O Ritual escrita por Elliot White


Capítulo 30
Final - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Agora sim é o final mesmo!
Boa leitura.



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Wendy se preparou para a fuga, se concentrando para suas asas de íncubo crescerem, como eu percebi elas só apareciam quando necessário, e agora mais do que nunca precisaríamos delas. O processo demorou um pouco e pareceu que exigia um grande esforço do moreno, que se contorceu e grunhiu até que enfim os membros de morcego saíram de suas costas, rasgando suas roupas enquanto se esticavam e bagunçavam a capa do manto preto que ele usava.

            Ao fundo, Samael continuava gargalhando como se aquilo fosse uma piada.

            - Acha mesmo que pode salvá-lo de mim, loirinha? Assim como você, e Shalia, Nestor também tem uma marca no pulso. Uma marca que vocês fizeram e que eu controlo. Eu gero o poder que a energiza, e assim manipulo-o como quiser. É como se ele fosse um fantoche, vai fazer tudo o que eu quiser. – Discursou, em voz alta e grave, provocativo.

            O ignorei, pegando o bruxo, debilitado e o ajudei a andar, lentamente, porém eu não o deixaria ali com eles.

            - Sinto muito, mas não posso permitir que vá embora. – O demônio afirmou, e assim que eu dei o passo seguinte senti meu braço direito gelar como um picolé, enquanto que a marca no meu pulso ardia como se fosse cortar minha carne. Logo percebi que a mão magra e esquelética dele me agarrava, o espectro, obedecendo ordens do seu mestre. Mexeu com a garota errada, eu estou de TPM.

            Wendy reagiu mais rápido do que eu: lançou sua asa esquerda, escura como a noite sobre o monstro, no entanto este usou o outro braço, tão assustador e fantasmagórico como o que me continha para deter os avanços do moreno, que teve um espasmo de dor ao ter o membro pressionado com força.

            Não seria fácil sairmos ilesos dali. Antes que pudesse pensar no que fazer em seguida, fui surpreendida ao ver o braço do espectro me soltar e ser arrastado no ar sem nada visível causando isso. Em seguida o outro braço que continha o íncubo também o livro, ambos os membros eram bizarros e delineados com músculos em carne viva. Assim que ficou impedido, a criatura foi jogada a metros de distância, colidindo com algo no escuro e fazendo um belo barulho, já afastado.

            Samael não ficou nada contente em ver seu servo abatido, e dirigiu um olhar assassino ao autor do ato, que não demorou a surgir, alto, silhueta masculina, cabelos longos e loiros como os meus e como os do demônio, a face muito lembrava a dele, pele branca e um par de esferas azuis como olhos. Meu pai.

            - Maninho, você por aqui? – O bruxo estava com uma expressão de mau, mas logo forjou um sorriso torto ao vê-lo e iniciou sua atuação – A família toda está unida não é mesmo?

            - Eu não sou seu irmão, e você nunca será metade do homem que ele é! – Papai respondeu, seu tom estava furioso demais, e sua mão estava erguida pronta para executar mais magia. – Se encostar na minha filha de novo, eu mesmo arranco o seu braço! – Ao falar isso, além de me deixar orgulhosa, o braço esquerdo do seu irmão gêmeo realmente se moveu contra a sua vontade, erguendo-se no ar, e isso surpreendeu ele mesmo, porém logo ele retomou o controle de si e revidou o ataque, fazendo o meu pai ser jogado no ar, e teria ido longe pelo extenso salão se não tivesse se segurado em um dos muitos bancos, vazios e assim conseguiu pôr os pés no chão novamente.

            Assim que se recompôs, papai atacou com mais mágica, desta vez atingiu a Shalia e não ao meu tio, a bruxa voou até o teto, ficando de cabeça para baixo e sem controle sobre seu corpo, seus gritos ecoavam pelo auditório inteiro com o susto.

            - Se quiser, pode matá-la. Eu não me importo. – Samael declarou, deixando seu adversário sem alternativa.

            - Becky, fuja! Eu ficarei bem, depressa! – Meu pai exclamou, o que me deixou de coração apertado, mas antes de tomar a decisão Wendy me agarrou e se lançou em voo, agitando suas asas até alcançar o outro lado do cômodo, de onde viemos. Olhei para trás, e a figura ferida de Nestor diminuía conforme nos distanciávamos.

            - Espere, o Nestor! – Berrei, no entanto, o íncubo não me deu ouvidos. Antes que pudéssemos enfim escapar do lugar, a porta que levava ao lado de fora do prédio se fechou.

            - Não! – A voz grave de meu pai soou, seu irmão gêmeo havia feito isso. No seu rosto já estava estampado uma carranca feia, porém ficou mais grotesco quando suas pupilas azuis-marinhos se elevaram até desaparecerem do globo ocular e deixar apenas um branco vazio e maligno à vista.

            Magia mais forte estava vindo, e eu podia sentir que nem meu pai nem bruxo nenhum poderia impedi-lo. Um vento potente sacudiu a capa preta que Wendy trajava, e bagunçou meus cabelos. Vinha de onde estava a porta, mas não do lado de fora e sim de uma espécie de tornado feito com magia que circulava na parede e sugava para o seu interior como um buraco negro; não houve tempo para fugir, era muito possante e logo seríamos levados para sei lá onde.

            Wendy se agarrou em algo que eu não conseguia ver, na minha visão tinha apenas um turbilhão de luzes em espiral, se o moreno não tivesse segurado em minha mão eu já estaria muito mais distante em direção ao portal. Isso parecia um portal. Meu corpo tremulava no ar e ao fundo, quase sumindo eu via meu pai me olhando e dizendo “vai ficar tudo bem”, sua voz quase sumia naquela confusão e o íncubo mantinha o olhar fixo em mim, as asas imensas em suas costas; não aguentaria muito mais.

            Vai ficar tudo bem.

            Assim como dissera no dia em que minha mãe morreu.

            E assim imergimos na escuridão.


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Notas finais do capítulo

Amanhã eu postarei um epílogo para concluir melhor. Eu sei que o final não é perfeito, mas tem motivos pra ser assim. Qualquer dúvida me contatem, digam o que pensaram do final, eu até imagino o que estão pensando mas só vou saber se falarem sobre. De qualquer forma quero deixar um obrigado a todos que leram até aqui!