Sob minha pele escrita por Bruna


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá! Decidi compartilhar essa história com vocês. Eu já a escrevi a algum tempo e realmente tenho muito carinho por ela.
Dependendo dos comentários eu posto outro capítulo ainda hoje!
Espero que aproveitem a história de John e Mel.

Beijos. :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/646617/chapter/1

Mel.

Alguém está puxando meu cobertor. Por que alguém puxaria meu cobertor? Quem está puxando meu cobertor? Para descobrir isso eu teria que abrir os olhos, mas o sono é mais forte que eu. Sinto-me caindo na imensidão de novo. É tão bom. É tão calmo. É tão escuro. É aconchegante. De repente LUZ.

De onde diabos vêm essa luz?

— Hora de levantar Mel. - Diz uma voz animada demais para o meu gosto.

Hora de nada. Hora de dormir isso sim. Por que eu não posso dormir até mais tarde num sábado?

Num sábado!

— Vamos. Deixa de preguiça. Seu avô está sozinho lá em baixo desde às sete. - A voz resmunga.

— Bem, eu fiquei ontem até às onze da noite e sozinha. Não acha que eu mereço um pouco de descanso? É sábado. Por favorzinho. - Imploro com a voz mais manhosa que consigo.

Ainda estou com a cara enfiada no travesseiro. Os lençóis cobrem toda a minha cabeça. Meus dedos estão cruzados. Só mais alguns minutos.

— Bem que eu gostaria, mas como você mesma disse hoje é sábado. Dia de movimento no café da manhã. Por favor, meu amor. Levante-se.

Como eu resisto quando ela fala desse jeito toda carinhosa?

Ana trabalha com o meu avô, e bom, comigo também. Conheço-a desde que me entendo por gente. Ela tem idade suficiente para ser minha mãe. E bom, tem sido assim desde que a minha avó morreu há quatro anos.

Sempre vivi com meus avós. Minha mãe engravidou aos dezessete. Foi mãe solteira. Saiu um dia para uma viagem e nunca mais voltou. Ela sofreu um acidente numa noite de muita chuva. Eu tinha oito anos. Meus avós sempre cuidaram de mim depois da minha mãe, depois da minha avó agora eu tenho a Ana, e meu avô é claro.

Sento-me na maior preguiça. Espreguiço-me.

— Não faça cara feia bonitinha. - Diz Ana sorrindo.

— Não estou fazendo cara feia - protesto. - Essa é a minha cara de todos os dias.

— Deus me livre de acordar assim! Acordo sempre feliz.

Ana tem estatura mediana, e uns quilinhos acima do peso, - não que ela assuma isso, é claro. - Os cabelos são de um tom de loiro, que já foram castanhos. Nada que uma tinta não resolva.

— Só estou um pouco cansada - digo esfregando os olhos.

— Estudou muito ontem à noite? - ela pergunta enquanto se senta em minha cama.

— Um pouco. - minto.

Eu estudei pra caramba. Feito uma mula de carga. Meu cérebro ainda não se recuperou. Preciso de mais horas de sono. Muitas horas de sono.

— Você não é uma boa mentirosa. - Ana está torcendo o nariz de um jeito engraçado. Isso meio que me faz rir. - Aí está! Minha garotinha risonha.

Garotinha?

— Garotinha risonha Ana? Eu tenho dezenove anos. - Faço careta para ela.

— Mesmo assim, continua sendo a minha menininha risonha, minha garotinha.

Ana aperta minhas bochechas, e eu posso jurar que posso senti-las se incendiarem.

E eu amo isso.

— Prefiro ser tratada como adulta! - digo de brincadeira.

— Sei. - ela pisca para mim. - Se quiser te dou mais uns dez minutinhos. Você parece precisar. Você está horrível. Vai assustar os clientes.

Bufo.

— Nem se eu quisesse. Você já me despertou! Obrigada - digo sarcástica.

— De nada. - ela diz sorrindo. Em um pulo ela já está em pé. - Não demore, vou preparar o seu café.

