Sob minha pele escrita por Bruna


Capítulo 42
Capítulo 42




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Mel. 

O tempo parece ter parado, e todos os meus extintos estão atentos, apenas esperando por ouvir sua voz. Apenas por ouvi-lo dizer meu nome outra vez, esperando por ouvir a voz que sussurra em meu ouvido durante o sono, em meus sonhos mais íntimos.

Talvez dê certo...

Talvez tudo se acerte...

— Quem é? – Pergunta uma voz grogue que faz meu coração se despedaçar no peito.

Solto um soluço involuntário, e no mesmo instante levo minha mão a boca para conter o excesso de gemidos que não consigo controlar.

São sons de desespero...

— Você quer falar com alguém? – Pergunta a voz feminina ainda meio grogue, como se tivesse acabado de ser despertada.

Dói demais apenas em imaginar alguma mulher deitada ao seu lado. Dói apenas de imaginar que ele já esteja com outra pessoa.

Uma voz distante em minha cabeça me diz que talvez eu esteja sendo precipitada demais. Eu nem ao menos sei se esse é o seu telefone.

Fecho os olhos com força, e tento ignorar a cara de apreensiva de Julia que está roendo as unhas à minha frente.

Engulo em seco.

— Eu gostaria de falar com o John. John Ackes. – Murmuro com medo de sua resposta. – Ele mora aí? – O medo está me estrangulando no momento.

Ela solta um risinho.

— Ele não é moleza mesmo. Você não podia esperar para ligar amanhã? Hoje é meu dia! – Ela parece sarcástica demais para o meu gosto. – Eu estava em um sono tão gostoso.

Meu corpo estremece.

— Não sei do que você está falando. – Digo na defensiva.

Quem ela acha que eu sou?

— Tudo bem. – Ela bufa como se estivesse irritada. – Ele está no banho. – Meu corpo gela. – John! – A ouço gritar. – John! Telefone para você! – Ela grita outra vez. - Ainda bem que você me acordou, eu queria mesmo tomar um banho com ele. – Diz a voz desdenhosa.

E nesse minuto eu me sinto um belo de um nada. Uma completa idiota. Inocente.

— Quem é? – Ouço ao longe.

Eu reconheceria sua voz em qualquer lugar. Eu reconheceria sua sombra. Qualquer coisa dele, qualquer parte dele, porque eu o amo mais que tudo.

— E aí? – Sussurra Julia.

Eu ainda estou com o telefone grudado à orelha.

— Não sei, é uma garota. – Diz a voz feminina baixinho como se estivesse ronronando. – Ela tem um sotaque bonitinho. – Ela diz com deboche.

Meu deus!

Eu estou tão envergonhada. Eu não deveria ter ligado. Eu não deveria estar rastejando atrás dele.

Eu sou uma completa idiota!

— Alô? – Fecho os olhos com força tentando parar as lágrimas. Tentando não fazer sons que me denunciem. Sons que denunciem que eu o deixei partir meu coração outra vez. – Quem está falando? – Ele parece irritado.

— Eu não deveria ter ligado. – Sussurro afetada pela decepção.

Eu poderia me bater agora!

— Mel? – Sua voz soa surpresa. Surpresa demais. – Mel, é você? - Odeio ouvi-lo fingir desse jeito. Odeio imaginar que ele talvez esteja feliz por eu ter ligado. – Mel me respond...

Desligo o telefone.

Minhas mãos estão tremendo. Eu estou tremendo. Quando dor por mim eu estou soluçando sem conseguir parar. Chorando inconsolável. Levo minhas mãos ao rosto tentando secar o fluxo de lágrimas.

Como eu pude me prestar a isso?

É óbvio o que aquela mulher era!

Ela estava dormindo com ele. Provavelmente transando com ele, enquanto eu estou aqui, carregando um filho dele, sofrendo feito uma imbecil!

— Mel, o que houve? – Pergunta Julia me alcançando e segurando meu rosto em suas mãos.

Minha visão está embaçada por conta das lágrimas.

