A Vida Secreta de Rachel escrita por L CHRIS


Capítulo 17
Revelações parte: 1


Notas iniciais do capítulo

A todos uma boa leitura!



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– Onde você esteve? – Esbravejou-se Allan assim que me viu cruzar a porta – Que sacolas são essas? O que você fez com seu cabelo? – Me bombardeou de perguntas.

Naquele momento sinto uma estranheza. Allan nunca se importara com minha ausência – ou presença – mas talvez sua reação seja de modo compreensivo. Havia demorado bem mais do que pretendia, eram quase nove da noite. E levando em consideração que ele não sabia da existência do meu novo celular, ele devia estar de fato preocupado.

– Cadê as crianças? – Indago ignorando suas perguntas anteriores.

Allan cruza a sala em minha direção, seu olhar era perplexo, ele procurava entender o que estava acontecendo diante de seus olhos. Sua recatada mulher com sacolas de compra e um corte novo no cabelo, era demais até mesmo para sua inteligência de homens das cavernas.

– Estão lá em cima. Onde esteve? – Allan pareceu mais calmo.

Suspiro colocando as sacolas que trazia em um dos sofás, sento logo depois retirando os saltos que estavam me matando.

– Eu estava no shopping. Tirei o dia para mim.

Allan ainda está com o olhar duvidoso, como se para ele fosse impossível Rachel Sadie fazer compras em um dia de semana.

– Por que isso? – Ele se referia ao meu cabelo.

– Gostou? – Abro um sorriso sarcástico – Resolvi mudar. Os meninos já jantaram?

Levanto-me apanhando minhas sacolas.

Allan suspira.

– Ainda não.

Viro-me e encaro o homem atrás de mim por um instante, então digo:

– Que espécie de homem é você, Allan?

Allan me encara, posso notar a sua pupila dilatar graudamente.

Silencio.

– Eu vou para meu quarto. – Anuncio a fim de colocar um final na conversa.

Mas Allan me impede segurando meu braço.

– Sua mãe ligou – começa ele em um tom amigável – ela ira fazer uma festa no chalé esse fim de semana e quer a nossa presença.

– Não posso. – Falo sem hesitar.

– Por quê? – Allan fala em um tom ofendido.

– Estou trabalhando, Allan.

– O que? – Allan solta um riso repleto de hostilidade – você está o que Rachel?

– Trabalhando. – Repito secamente.

– Com o que? Para que isso? – Allan parecia se divertir com a situação.

– Voltei a fotografar.

O riso até então presente ao seu rosto deu lugar a um semblante escuro e sério. Sinto seus dedos apertarem com mais força meu braço, me esquivo para trás.

– Você não fez isso! – O tom de Allan era duro.

– Sim! Eu fiz!

– Rachel, o que aconteceu com você? Você não era assim.

Suspiro.

– Eu não era assim como? Independente? Realista? – suspiro – você está certo, Allan. Eu não era assim. Sabe por quê? – respondo – porque eu era uma cega. Porque eu vivi anos da minha vida cega. Eu tinha medo de enxergar. E mesmo depois de enxergar, eu tive medo de enfrentar. Mas agora acabou, Allan. Eu não vou mais me submeter aos seus caprichos.

Allan parece petrificado.

– Mas e a nossa família?

Agora fora a minha vez de rir.

– Que família, Allan? Será que você ainda não percebeu que a única coisa que nos uni são nossos filhos? Então por favor, está um pouco tarde para pensar em família.

Allan me encara, e pela primeira vez eu posso notar seus olhos marejados.

Talvez ele arrependeu-se, ou apenas, estivesse com medo de que todos descobrissem que ele não era o santo que sempre jurou ser.

– O que eu digo para sua mãe? – Allan diz ignorando minhas palavras.

Suspiro.

– Vá você e as crianças – me viro, mas antes de começar a subir os degraus continuo – seja um bom pai para nossos filhos, Allan. Eles amam você.

Allan me encara do centro da sala.

– E você?

– Eu o que?

– Você me ama?

Fico em silencio e subo os degraus em direção ao meu quarto.

Já era tarde quando coloquei Arthur e Bath para dormir, depois de um jantar leve contei uma historia para eles e os levei para cama. Bath foi o primeiro a dormir, mas Arthur estava ali, com seus olhos genuínos de uma criança me encarando sob a luz fraca do abajur.

