesmo em uma discussão suas palavras nunca desceram a um nível a ponto de chegar a xingar.

— Você sabe que eu tô certo! Um homem tem necessidades e...

— E VOCÊ SABIA DO ACORDO!! - ela estava fora de si, e acabou de perder o resto do controle sobre suas emoções pois falou coisas demais.- Sabia quando continuou comigo!

Paralisei no meio da escada.

Um acordo? Era isso que segurava esse casamento, um acordo?

— QUE SE DANE ESSE MALDITO PEDAÇO DE PAPEL! NÃO VOU FICAR ME REFREANDO ENQUANTO MINHA MULHER SE ENGRAÇA COM O VIZINHO! - berrou sublinhando o "minha mulher".

— Maninho... - Ally apareceu no vão da sua porta agarrada no seu sapo, seu olhar assustado me despedaçava a alma, ela era apenas uma criança não deveria passar por isso. - Tô com medo.

— Eu tô aqui, vai ficar tudo bem. - subi o último degrau e me ajoelhei na frente da minha irmã para aninha-la em meu peito ao mesmo tempo que afagava seus cachos loiros.

— Mesmo que eu me engrace com o vizinho, coisa que NÃO fiz, isso não te dá nenhum direito de me trair com a primeira vagabunda que encontrar na esquina. - disse minha mãe sem gritar, porém sua voz ainda estava ácida. Ela percebeu que não ganharia no grito, e que aquela situação já passou a muito de insuportável; discutir já não era mais necessário, não chegava mais a soluções, não surtia efeito, era inegável que só uma coisa resolveria esses problemas.

Tampei os ouvidos de Ally na tentativa de poupa-la do transtorno de ouvir tudo aquilo e tais palavras.

— Chega! Não dá pra continuar assim, Martin, essa situação já extrapolou todos os limites, é sempre assim, brigas e mais brigas, estou cansada disso. Vamos ter que por um ponto final nessa situação.

— Ótimo, o que você sugere? Terapia de casal ? - falou com escárnio, zombando.

— Se você não cumpre com o contrato - sua voz tremia - quero a separação. - brandou trêmula, porém decidida. 

Travei.

Não tinha ideia do que se tratava o tal contrato, além de que era o único responsável por esses dois ainda estarem juntos, entretanto com o descumprimento deste por parte de Martin, era de se esperar que fosse quebrado, resultando em uma separação. Um pontinho de felicidade nasceu em mim.

A gritaria deu lugar ao silêncio pétreo, e se escutava o som do vento soprando lá fora, Martin com certeza assimilava lentamente as palavras jogadas no ar. Aquela calmaria era semelhante ao tempo de tranquilidade que ocorre de intervalo entre o terremoto sentido e o maremoto que viria a seguir, esperava estar errado.

— Vou desconsiderar suas última frase. - eu e Ally ouvimos Martin proferir, era perceptível em sua voz a descrença. - Você não sabe o que tá falando, você está estressada e confusa com a situação, não tem noção da besteira que tá dizendo.

— Eles vão se separar? - questionou a pequena ainda agarrada a mim, e tambem encarando a porta de madeira no final do corredor.

— Sinceramente - suspirei - espero que sim. - e esperei a reação negativa de Ally que não veio. - Pelo menos não brigariam mas. - completei inseguro de que ela preferisse os dois juntos.

Se descolou de mim encarando-me com o cenho franzido avaliando esta hipótese, porque nunca pensara dessa forma.

— É... você está certo, sem brigas. - a confusão em seus olhos demonstrava que ela preferia que os dois permanecessem juntos. Mas, entre te-los juntos e brigando dessa forma assustadora a separados e felizes, a segunda opção era melhor.

A peguei nos braços e me encaminhei para sua cama.

— Tenho plena e total consciência do que falo. - o falatório recomeçava.

— Essa ideia de acordo foi sua, e agora você quer dá pra trás?! - o círculo estava se fechando para o Martin e ele sabia disso.

— Pois então eu mesmo vou acabar com ele, quero o divórcio. - sua voz oscilou novamente, estava carregada de dor, por mais que o casamento não passasse de uma mentira algo ainda a unia a aquele cara e não era somente um pedaço de papel, conclui estupefato, ela ainda o amava.

O que não me saia da minha cabeça era, por que minha mãe faria um contrato de casamento estando apaixonada por meu pai e ele por ela ?

— Você será a maior prejudicada com essa ideia maluca, você e a sua filha. - jogou com o desespero aflorando.

— Nossa filha!! - devolveu a mulher. - Pelo amor de Deus, quantas vezes vou ter que dizer que a Allyson é sua filha! - olhei rapidamente para a pequena que pra minha sorte cochilava, se tem algo que não queria que ela soubesse de jeito nenhum é dessa loucura do Martin achar que a Allyson não é filha dele.