Eu só queria sumir.

Eu não acredito que eu dei a chance dele me magoar outra vez!

— Mel, fala comigo! – Diz Julia me olhando com olhos assustados.

— Não foi ele quem atendeu. – Digo com a voz embargada. – Era uma mulher. – Digo completamente destruída. – Ele não me amava de verdade Julia. Se ele me amasse não teria me esquecido tão rápido.

Eu não tenho como expressar o que eu estou sentindo agora, uma tristeza tão grande que me rasga por dentro. Eu queria me enfiar em um buraco e não sair de lá nunca mais.

Eu queria morrer!

Este seria o único de modo de eu deixar de sentir.

O único modo para eu parar de amá-lo.

Eu me entreguei a ele, mas todos estavam certos. Eu era apenas uma diversão.

Julia tem os olhos marejados.

— Eu sinto muito Mel. – Ela murmura. Eu posso ver a pena em seus olhos.

— Por que isso dói tanto? – Pergunto para ela, mesmo sabendo que ela não tem a resposta. Mesmo sabendo que ninguém tem a resposta. – Eu o odeio! – Grito histericamente. – Odeio! Odeio mais que tudo!

Eu quero me livrar dele. Quero me livrar de qualquer coisa que me faça lembrar dele. Qualquer coisa que me faça lembrar o quanto eu fui idiota. O quanto eu fui enganada.

Meus pulmões doem por conta do choro. Minha garganta está doendo por conta dos gritos.

— Mel, pelo amor de deus! Você precisa se acalmar! Seu bebê! Pensa no seu filho! – Diz Julia me olhando nos olhos.

Ela me embala em seus braços, e eu choro com o rosto colado em seu ombro. Tudo parece muito pior agora. Com uma intensidade destruidora. É como se o peso da realidade tivesse caído sobre mim.

Ele não vai voltar! E mesmo que voltasse! Eu nunca mais quero vê-lo!

O celular em cima da cama começa a tocar.

Eu queria jogá-lo longe. Eu queria gritar com ele. Eu queria mandá-lo para o inferno. Ele só apareceu para destruir minha vida! Ele acabou comigo!

— Por favor, faz parar. – Choramingo me agarrando a Julia.

Eu só quero me livrar...

Ela alcança o celular.

— É ele Mel. – Diz acariciando meu cabelo.

— Eu não quero Julia! Não quero falar com ele! – Digo com dor em minha voz. – Não quero!

— Você não precisa se não quiser. – Ela me assegura com a voz firme.

Eu preciso me proteger. Proteger o meu coração que já está machucado demais. Este telefonema destruiu qualquer resquício de fé que eu pudesse ter nele, qualquer resquício de esperança de que tudo o que ele já havia me falado fosse verdade.

Mas não era...

E eu não poderia estar mais triste, mais arrasada...

Ficamos abraçadas em meu quarto por mais um tempo até que as lágrimas não existam mais, até que só sobrem os suspiros, e soluços, e a dor dilacerante que por mais que eu queira, jamais irá embora.

Eu estou tão sem forças agora. Tão perdida. Tão sozinha. Abandonada.

O telefone recomeça a tocar.

Me deixe em paz! Será que você já não fez estrago o suficiente?

Julia pega o telefone e o desliga.

Eu estou encolhida em minha cama. Max se mexe muito em minha barriga. Ele está agitado. Ele sente quando eu estou triste, quando estou nervosa. Não quero que aconteça nada com ele.

Meu bebê não tem culpa dos meus erros.

Meu bebê não tem culpa de eu ter confiado na pessoa errada.

— Mel, - murmura Julia me abraçando por trás. – eu sinto muito mesmo.

— Por quer ele fez isso comigo Julia? – Pergunto em desespero. – Por que ele mentiu tanto para mim? O amor dele era assim tão pouco?

— Ele é um imbecil. – Ela sibila. - Não chore por ele, ele não merece suas lágrimas Mel.