– Mamãe. – Sussurra ele.

– Sim, querido. – Respondo enquanto aliso seu cabelo as pontas dos dedos.

– Você é tudo pra mim.

Naquele instante eu sinto uma alegria imensa me invadir, como se não estivesse nada mais importante para mim do que aquelas palavras tão singelas. Sinto meus olhos lacrimejarem e logo desabo em um choro sorridente.

Abraço forte meu filho que se emociona também.

– Eu te amo, querido.

– Eu te amo, mamãe.

Deixo o quarto deles assim que percebo que Arthur adormecera em meus braços.

Já era quase onze horas quando adentrei em meu quarto, Allan estava sentado em seu lugar na cama e mexia em seu notebook. Não trocamos nenhuma palavra. Pego meu celular e resolvo deixar o quarto. Retornaria assim que Allan fosse deitar.

Caminho em passos lentos em direção à cozinha. Abro a geladeira e apanho um suco natural sabor abacaxi.

Enquanto me refrescava com o liquido gelado, fito a escuridão da noite, ali da janela da cozinha encaro os fundos da minha casa, o grande gramado, a balança na arvore, os brinquedos dos meninos, a piscina. Imagino por um instante o que Frankie estaria fazendo a essa hora da noite, será que estava em sua casa? Ou estava em outro lugar?

Ela me disse para ligar, mas será que não estaria tarde? Questiono.

Mesmo insegura pelo horário eu desbloqueei a tela do meu novo celular e disquei seu numero.

Depois de alguns toques sua voz rouca aparece do outro lado da linha.

– Alô.

Droga. Ela estava dormindo. Penso aflita.

– Liguei em uma hora ruim, né? – Comecei sem jeito pela minha falta de sensibilidade ao ligar àquela hora.

– Chel? Ah, claro que não – Frankie parecia animada em ouvir minha voz – Estive esperando sua ligação. Pensei que não ligaria mais.

Abro um sorriso.

– É. Eu tive um dia longo. Mas eu queria falar com você antes de me deitar.

Por algum motivo, eu sentia que Frankie sorria do outro lado da linha.

– A ideia de ser a ultima pessoa a ouvir sua voz me agrada. – Frankie ri brincalhona.

Meu sorriso fica ali, impresso em meu rosto.

– Como foi no jantar?

– Tudo bem. – A voz de Frankie pareceu tensa.

Talvez fora um erro perguntar sobre isso. Concluo.

Fico por algum tempo em silencio, só de saber que Frankie estava do outro lado da linha meu coração palpitava em um ritmo descompensado.

– Está animada para amanhã? – Começa ela.

– Como? – Pergunto sem entender por um segundo, talvez estivesse distraída demais pensando em como a queria ali – Sim.

– Eu também.

Sorrio.

– Acho melhor ir me deitar. E você, volte a dormir. Até amanhã.

– Tudo bem – concordou – Boa noite, Chel.

– Boa noite, Frankie.

Estava prestes a desligar o telefone e então Frankie disse:

– Chel?

– Sim.

– Você é especial para mim.

Naquele momento sinto me faltar o ar, respiro fundo.

– Você também é para mim.

Desligo o telefone.

O dia seguinte chega, e com ele a chuva, comum naquela época do ano.

Arthur e Bath já estavam prontos, tomara café da manhã, a chuva que cairá contra a vidraça era forte, e o céu não estava animador. Mesmo assim, o barulho da forte chuva era reconfortante.

– Isso aqui está muito bom! – Começa Bath se referindo as panquecas.

Abro um sorriso me servindo de um pouco mais de chá. Era maravilhoso poder ver meus filhos assim. Felizes.

– Mamãe – começa Arthur – segunda que vem será a nossa peça na escola. Você vai?

Abro um largo sorriso apoiando minhas mãos sobre a dele.

– Claro, querido.

– Nós iremos. – A voz surgiu da porta, e atraiu o olhar de todos ali.

Era Allan, ele estava ali, e pela primeira vez parecia disposto desjejuar com sua família.

Bath sai correndo em sua direção e o abraçado forte.

– Papai.

Allan pega o pequeno anjo no colo e o enche de carinho.

Suspiro.

Talvez eu soubesse que toda aquela atenção de Allan fosse o medo e a vergonha de ser desmascarado em publico. Mas de qualquer forma, era reconfortante saber que pelo menos meus filhos estavam feliz com sua presença.