Assim que ela se vai arrumo coragem e me levanto. Nunca foi tão difícil sair da minha cama. Porém para falar a verdade é difícil todos os dias. Olho pela janela completamente aberta.

Agora sei de onde vinha toda aquela luz.

A luz parece queimar meus olhos. Sinto-me como o vampiro do filme de quarta-feira à noite.

Desde crianças eu e minha melhor amiga Julia amamos assistir à filmes de terror. Nossos preferidos sempre foram os de vampiros.

Sorrio com as memórias.

Preciso de um banho para despertar. Vou em direção ao banheiro onde tem um espelho enorme.

Evito o espelho.

Não olhe para ele. Não olhe para ele.

Não sou uma pessoa muito ligada em moda. Uso o que me deixa mais confortável. O que significa o mais leve possível. O que significa muitos, e muitos vestidos. Nunca contei, mas são muitos, e das mais variadas cores. Escolho um qualquer.

Olho-me no espelho e meus olhos castanhos estão com bolsas enormes. Preciso de um corretivo. Bolsas escondidas. Ok. Cabelo. Nada ok. Parece que o Pluto - cachorro do meu avô - andou dormindo em cima da minha cabeça de novo. Ele tem essa mania. Ele deve achar confortável.

Meus cabelos são grandes e castanhos bem escuros, quase pretos. Meu avô costuma dizer que são escuros como as asas de um corvo. Ou como os da minha mãe. Às vezes é um saco ter que arruma-los todo santo dia. Tenho vontade de cortar. Mas cortar mesmo, bem curto, só para não ter todo o trabalho, mas não sei se já mencionei, mas eu não sou uma pessoa muito chegada em mudanças radicais. Eu moro no mesmo lugar desde, bem, desde sempre. Moro na mesma casa, tenho os mesmos amigos desde o pré. Nada de diferente, tudo na mesma. Mas até que eu gosto disso.

Existem coisas boas na mesmice.

Faço um rabo de cavalo, já que eu mexo muito com comida. Não é legal deixar essa cabeleira solta. Agora sim. Cabelo OK. Rosto super pálido? Bem, isso não tem concerto. Faço uma careta para o espelho, e lá vou eu. O dia vai ser longo.

Meu avô é dono de um restaurante barra bar. O serra dourada é como uma referencia na cidade. Nossa cidade é pequena, todos se veem todos os dias, todos sabem onde você mora, todos te viram nascer e por aí vai. Resumindo. Todo mundo se conhece. Meu avô tem uma pousada que já não funciona mais. A cidade é pequena, e velha. Ninguém nunca vem para cá. Então acaba que não tem muita utilidade, mas ela continua lá, e eu tenho que trocar os lençóis dos quartos toda semana. O porquê eu não sei.

Eu ajudo meu avô a cuidar dos negócios da família enquanto estudo. Pretendo fazer faculdade, não quero ficar aqui para sempre, mas quando eu digo aqui, eu me refiro a trabalhar no restaurante - não que eu não goste, eu gosto de conversar com os clientes, mesmo sendo os mesmos todos os dias. - Não pretendo ir embora. Meu avô já não é tão jovem, ele tem setenta e seis anos, e eu sou a única família que ele tem. E ele também é a única que eu tenho.

Desço as escadas e já ouço conversas vindas do restaurante. É sempre assim em todas as manhãs, todos passam aqui para tomar café, sempre antes do expediente. Mas mesmo nos fins de semana eles não deixam de aparecer, é como se fosse um ponto de encontro. Mesmo adorando isso eu me pergunto onde diabos eles arrumam tanto assunto. Aqui não acontece nada. Costa é uma cidadezinha de mais de cem anos no meio da Europa, mas precisamente na Espanha. Nossa cidade é rodeada de vastos espaços de campo. Aqui tem muito verde, verde pra caramba. Deve ser por isso que é a minha cor preferida.

— Bom dia bela adormecida - diz meu avô com um sorriso no rosto.