— Mas eu vou ter um filho dele Julia. – Digo me sentindo triste. É a primeira vez depois de tudo que eu me sinto triste por estar esperando um bebê. Eu o odeio. Odeio ele por estar me fazendo sentir isso.

— Ele é só um bebezinho. – Ela sussurra com a voz embargada. – Ele não tem culpa.

Meu bebê não tem. Eu sei disso. E eu vou continuar como desde o inicio. Sozinha. Esse bebê vai ser apenas meu. Meu. Eu não preciso dele. Eu não vou mais correr atrás dele. Me embrulha o estômago apenas em imaginar o que eles estavam fazendo.

Ele não presta!

E eu não percebi a tempo.

— Eu desliguei o celular. – Diz Julia me abraçando forte.

— Não conte nada disso para ninguém. – Digo com a voz arrastada. – Por favor, não diga. Eu não quero me sentir mais humilhada do que eu já me sinto, mais envergonhada, mais burra.

As lágrimas descem por meu rosto molhando meu travesseiro. Max se mexe agitado, e eu acaricio minha barriga tentando deixá-lo mais tranquilo. Eu não quero ter que voltar ao hospital. Eu não quero passar por outro susto.

— Julia, você pode me deixar sozinha? – Pergunto hesitante.

Eu só preciso respirar um pouco, e pensar um pouco em tudo o que eu tenho que fazer. E em tudo o que eu vou ter que encarar daqui para frente.

— Tem certeza? Não acho seguro você ficar aqui sozinha. – Diz carinhosa.

Eu sei que ela não quer me deixar sozinha. Eu sei que ela acha que o melhor é eu ter alguém ao meu lado agora, mas tudo o que eu quero é ficar sozinha.

Deu tudo errado!

— Eu tenho. – Digo triste.

Ela me dá um beijo estralado na bochecha e se levanta.

— Qualquer coisa me chame.

Não respondo.

Fecho meus olhos com força. Tentando ficar mais tranquila, tentando acalmar meu coração, tentando fazer com que essa dor de cabeça vá embora, talvez se eu conseguisse dormir um pouco...

— Agora, somos só nós dois. – Digo acariciando minha barriga com ternura. – Você é tudo o que eu tenho. Você e o meu avô.

Eu tenho que viver apenas para ele agora! Apenas para o meu filho!

Acho que chegou a hora em que eu tenho que esquecer o que já passou, e continuar, continuar sem pensar no que me faz mal. Se ele já seguiu adiante, não vou ser eu que vou viver no passado.

Não existe mais lugar lá para mim...

O cansaço está tomando muito de mim, cobrando seu preço, e com juros. Talvez seja bom eu descansar um pouco. Amanhã será um novo dia. E eu irei começá-lo como uma nova Mel.

 

O lugar tem uma luz muito forte. A claridade faz meus olhos arderem. Eu não sei onde estou. É tudo tão branco, tão sereno, eu sinto uma paz, serenidade. Faz muito tempo que eu não me sinto assim.

— Mel. – Ouço alguém me chamar. Há muito tempo eu não ouço essa voz. Desde que eu era criança.

Viro-me surpresa e vejo minha mãe sentada em uma balança. Ela está do mesmo jeito, igual ao que eu me lembro, como nas fotos. Ela usa um vestido longo até os pés. Ela sorri para mim, e é como se eu estivesse paralisada.

Parece tudo tão real...

Mas ela não pode estar aqui...

Mas quem se importa? Eu estou precisando dela, e ela veio até mim.

— Mãe. – Eu murmuro sem acreditar que eu a estou vendo outra vez.

— Oi, meu amor. – Diz sorrindo. O sorriso que me conforta.

O sorriso que faz tudo perder a importância...

Corro até ela e a abraço, a abraço com tanta força com tanta saudade. Meu rosto está colado ao seu pescoço, e eu consigo senti-la. Consigo sentir seu abraço. É como se eu fosse criança outra vez, e nada de ruim tivesse acontecido. Como se ela nunca tivesse ido para longe de mim...

— Mãe você está mesmo aqui? – Choramingo.

Ela acaricia minhas costas.

