Por Nós escrita por Gaby Uchiha


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Yo!

Mais um desafio cumprido! Dessa vez o desafio é: Desafio Revivendo Shipps Esquecidos!

Dessa vez quero dedicar a fic a minha desafiante (AnnaGreyUchiha) e a minha desafiada (NiaraUchiha)!

Divirtam-se...



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Era uma vez...

Uma frase singela. Formada apenas por três palavras, mas que se tornou o sonho de consumo de muitas gerações.

Eu poderia começar a minha história assim, mas estaria sendo hipócrita se assim fizesse, já que a ideia inicial de "Era uma vez...", nos remete a ideia de que tudo acaba nos "Felizes para Sempre" e, bom... minha história não tem esse final...

Não sou aquele modelo de mulher que batalhou a vida toda para ser reconhecida, muito menos a nerd da escola ou a garota popular.

Sou apenas eu.

Uma mulher fadada ao pessimismo e obrigada a participar de um grupo de apoio para mulheres vítimas de violência, após ter um episódio de overdose, já que eu não aguentava mais viver aquela vida após a fatídica noite.

As marcas das algemas, pelas quais me prenderam naquela cama de hospital, ainda estão vivas na coloração avermelhada em minha pele alva, onde traços protuberantes denunciam o corte que eu tentei terminar...

Por tudo isso, não começarei com "Era uma Vez", mas sim de uma forma típica de alguém que frequenta grupos de apoio:

­Bom dia, meu nome é Kurenai Sarutobi, tenho 35 anos e essa é a minha história...

***

– A violência contra a mulher é praticada em todos os lugares e de diversas formas. As estatísticas no mundo inteiro são elevadas e por mais triste que seja, um ato de gravidade pode está acontecendo nesse exato momento. Não somos únicas, existem tantos outros atos que muitas vezes não são denunciados. Tantas formas de ser praticado, desde a crítica a mulher submissa dentro de casa, até atos impensáveis de assaltos e estupros nas ruas. É um ato cruel e marcante, por isso temos que nos unir para lutar contra as marcas que nos foram deixadas – discursou a loira de seios enormes.

Suspirei baixo, pondo minhas mãos parcialmente nos bolsos da minha calça jeans negra colada, observando as outras mulheres balançarem levemente a cabeça, mostrando que estavam de acordo com as palavras de Tsunade, a responsável por aquele grupo.

Os olhos castanhos claros da loira, logo repousaram sobre mim e contra a minha vontade assenti de acordo, mas a verdade é que, por mais que as palavras dela fossem verdadeiras, como eu poderia levar a sério, se eu as recebia por meio dos lábios carmim de uma vítima que não superou completamente o seu trauma?

Tsunade poderia ter boas intenções, mesmo assim, todas nós sabíamos de seu passado. Sabíamos que através de uma bala perdida, ela perdeu o grande amor da sua vida, durante um final de tarde em um pacato Parque Municipal de Tóquio.

Ele iria pedi-la em casamento, mas a briga entre dois bêbados, ali próximo, resultou em um jovem e cheios de sonhos, morto.

Tsunade, por ser médica, tentou salvá-lo na hora, mas o sangue já enchia os pulmões dele. A perda dilacerou a médica que conquistou trauma contra o líquido carmim, sendo imediatamente e obrigatoriamente retirada de seu amado ofício, que fazia com maestria e devoção.

A loira adquiriu o vício alcoólico e mesmo após entrar em um grupo de apoio para traumatizados com a violência, ela não perdeu tal vício.

Em resumo, ela se tornou uma mulher sozinha, viciada no líquido etílico e chefe do grupo que eu fui inserida.

– Alguém gostaria de começar compartilhando a sua experiência para as demais? – Indagou olhando para todas as mulheres que se remexiam inquietas na cadeira, quando avaliadas pelo olhar afiado da loira.

– Tsunade-sama? – Chamou a rosada incerta, com um pequeno sorriso no rosto, para a loira que assentiu em acordo.

Era sempre assim.

Nos reuníamos duas vezes na semana para falarmos sobre nossos problemas e progressos na readaptação ao convívio em sociedade.

Tsunade iniciava com um discurso e logo, em seguida, ela dava a liberdade para que falássemos.

A tarefa de falar primeiro, sempre recaia para a rosada de rosto de boneca.

Só após ouvir a fatídica história dela para se recuperar do seu trauma, é que as outras mulheres tomavam mais coragem de falar.

– Bom dia, meu nome é Sakura Uchiha, tenho 25 anos.

– Bom dia Sakura – disseram os demais em uníssono, no entanto, permaneci calada observando os trejeitos femininos da mulher.

A rosada sorriu agradecida antes de começar a falar.

As pequenas mãos alvas remexiam-se incertas, mostrando seu claro nervosismo com a situação, por mais familiar que já fosse.

Os dedos pinçaram a barra do moletom verde musgo, dois números maiores que o ideal para ela e quente demais para aquela época do ano.

A roupa era simples, moletom de mangas compridas, calça jeans e uma sapatilha negra.

Um pouco de pó e um coque baixo mal feito, adornavam o rosto angelical, mas que já fora vítima de um estupro.

A médica, ao sair do seu trabalho tarde da noite, há sete meses atrás, foi abordada por dois homens que a perseguiram.

O doce anjo, teve suas asas arrancadas enquanto era levada ao inferno, naquela noite...