Levanto da mesa deixando meu chá pela metade.

Ajeito meu jeans de lavagem escura – que acentuava minhas curvas, a vendedora estava certa, ele realmente ficou ótimo - comprado no dia anterior, uma blusa fina de seda na cor preta por baixo de uma jaqueta jeans, nos pés uma sandália de salto grosso, um colar de pedraria compunha meu look. Meu cabelo estava solto para mostrar meu novo corte, e no rosto uma maquiagem leve acentuava meus olhos claros.

– Você está linda. – Elogia Allan com um sorriso.

– Obrigada. – Meu tom é seco.

Apanho minha bolsa e celular.

– Você leva as crianças na escola. E não se esqueça de ligar para minha mãe confirmando a viagem.

Dou um beijo nos meus filhos e deixo a casa.

O transito naquela manhã estava realmente infernal por conta da chuva, que agora, dera lugar a uma garoa fina, mas cortando alguns caminhos que conhecia, consegui chegar lá em cima da hora. Enquanto procurava algum lugar para estacionar posso notar uma figura de jaqueta de couro e com o cabelo revolto – aquele cabelo revolto – me olhar enquanto trazia nas mãos dois cafés do Starbucks.

Um sorriso toma meu rosto assim que deixo o carro e indo a sua direção.

– Isso é pra mim?

O sorriso no rosto de Frankie é gigantesco, e quando me vê parece surpresa e ao mesmo tempo satisfeita.

Uau. Você está linda, Rachel – ela pisca algumas vezes – sim. É para você. Não sei qual gosta, então optei por um expresso. Tudo bem?

– Claro! – Falo sorridente.

Frankie estica um dos copos em minha direção, mas antes que pudesse pegar o copo ela trás seu corpo mais para junto do meu e me rouba um beijo. Um beijo rápido, porém me causara um forte tremor.

– Você está muito sexy nessa calça. – Seu tom é ousado e cheio de malicia.

Sorrio sem jeito. Mas por dentro adorei o elogio sacana que me fizera.

– Obrigada.

– Será um desafio não querer te agarrar hoje.

– Gosta de desafios?

Frankie sorri entendendo minha provocação.

– Eu gosto de você. – Ela pisca.

Sinto meu rosto corar.

Frankie me entrega o café. E então seguimos para dentro do prédio.

Certamente aquele seria um dia longo.

Gina’s P funcionara a todo o vapor aquela manhã, as modelos se encontravam em um canto da sala, sua grande maioria tomara café e conversavam entre si. A linha de produção também já estava funcionando. Todos ali pareciam preparados para o trabalho. Menos Gina. Frankie me explicou que ela costumava aparecer ali poucas vezes na semana, já que passara a maioria do tempo com outras ocupações.

– Olha, só! Nossa fotografa chegou! – Aquele era Cássio.

Abro um leve sorriso.

– Oi, pessoal.

– Oi, Rachel. – Um coral me responde.

Não demorou muito até me sentir em “casa” todos eram bem receptivos da sua maneira, Cássio com todo o seu jeito exuberante fora o meu assistente aquela manhã. Frankie o deixou encarregado de me ajudar no estúdio já que tinha outras coisas para resolver.

Enquanto arrumávamos as coisas no lugar, retirando as caixas e moveis que ocupavam o lugar, Cássio começou:

– Qual é a sua e da Frankie?

Por um momento hesitei em responder. Por alguma razão estranha, eu tive medo de manifestar qualquer tipo de sentimento.

– Somo amigas. – Concluo.

Cássio me encara por algum tempo desconfiado, mas dá de ombros.

– Tudo bem. Fico aliviado por isso. Francesca é uma galinha, eu não queria vê-la machucar seu coração – seu tom é teatral, porém sincero.

Engulo a seco.

– Não temos nada. – Minto.

Cássio suspira sentando-se em uma das cadeiras giratórias da grande sala quase vazia.

– Você sabe por que ela tem um cargo grande aqui, não?

Nego.

Sento-me na outra cadeira de frente para ele.

– Não. Por quê? – Indago.

Mesmo que tivesse medo da resposta.

Cássio passa a mão em seu colo, e sua expressão era como vê alguém que fosse dar um aviso importante.

– Ela dorme com a Gina. É assim que ela consegue tudo. Dormindo com as pessoas.