— Eu nunca deixei você Mel. – Diz com a voz doce.

Levanto meu rosto para encará-la, e ela está tão jovem, os mesmos olhos castanhos, os mesmos cabelos escuros presos em uma trança.

A abraço outra vez, e é tudo o que eu precisava. Do seu carinho. Do seu colo.

— Eu te amo tanto, mãe. Preciso tanto de você, tanto. Eu não sei o quer fazer. Eu estou tão perdida. Tão triste. – Murmuro.

— Eu sei. – Diz ainda acariciando minhas costas. Seu rosto está colado no topo da minha cabeça. – Eu te amo muito, e eu sei que você está triste, sei que você tem passado por muita coisa, e estou tão orgulhosa de você Mel. – Diz com nada além de amor em sua voz. – Mas eu tenho que te dizer que há certas coisas das quais você não pode fugir. Mesmo que pareça a opção certa agora, vai chegar um dia em que não vai ser mais.

Levanto meu rosto para encara-la.

Não entendo...

— Não consigo entender – digo para ela. Levo minha mão ao seu rosto. E por um momento eu me lembro da manhã antes dela sair de casa, no dia do acidente. Ela cobre minha mão com a sua me dando um leve apertão.

— Você quer proteger o seu bebê – ela diz com os olhos marejados – Mas será que ele precisa mesmo ser protegido?

Franzo minhas sobrancelhas para ela.

— Eu preciso proteger a mim mesma. – Digo finalmente entendendo a o que ela se refere. – Ele me magoou demais, e eu não quero vê-lo mais, e se ele souber, ele pode tentar tirar o meu bebê de mim.

— Você acha que ele faria isso?

— Eu não sei. Eu pensei que eu o conhecia, mas eu não tenho certeza de que eu o conheço mais. Eu achei que ele me amasse, como eu o amo, mas não é assim. – Digo sentindo dor. A dor da duvida. – Eu não posso arriscar. Ele tem dinheiro mãe, e eu não tenho nada.

Ela coloca o meu cabelo atrás da orelha.

— Você está tão bonita. Você se parece um pouco com seu pai, bastante na verdade. – Ela sorri como se estivesse achando graça.

Ela nunca falou dele para mim... Nem uma vez.

— Você nunca falou dele antes. – Digo desconfiada.

Seu sorriso desaparece.

— E esse é o meu maior arrependimento. – Murmura com tristeza. – Eu não tive tempo, mas você tem. E eu sei que você vai fazer a coisa certa. Você já fez muitas coisas certas até agora. Você é muito forte.

Miro meus dedos cabisbaixa.

— Não sei se sou. Não me sinto assim agora, eu me sinto como se existisse um buraco no peito, um vazio que não pode ser preenchido. Eu estou com medo das coisas darem erradas. Estou com medo de me arrepender depois. A única coisa que eu sei que devo fazer agora é cuidar do meu bebê. – Levo minha mão a minha barriga, e minha mãe faz o mesmo. – Sozinha.

Ela acaricia meu rosto com ternura outra vez.

— Decidindo o que for, eu vou estar sempre por perto. Então não se sinta sozinha. Nunca. Aconteça o que acontecer daqui em diante, eu quero que você sempre se lembre, você nunca vai estar sozinha.

Sorrio.

Ela beija minha testa, e eu deito minha cabeça em seu colo...

 

Desperto com um raio de sol que vem da janela indo direto em meu olho. Espreguiço-me na cama, e me dou conta de que dormi a noite inteira sem nem ao menos trocar de roupa. Sento-me um pouco desengonçada, sentindo meu corpo pender para o lado.

Permaneço por alguns minutos sentada tentando me recordar do sonho, nem que seja um pouco. Eu sonhei com a minha mãe. Mas eu não consigo me lembrar do que conversamos, pelo menos não de tudo. Havia muito tempo que eu não sonhava com ela, bom, pelo menos não esses sonhos tão reais.