Eu amo esse sorriso. Meu avô é uma fofura com todos esses cabelos brancos, sem falar no bigode, que é de herança portuguesa. Bom, meu avô é português. Ele veio viver aqui pela minha avó, que assim como eu, e como minha mãe, também nasceu aqui.

— Bom dia vovô! - digo já o abraçando. Meu avô é alto e forte, e eu sou minúscula. Praticamente sumo em seus braços.

— Dormiu bem? - ele pergunta realmente preocupado.

Ás vezes eu esqueço de que nossos quartos são perto. Ele deve ter percebido a luz do abajur ligado até tarde.

— Dormi sim. Vou ir tomar café e já saio para te ajudar.

— Tudo bem. Não se aprece está tudo sobre controle. Ouvi Ana dizer que ia fazer bacon para você. - Ele pisca para mim de um jeito maroto que apenas ele tem.

Meu estômago ronca faminto.

— Sabe que eu não resisto a um bacon. - digo rindo enquanto parto para a cozinha.

Depois do café passo para as minhas obrigações diárias.

— Precisa de ajuda Julia? - pergunto, e ela leva um susto. Ela vive assustada.

Julia é sobrinha de Ana. Nós crescemos juntas e somos melhores amigas desde sempre. Ela é mais alta que eu, tem mais corpo que eu, e é muito bonita, mesmo que as vezes ela não perceba isso.

— Que susto Mel. - ela diz rindo colocando a mão no peito. - Você pode anotar os pedidos daquela mesa ali no canto. - Diz ela se recuperando.

— Logo a da Ruth? - pergunto com desgosto. - já vi que comecei meu dia com o pé esquerdo.

— Ela não é tão ruim - diz Julia estreitando os olhos.

Ela e essa mania de achar todos muito bonzinhos. Não ligo para isso. Eu também não sou de ver muita maldade nas pessoas, entretanto aquela ali deveria vir com uma plaquinha escrita:

DO MAL!

Olhamos as duas para ela, que nos encara com cara de quem comeu e não gostou. Ou no caso de quem nem comeu ainda.

— Legal, retiro o que eu disse. - Diz Julia revirando os olhos.

Caímos na gargalhada.

— Bom mesmo, já estava te achando estranha. - Pego o avental e o amarro na cintura. Pego o bloquinho de folhas. - Vou lá atender o Jabuti. - Cochicho baixinho.

— Você não presta. - diz Julia rindo.

— Quem disse que eu prestava? - Digo já me afastando.

— Bom ... - mas sou interrompida bruscamente.

Que comece os jogos!

— Pensei que não fosse vir mais. - Dispara Ruth com a cara fechada.

Garota insuportável.

— Ruth, olha os modos - repreende sua mãe. Dona Clarice é um anjo, não entendo como pode ser mãe de um demônio desses. - Bom dia Mel. - Diz se dirigindo à mim da mesma forma doce de sempre.

Dona Clarice é professora do primário. Ela inclusive também foi a minha professora, e eu sempre tive muito carinho por ela.

— Bom dia dona Clarice. Bom dia Ruth - digo com um sorriso doce no rosto.

Cascavel.

Ela me fulmina com os olhos.

— Que seja. - Diz dando de ombros e ignorando completamente o meu cumprimento.

Deus me dê paciência para não pular em seu pescoço.

— Vocês ainda tem aquele negocio estranho por aqui? - Ela continua enquanto examina as unhas. Ela deve achar que eu sou um enfeite ou coisa parecida.

O único negócio estranho que tem aqui no momento é você. Troço!

Segure a língua Mel!

— Não sei do que está falando. - digo docemente controlando meu temperamento explosivo.

Não lembro de quando passamos a nos alfinetar tanto. Mas eu posso lembrar com precisão de todas às vezes em que me segurei para não pular em seu pescoço ou até às vezes em que eu não consegui me segurar.

— Ela se refere aquele pão doce Mel. - Diz Dona Clarice me tirando de meus devaneios.

— Ah claro. - Sorrio para Dona Clarice. - Da próxima vez seja mais especifica. - Dirijo-me a criatura emburrada à minha frente. - Nós ainda não temos serviços de bola de cristal.

