Sob minha pele escrita por Bruna


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Quem estiver acompanhando, por favor, não deixe de comentar. É bom eu saber, para eu não demorar muito para postar!



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Mel.

Estamos no caminho de volta para casa. Ele está quieto. Ele está muito quieto, e isso me deixa muito inquieta. Não entendo sua frieza agora. Estava tudo tão perfeito. O quê deu errado?

O quê acaba de acontecer? Ele pegou em minha mão, seu rosto estava bem perto do meu. Eu achei que ele iria me beijar, mas não fez.

Ele apenas segurou minha mão.

Ele apenas segurou minha mão. Ele apenas fez meu coração acelerar e parar ao mesmo tempo. Ele apenas fez eu me sentir como se eu estivesse fora do meu corpo. Como se tudo antes daquele momento não fosse nada. E que aquele momento ali, com ele, fosse tudo.

Seus olhos parecem perdidos no horizonte. Seu indicador escova seu lábio inferior e é fascinante. Não consigo tirar os olhos.

Nunca senti nada parecido antes. Nunquinha. Eu o conheço não tem nem dois dias. Eu não posso estar apaixonada. Ninguém se apaixona tão rápido.

Eu fico nervosa perto dele. No fundo eu devo acha-lo intimidante. Deve ser isso.

Ele estaciona o carro em frente ao restaurante.

Ele está encarando o volante. E eu o estou encarando.

– Me desculpe. – Ele diz baixinho.

Por que ele está pedindo desculpas?

– Desculpa? Pelo o quê? – pergunto confusa.

Seus olhos ainda estão no volante.

– Pelo o quê eu fiz. – Ele diz simplesmente. – Eu não devia ter feito aquilo. Não foi certo. – Ele balança a cabeça, fecha seus olhos. Sinto um nó em meu peito.

Ele está com cara de quem fez burrada.

A burrada sou eu?

Ele está pedindo desculpas por ser carinhoso comigo?

– Mas você não fez nada. – Digo simplesmente. Pode não ser nada para ele, talvez isso seja o que ele queira ouvir, mas para mim significou tanta coisa.

Seus olhos não estão mais no volante. Seus olhos estão em mim. E é como se ele pudesse ver tudo. Tudo o que eu senti. Tudo o que eu tenho sentido desde a primeira vez que o vi.

– Mas eu queria ter feito. – Ele diz com a voz rouca. Aquela intensidade está presente de novo em seus olhos.

Nesse momento eu não me importo mais. Eu gosto dele. Eu queria que ele tivesse me beijado. Porque ele não fez? Ele está dizendo que queria ter feito.

De repente uma compreensão terrível me invade. Vai ver ele gosta de outra pessoa. Vai ver eu sou muito pouca coisa para ele.

A garotinha bobinha do interior.

Ai meu deus! Só pode ser isso.

– Você já está interessado em outra pessoa? – pergunto. Eu tenho medo de sua resposta.

Por favor, diga que não!

Ele balança a cabeça e sorri.

– Não Mel. Não estou. – Alivio me invade. – Mas, não pode acontecer nada entre a gente. – Diz decidido. Como se ele viesse pensando nisso por todo o caminho.

Eu o estou encarando sem entender nada.

– Por quê? – pergunto. Não ligo de estar deixando bem claro de que eu tinha esperanças. Tá legal! Eu tinha esperança de que alguma coisa rolasse entre nós dois.

– Eu vou embora talvez em duas semanas. Quando nós vamos nos ver de novo? – Ele está tentando me fazer entender. Mas porque parece que ele só quer convencer a si mesmo? – Não posso negar que senti uma coisa diferente desde a primeira vez que te vi. Te acho bonita, inteligente, engraçada. Mas não daria certo. Não seria justo com nenhum de nós dois. – Ele tem uma expressão neutra. Seus olhos não olham para mim. Ele olha para algo atrás de mim. Pela janela.

Olhe para mim John!

Eu estou levando um pé é isso? Mas nem aconteceu nada.