— Eu preciso de um banho. – Murmuro para mim mesma. – E você deve estar com fome. – Digo para minha barriga que se mexe. – Não é, Max? Você gostou do seu nome? – Pergunto sorrindo feito uma boba.

Eu amo conversar com meu bebê. Mesmo ele não podendo me responder.

Levanto-me indo ao banheiro para tomar um banho antes de descer para tomar café. Eu estou decidida a seguir de cabeça erguida. A fazer o que é certo. Depois do banho eu troco de roupa e desço para o restaurante. Julia está conversando com Ana, as duas se entreolham assim que me notam.

— Bom dia. – Murmuro.

— Bom dia, meu amor. – Diz Ana vindo me abraçar. Deixo seus braços me envolverem. – Está se sentindo bem? – Ela parece preocupada, mas não deve ser pelos motivos certos. Eu pedi a Julia para não dizer nada.

Olho para Julia tentando entender, mas ela parece tão perdida quanto eu.

— Estou bem Ana. – Asseguro para ela, lhe dando meu melhor sorriso.

Ela sai e vai em direção à cozinha. Julia vem até mim com passos hesitantes.

— Tudo bem?

— Tudo. – Digo com sinceridade. – De certo modo eu me sinto bem melhor agora. – Digo para ela. – Pelo menos agora eu sei que tudo acabou de verdade, agora eu sei que eu já posso parar de me sentir culpada por não ter ido com ele. Eu achei que ele estivesse mal, mas pelo o que eu vejo ele não está. Melhor que ele siga com a vida dele, porque eu vou seguir com a minha. – Digo decidida.

Julia sorri como se estivesse muito orgulhosa de mim.

— É assim que se fala!

Neste momento somos interrompidas por um Mateo muito alegre.

— Olá! – Diz animado.

Estreito minha sobrancelhas para ele.

— Por que essa animação toda? – Pergunto desconfiada.

— Vim chamar vocês duas para ir à cachoeira! Está um dia bonito, e calor. E eu pensei que fosse te fazer bem, você anda meio para baixo. – Diz dando de ombros.

— Eu não posso ir, eu vou sair com o Gabriel mais tarde. – Diz Julia se desculpando.

— E você Mel? – Pergunta animado, com os olhos brilhantes e um sorriso sedutor no rosto.

Eu poderia até ir para me distrair, mas a cachoeira tem pedras escorregadias demais, eu posso acabar caindo e isso não seria nada bom.

— Não posso Mateo. – Digo me desculpando.

— Por que sempre que eu te chamo para fazer alguma coisa você diz que não? – Pergunta parecendo magoado. Não posso deixar de perceber que ele tem razão.

— É por que agora eu não posso. – Digo outra vez. – Sinto muito, não posso mais fazer essas coisas, como fazer trilha de moto, e ir para lugares como cachoeiras. Lugares onde eu possa me machucar.

— Por quê? – Diz com desconfiança. – Você nunca teve essas frescuras. Você sempre amou fazer essas coisas, nós sempre fazíamos juntos.

Penso muito no que eu estou prestes a dizer e, logo, logo, todos vão saber, eu não vou ter como esconder para sempre. O mais importante eu já fiz, e o que mais me importava, que foi contar ao meu avô. Eu não preciso mais esconder de ninguém.

— Eu sei Mateo, e eu continuo gostando, mas eu não posso fazê-las agora. – Digo com paciência. Ele me olha como se eu fosse louca. – Eu estou grávida Mateo – digo de uma vez- por isso não posso fazer essas coisas como antes.

Eu espero uma reação. Qualquer coisa. Entretanto ele simplesmente continua ali, parado, me encarando de boca aberta, como se eu tivesse acabado de dizer a maior das idiotices do mundo.

— Como assim você está grávida? – Diz com a voz sem emoção. – Como isso aconteceu?

Arqueio minha sobrancelha para ele.

Ele quer mesmo que eu explique?

Opto pela melhor resposta.

— Como você acha? – Sei que estou sendo sarcástica, talvez um pouco cruel, mas eu realmente não me importo.

Dou as costas para ele indo em direção a entrada do restaurante. Preciso de um pouco de ar.

