O Ritual escrita por Elliot White


Capítulo 9
Último teste


Notas iniciais do capítulo

Depois do capítulo de natal atrasado, eis o terceiro e último teste de Becky.
Boa leitura.



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Protestei e tentei resistir, mas foi em vão. Minha vontade era queimar o adversário, o que não daria certo afinal eu estava de luvas e o fogo as queimaria; ferver o meu corpo para afastá-lo também não adiantaria - minhas roupas evaporariam junto e eu já sabia de quem se tratava, algum capanga de Shalia e membro da seita. O que só podia significar que a garota que gritou era a mesma que se fez de morta no meu segundo teste, que atendia pelo nome de Chris, sendo assim aquela menina se tratava de uma fingida.
– Me solta! - gritei quando finalmente a mão saiu de minha boca.
Como pensei, era o afro-descendente musculoso que me raptara e lá estava a líder me esperando, desta vez guiava um animal pela corrente - um cervo, eu identifiquei.
– Olá, Becky. - ela saudou-me com sua voz suave, o cabelo claro de sempre e muito volumoso, apesar de liso, vestia uma saia média e meia-calça de inverno.
– Este é meu último teste? - perguntei, sem conseguir tirar os olhos do cervo tentando imaginar o que eu teria de fazer com ele.
– Exatamente, se aproxime querida - solicitou Shalia com um sorrisinho, eu detestava quando ela me chamava de querida. Fiz o que ela pediu.
– Estenda suas mãos. - ordenou, enquanto puxava o animal pela corrente puxando seu pescoço e o fazendo exitar e grunhir. Aquilo me perturbou.
– Ah, me diga, Shalia...eles ficarão bem não é?
– O que é?
– Wendy e Olga, não vai acontecer nada com eles, certo?
– A garotinha de cadeira de rodas e o irmão? Não, eles estão OK. - ela respondeu ainda puxando o bicho que relutava e me fazia ter repulsa, até que um punhal desceu pela mão da bruxa; estava escondido na manga de seu blusão, e ela deu um golpe rápido no pescoço do mesmo, mas certeiro. Sangue jorrou pelo corpo do cervo, ainda filhote e de baixa estatura, descendo pelo peito até pingar e sujar o chão branco de neve tingindo-o de vermelho. Não pude deixar de soltar um berro de susto espontaneamente.
– O que você fez?! - exclamei olhando para ela, o capanga se adiantou me segurando novamente e tirando as luvas de minhas mãos, depois arregaçando as mangas do casaco, enquanto me continha pelos dois braços. Meus olhos azuis saltaram quando ele levou meus membros até a corrente de sangue que seguia em cascata do corpo do animal e deixou-se banhar no líquido, depois meus pulsos também provaram o sabor do elemento vermelho.
Ego autem tamquam servum et cultorem diaboli malum accersere Baphomet copiis novum hunc puerum in corpore situs figere caracterem bestiae sui. Materia est magica nigra!– enquanto Shalia proferia as palavras em estranho idioma, um símbolo se formava no meu pulso esquerdo com o sangue, que dançava pela pele branca formando o desenho, um pentagrama invertido, que lembrava a genitália feminina e a cabeça de um bode.
– Eu conheço esse símbolo - sussurrei, sem tirar os olhos dele, o resto do meu corpo estava limpo da sujeira do bicho mas a parte que formava o desenho estava em sangue vivo - Baphomet, a criatura que as três bruxas tentaram evocar alguns meses atrás... na escola.
– Exatamente, Becky, e na verdade foram quatro e uma delas tem o mesmo sobrenome que o seu. Kimonno. - a bruxa explicou.
– Eu sei. Sunori, minha prima. - dirigi o olhar até ela.
– A besta por anos nunca se manifestou até a filha do famoso bruxo Dante Kimonno ingressar em Mystique Campus, e então ela surgiu e entrou no corpo de uma bruxa. A seita muitas vezes perdeu suas esperanças, mas nunca deixou de acreditar e nunca desistiu de procurá-lo.
– Esse símbolo não prova nada. - continuei; toquei no meu braço, estava quente, e ao esfregá-lo ele permanecia, ao misturar neve ao sangue do cervo imprimido também não surtia efeito - Baphomet nunca existiu e não existe, além do mais ninguém viu a garota possuída, só ouviram histórias. - fui até o animal, agonizado e perdendo sangue provavelmente desmaiaria em breve, e levei a mão até o corte em seu pescoço, me sujando novamente; fechei meus olhos canalizando a energia e me concentrando para queimar o corte feito pelo punhal de Shalia, e o fechar, estocando o ferimento. Suspirei de alívio ao terminar.
– A sua prima... - a bruxa começou de novo, e a interrompi de imediato:
– A minha prima não passa de uma vadia louca! Tem que ser muito estúpida pra ter feito um pacto com o demônio e virar fofoca na Academia toda só pra chamar a atenção! - discursei em voz alta.
– Apenas uma Kimonno conseguiria, e ela fez um ato de coragem. - desta vez o rapaz falou.
– É por isso que me querem no grupo? Porque sou uma Kimonno, por isso me procuraram?
– Você é a única que pode nos ajudar, e desta vez Baphomet só ressurgirá com um sacrifício, evocação não funcionará mais uma vez. - Shalia respondeu a minha pergunta - será preciso um súcubo e um íncubo, e ele voltará.
– E o que te faz pensar que eu te ajudarei? Não sei se você percebeu, mas são vocês que precisam de mim! - anunciei, olhando de relance para os dois bruxos e então sondei o ambiente, a terra estava infestada de material inflamável, que eu não era capaz de identificar mas eu sabia que com um pequeno esforço eles iriam entrar em combustão, na verdade com uma simples ordem minha; e foi o que fiz.
O fogo subiu rapidamente exalando calor e o cheiro de queimado, porém muito mais veloz do que o planejado, e aumentando em potência máxima consumia a grama afastando a neve e emergindo do solo para a terra. Eu conhecia meus poderes, e eles não estavam neste patamar. No fundo eu sabia o que causou isso, aquele símbolo no meu pulso. Aproveitei e expandi o incêndio ainda mais, formando uma barreira de fogo encobertando minha fuga, saí correndo pelo bosque logo em seguida. Eles não teriam como me seguir.


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Notas finais do capítulo

O feitiço que Shalia invocou estava em latim, e o que ela disse foi:
"Eu, como serva e adoradora do diabo, Bafomé convoco as forças malignas e nomeio esta nova serva, imprimindo a marca da besta em seu corpo e concretizando seu pacto. Materialize-se magia negra!"
Até amanhã!



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