O cão do Central Park escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 1
Capítulo 1 - A maldição da família


Notas iniciais do capítulo

*Fic baseada no conto "O cão dos Baskerville".

*Créditos da edição da imagem para Claudio J. Gama.



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Capítulo 1 – A maldição da família

A chinesa estava deitada em sua cama bem cedo, estranhando que Sherlock ainda não tivesse tentado nada para acordá-la. Ele vinha tentando ser mais suave com ela desde que percebera que ela não estava bem nos dias anteriores, devido a uma indisposição. Fechou os olhos para talvez dormir mais um pouco, mas em poucos segundos os abriu assustada ao sentir um toque em seu ombro e ouvi-lo sussurrar seu nome.

— Watson...

— Não ouvi você entrar.

— Tentei ser o mais silencioso possível, temia que ainda não estivesse bem embora eu calcule que a essa altura deva começar a melhorar.

— Tô bem, só com sono.

— É normal sentir mais sono ainda assim. Eu fiz chá e o café já está pronto.

— Não acho que veio me acordar só por isso.

— Bom... Temos um cliente. Ele vai chegar em pouco mais de uma hora. Me adiantou um pouco do assunto por uma carta. Achei ridículo a princípio, mas creio que valerá a pena ouvi-lo.

— Do que se trata?

— Acredita em espíritos? Espíritos malignos?

— O que é dessa vez? Ele pensa ser atormentado pelo espírito da esposa?

— Não. É bem mais sério. Levante-se e se troque quando se sentir bem. Vamos comer e conversar a respeito. Quero deixá-la a par da situação antes que ele chegue.

Alguns minutos mais tarde estavam sentados na mesa da cozinha após Sherlock lhe contar sobre o conteúdo da carta.

— Então eles acreditam mesmo que um cão dos infernos matou aquelas pessoas anos atrás e que ele voltará pra matar todo herdeiro da família?

— Alguns sim e outros não. A questão é que o homem responsável pelo novo herdeiro teme que ele se assuste com isso e não queira viver na mansão. Os vizinhos estão com medo também. A mansão é gigantesca e alguns relatam ter visto a criatura nas proximidades algumas vezes. A morte do último deles foi há três meses. O senhor Charles Baskerville. Foi uma morte estranha, mas aparentemente normal. Nós estávamos muito ocupados com outros casos, por isso deixamos esse de lado já que não parecia tão especial. Porém, não sabíamos sobre essa lenda macabra.

— Eu me lembro... A mansão que fica perto do Central Park.

— Exatamente. Não sei o que nosso cliente quer de nós. Nos resta esperá-lo chegar.

Momentos depois o cliente esperado estava sentado na sala, acompanhado de seu labrador inglês dourado que entrara carregando a bengala do dono e a deixando no chão a seus pés. O jovem tinha cabelos dourados e olhos cinza, usava óculos e tinha um ar de bondade. Os dois consultores fizeram uma rápida análise dele através do objeto. Com certeza era médico, a bengala fora um presente, pois tinha uma dedicatória gravada, vinda de um lugar intitulado PPTH, provavelmente o grande hospital Princenton Plainsboro Teaching Hospital, data de 1984. A bengala estava um tanto gasta, por alguma razão seu dono caminhava bastante, mesmo que não o dia inteiro.

— Já trabalhou no Princenton, senhor Mortiner? – Sherlock lhe perguntou.

— Há muitos anos. Então o deixei quando me casei. Essa bengala foi um presente de meus amigos do hospital. Acabei indo trabalhar num hospital menor. E como lhe disse em minha carta, eu era amigo e médico pessoal do senhor Charles. Costumava visitá-lo durante a noite depois que saia do hospital e antes de ir pra casa, a mansão é imensa, sempre levo minha bengala quando vou até lá.

— Sim, o senhor disse que o falecido fazia passeios noturnos na parte externa. Também nos contou sobre a morte aparentemente normal. Mas disse que há algo que apenas o senhor percebeu e só falaria pessoalmente.

— Sim... Eu sou amante da ciência, não acredito em superstições, o senhor Charles também não dava atenção a elas, mas ficou aterrorizado, como eu lhe disse, quando soube da lenda da família. Seus dois irmãos morreram. Um deles diziam ser tão perverso quanto o pai, fez muitas coisas erradas, fugiu e morreu doente, chamava-se Rodger, o mais novo. O outro deixou um filho, Henry Baskerville. É com ele que me preocupo e por isso vim. Tenho medo que ele desista de morar na mansão no último segundo. Senhor Charles faturou muito em suas viagens e usava isso para fazer caridade e ajudar Nova Iorque. Alguém precisa ao menos controlar a herança deixada.

— Você disse que ele morreu por falha cardíaca, que tinha o rosto distorcido, isso é comum nesse caso. Ainda não entendi qual é o problema.

— Ele ficou com medo da lenda e isso agravou muito a saúde dele, vivia apavorado. Alguns vizinhos relataram ter visto uma criatura horrenda rondando a mansão antes da morte dele. E há duas coisas que não se encaixam.