Um súbito enjoou sobe pelo meu corpo. Sinto meu estomago embrulhar e naquele instante me arrependo por ter indago e persistido no assunto.

– Elas têm um caso há muito tempo.

– Muito tempo? – Repito incrédula.

– Sim. Você está bem? - Cássio parecia preocupado.

Minha única vontade era sair dali, me faltava o ar.

Eu sabia que Frankie não tinha nada comigo, sabia que sua relação com a Gina poderia ser muito além de amizade. Mas eu não queria acreditar, no fundo eu queria que fosse verdade quando ela olhou em meus olhos e dissera que não tinha nada com aquela mulher.

Mas ela tinha.

– Eu preciso ir embora. Avisa para Frankie que não estava bem.

Levanto pegando minha bolsa e deixando o estúdio.

Saiu a cegas passando por todos que ali trabalhavam.

– Rachel?

– O que deu nela? – Ouço os cochichos em minha volta, mas sou incapaz de parar.

Eu não entendi o porquê tive aquela reação, eu sabia que não era a única na vida de Frankie, e talvez por isso eu me sentisse tão mal. Porque apesar da minha situação, do meu casamento, Frankie era a única pessoa que eu pensava antes de ir dormir.

A única que eu queria estar.

– Rachel! – A voz aparece atrás de mim e a minha única vontade é de seguir aquele corredor sem olhar para trás.

Mas não sairia assim. Não sem dizer umas boas verdades para ela. Viro-me e encaro aquela figura séria que ficara ainda mais sexy. Ela faz uma curta corrida até meu encontro.

– O que aconteceu? Todos estão falando que você saiu de lá correndo.

Sua voz por um momento me causa um arrepio, e sou incapaz de saber se é raiva ou excitação.

Acerto seu rosto com um tapa, foi muito mais reflexo do que qualquer outra coisa. Talvez eu só quisesse demonstrar para ela o quão triste eu estava.

Frankie arregala os olhos e toca seu rosto tentando entender o que estava acontecendo.

– Quando você ia me contar que sai com aquela mulher há tempos? Não somos namoradas. – Imito seu tom de voz - Não! Vocês são amantes. Porra! Amantes.

Sem perceber eu começo a chorar histericamente.

Quando Frankie perceber que estamos atraindo olhares ela me leva até uma sala vazia do prédio e bate a porta atrás de nos.

Agora estávamos sozinhas. E a raiva me dominara o peito.

Olhar para Frankie era como se eu tivesse algo que quisesse muito, mas que no fundo eu soubesse que nunca iria me pertencer.

Eu nunca me senti assim antes, era como se algo irracional me tocasse e fosse impossível pensar com clareza.

– Rachel – Frankie suspira – eu sinto muito. Eu não devia ter comentado com você para ela.

Nego em silencio. Então era verdade, Frankie era uma oportunista.

– Não me toque! – Pedi me esquivando quando sua mão tentou tocar minha cintura – Então é assim que você consegue tudo que quer? Indo para cama?

Frankie parecia ofendida.

– Você não sabe nada sobre minha vida! - Esbravejou-se. Eu poderia ver o brilho de raiva em seu olhar.

Eu tinha a irritado.

– Tem razão! – exclamo - Eu não sei. Eu vou embora. Não quero participar desse ciclo vicioso.

– Não! – Frankie segura meu braço me impedindo de dar o primeiro passo – eu quero te levar em um lugar. E depois, se você quiser sumir da minha vida, eu aceito. Você nunca mais vai me ver.

Por mais chateada e irada que estivesse com Frankie, à ideia de não vê-la mais me assustara bem mais do que imaginava.

Respiro fundo.

Será mesmo que era certo ir com ela? Até agora estava claro quão perigosa àquela garota de olhos e sorriso hipnóticos era. Mesmo com todos os avisos “cuidado” “mantenha-se distante” piscavam em minha cabeça. Eu sei que quero fazer. Eu quero ir com Francesca. Penso aflita.

Concordando ir com ela.

Francesca suspira aliviada.

Seja lá onde Frankie fosse me levar, eu precisava lhe dar essa chance de se explicar.

Mesmo que isso significasse nunca mais vê-la novamente.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? O que será que Frankie esconde? Para quem é manteiga derretida - como eu - recomendo não ler o próximo capitulo. kkk. Até mais pessoal!



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