Minha vontade é de gritar e dizer que ele é louco. Que eu não esperava nada dele, nem sequer um beijinho no rosto. Mesmo sabendo que isso é mentira. Mesmo sabendo o quanto eu o quero.

No fundo eu sei que ele está certo. Eu queria odiá-lo agora. Mas não posso. Por que eu sei que ele está certo. Porém isso não impede o meu coração de ser destruído.

De repente a ideia de um futuro que nem eu mesma reconhecia que tinha imaginado desmorona.

Ele não me quer.

– Tudo bem. Você tem razão. – Minto. Sorrio para ele. – Eu não esperava nada de diferente. Talvez tenha sido o ar do campo que mexeu com nossa cabeça. Não se preocupe, esqueça isso. – Não sei de onde tiro forças para bancar a durona. - Eu tenho algumas coisas para fazer. Até mais John.

Seu rosto está sério como se ele não acreditasse em minha reação.

Ele sabe que você está fingindo.

Saio do carro sem ao menos o deixar dizer nada.

Ele queria também. Queria sim.

Por que meu peito dói? Porque sinto vontade de chorar?

Ouço o barulho do motor. Pneus derrapando. Olho para trás e ele não está mais aqui.

Por que estou me sentindo tão estranha? Como se algo tivesse sido tomado de mim?

Entro no restaurante e Ana está sentada a mesa. Ela está ao telefone.

Estou desnorteada. Não entendo o porquê. Não entendo meus sentimentos. O quê está acontecendo comigo?

Eu o quero. Ele não me quer. Pronto. Resolvido. Quando um não quer, dois não brigam certo? Mas porque está doendo tanto?

Ana desliga o telefone.

– Mel , ainda bem que você chegou. – Diz Ana. – E então, como foi o passeio? – Ela faz cara de curiosa. Seus olhos brilham em antecipação.

Você está partindo meu coração John?

– Mel? – pergunta Ana. – Está tudo bem? Onde está John? – Ela olha por sobre meu ombro.

Eu estou bem? Eu deveria estar! Por que não estou?

Ana está esperando uma resposta minha.

– Eu estou bem, só estava pensando. – Digo me recompondo. – Ele teve que resolver umas coisas. Me deixou aqui.

Me deixou no chão. Sem rumo.

– E não foi um passeio – continuo - ele só precisava de alguém para guia-lo pelos campos. E eu fiz isso. – Digo tentando não deixar transparecer nada. Me sinto um lixo.

– Ah sim. Tudo bem. Não quero ser invasiva. – Ela muda de assunto. – Lembra da festa que estava marcada para o próximo domingo?

– O aniversário de casamento dos Sanchez? - pergunto. – Lembro sim. Por quê?

– Não sei o que houve. Talvez um imprevisto. Mas eles acabaram de me ligar pedindo para mudar para hoje!!!! – Ela praticamente grita!

– Hoje? – pergunto. – Sem condições de fazer nada hoje. Não tem nada feito.

Festas não aparecem do nada. Elas precisam ser planejadas.

Ana acena com a cabeça.

– Eu sei, eu sei. Eu conversei com a Margarida. Ela disse que tem noção de que é em cima da hora. Ela disse que vai pagar o combinado, mas que ela traz os comes e bebes. Nós só servimos o que tivermos aqui. Ela só precisa do restaurante.

– Você já falou com o meu avô? – pergunto. Não estou com cabeça agora.

– Tentei. Mas ele não levou o celular. Preciso que você tome a decisão. – Ana está inquieta. Ela adora uma boa festa.

– Tudo bem Ana. Já estava tudo combinado. Só foi mudada a data. – Digo dando de ombros.

Ana bate palminhas.

– Então eu vou ligar para ela. Ai eu adoro uma festa! – Diz animada.

Não sinto animação alguma.

– Ana, eu vou para o meu quarto. Eu tenho que estudar. – Digo cansada. Isso tudo me esgotou.

– Tudo bem. Você desce para a festa não é? – Sua sobrancelha está arqueada.