– Eu fui ao shopping esse final de semana com o meu marido e a minha filha para comprar roupas novas para mim – riu sem graça, enquanto os dedos finos, colocavam um fio rosado atrás da orelha. Os verdes obscureceram quando caíram ao chão. – Quando resolvemos fazer um lanche na praça de alimentação, eu pedi para Sasuke ficar cuidando de Sarada, mesmo contra a vontade dele, enquanto eu ia buscar nosso lanche. No entanto, quando eu estava pegando nosso pedido, dois homens assobiaram para mim – abraçou o corpo em forma de proteção. Tsunade inclinou-se para frente preocupada com a reação dela, mas a rosada sorriu fracamente, como se dissesse que estava tudo bem. – Eu surtei e pedi para Sasuke me tirar dali. Ele me acalmou e disse que ninguém faria mal a mim – suspirou aliviada, voltando ao sorriso gentil como se as palavras do seu marido a acalmasse. – Mesmo assim decidimos jantar em casa mesmo.

– E você já usou a roupa nova? – Perguntou Ino.

– Ah... ainda não... mas irei usá-las – sorriu sem graça. – Elas são lindas. Sasuke e Sarada me ajudaram a escolher, devo isso a eles.

– Faça isso por você mesmo, Sakura. Não se esqueça isso! – Lembrou Tsunade.

– Hai – respondeu voltando a se sentar.

– Quem é a próxima? – Perguntou a responsável pelo grupo, lançando um olhar questionador para o grupo.

Uma sobrancelha loira levantou quando Ino se pôs de pé em um suspiro.

– Bom dia, meu nome é Ino Yamanaka, tenho 28 anos e sou vítima de homofobia.

Meus olhos recaíram sobre a mulher loira, alta e de olhos azuis.

Ino poderia ser uma modelo de sucesso com facilidade, porém, sua alma recaiu para a floricultura e foi esse ramo que seguiu como profissão.

Sua vida era tranquila, até começar a se envolver com uma mulher, dois anos depois de seu marido, Sai, falecer por conta de um câncer.

O romance não foi aceito pela sociedade, nem pelos seus próprios familiares.

Certa noite, há cinco meses, após sair com a sua namorada para beber em um bar, elas foram abordadas por um grupo de jovens com jaquetas de universidade.

Segundo os jovens, eles seriam a "cura gay" delas e mostrariam do que homens de "verdade" eram capazes.

Homens de verdade? Só consigo pensar em lixo quando ouço essa história!

Eles espancaram as duas moças e as assediaram em um beco escuro.

No fim, eles fugiram.

A companheira de Ino não sobreviveu aos machucados e mais uma vez a loira se viu sozinha com um filho pequeno do primeiro casamento.

A loira permanece com marcas no corpo, principalmente no pescoço, sempre recoberto por uma echarpe verde que escode as grandes cicatrizes ali depositadas.

A terceira a se levantar foi a doce Hinata.

Uma morena de cabelos azulados e olhos tão claros, que pareciam pérolas.

Como todas as outras, ela não teve um destino feliz.

Ex caixa de banco, ela estava no ofício, quando oito homens armados renderam a todos.

Ela foi a última refém a ser liberada, mas não antes de ficar 36 horas com uma arma apontada para a sua cabeça há três meses.

Ela tomou trauma e surta quando ver algo que pode feri-la. Em sua casa não há vidro, porcelana, garfos ou facas.

Uma vida "estéril", na qual até seu marido e seus dois filhos são afetados.

Em seguida, foi a vez da mais jovem de nós... a ruiva e rebelde Karin.

A jovem de 18 anos foi assediada por um professor durante o final de seu ensino fundamental e todo o ensino médio.

Seu carrasco, a ameaçava com notas e difamações, caso ela falasse algo.

Uma adolescente em uma tortura psicológica, filha de pais de renome que hoje nem a olham na cara, por desgosto após saberem do escândalo que essa história trouxe para a escola elitizada, botando-a como culpada de tudo.

Idiotas. É só o que eu penso sobre aqueles alunos, professores e responsáveis.

A ruiva tem trauma de professores e por isso ainda não foi para a renomada faculdade de direito que a ofereceu bolsa integral.

Ela está em tratamento para poder cursar normalmente, já que não consegue mais, permanecer em sala de aula.

Após o desabafo das moças, Tsunade olhou para mim em questionamento.

Logo os demais pares de olhos se voltaram para mim, esperando que dessa vez eu falasse algo.

– Kurenai, você gostaria de compartilha algo conosco?

Apenas neguei com a cabeça, desapontando muitos olhares direcionados para mim.

Um suspiro alto saiu pelos lábios da loira.

– Tudo bem então – revirou os olhos e eu apenas conseguia me concentrar no peso que a carteira de cigarro fazia no bolso interno da minha jaqueta negra. Meus pulmões já pediam pela nicotina. – Hoje encerraremos por aqui, mas eu tenho uma tarefa para cada uma de vocês – olhou fixamente para cada uma até repousar os castanhos em mim. – Vocês farão algo que ainda não fizeram e irão compartilhar a experiência com o grupo na quinta. Algo por si mesmas – a inquietude imperou entre as mulheres. – Tenham um bom dia, até quinta.

Todas se despediram à sua maneira, enquanto iam saindo da sala de paredes de tons pasteis e cadeiras metálicas brancas.

