Histórias do Desapego escrita por Tia Anette Atlas


Capítulo 17
5.




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“E então vocês estão saindo sempre?” Demas perguntava pelas mensagens.

“Saímos algumas vezes, mas não sei. Sei lá o que vai ser.” Valquíria respondia.

“Pelo que você já tinha me falado, acho que gosta bastante dele.”

“Eu também acho. Mas não quero ter certeza de nada ainda.”

***

Cris e Valquíria estavam deitados lado a lado na cama dela. A respiração deles era ofegante. Cobriam-se com um cobertor, pois estava frio. Mantiveram seus corpos juntos, para esquentar. Valquíria sorrira, olhava para Cris com certa cumplicidade, ele parecia se perder nos olhos dela. Depois de alguns minutos que mantinham silêncio, ele se levantou. Procurava suas roupas.

“Aonde você vai?” Valquíria perguntou.

“Não sei, acho que pra casa.” Ele disse, já se vestindo.

“São quatro horas da manhã. Você não prefere ficar por hoje?”

“Prefiro, mas acho que isso pode ser meio difícil pra mim.”

“Por quê?”

“Você tem o Demas, vai voltar pra ele depois. Se eu ficar aqui vou estar me permitindo.” Ele suspirou, parecia triste e confuso.

“Cris, não é assim que as coisas funcionam.” Ela dava um sorriso compreensivo “Se seu medo é esse, venha aqui, por favor.” Ela se sentou na cama, fazendo sinal para que ele se sentasse ao lado dela. Ele estava relutante, mas se sentou ao lado dela mesmo assim. Ele esperou que ela dissesse alguma coisa, mas antes ela tocara seu rosto, fazendo com que ele a olhasse. “Eu já tenho me apaixonado por você, Cris.” Ele pareceu surpreso.

“E Demas?”

“Eu o amo também.”

“Como ‘também’?”

“Eu não sei.”

Ela parecia sincera, ele admirava isso.

***

Meses se passavam, Valquíria subia as escadas para seu apartamento. Estava raivosa, não só pelo elevador quebrado, mas pelas coisas que ouvira. Sabia que Cris estava confuso, que o dia pra ele também não tinha sido dos melhores, mas não conseguia deixar de se sentir mal. “No fim eu sei que você vai me jogar fora.” Ela se lembrava dele dizer. “Como você fez com todo mundo.” A frase se completava em sua mente.

Primeiro ele havia terminado, duas semanas atrás. Encontraram-se de novo só naquele dia, pensou que acabariam se entendendo, mas ele não movera uma palha pra que isso acontecesse. E claro que era obrigação dele resolver isso, por ela eles sequer teriam terminado.

Olhou para frente, ainda deveria subir mais três andares. Se fosse metade da alpinista que Cris era, já estaria quase chegando a seu apartamento. Como ela pôde se enganar? Quem gosta de subir e descer montanhas e se embrenhar em trilhas no meio da mata fechada? No que ela teria pensar para se convencer de que havia motivos para não gostar de Cris? Seja lá o que ela tentava, não estava funcionando. Mas encontraria um modo.

Finalmente chegou ao andar de seu apartamento. Procurava as chaves no meio da bolsa, quando ouviu alguém subir apressado as escadas.

“Valquíria!” ela ouvia.

Era Cris. Ela se apressou em abrir a porta de seu apartamento, mas antes que ela pudesse entrar, ele tocara seu ombro.

“O que foi?” Ela perguntou desanimada.

“Esqueça o que eu disse!” Ele pedia, a abraçou sem que ela pudesse se soltar ou erguer os braços para o abraçar também. “Esqueça o que eu disse, por favor. Só esqueça, eu não sabia o que estava falando.” Ele soltou seu corpo, segurou o rosto dela com as duas mãos, a olhando nos olhos.

“Depois de hoje pensei que você acreditava mesmo no que tinha dito.” Ela segurou as mãos dele.

“Mas é mentira, você sabe que é. Eu nunca pensaria aquilo mesmo de você, eu só estava...” Ele buscava palavras enquanto soltava o rosto dela.

“Confuso?”

“Sim.”

“Com medo?” Ela sabia que os conflitos de Cris eram diferentes dos seus, mas se via nele.

“Sim. Eu não sei te dizer medo de que, mas... Eu nunca estive em um relacionamento assim antes. Durante o ultimo ano, eu estive com alguém por quem eu não sentia nada! As coisas estão muito diferentes pra mim agora.” Ele se explicava. Nervoso, falava alto. Valquíria fez um sinal pra que ele falasse mais baixo. Ele suspirou, abaixando a cabeça. “Eu acho que não sei o que estou fazendo.” Ele apoiava as duas mãos sobre a cabeça.

“Eu sei que parece medo de me dar uma chance, Cris, e pode até ser. Mas isso também é medo de se dar uma chance.” Ela estava séria. “Quer entrar?” Ele a olhava nos olhos, ainda confuso. Respirou fundo.

“Quero.”


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Notas finais do capítulo

O próximo, que sai amanhã, é o penúltimo.
Se você acompanhou até aqui, obrigada. Espero que deixe seu comentário quando a história for finalizada.



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