– Desço sim. – Minto. Eu não vou sair do meu quarto nunca mais.

A música está alta. Consigo ouvir daqui de cima. Estou com um livro em mãos, mas sinceramente não consigo me concentrar. É como se as palavras fugissem de mim.

Suas palavras são as únicas que vem em minha cabeça.

Não pode acontecer nada entre a gente.

Então porque inferno aquela encenação toda? Ele disse que eu era linda. Ele disse que queria ter feito. Ele disse que sentiu uma coisa diferente desde a primeira vez que me viu. Se o que ele sentiu foi o mesmo que o que eu senti. Isso é forte. É muito forte. Eu perco o ar. Eu perco o chão. Eu perco a fala. Eu perco minha linha de raciocínio. Estou eu aqui e não consigo pensar em mais nada. A não ser nele.

De repente percebo que desde sábado que eu não penso em outra coisa. A não ser em seu sorriso. Seu jeito de falar. O jeito como ele passa a mão entre os cabelos. Seus olhos. Seus olhos estão em meus sonhos.

Por que não pode acontecer nada entre a gente John?

Ouço batidas na porta.

– Pode entrar. – Digo num muxoxo.

– O que está fazendo enfurnada aqui dentro? Tem uma festa lá embaixo. – Diz meu avô enquanto se senta em minha cama. – Aliás, eu posso estar velho, mas eu tenho certeza que está festa seria no próximo domingo.

Tenho que rir com isso.

– Margarida pediu para fazer hoje. O senhor não se incomoda não é? – Espero que ele não se importe. Não gosto de tomar decisões, só faço isso em extrema necessidade.

Ele balança a cabeça.

– Claro que não. O que me incomoda é te ver aqui. – Seus olhos me avaliam.

Mostro o livro para ele.

– Estou estudando. – Digo explicando. Eu sei que meu avô me conhece muito bem. Ele sabe que tem algo de errado. Porém, não deveria ter nada de errado. Eu deveria estar bem.

– Tenho certeza de que você pode fazer isso depois. Seus amigos estão lá em baixo. Mateo, Julia. Vai se divertir. – Ele puxa as minhas cobertas.

Eu não estou afim de festa. Eu só estou afim de ficar quietinha no meu canto.

Eu vou ter que encara-lo até ele ir embora. E eu não vou ter como fugir disso. E eu não sou uma covarde. Eu vou agir como se nada tivesse acontecido.

E quer saber do que mais? Ele tem razão. Não vou ficar aqui trancada. Estou na minha casa. Alias, estou no meu país. Ele não me quis? Não vou sofrer por isso.

Como se fosse tão fácil assim.

Eu vou fazer ser fácil. Acabei de decidir.

– Tudo bem vovô. Vou me arrumar já desço. – Digo colocando um sorriso no rosto.

Ele sorri para mim.

– É assim que eu gosto.

Meu avô sai do quarto, e meu vestido já está jogado no chão.

Depois do banho procuro uma roupa que me deixe linda. Eu quero que ele me veja. Que repare em mim. Minhas roupas estão todas jogadas pelo quarto. Não sei o que vestir.

– O que vestir quando você quer que um cara repare em você? – pergunto para mim mesma.

Ouço uma batida na porta. Estou de toalha.

– Quem é? – pergunto.

– Sou eu! – É a Julia.

Abro a porta e a deixo entrar.

Ele olha espantada para todos os cantos do quarto. Meu sutiã está jogado perto da porta. O agarro e o guardo.

– O que aconteceu aqui? – pergunta espantada. Eu sou muito organizada, e nada no mundo explicaria essa bagunça.

– Estou procurando alguma coisa para vestir. – Digo dando de ombros.

– Por quê? – Ela pergunta. – Você nunca ligou para essas coisas. – Ela faz cara de descrença.

– Agora eu ligo. – Digo.

Bom, desde ontem.

Ela está me encarando com a sobrancelha arqueada.

– Quer me dizer alguma coisa? – ela pergunta. Essa é como Ana. Não deixa passar nada.