Como sempre, fui a última a sair.

Lancei um olhar rápido para o quadro branco com os dizeres "Bem-Vindas" em vermelho.

Sorri sem humor, antes de lançar um último olhar para a loira séria que me encarava.

Os saltos finos das minhas botas de couro tilintavam contra o piso de madeira, enquanto caminhava calmamente pelo corredor estreito.

Puxei a carteira de cigarro com certo desespero, antes de acender um cigarro com um isqueiro.

Pus a carteira de cigarro e o isqueiro de volta no bolso, antes de inspirar com força a nicotina que invadia e inebriava meus sentidos e espaços aéreos.

Suspirei aliviada antes de reabri meus olhos, deparando-me com a cena de Sakura reencontrando o marido encostado no sedã simples, com a pequena Uchiha nos braços.

Sarada tinha apenas três anos, mas suas pequenas mãos sempre puxavam os cabelos negros do pai, quando os alcançava.

O moreno parecia reclamar amorosamente da pequena, retirando uma gargalhada gentil da esposa.

Por mais que doesse se submeter a tais coisas, eu podia ver que ele aguentava pela mulher traumatizada, que nem ao menos poderia tocar, pois ela não consegue ter uma vida sexual normal depois do acontecido.

A família "feliz" logo entrou no carro, deixando-me sozinha com meus pensamentos, na entrada do Centro.

– Ele pode ser um bastardo de merda, mas tem sua utilidade quando se trata de fazer Sakura feliz – ouvi a voz de Tsunade ressoar de trás de mim.

– Senti um pouco de remorso em sua frase, Tsuna? – Ergui uma sobrancelha quando a olhei por cima do ombro.

– Tsc – resmungou virando de costa. – Venha, o chá é por minha conta.

A loira não me deu alternativa, apenas continuou a caminhar pelo corredor em direção as escadas ao fundo.

Suspirei baixo, seguindo a loira, sem parar de tragar meu cigarro recém acesso.

– Preciso dizer que não gosto de cigarros? – Perguntou com uma mão na cintura, enquanto a outra abria a porta do andar superior, dando-me passagem.

– Você vai parar de beber se eu disser que eu não gosto de bebidas? – Rebati com um sorriso irônico, adentrando no apartamento da loira que me encarava com fúria.

O ambiente era claro. Os tons claros vigoravam com fervor pela decoração vitoriana, cheia de adornos e sofás.

Caminhei preguiçosamente pela sala, enquanto a mulher ia para a cozinha buscar nosso chá.

O cigarro deslizou pelos meus dedos que o movimentavam preguiçosamente, mas estanquei o passo ao parar em frente de uma estante de porta-retratos.

A fumaça fugiu de meus pulmões acariciando um porta-retratos em particular.

– Ela era linda, não é? – Surpreendeu-me a voz da mulher.

– Hn. Sakura continua linda. O que eu não entendo, é porquê você tem foto de uma das mulheres do grupo – perguntei sem tirar meus olhos da adolescente de cabelos longos e rosas com um sorriso enorme, enquanto esticava os pompons para o alto. Sua roupa era curta e de líder de torcida, deixando à mostra sua barriga perfeita e pernas torneadas.

– Isso é fácil. Ela é minha afilhada.

Ergui uma sobrancelha, voltando-me para ela.

– Pensei que contávamos tudo nas sessões – debochei, sentando-me a sua frente.

O olhar de Tsunade vagou para além das portas da sacada, por onde o vento adentrava, movimentando as cortinas claras.

– Não temos mais a mesma ligação que antigamente. Voltamos a nos falar só depois da morte de Dan. Sakura foi uma das poucas familiares que cuidaram de mim.

– Por que vocês não se falavam?

Os olhos tristes, obscureceram voltando-se para mim.

– Por causa de Sasuke.

– Explicou tudo – murmurei em deboche, tomando um pouco de chá, após apagar o cigarro em um cinzeiro, no centro do móvel de mogno.

– Sasuke era o professor de Sakura no ensino médio – quase cuspi fora o meu chá após aquela revelação. – Eles se conheceram mais ou menos na época daquela foto. Ela tinha dezesseis anos quando se conheceram. Era uma menina linda, popular, cheia de amigos e namorada do capitão do time de futebol americano. Segundo os dois, eles tentaram evitar, já que ele era um homem sete anos mais velho do que ela, mas aos 17, a verdade da relação estourou na escola. Seus pais estritamente rigorosos e elitizados, a expulsaram de casa, alegando vergonha. Sakura perdeu ligação com a família e comigo também, ao ir morar com o seu professor.

"Ela amadureceu e mesmo perdendo praticamente tudo, continuou com ele e com esforço casou aos 18 e entrou na faculdade de Medicina. Não contamos tal história no grupo, porque, assim que Karin entrou para o grupo. Ela teve um surto ao saber que Sasuke já foi professor de Sakura. Disse que ele se aproveitaria da minha afilhada e a coitada acabou ficando traumatizada".

A mulher massageou as têmporas com os olhos fechados, antes de voltar a me encarar.