Mateo me segue, e segura meu braço com força quando já estamos do lado de fora. Eu o encaro com uma fúria assassina.

— Largue o meu braço. – Sibilo para ele.

Ele me larga, e passa as mãos pelos cabelos como se estivesse confuso.

— Desculpe, eu não queria te machucar. – Diz afobado. - Mas como você pode estar grávida? De quem ... – Ele para no meio da frase. Ele sabe de quem, eu não preciso dizer nada. – Dele? – Pergunta com repugnância.

— Não fale desse jeito. Não use esse tom. – Eu o alerto.

— Você foi para a cama com ele? – Pergunta ainda com nojo em sua voz, e ignorando o meu alerta. – Você dormiu com ele?

— Não importa mais. – Digo fria.

— Como não importa mais Mel! – Ele esbraveja irritado. – Droga! Você está grávida! Você vai ter um filho daquele cara! Você não entende a gravidade da situação?

Gravidade da situação?

— Por que você se importa? Esse é um problema meu! O filho é meu, e eu vou cuidar dele! Não vejo gravidade na situação! – Digo irritada por outra vez ele estar se envolvendo, e principalmente agora, por estar falando com tanto asco sobre o meu filho.

— Não está vendo? – Ele parece incrédulo. – Ele foi embora e te abandonou aqui! Grávida ainda por cima!

— Isso não é um problema seu! – Esbravejo de volta. – E ele não sabe sobre o meu filho!

Seus olhos se arregalam.

— Não sabe? – Pergunta baixo.

Não vou me dar ao trabalho de dizer outra vez. Ele não é idiota! Ele entendeu o que eu disse.

Ele anda de um lado para o outro como se estivesse muito agitado.

— Eu tenho uma solução! – Diz de repente. Solução?— Eu me caso com você! – Diz como se fosse uma decisão já tomada. E isso me deixa sem reação. – Nós casamos o quanto antes, e ninguém irá perceber. Eu vou ser o pai do seu filho. – Diz me puxando para um abraço.

Me afasto dele.

— Meu filho tem um pai Mateo. – Digo ainda surpresa com suas palavras.

John é o pai do meu filho!

— Mas ele não está aqui! E eu amo você! Eu amo você mais que tudo, e eu sei que vou amar esse bebê como se ele fosse meu. Meu filho. Você só precisa dizer que sim Mel. Diz que me aceita. – Ele pede com sofreguidão. – Eu sei que com o tempo você poderá me amar, como eu amo você.

Eu sinto pena dele, um bolo se forma em minha garganta. Seus olhos estão com tanta esperança e eu me sinto um lixo por não poder correspondê-las.

— Sinto muito Mateo, mas eu não posso fazer isso. – Digo com lágrimas nos olhos. – Não posso fazer isso com você. Não seria justo.

Não deve estar sendo fácil para ele propor isso. Propor assumir o filho de outra pessoa.

— Por que eu não sou o suficiente para você? – Ele pergunta com a voz embargada. – Por quê?

— Você é meu amigo! E eu não consigo olhar para você de outro jeito. – Digo não querendo magoá-lo mais.

Eu não suporto mais olhar para ele. Passo por ele e entro novamente no restaurante. Ele vem em meu encalço.

— Mel. – Ele me chama.

— Não quero mais conversar Mateo. Por favor, me deixe em paz. – Imploro para ele.

O telefone do restaurante começa a tocar. Até que Mateo vai até ele e o atende.

— Alô. – Esbraveja para o telefone. – O quê você quer? – Responde em inglês, e só existe um motivo para ele ter trocado de idioma. Meu coração dá um tranco. – Não volte a procurar ela, ela está comigo agora! Nós vamos nos casar!

Ando até ele a passos rápidos.

— Com quem você está falando? – Pergunto sentindo meu coração bater desesperado no peito.

— Você perdeu. Você a perdeu. – Ele esbraveja.

E nesse segundo eu não aguento mais e tomo o telefone de suas mãos.

