Mascarade escrita por Last Mafagafo


Capítulo 3
Capítulo 3 - Um lugar misterioso


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo! Esse vai de brinde por eu ter editado os outros dois. Espero que gostem!



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Observou pela fenda, mas não conseguiu enxergar nada. O breu engolia o corredor e deixava o mistério pairando no ar. Blanche se aproximou, mas titubeou. O que haveria do outro lado do espelho? Seria seguro entrar? A curiosidade tomou conta da moça que decidiu entrar, apesar do medo. O longo corredor tinha candelabros em suas paredes, mas eles estavam apagados. Teias de aranha emaranhadas, pendiam como rendas trágicas. Prosseguiu pelo caminho apesar da escuridão. Ouviu o barulho de ratos pelo chão e imaginou que também houvessem baratas pelo caminho, mas preferiu engolir meu asco para descobrir para onde a passagem a levaria. Seu coração batia cada vez mais alto e forte, tanto que ela já podia ouvir seus ecos nos corredores úmidos por onde passava.

Sentia um frio cortante passar pela fantasia de escrava, um corselet colorido e sem mangas e fitas verdes e vermelhas, como franjas de uma cortina na saia. Decididamente não era a melhor combinação para uma aventura nos túneis escondidos da ópera. Por mais que se encolhesse, não conseguia se sentir livre daquela sensação de medo e perigo. Por que tinha que ter inventado de entrar naquele buraco? Ela não havia encontrado nada que fosse minimamente interessante, apenas aterrorizante. E então, grades... de ferro, frias e úmidas, soltando um pouco de ferrugem em suas mãos. Era um portão velho que rangia e, milagrosamente, ele estava aberto. Passou por ele e observou que mais à frente havia uma claridade fraca e amarelada. Ela não tinha certeza se deveria seguir, mas como não tinha ideia de onde estava ou para onde ia, decidiu que aquela era a melhor opção de sair daquele labirinto.

Blanche só percebeu que havia chegado a um lago quando sentiu sua perna afundar na água. Era um lago raso, na verdade, a agua batendo em sua cintura, as franjas da fantasia de escrava flutuando. O maior incômodo era o frio, suas pernas congelavam sob a água, mas ela continuou caminhando pelo lago, até chegar à outra margem. Chegara a uma espécie de ilha no subterrâneo, um lugar mais claro, onde conseguia distinguir os objetos. Era uma grande galeria subterrânea, iluminada pela luz bruxuleante de dezenas de velas que se erguiam de candelabros dourados, como em uma igreja ou em um funeral. Haviam também cortinas escuras, de um vermelho sangue. Aquela decoração não condizia com o local, mas ao mesmo tempo trazia um toque gótico e misterioso.

Haviam vários móveis de madeira, ébano talvez, que incluíam mesas, divãs com estofado aveludado, tapetes persas e toalhas de cetim cor champanhe ou rubras. Era tudo tão luxuoso e estranho, todos aqueles itens que caberiam muito bem na mansão de algum nobre excêntrico, mas que jamais imaginaria encontrá-los em galerias subterrâneas e escuras, sob a Ópera Populaire. O grande destaque ficava por conta de um grande órgão, como o das antigas igrejas góticas, que parecia imperar dentre toda a mobília. Seria um sonho?

Nos móveis haviam diversas partituras. Algumas de óperas famosas, outras pareciam novas e originais. A bailarina puxou uma das cortinas para descobrir uma enorme cama, com dossel e lençol de cetim vermelho. Tocando o lençol, Blanche sentou-se sobre a cama, sentindo-se como uma invasora. Será que alguém realmente morava lá? Foi quando uma caixa de músicas antiga chamou sua atenção. Ela estava escondida por cortinas carmim e provavelmente teria passado despercebida se não parecesse tão familiar. Havia um macaquinho mecânico que segurava pratos nas mãos. Blanche ergueu a caixa e deu corda.

O macaquinho sobre a caixa bateu os pratos e a melodia começou a tocar. “Mascarade...strange faces on parade...”. A melodia tocava docemente, e sem perceber Blanche deixou-se levar pela música, fechando os olhos, e sorriu. De repente sentiu uma pressão em sua garganta. Uma corda de sisal grossa envolvia seu pescoço e a erguia. Tentou gritar, mas não houve som.  Se debatia, tentando se soltar, mas em vão. O chão sumiu a deixando nas pontas dos pés, sendo erguida por alguém que não conseguia ver. O coração batia freneticamente, a visão ficava turva.

— Por que desceu aqui? – era uma voz grossa e masculina, cheia de fúria.

— Eu... – a voz da moça saiu rouca e fraca, como uma velha.

Sentia que iria desmaiar.

O homem que segurava a corda vestia uma calça escura e uma camisa branca com alguns botões abertos. Ele também usava uma máscara branca que encobria parte de seu rosto. Seus cabelos escuros estavam penteados para trás, mas algumas mechas caiam em seu rosto. Sua mão enluvada apertava o pescoço da bailarina e seus olhos crispando de ódio encontraram os dela. O Fantasma!  De repente, ele a soltou e ela caiu no chão. Tossiu diversas vezes e tentou recuperar o ar, que ardia ao passar pela garganta, queimando. Ainda mal estava recuperada, sentiu seu cabelo ser puxado para trás de forma agressiva e violenta.

— O que você quer? O que faz aqui?

— Eu não sei – arfava - Segui a escada. Eu não queria... - as lágrimas de medo caíam, a voz ainda fraca mal tinha força para sair.

— Eu deveria matá-la por ter chegado até aqui.

— Não, por favor… - chorava, perdendo seu orgulho com o terror. Os olhos do Fantasma a fitaram novamente, mas não havia mais raiva em seu olhar.

— Cale-se! – ele fechou os olhos por um instante, enquanto Blanche apertava seus lábios para não deixar escapar um único som. O Fantasma abriu os olhos de novo e soltou um suspiro contrariado - Está livre, mas se abrir a boca eu não terei piedade – ele soltou seus cabelos e a moça tentou firmar suas pernas, mas quase caiu novamente.

Assustada, Blanche correu em direção aos portões de ferro, atravessando para o outro lado do lago o mais rápido que pôde. Nunca fora boa correndo, mas naquele momento sua vida estava em xeque. Ela tinha que sair dos subterrâneos da ópera antes que o fantasma decidisse mudar de ideia e acabar com sua vida. Com as franjas da fantasia colando nas pernas e o corselet apertado segurando sua respiração, correu pelas escadas e corredores úmidos tentando encontrar uma saída. Tropeçou repetidamente nas pedras e por mais de uma vez teve que se levantar do chão. A cada queda um novo hematoma, corte ou cicatriz. As sapatilhas pouco ajudavam e toda vez que tentava se segurar nas paredes acabava se machucando.

Por fim conseguiu enxergar mais um ponto de luz. Ao se aproximar viu o camarim amplo e bem decorado através do vidro e soube que estava salva. Blanche se apressou por atravessar a passagem e fechar o vidro novamente. Ofegando, se escorou em uma cadeira de espaldar reto e deixou-se descansar. Quando a adrenalina começou a baixar sentiu-se fraca e com certa tontura. Talvez fosse a consciência da maluquice que presenciara ou por estar assustada com todo o perigo de que se salvara, o fato é que desmaiou.


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Notas finais do capítulo

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