— Você não tem como se sustentar! - Martin fingiu não ouvi-la.

— Me viro, o que me ligava a você não era seu dinheiro, era uma coisa que agora ficou claro, não vale a pena lutar. - o choro sufocado esganiçava sua voz, um aperto se instalou no meu peito por ouvir uma mulher que eu acreditava ser uma muralha ruir como um castelo de areia.

— Você não poder fazer isso! Vale sim a pena lutar! Você não tem o direito de acabar com a GENTE! - falou alto demais fazendo Ally acordar em um pulo.

— Ei, calma, princesa. - recebi seu olhar assustado - Toma aqui o sapinho, pode voltar a dormir, vou ficar bem aqui do seu lado. - sorri tentando aparentar que tudo ficará bem, mesmo eu não tendo certeza disso.

— Eles não vão parar? - se encolheu.

— NÃO TEM A GENTE!! - e puxou fôlego - NÃO TEM GENTE A 8 ANOS!! - desabafou minha mãe, me fazendo gelar, era a idade exata de Ally. Encarei de olhos arregalados a pequena agarrada ao sapo. - Acabou. - sussurrou.

— Não acabou, nosso casamento não pode acabar!

— Amanhã mesmo pego minhas coisas e vou embora.

— NÃO ACABOU! - berrou aturdido, fazendo a criança pular assustada. Ouvi coisas se quebrando. - Você não pode me deixar.

— Martin...

— Não vou deixar você ir embora pra ficar com outros caras. - Alguma coisa atravessou a janela, não sei como os vizinhos ainda não reclamaram.

Me levantei e fui até a sacada para ver o estrago, a madrugada era gelada e o silêncio perfumava o ar, era como se o espetáculo acontecesse aqui e todos fizessem silêncio para prestar atenção. - Você é minha mulher, minha!

— Martin, você tá me assustando - ela falava baixo - Põe isso no chão - pediu nervosamente me deixando de guarda alta, tem algo de muito errado acontecendo lá dentro.

— Eu cumpri com todas as regras dessa droga de contrato, incluindo... - ele não continuou.

— Coloca isso no chão! NÃO! - algo colidiu contra a porta. Meu corpo começou a tremer, mesmo nas piores crises, nunca cogitei a ideia que algum dia presenciaria uma briga desse nível dos meus pais.

— E o que ganho em troca? Um pedido de divórcio.- sua voz desabou, ele tambem chorava.

— Fica longe, Martin. - estranhei minha mãe dizer isso, ele não seria capaz de machucar minha mãe, seria?

Essa ideia ecoava na minha mente atordoando-me, não sei se conseguiria partir pra cima do meu próprio pai mesmo pela minha mãe, apesar de tudo ele é meu pai!

Minha irmã cochilava agarrada ao sapo e se espantava toda vez que a voz era elevada.

— Maninho, deita aqui comigo. - pediu se espremendo no canto da cama rosa e dando três tapinhas indicando onde eu deveria deitar e acatei seu pedido, meu coração desmoronava sobre o peso do olhar amedrontado da pequena, e eu impotente sem conseguir fazer nada pra mudar isso; será que eles se esqueceram que tem uma criança ouvindo tudo?

— Eu amo você, Fernanda, eu me refreei por você, você é minha esposa, SÓ MINHA! - o ouvi berrar furioso.

— Não mais, Martin... - tentava persuadi-lo- NÃO! ME SOLTA! - tais palavras desencadearam o alerta em mim, meu corpo correu antes de pensar em fazer isso.

— Papai está machucando a mamãe, Pierre. - falou desesperada minha irmã, pondo-se de pé num pulo. - Faz alguma coisa! - antes que ela terminasse de falar eu já estava no corredor a 300km/h.

— ME LARGA!! - ordenava minha mãe. Seus gritos se mesclavam aos soluções não contidos. - PARA, MARTIN!

— Já chega de bancar o idiota!

Corri desesperado pro quarto deles, me deparando com a porta trancada, meu coração batia furioso no peito, se ele a machucar...

Investi contra a porta duas vezes sem sucesso.

— Mãe! - chamei em pânico, tinha que tira-la dali.

Mais um grito.

E um arrepio desceu minhas costas, estava ficando sem tempo.

Na terceira tentativa a porta se abriu em um baque surdo, nada na minha vida me prepararia para o que estava por vir e para o que estava prestes a fazer.


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Notas finais do capítulo

Olha eu aqui de novo!! o/
Eita que o negócio ficou sinistro por lá. O que será que o Pierre está prestes a fazer?
Tadinha da Ally ter que ficar no meio do fogo cruzado. =/
Isso é tudo pessoal !!!
E não esqueçam de deixar aquele comentário maroto !!
Bjokssss ;*



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