Valquíria saía do trabalho. Parecia feliz, finalmente promovida. Sabia que fazia seu trabalho direito. Falava com sua amiga ruiva por mensagens no celular, contava as novidades. Resolveram que deviam comemorar naquele momento, se encontraram em um barzinho pequeno no centro da cidade.

“Agora dá pra pagar o aluguel, tranquila. Se não fosse aqueles trabalhos por fora que eu estava fazendo, já não sei o que faria.”

“Fico feliz por você, Val.”

A conversa inevitavelmente abordou Demas. A ruiva parecia feliz em falar dos dois.

“Não, nem vem.” Valquíria franzia o cenho. “Não estamos namorando. Não há grandes sentimentos envolvidos.”

“Se liga, Val. Faz uns dois meses que ele viaja pra cá sempre, no ultimo final de semana você quem foi pra lá!”

“Isso não quer dizer muita coisa, só que a gente está se curtindo.” Valquíria se defendeu.

A ruiva revirou os olhos, pousando a testa sobre uma das mãos e acenando negativamente.

“Impossível que vocês não percebam suas caras quando estão juntos.”

“Bobagem.” Valquíria desviou seus olhos do olhar da amiga.

“Se adiantasse de alguma coisa discutir com você, eu discutiria.”

***

Era sábado, o relógio não marcava nem oito horas ainda. Valquíria dormia abraçada ao travesseiro que Demas geralmente usava. A porta do apartamento se abriu lentamente, Demas entrou silencioso. Observou Valquíria dormindo por alguns segundos antes de colocar sua mochila no chão e ajoelhar ao lado da cama. Seu rosto estava perto do dela.

“Val.” Ele chamou.

Ela deu um pequeno sorriso, apertando mais o travesseiro, mas continuava dormindo. Ele sorriu com a reação que sua voz causara.

“Val, acorde.” Ele chamou mais uma vez.

Os olhos de Valquíria se abriram lentamente, soltando um gemido de duvida. Coçou os olhos, deu espaço para que deitasse ao lado dela. Ele se sentou na cama, a observando acordar.

“Você disse que só vinha à tarde.”

“Eu fui chamado de ultima hora pra participar de um encontro de astronomia. É nesse final de semana todo, estou indo pra lá.”

“Então você não fica aqui hoje?” Ela finalmente se sentou na cama, mas os olhos custavam para ficar abertos.

“Não.” Ele parecia triste por isso. “Só quis passar aqui antes pra te ver.”

Ela deu um sorriso sem sal, estendeu os braços pra que ele a abraçasse. Ele o fez, a apertou em seus braços e sentiu um beijo estalar em seu rosto. O abraço fora ficando demorado, ela adormecera ali mesmo.

***

Valquíria acordava lentamente, mantinha os olhos fechados. Com um sorriso nos lábios, se virou na cama esticando os braços. Decepcionou-se ao não encontrar Demas ao seu lado. Sentou rapidamente, então, franzindo o cenho e abrindo os olhos. Lembrou-se do que acontecera mais cedo. Encontros de astronomia, malditos estes. Em um gesto automático puxou o travesseiro que Demas geralmente usava, o apertando em seus braços. Sua feição emburrada se desfez por alguns momentos, antes de ser substituída por um pequeno susto e uma expressão de dúvida.

“Não.” Ela murmurou pra si mesma. “Não.”

Jogou o travesseiro para trás, se levantou e entrou no banheiro. Afastava pensamentos de sua cabeça.