– Sasuke fez um escândalo quando veio tomar satisfações comigo, dizendo que eu estava tentando fazê-la acreditar em coisas que realmente não existem. No fim, foi Sakura que nos apartou dizendo que estava tudo bem. Só teve um dia em que eu apoiei Sasuke, sem que Sakura pedisse que eu fizesse. E nesse dia ele foi detido pela polícia – riu com a lembrança, mas ao ver meu rosto confuso, resolveu explicar. – Sasuke invadiu o tribunal que julgava os dois estupradores de Sakura e espancou ambos até três policiais conseguirem detê-lo – riu deslizando os dedos sobre os lábios. – Foi lindo de se ver a cena.

– Louca – ri um pouco.

– Todos nós temos um pouco de loucura.

Sorri de canto, recaindo meu olhar para o chá entre as minhas mãos.

– Então você quer cuidar de Sakura como um favor, por ela ter cuidado de você, quando perdeste o Dan?

– Não é um favor. É um prazer poder ajudar ela e todas as outras mulheres.

– Não vejo lógica. Chame-me de pessimista, mas o fato de ouvir tais relatos duas vezes por semana só me faz acreditar que a sociedade não tem mais jeito.

A loira retribuiu meu mínimo sorriso.

– Se você compartilhasse suas experiências saberia o porquê de tudo – ergueu uma sobrancelha em desafio.

– Continuarei não compartilhando – sorri em desafio, colocando a xícara vazia sobre a bandeja de prata. – Obrigada pelo chá Tsunade, mas agora preciso ir.

– Tudo bem. Nos vemos na quinta? – Perguntou sem se dar ao trabalho de se levantar para me deixar na porta.

Não me importei, caminhei ao som dos meus saltos finos para a porta de madeira.

– Não tenho outra opção. A justiça me obrigou a isso se não a perco.

Um braço fletido sobre o encosto, apoiou o queixo em seus dedos.

Os castanhos estavam fixos em mim na porta.

– Não se esqueça da tarefa de quinta.

Assenti em um suspiro antes de fechar a porta.

Rapidamente me dirigi à saída do local. A rua estava vazia e eu não gostava da ideia, já que me fazia lembrar da fatídica noite.

Meu coração disparou ao ver um carro negro parado distante.

Meus músculos negaram qualquer movimento, enquanto continuava encarando o veículo, mas assim que o motorista, abaixou os vidros, deixando a claridade entrar e pelo para-brisa, eu pudesse ver a cabeleira grisalha do mascarado.

Suspirei sutilmente aliviada para que ninguém notasse que esse tipo de coisa me afetava.

Kakashi me olhou de maneira reprovadora, quando me direcionei ao seu carro, acendendo outro cigarro.

– Isso vai te matar – resmungou, quando entrei no veículo.

– Aposto que não foi para isso que você veio – rebati, observando o grisalho, com roupas da polícia, dirigindo atento à rua.

– Só estou dando um conselho de amigo.

– Tsc – cruzei os braços, olhando para além do vidro lateral.

– Eu sei que você não gosta, mas faça isso pensando no bem da Mirai, se não a justiça pode tirá-la de você...

– E dá-la para você? – Indaguei contendo a minha raiva. – Todo mundo quer dar opinião na minha vida esses últimos tempos. Sério, Kakashi? Um grupo de apoio?

– Você preferia que eles tirassem a sua filha de você? – Falou sério estacionando em frente ao prédio simples de três andares que eu morava com a minha filha recém-nascida.

Eu não sabia o que responder, apenas permaneci calada.

Era claro que eu não queria que tirassem a minha menininha, mas a dor ainda me lacerava e me impedia de ser a mãe que Mirai merecia.

– Obrigada pela carona, Kakashi – disse apenas, enquanto saia do carro.

O grisalho acenou antes de partir, deixando-me sozinha na entrada do prédio.

Como se todo o peso da dor voltasse com força, eu subi com dificuldade os lances de escada que me levavam ao segundo andar.

Todas as lembranças e palavras sussurradas entre aquelas paredes, assombravam-me como fantasmas do passado.

Joguei-me na minha cama, encarando o ventilador do teto girar monotonamente.

O zunido que foi testemunha de tantas noites de amor enchia os meus tímpanos.

Traguei o cigarro, sentindo o cheiro de nicotina grudar em meus lábios, como há anos faziam por meio de outros lábios.

Vocês farão algo que ainda não fizeram e irão compartilhar a experiência com o grupo na quinta. Algo por si mesmas, a voz de Tsunade voltou com força em meus pensamentos.

– Fazer algo que eu ainda não fiz e por mim mesma – sussurrei ainda encarando o ventilador. – Não é só por Mirai – levantei meu tronco lentamente, antes de encarar o espelho de corpo inteiro, em um canto do quarto. – É por mim também! – Falei entendendo a repressão de Tsunade para as palavras de Sakura e de tantas outras mulheres. – Fazemos as coisas para os nossos amigos e familiares que se preocupam com a gente, mas também somos pessoas com sentimentos e temos que fazer por nós mesmas também!

Levantei da cama e caminhei para frente do espelho, encarando a mulher feita e de corpo avantajado e juvenil, apesar de já ter passado dos trinta.

Minha roupa totalmente negra e maquiagem forte eram minha marca desde jovem, menos o cigarro entre meus lábios carmim.

Peguei aquele recipiente de nicotina e o encarei.

Eu estava viciada naquilo, mas para fazer o que eu queria, por hora, tinha que ficar sem.

Apaguei no eterno cinzeiro em um dos criados mudos da cama, antes de voltar a encarar meu reflexo.

Os olhos castanhos avermelhados, estavam levemente cansados.