— O que exatamente? – Joan lhe perguntou.

— Eu vi que havia cinzas de cigarro no chão em frente ao portão de entrada. Acho que ele ficou alguns minutos ali, até aí nada anormal, mas as pegadas ficaram diferentes depois e ele foi encontrado vários metros longe. E apenas eu vi, talvez porque estivesse procurando, mas havia uma pegada canina gigantesca perto do corpo, que não tinha nenhum dano.

Os dois detetives se entreolharam sem saber o que pensar.

— Então é certo que ele morreu de pavor – Joan concluiu.

— Mas apenas uma pegada. Alguns dizem ter ouvido gritos, mas ninguém viu nada. Foi rápido.

— Se foi um cão que o assustou pode tê-lo perseguido. Há grama ou flores onde ele estava?

— Só em parte do caminho. Ele estava num canto do jardim da mansão onde há uma trilha dividida em terra e grama.

— Se houve um cachorro, ele o perseguiu pela grama, mas perdeu o interesse ao ver sua presa morta – Sherlock lhe disse – Como soube dessa lenda?

— Em uma noite que fui ver o senhor Charles e ele me mostrou um pergaminho muito velho passado por gerações na família. Fica guardado na mansão.

— Quem além de você convivia com maior frequência com o senhor Charles?

— O casal Barrymore, mordomo e criada, e dois vizinhos. O senhor Frankland e um professor de biologia, Stapleton.

— Você relatou que ele morreu um dia antes de viajar pra Miami.

— O senhor Charles estava muito nervoso, achei que devia relaxar ou teria um ataque.

— Não nos interessamos por esse caso na época porque não parecia tão anormal. Como essa lenda nunca vazou pra o resto da cidade?

— A família nunca quis permitir isso. E a distância entre uma morte e outra foi sempre muito distante, então passou despercebido.

— Por que não veio antes? Está mesmo com medo de um cão que pode nem existir? – Joan lhe perguntou.

— Temo pelo herdeiro Henry. Não sei o que vai acontecer com ele. A morte do senhor Charles foi estranha e quero entender tudo isso. Henry já está na cidade, em um hotel por enquanto.

— Nós dois os encontraremos amanhã, há condições que nos impedem hoje. Se há uma conspiração para impedir que a família controle a herança, nós descobriremos.

O jovem apanhou a bengala e saiu do sobrado com o cachorro. Sherlock passou alguns longos minutos refletindo solitariamente, se balançando nos calcanhares como costumava fazer. Depois deixou seus pensamentos de lado e voltou sua atenção para Joan.

— Ainda é cedo, mas você não parece bem Watson. Calculo que esteja nos momentos finais de sua indisposição – ele me disse sem cerimônia.

A oriental espalmou a mão no rosto e respondeu.

— Acho que você devia saber que se comentar isso com uma de suas amigas pode estragar sua diversão.

— É por isso que só comento com você. Por que esse olhar estranho? O cronograma delas não me interessa. Nós vivemos juntos e eu pensei que seria importante saber quando você não está muito bem, por isso calculei seus momentos por mais de um ano.

— Eu vou esquecer que tivemos essa conversa e vou tentar raciocinar sobre o caso.

— Não se importe com isso por enquanto. Não há muito mais que podemos descobrir sobre o incidente com o herdeiro antigo. Vejo que ainda está com sono, embora suas dores tenham parado ontem. Durma mais um pouco – Sherlock falou com real preocupação e gentileza, a deixando um tanto surpresa – Quando você acordar eu terei feito mais chá e verificado algumas informações com Bell e o capitão.

— Tudo bem, mas se me acordar eu atiro coisas em você – ela disse, se deitando no sofá e adormecendo em poucos minutos.

Sherlock permaneceu um tempo a observando. Talvez nunca confessasse, mas adorava vê-la dormir. Era tão linda dormindo quanto acordada. Quase uma hora depois certificou-se que ela estava em sono profundo e também que estava frio aquela manhã. Se aproximou do sofá e sentiu a pele do braço dela gelada sob sua mão. O sofá também parecia desconfortável para as condições em que ela estava. Decidiu leva-la para a cama, e torcia para não despertá-la no processo. Interromper um sono profundo não era bom. Conseguiu tirá-la do sofá com cuidado suficiente para não acordá-la e inconscientemente ela se moveu, encaixando a cabeça em seu pescoço e unindo as mãos junto ao peito. Para Sherlock pareceu o encaixe perfeito. De repente ele não queria soltá-la nunca mais, mas a levou para o quarto ao lado da cozinha, que a senhora Hudson havia arrumado no dia anterior. A deitou e colocou um cobertor sobre ela, vendo-a se encolher embaixo dele.

— Isso vai passar. Amanhã você vai se sentir melhor – disse, mesmo sabendo que ela não estava ouvindo.

Tomou algum tempo sentado ao lado dela e arriscou acariciar seu cabelo. Quando teve certeza de que ela dormia tranquilamente, deixou o quarto para preparar chá e fazer algumas perguntas a Gregson e Bell.


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