— Quem é? – Pergunto sentindo meu corpo inteiro tremer. Sentindo um pânico enorme.

— Ele está dizendo a verdade? – Grita John pelo telefone. E no mesmo instante em sinto toda a enxurrada de sentimentos que ele desperta em mim me inundarem outra vez. Como se não existisse nada entre nós. – Me responde, droga! Você vai casar com ele? – Pergunta de um modo tão grosseiro que eu sou tirada do meu estado de transe.

Não suporto que ele esteja exigindo isso de mim agora!

Respostas!

— Por que você se importa? – Digo irritada.

— Por que eu me importo? Droga Mel! Eu me importo com você! – Diz como se estivesse magoado. Mas eu estou com tanta raiva agora.

— Se importa comigo? – Esbravejo para ele. – Como você se importa comigo! Que jeito maravilhoso de demonstrar!

A linha fica muda por alguns segundos.

Ele suspira fundo como se estivesse tomando fôlego para uma batalha.

— Eu nunca esqueci você. – Diz com a voz embargada. – Em nenhum minuto, em nenhum segundo. Eu te amo Mel.

Odeio permitir que suas palavras me atingissem. E por quase um segundo eu acredito nelas.

Quase...

— Como você é mentiroso. – Digo com a voz desdenhosa. – Você me ama? Ama tanto que não pensou duas vezes antes de ir embora, me deixando quando eu mais precisava de você. – Grito em lágrimas.

— Como você acha que eu me senti? – Ele grita de volta. – Você acha que foi fácil para mim? Eu amo você, mas você também me magoou! Você mentiu para mim!

— Pare de dizer que me ama, porque você não ama ninguém a não ser você mesmo! Se você me amasse de verdade, não estaria com outra em sua cama! – Digo magoada sentindo meu coração se comprimir no peito. - Ou você acha que eu sou tão estupida e inocente a ponto de não saber o que vocês estavam fazendo antes de eu te ligar?

Dói tanto pensar nisso.

Dói demais, machuca, me fere. Ninguém teria o poder de me magoar tanto a não ser ele. E ele tem feito isso com muito sucesso nos últimos tempos.

— Não se faça de vitima! Ou você quer que eu acredite que você não tem nada com esse merda do seu amigo? Ele disse que vocês vão se casar! Você foi para a cama com ele? – Grita como se estivesse com uma fúria assassina.

As palavras que saem da minha boca agora tem a pura intenção de o magoar, de magoar muito, de fazer sangrar...

— Fui. – Digo sem emoções. – E ele disse a verdade. Eu vou me casar com ele! E ai sim eu vou ficar com ele muitas vezes!

— Você não pode fazer isso! – Ele parece transtornado, e incrédulo. – Você é minha. Você me ama, e você não pode negar isso!

— Não sou sua! E qual a diferença entre nós dois? Você pode fazer o que quiser, mas eu não? Você pode ficar com qualquer vagabunda, mas eu não!

A linha fica muda outra vez, e as lágrimas que já são tão conhecidas para mim voltam a molhar meu rosto. Estou com o coração despedaçado. Cada palavra com a intenção de magoá-lo parece ter o efeito de me magoar duas vezes mais.

Mas eu estou tão irritada com sua atitude...

— Eu apenas retornei sua ligação. – Ele diz frio. – Achei que você tivesse mudado de ideia e que quisesse ficar comigo. – Sussurra como se estivesse afetado por minhas palavras.

Eu liguei para dizer que vou ter um filho seu, seu babaca!

Eu tenho vontade de gritar para o telefone.

— Mesmo que esse fosse o motivo da minha ligação, o que não foi! Acho que agora eu tenho a prova de que você não esperaria por mim, de que você não seria fiel!

— Olha quem fala! – Diz desdenhando. – Você já não está com esse idiota! Não era você quem dizia que nunca daria trela para ele! De que seria fiel a mim!

— Você foi fiel a mim John? – Explodo furiosa por ele estar tentando virar o jogo contra mim.