Ela apenas me encara com os olhos estreitos. Como um bicho, uma cobra, prestes a atacar.

Depois de anotar os pedidos os levo para Ana.

— Qual o pedido? - Ana pergunta se debruçando sobre o balcão.

— Um café preto, outro com creme, dois pães doces com creme vermelho. Um com cuspe, e o outro não.

— O quê? - pergunta Ana confusa. - Qual a mesa?

— A sete. - Sibilo.

Ana ri.

— A cascavel está ai? - Ana sabe de quem eu estou falando.

— Sim. E distribuindo veneno. - Reviro os olhos para as atitudes imaturas da Ruth.

Ana gargalha.

— Então é melhor eu ir logo com isso. Antes que ela dê um escândalo.

— Ela não chegaria a tanto - digo. - Você sabe que eu sou louca para agarrar aqueles cabelos loiros idiotas desde a sétima série.

— Eu sei bem.

Depois de atender outras mesas, vou até a cozinha dar uma forcinha. Aquilo fica uma bagunça depois do horário do café.

— Eu preciso de um favor seu - diz meu avô encostado na porta da cozinha com as mãos enfiadas nos bolsos.

— Hum. O que seria? - Pergunto interessada.

Estou com os braços atolados na espuma. Muitos pratos para lavar. Claro que nós possuímos uma máquina de lavar louças, porém a maquina nem sempre tira as gorduras dos pratos.

— Preciso que vá até a fábrica buscar encomendas.

— Não posso ir sozinha. É muita coisa. Posso levar a Julia? - Pergunto sem desviar os olhos da minha tarefa.

— Você sabe muito bem que nem se você levasse três Julias vocês não dariam conta. - Ele diz rindo.

Finjo cara de brava. E ele para. Sempre funciona.

— Então ..... - o instigo a falar.

— Então que eu pedi para o Mateo te acompanhar.

Encaro meu avô e ao contrário de mim olha para todos os cantos da cozinha sem querer me encarar.

— Tudo bem. - Murmuro.

Sei muito bem o que ele está tramando.

Meu avô tenta me empurrar para Mateo desde sempre. Nós crescemos juntos. Bom, todos os que têm a mesma idade que eu cresceram juntos. Cidade pequena. Ele foi o meu primeiro beijo. Eu meio que achei que era apaixonada por ele quando eu tinha catorze anos. Pelo jeito Mateo ainda acredita nisso, ao contrário de mim que já superei a muito tempo.

— Não está brava? - ele pergunta surpreso.

Com certeza ele deve ter achado que eu daria um show. Se fosse qualquer outro cara o show seria garantido, mas não com Mateo. Somos amigos. Bons amigos.

— Não. - Digo com indiferença.

Eu deveria estar?

— Que bom. Lembre-se de manter a mente aberta.

— Sempre tenho a mente aberta vovô. Não sei do que está falando. - Faço a desentendida.

— Sabe sim. - Ele diz com firmeza. - O pobrezinho anda por ai suspirando por você.

Sabia.

— Todo mundo suspira Vô! - Digo energética. - Isso é natural do ser humano. Não é uma coisa exclusivamente do Mateo.

— Você sabe o que quero dizer. - Ele diz com a sobrancelha arqueada.

— Sei. - Confesso. - E você também sabe o que eu acho. - Digo já deixando claro que não vai rolar.

Você não pode se forçar a gostar de alguém. Essas coisas simplesmente acontecem. Como nos livros de romance.

— Tudo bem. - Ele desiste, mas o conhecendo bem como eu conheço, sei que não desisti tão fácil. - Ele é um rapaz tão bom. Me deixaria feliz.

— Sinto muito. - Ele me dá um sorriso amarelo. - Eu vou assim que terminar aqui. - Quero encerrar o assunto. Colocar um ponto final, uma pedra...

— Ótimo. Ele já deve estar chegando. - Diz meu avô esfregando as mãos uma nas outras.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem. Favoritem. Recomendem.Preciso saber se estão gostando para postar os próximos!;)