Eu era o tipo de pessoa que quando sofre, chora, mas no fim, finge-se de forte.

Arrumei a minha postura e respirei fundo com os olhos fechados.

Assim que os reabri, vi que estavam mais determinados e aquilo me deu coragem para continuar.

– ­Bom dia, meu nome é Kurenai Sarutobi, tenho 35 anos e essa é a minha história... – minhas mãos começaram a suar e as sequei na calça jeans. – Tsc, não é tão difícil fazer isso, Kurenai – repreendi o meu reflexo. – Ok, voltando – revirei os olhos. – Eu nunca fui a garota rica, patricinha, nerd ou dedicada. Nunca fui nada disso. Nasci na periferia e aprendi a me virar. Não tive a melhor das educações, mas consegui sobreviver trabalhando em diversos empregos diferentes. Já fui garçonete, atendente, dançarina e por último, barwoman e foi nesse emprego, em uma boate da periferia de Tóquio, que eu o conheci – inflei meu peito para controlar o choro que as lembranças queriam trazer. – Era uma noite qualquer, usava o meu usual uniforme que se resumia em um sutiã de lantejoulas, um short de cintura alta, uma bota de cano longo e salto alto.

"Ele usava uma camisa social com três botões abertos, mostrando o peito com poucos pelos. Seus olhos castanhos dançavam pelo local, enquanto se dirigia ao balcão onde eu estava.

"Ele não tinha a beleza estonteante que eu já havia visto em outros homens, mesmo assim ele me atraiu com seus cabelos negros arrepiados e barba em um corte simétrico, enquanto seus lábios massageavam o recipiente de nicotina. A sua marca registrada.

"O seu andar era forte, o corpo exalava masculinidade de seus vinte e oito anos. Ele sorria para muitas mulheres que se ofereciam a ele, mas no fim, o verdadeiro sorriso foi para mim. Uma mera barwoman de uma boate da periferia e só esse fato, foi o suficiente por hora.

"Ele começou a frequentar continuamente o local e sempre se sentava no balcão para conversar comigo, enquanto eu atendia os outros frequentadores. Como qualquer outro homem, Asuma também me lançava cantadas que eu respondia com risadas irônicas. Eu não sabia naquela época, mas meses depois eu descobri que sua primeira visita ao local foi para descobrir informações sobre um traficante local, já que ele era um investigador da Polícia de Tóquio, mas as suas subsequentes visitas eram para me ver.

"Certo dia, ele bebeu mais do que deveria e acabou sendo o último a sair da boate. Eu tive que ajudá-lo a caminhar, enquanto ele jogava cantadas sem sentido para cima de mim. Quando eu menos esperava, ele me beijou".

Arfei forte com a lembranças dos lábios com sabor de nicotina, menta e álcool abraçando os meus sem reação.

Meus dedos trêmulos, alisaram meu lábio inferior, enquanto fechava os olhos imaginando a carícia feita pelo homem.

O quarto com cheiro de cigarro e resquícios do perfume amadeirado, deixava a sensação ainda mais real.

– Ah... – o som saiu sem permissão ao me lembrar de seus olhos amorosos e alterados, encarando minha face ruborizada sob a luz de um poste que piscava naquela rua deserta, de uma madrugada de março. – Ele beijou meu maxilar – sussurrei com os olhos fechados, minhas mãos alisavam o local que ele havia depositado os lábios – o meu pescoço – desci a mão – até ele sussurrar em meu ouvido: "Eu sinto que te amo, mesmo sem te conhecer direito e isso me assusta".

Abri meus olhos a tempo de ver uma pequena lágrima rolar solitária, pela minha bochecha esquerda.

Não enxuguei. Deixei a pequena lágrima traçar seu caminho preguiçosamente enquanto a admirava.

Se ele estivesse aqui, ele a beijaria, pensei com um sorriso triste.

– Eu sabia que poderia ser só efeito da bebida, mas eu não pensei na hora. Eu o beijei e naquela mesma noite, fomos para o meu pequeno apartamento no subúrbio, já que era mais perto do que o dele – deixei meu corpo cair sobre a cama encarando o ventilador. Tinha um idêntico a esse na minha antiga casa, pensei fechando os meus olhos, lembrando da sensação da primeira vez que ele me fez sua. – Ele beijou todo o meu corpo nu – sussurrei sorrindo, ao mesmo tempo que minha mão esquerda adentrava minha blusa negra e folgada. – Ah... – gemi ofegante, quando apertei o meu seio sob o tecido do sutiã, repetindo as mesmas carícias que ele fazia com a sua imagem sorrindo sobre mim, impregnado minhas lembranças. Assim como a sua mão ousada fez naquela vez, minha mão direita abriu o botão da minha calça, para logo meus dedos acariciarem minha intimidade sob o tecido fino da calcinha. Ri quando sua imagem sorriu para mim, alisando meu clitóris com delicadeza, antes de penetrar com força, a minha intimidade úmida com dois dedos. – Aaahhhh... – gemi alto, repetindo os mesmos movimentos, aumentando a velocidade e carícias assim como eu me lembrava de nossas loucas noites.

Gemi alto sem pudores assim como eu gemi para ele em todas as nossas noites, parando com meus movimentos, só quando me senti satisfeita.

O torpor tomou conta do meu corpo coberto por uma fina camada de suor quando eu abri meus olhos, voltando para a realidade de que não era ele que estava ali.