Ele não me diz nada, mas eu ainda consigo ouvir sua respiração acelerada no telefone. Só agora eu tenho tempo de ver que eu tenho uma plateia.

Mateo não está mais aqui. Mas Ana e Julia estão me olhando boquiaberta.

Sinto uma pontada na barriga, e tento me controlar pelo bem do meu filho.

— Não é fácil me livrar de você, me livrar da sua lembrança e de tudo o que vivemos juntos. Eu não consigo sozinho. – Diz derrotado. – Ninguém nunca me magoou do jeito que você fez. Não me culpe por estar tentando sentir alguma coisa além de tristeza.

Eu sei que não é fácil! Eu venho sentindo isso na pele!

Por que ainda não consegui superar tudo, e acho que nunca vou superar.

— Acho que estamos empatados nessa parte John! – Digo sentindo o rancor pesar em minha voz. - E você pode ter certeza de que nunca mais eu vou deixar você me magoar outra vez. Por que eu nunca mais quero ver você de novo. Nunca mais quero ouvir nada sobre você.

Me dói tanto dizer isso.

— É isso o que você quer? – Pergunta num fio de voz.

— Não é assim que tem sido? – Pergunto. Não sei como eu ainda tenho forças para me manter de pé. Como ainda tenho forças para brigar. – Vamos encarar os fatos. Você está vivendo sem mim, e eu estou fazendo o mesmo sem você.

Mesmo que seja mentira, mesmo que eu esteja morrendo aos poucos, eu não vou dar o braço a torcer.

— Você me esqueceu? – Pergunta como se eu o estivesse machucando.

Fecho os olhos com força tentando me controlar.

— Sim. – Respondo, mesmo querendo dizer o contrário, mesmo querendo dizer que eu ainda o amo muito.

— Mas eu não te esqueci. – Odeio que uma parte minha ainda acredite em sua declaração. Por que eu sei que ele não está sendo sincero. – Eu amo você, e isso nunca vai mudar.

— Acho que nós temos diferentes definições para a palavra amor. Amor para mim é não abandonar. Amor para mim é ser sincero e fiel. O que com certeza você não foi.

Como ele pode dizer que me ama sendo que anda saindo com outras mulheres?

Que espécie de amor é esse?

— Você quer voltar mesmo a esse assunto?

— Não. E nós já não temos mais o que conversar. – Digo decidida. Decidida a encerrar tudo. Decidida a encerrar está parte da minha vida.

— Nós temos muito que conversar...

Eu o corto.

— Não temos! Por que você quer falar agora? Depois de tanto tempo? Por que não me ligou? Por quê? – Digo magoada me recordando de tudo o que eu venho passando desde que ele saiu da minha vida.

— Eu não tinha coragem, porque eu sabia que você estava me odiando. – O tom de sua voz denuncia que ele está chorando. – Eu fiquei com medo! Eu sou humano! Eu sinto orgulho! Eu sinto raiva Mel!

É tudo fingimento!

Isso não chega nem perto do que eu venho passando.

Com um filho na barriga!

— Pois você acertou. – Digo querendo espezinhá-lo mais. – Eu odeio você. – Um soluço alto sai do meu peito, mas eu não vou me permitir parar agora. – Odeio você!

— Não Mel. – Ele diz quase implorando. – Não me fale isso! Por favor! – Posso sentir o desespero em sua voz.

— Eu não quero mais falar John. – As coisas não mudaram. – Adeus! – Digo com o coração partido.

— Mel! – Ele grita antes que eu bata o telefone em sua cara.

Agora sim eu não reconheço a mim mesma. Eu choro tanto que minhas pernas perdem a força, e quando eu estou prestes a cair Ana me ampara, me puxando para seus braços. Ela me embala, enquanto eu me agarro a ela com tudo o que eu tenho.

Agora sim acabou!

— Por que você não contou Mel? – Diz Ana com a voz embargada. – Por que você não disse sobre o bebê?

Eu já tomei minha decisão.

— Eu não vou contar Ana. – Choramingo. – Ele nunca vai saber! Nunca!

 


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