Julia é minha melhor amiga. Talvez ela me ajude.

– Eu quero que alguém me note hoje. Eu preciso ficar muito bonita!

Julia ri.

– Quem você quer impressionar? – Ela pergunta.

Não respondo. Ela está me encarando. Não respondo. Ela está com uma cara de espanto. Não respondo, mas eu sei que ela sabe.

– John? – diz baixinho.

Por que parece ser tão inimaginável?

Finjo que não ouvi e me viro para procurar um belo NADA em uma das gavetas.

– Bem que eu percebi que tinha alguma coisa rolando. Vocês se olham demais. – Um sorriso malicioso está estampado em seu rosto.

– Não importa! – Explodo.

– Como assim? – ela pergunta. Agora ela está preocupada.

Fecho a gaveta frustrada.

– Não importa. – Digo deixando que alguém saiba o quanto isso me chateou. – Eu não entendo. Eu fui com ele ao campo hoje. Ele precisava de alguém para mostrar o caminho. O guia furou com ele e não apareceu. Então sua Tia sugeriu que eu fosse com ele. Então eu fui. Ele foi gentil. Ele perguntou sobre mim, minha idade, cor favorita. Perguntou sobre meus pais, eu perguntei sobre os dele. Ele segurou minha mão, ele encostou seu rosto no meu, e eu achei que iria flutuar. Eu realmente achei que ia flutuar. De verdade Ju! E depois ele me pede desculpas e diz que não pode acontecer nada entre nós dois, e agora eu estou assim. Eu me sinto mal. Mas não sei o porquê. Eu nunca me senti desse jeito antes.

– Ele tem namorada? – ela pergunta.

– Não. Eu perguntei isso. Ele disse que não tem. Ele só disse que não pode acontecer porque ele vai embora logo, e que isso não seria justo com nenhum de nós.

– UAU! – Isso é muita coisa. – Seus olhos estão arregalados. – Eu nunca te vi assim por ninguém.

– Eu nunca me senti assim antes.

Ela ri.

– Você já se apaixonou antes Mel?

Franzo a testa.

– Por que está me perguntando isso? – pergunto confusa.

Ela me olha como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– Eu não estou apaixonada Julia! Eu nunca me apaixonei antes, mas eu tenho certeza que para isso leva mais de dois dias. – Digo com plena noção do que estou falando.

Ela só pode ser louca.

– Tá! Pode não ser amor. Mas que tem alguma coisa especial acontecendo, eu aposto o meu dedo mindinho que tem!

Eu rio com isso.

– Eu não sei o que está acontecendo. – Digo enquanto sento ao seu lado na cama. Ela passa os braços ao meu redor. – Ele disse que sentiu uma coisa diferente quando me viu a primeira vez. – Digo baixinho.

– Ele gosta de você Mel. – Diz Julia. – Eu percebi isso desde que ele entrou por aquela porta.

Julia é boa em desvendar os sentimentos dos outros. E eu quero acreditar nisso que ela acabou de falar. Eu quero acreditar com todo o meu coração. Olho para ela e ela não sabe o quanto ouvir isso me fez bem.

– Você me ajuda a me arrumar? Acho que eu estou um pouco nervosa. – Acabo de me dar conta do porquê eu nunca ter sentido falta de ter irmãos. Por que eu já tenho uma. Eu tenho uma bem ao meu lado.

– Um pouco? – Ela ri.

– Tá legal! MUUUUITO!

– Tá legal doidinha. Vamos lá arrasar com o coração daquele americano.

Nós duas rimos. No final Julia escolhe um vestido verde escuro, e ela me obriga a usa-lo junto com uma bota preta. Ela diz que vai me deixar sexy. Confesso que estou me sentindo meio ridícula com tudo isso, mas até que estou me divertindo.

– Nada de cabelo preso. Solta isso. Seu cabelo é lindo!

Depois do que eu acho que foi uma hora, finalmente estou pronta, e segundo ela estou de arrasar!

Espero que ela tenha razão.


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Notas finais do capítulo

Comentem, favoritem! :)



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