Retirei minha mão de minha intimidade, encarando meu gozo sem nenhuma satisfação.

Minhas mãos voltaram a cair ao lado de meu rosto, enquanto encarava o ventilador.

– Os meses tornaram-se anos. Eu casei com Asuma e devido ao seu salário ser suficiente para nós dois, eu acabei parando de trabalhar na boate. Nossos dias eram felizes e nossas noites, quentes. Eu sempre me preocupava quando ele saia para ofício, por seu trabalho ser perigoso, mas quando engravidei, pareceu que todos os nossos problemas eram ínfimos em comparação a felicidade que sentíamos.

"Asuma beijava e alisava todas as noites a minha barriga que crescia cada vez mais. Só que nossa felicidade durou até o oitavo mês de gestação, quando, durante um suave passeio à noite, fomos abordados por um carro de vidros fumê. De lá saiu quatro homens com armamento pesado. Asuma tentou me proteger, já que estava grávida, dizendo que não precisavam me envolver naquilo, mas foi inevitável. Fomos os dois sequestrados naquela noite".

Levantei-me da cama e voltei a encarar o meu reflexo.

– A venda impedia-me de ver. Eu estava com medo e hiperventilando. Sentia Mirai remexer-se em minha barriga como a prova de que os sentimentos da mãe são repassados para a sua cria, mesmo ainda no útero materno.

"Sempre que Asuma tentava sussurrar algo para me acalmar ele apanhava, por isso apenas o toque de seus dedos, nos meus, era o recado de que ele estava lá comigo para me proteger.

"Os dias se passaram e continuamos presos naquele esconderijo. Ficamos em quartos separados, mas eu conseguia ouvir as palavras ofensivas e a tortura que faziam contra ele, durante todo o dia.

"Eu me encolhia em um canto daquele pequeno quarto insalubre e tampava meus ouvidos, chorando silenciosamente, pedindo para que os gritos parassem, que aquilo não passassem de um mero e desgostoso pesadelo, mas nada acontecia, tudo só piorava.

"Certo dia, eles me acordaram com chutes na coluna. Eu não tinha forças para andar, já que não me alimentaram e a gravidez avançada requeria um gasto de energia, acima do normal. Meu coração descompassou assim que eu vi o meu marido completamente machucado, com as mãos e os pés amarrados para trás, enquanto permanecia de joelhos".

O choro veio de maneira inevitável.

Apoiei minhas mãos trêmulas no vidro frio do espelho, procurando o apoio que minha alma dolorida, não tinha.

Os soluços saiam de maneira forte que doíam os músculos de meu abdome, ao mesmo tempo que deslizava minha testa pelo espelho, até cair de joelhos no chão.

Olhei meu reflexo, sabendo que todas as minhas barreiras estavam transpassadas.

Aquela era a verdadeira Kurenai.

– Ele sorria – solucei mais uma vez. – Seu corpo estava todo machucado e sua roupa ensopada de sangue, mas, mesmo assim, ele ainda sorria para mim, como se dissesse que estava tudo bem, quando nada estava bem.

"Os sequestradores zombaram do meu marido diante de mim, dizendo 'Cadê o grande investigador Asuma Sarutobi? Só estou vendo um merdinha diante de mim'".

Funguei abaixando o meu olhar para a minhas mãos trêmulas.

– Era uma queima de arquivo. Um grupo contratado por altos traficantes que estavam sendo investigados pelo meu marido. Asuma, descobriu algo importante sobre eles e acabou sendo a vítima.

"Eles apontaram o revolver para a testa dele e debocharam alisando o meu rosto coberto de lágrimas e poeira: 'Não se preocupe com a princesa aqui, pois vamos cuidar muito bem dela'.

"Sem mais delongas, o disparo retumbou em meus tímpanos, fazendo o corpo do meu amado, cair morto em meus pés. O grito de horror, foi abafado por um dos homens com sorrisos maliciosos que me deitaram no chão sujo. Eu me debatia em desespero. Precisava salvar minha filha e chegar até o corpo de Asuma, com a falsa esperança de que eu poderia fazer algo por ele, mas tudo o que eu conseguia era me debater sem progresso, enquanto a parte de cima de meu vestido longo era rasgado. 'Olha esses seios que delícia' comentou um dos porcos que me alisavam.

"Um segurou meus dois braços para o alto, enquanto que o outro esticava minhas pernas, para que eu não me debatesse. O terceiro subiu sobre mim falando de maneira maliciosa 'Vamos dar a melhor noite da sua vida princesa' antes de sugar meus seios com força ou cuidado.

"Grunhia e chorava ao som da risada deles. O quarto apareceu no meu campo de visão, massageando seu membro sobre o tecido da calça. 'Eu sou o próximo', disse antes da porta ser arrombada..."

Encarei meu reflexo. Eu abraçava os meus joelhos em posição fetal.

Uma criança frágil, foi assim que me denominei.

– A polícia me achou. Kakashi e Shikamaru me acharam e me salvaram. Entrei em trabalho de parto por conta de todo o estresse e diferente do que eu planejei meses antes, Asuma não estava ao meu lado no centro cirúrgico.

Funguei limpando minha visão embaçada pelas grossas lágrimas.

– Eu sinto sua falta, Asuma – murmurei fechando os meus olhos.

