Era uma terra escura, uma terra de ninguém, onde não se podia ver um palmo á frente do nariz, devido àquele maldito nevoeiro que a assolava. Nesta terra, habitava apenas uma pessoa, e apenas uma pessoa dela cuidava.

Pedro era um espirito livre que se viu preso a uma promessa. Seu pai, que havia perdido a esposa durante o parto do segundo filho, o qual nasceu morto, não tinha mais nada a não ser o seu filho mais velho e a terra onde viveu toda a sua vida, pela qual era responsável desde novo. Assim sendo, perante o leito da morte, fez com que Pedro jurasse zelar pela terra até que o nevoeiro fosse e esta voltasse a ter a beleza que tivera durante a sua juventude, para que assim todos a pudessem admirar outra vez. E Pedro assim o fez.

No entanto, apesar de querer fazer cumprir o último desejo de seu pai, ele não poderia deixar de lamentar estar preso ao nevoeiro para o resto da vida, sem poder realizar o seu sonho de ver tudo o que o mundo tinha para oferecer.

Pedro passou dias sozinho naquela terra de ninguém, rogando a Deus por um milagre que o libertasse. Um dia, o milagre aconteceu; perto da montanha, uma pessoa caiu do céu. Mas não era uma pessoa. Era sim um anjo a quem Deus cortou as asas e atirou á Terra com uma missão para cumprir. Ele deveria afastar o nevoeiro e ajudar a terra a retomar a sua beleza até que as suas asas crescessem novamente. E assim foi. Com um gesto, ele fez com que a névoa se fosse e a chuva aparecesse. Depois da humidade da chuva veio a luz do sol. Mas, á medida que o tempo passava e a terra ficava mais bela, o anjo sentia-se cada vez mais humano. Apegara-se á terra e formara laços de amizade com Pedro. Contudo, sentia falta da casa que Deus lhe tirou e á qual não podia retornar, uma vez que se o fizesse, o nevoeiro voltaria a assolar a terra.

Pedro, que assistia em silêncio á angústia do amigo, esperou que as suas asas crescessem e ordenou-lhe que se fosse embora. O anjo havia-o libertado e agora ele queria retribuir, libertando-o também. O anjo, triste pelo amigo que deixava para trás, assentiu e voltou para cas, deixando a promessa de que um dia seria capaz de afastar o nevoeiro a partir do céu. Então Pedro subiu á montanha para ver o amigo abrir as asas em direção ao horizonte.

O nevoeiro voltou e as sombras assolaram a terra novamente. Novamente a terra voltou a ser habitada por uma única pessoa. O habitante subia todos os dias á montanha, o único lugar entre o céu e a terra, sempre á espera do fim da névoa e do inicio da alvorada.