Minha costa encostou-se no pé da cama, antes da minha cabeça pendurar para trás.

Com uma leve brisa que adentrava o quarto, senti o cheiro de nicotina impregnar o local, antes de sentir meus lábios frios, como se estivessem sendo beijados.

Arregalei os olhos com a surpresa, mas não havia nada lá, apenas o meu reflexo no espelho.

Engoli em seco, mas nem o cheiro estava lá, apenas o fraco do meu último cigarro.

Sobressaltei-me com a campainha do meu apartamento e só após arrumar meu rosto choroso de maneira aceitável, eu fui atender.

Não foi surpresa ao ver Temari com Mirai nos braços.

– Está com algum problema, Kurenai-san?

– Não, Temari – sorri fraco para a loira. – Está tudo bem, na verdade.

– Você sabe que qualquer coisa pode ligar lá para casa – comentou passando-me a criança que mal tinha dois meses de vida.

– Tudo bem.

Nos despedimos, antes de fechar a porta e caminhar com Mirai para o seu quarto.

Olhei com nostalgia a pintura infantil que Asuma fez antes de partir.

Eu quero um pedacinho de mim em cada coisa que Mirai olhar, disse certa vez.

Sorri nostálgica com a lembrança, antes de embalar a criança sonolenta, que era uma mistura perfeita de nós dois.

Minha alma estava leve depois de confessar para o meu próprio reflexo o que tanto doía por dentro.

– Oi meu amor – sussurrei para a minha pequena que lutava bravamente para manter os olhinhos abertos e fixos em mim. – Tudo bem, pode dormir, mamãe está aqui e o papai com certeza está nos olhando lá do céu – sorri, alisando a bochecha rosada. – Eu farei de tudo por nós duas. A justiça não vai tirar você de mim e seremos felizes.

Pela primeira vez naqueles meses, eu sorri verdadeiramente para alguém e fui correspondida por um sorriso largo, sonolento e desdentado dela.

Não me aguentei. Ri de minha pequena, enquanto a colocava adormecida no berço.

– Eu prometo – sussurrei antes de sentar no chão para admirar o fruto de nosso amor, pelas grades do berço.

Os dias passaram-se rápido. E logo já era quinta-feira.

Meus saltos negros brincavam com o cascalho, enquanto caminhava preguiçosamente pela calçada que me levava ao local da terapia em grupo.

Avistei um carro negro conhecido e sorri vendo Sasuke sair do carro e abrir a porta para uma agradecida rosada.

– Obrigada querido – corou assim que me viu.

Ergui uma sobrancelha para o look da mulher hoje.

Diferente das outras vezes que a vi – nesse curto período de duas semanas no grupo – Sakura usava uma calça jeans negra que exibia suas curvas, uma camisa vermelha de botões e manga até os cotovelos, sendo que era parcialmente transparente. Um rímel e um gloss exaltavam os olhos verdes.

Nos pés, uma sapatilha vermelha completava o look de cores que a mulher, agora com os cabelos soltos, exibia.

– Não me olhe assim, Kurenai – repreendeu, enquanto o moreno retirava a filha agitada da cadeirinha.

– Não disse nada – sorri divertida.

Ela bufou antes de sorri para os morenos que nos encaravam.

– Kurenai, eu quero que você conheça o meu marido Sasuke Uchiha e minha filha Sarada Uchiha – apontou feliz para ambos. O mais velho apenas sorriu de canto, enquanto a pequena tagarelava exaltada, mas logo sua atenção foi desviada para as bochechas do pai que levaram pequenas batidinhas infantis, enquanto a pequena pedia com a voz manhosa:

– Papai! Eu quero sorvete!

– Ai Sarada, não bate no papai – resmungou o moreno.

– Mas eu quero!

– Sakura diz para a sua filha que ela não pode comer sorvete tão cedo – pediu para a rosada que ria junto comigo da situação.

– Sarada – a rosada pôs as mãos na cintura fingindo autoridade, mas logo o sorriso apareceu e ela brincou com o narizinho da pequena que riu, ao mesmo tempo que o pai bufava um "vai sobrar para mim" – é claro que você pode ir ao parque com o seu pai tomar um sorvete, mas tem que prometer que depois vai almoçar direitinho quando eu disser.

– Eu prometo! Eu prometo! – Falou afobada.

Sakura beijou o nariz da pequena, antes de selar os lábios do marido emburrado que ficou surpreso com a atitude da mulher.

– Eca – reclamou a pequena fechando os olhos.

Sorri com nostalgia vendo a cena familiar.

Sasuke não estava acostumado com demonstrações de afeto pela mulher traumatizada, que logo após o trauma, pedia que ele não olhasse para ela, porque qualquer olhar de homem, era traumatizante para ela.

O casal Uchiha logo separou os lábios, deixando um Uchiha constrangido com o comentário da filha:

– Papai não sabe nem beijar direito.

Caí na gargalhada, entrando com Sakura no centro, vendo o carro se afastar com os dois.

– Ele me lembra Asuma. Ver Sasuke me faz imaginar como ele seria com a nossa filha.

As esmeraldas arregalaram-se surpresas com a minha revelação.

– Você tem uma filha?

– Um dia eu te conto a história – pisquei um olho, entrando na sala, onde uma Tsunade impaciente nos esperava.

– Sakura, o Sasuke não sabe o significado de pontualidade?

– Ai Dinda, eu sei que no fundo você gosta dele – riu suavemente, indo para o seu banco de sempre.

– Tsc – resmungou. – Vamos começar logo com isso.

Pela primeira vez fiquei atenta nas palavras de Tsunade e o que antes eu achava chato, achei interessante.

Logo Tsunade pediu para compartilharmos o que fizemos de novo e como sempre, Sakura teve que tomar a dianteira.

– Bom dia, meu nome é Sakura Uchiha e tenho 25 anos. Trabalhava como médica pediátrica, mas por enquanto estou de licença – sorriu doce.

– Bom dia, Sakura – falei em uníssono com os demais, o que chamou a atenção de todos os seres de lá.

Sorri fracamente para que a rosada continuasse.

– Bom, eu decidi usar as roupas novas e um pouco de maquiagem – esticou os braços mostrando a roupa. – Decidi fazer isso por mim e pela minha família – sorriu sem graça. – Além de que – seu rosto corou com a revelação seguinte – eu e Sasuke resolvemos voltar a dormir no mesmo quarto e na mesma cama.

– Vocês transaram?

Eu me surpreendi com a pergunta, encarando, como os demais, a autora da pergunta.

Até Karin que estava com os fones de ouvidos, tirou um fone e encarou a morena.

– Agora, esse grupo 'tá ficando interessante – comentou a ruiva tirando risada de todas, menos de Hinata que encolheu-se no banco ao meu lado constrangida por ter feito a pergunta anterior.

– É... é... ainda não – admitiu gaguejando a rosada, sentando constrangida no banco.

– Ainda? Hn. Será que devo dizer para o moreno se preparar para a noite selvagem que você está preparando – brincou Ino que por mais que tivesse trauma de homens, parecia ter uma amizade forte com o casal.

– Ok, ok, vamos continuar – interrompeu a chefe do grupo para que parássemos de rir. – Já que você quer tanto falar Ino, devo acreditar que você é a próxima a contar sobre a sua experiência.

A loira revirou os olhos antes de se levantar com graça.

Ela ajeitou levemente sua eterna echarpe, antes de dizer séria:

– Eu postei uma foto do meu dedo no meio no Instagram com os dizeres "Eu sou bissexual e daí?".

Karin caiu na gargalhada com a informação e eu não pude deixar de achar graça da loucura da loira.

– Ino, vou começar a te seguir só pra curtir essa foto – disse a ruiva.

– Já estou com 400 curtidas – mostrou a tela do celular – e os números só sobem. Até o movimento da minha floricultura aumentou – riu batendo os punhos com a ruiva.

– Karin você é a próxima – informou a autoridade acabando com a brincadeira das duas.

– Bom, eu me matriculei na universidade e começarei as aulas daqui a um mês.

– Nossa! – Bradou a rosada puxando uma salva de palmas do grupo.

– Só não garanto que o próximo professor que me assediar, permanecerá com as bolas intactas – acrescentou.

– Você não seria você, se não tivesse uma ameaça básica, Karin.

– Gentileza sua, Tsunade – fez uma reverência como aquelas de filmes de época, divertindo o grupo.

– Hinata?

– Ah... eu... eu comprei um jogo de facas lá para casa – o silêncio imperou no grupo que encarava com uma mistura de surpresa e medo no olhar.

Isso é coisa que se diga mulher?

– Ok né – resmungou a rosada puxando uma salva de palmas das demais.

– Kurenai, você quer compartilhar com a gente a sua experiência de fazer algo novo? – Perguntou retoricamente a loira, sabendo a minha resposta, mas diferente das outras vezes, eu sorri de canto, levantando-me da cadeira, surpreendendo a todos.

Segurei com força a carteira de cigarro no meu punho direito como se aquilo trouxesse a presença de Asuma para perto de mim.

– Sim.

A loira ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços.

– É mesmo? Estou curiosa para saber o que você fez de novo – um sorriso satisfeito brincava em sua face.

Olhei para todos aqueles rostos que me acompanhavam há duas semanas.

Sorri para cada uma entendo que mais que um grupo de apoio, aquelas pessoas eram a nossa família.

A família que nos compreendia e nos aceitava.

Compartilhar experiências é tirar um peso da alma.

Eu sorri para as mulheres antes de compartilhar a minha história, pela primeira vez com elas:

­Bom dia, meu nome é Kurenai Sarutobi, tenho 35 anos e essa é a minha história...

FIM!


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram?

Vocês devem está se perguntando... "Gaby-chan, por que falar sobre isso?"
Infelizmente pessoal, a violência contra mulher ainda se mostra com grandes estatísticas no mundo inteiro... um crime bárbaro que em diversas culturas é tratado como algo certo e até menos significante que um assalto a mão armada...
Eu não falei só sobre estupro... disse várias maneiras que ele pode se mostrar, até de maneira camuflada... se pesquisarem sobre o assunto vocês irão me entender!
Eu aproveitei esse desafio para falar sobre... a fic poderia ser bem maior se eu colocasse informações, mas decidi me atentar nas mulheres e seus traumas, tentando não superar (porque não é fácil superar), mas sim focar na tentativa delas voltarem a conviver normalmente em sociedade...

Não é fácil, e essa realidade retratada existe e está exposta nos diversos grupos de apoio que temos espalhadas pelas nossas cidades!

Beijos pessoal! Até a próxima!



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