Bêbada. Por mais que o álcool não estivesse em seu organismo, era como ela se sentia. Cozinhava o próprio cérebro em noites de choro quente, se perguntando qual era seu problema. Por que Demas não saía de sua mente, como os outros faziam? Repensava seus relacionamentos, um por um. Qual era o problema de todos eles? Alguns ela nem lembrava porque romperam ou porque não continuaram. Algo era certo, já havia se sentido assim, uma única vez. Prometera que não aconteceria de novo e agora estava ali.

Se lembrou de quando traiu seu primeiro namorado. Ele descobriu na semana seguinte, então a deixou. Ficou mal por semanas. “Eu não sou ciumento.” Se lembrava dele dizendo. Valquíria se sentia mal, pois amava demais. Há anos, ficara feliz quando percebeu que não amava ninguém. Até agora.

Pensou se valeria a pena. Os medos eram muitos. Imaginava Demas revoltado, com ciúmes. Mas aquele não era o Demas que ela conhecera. Ao mesmo tempo, tinha medo de que isso lhe acontecesse. Que o ciúmes a dominasse um dia e, ao se sentir presa, quisesse prender também. Mirou o livro de astrologia na estante. Se aquilo funcionasse, Valquíria já se conheceria havia tempos.

Pelo pouco que sabia de si, sabia ser impulsiva e que não gostava de estar naquela posição, de pensadora. E o que lhe tornava ela? As coisas que gostava? Valquíria gostava do calor, de ficar um pouco sozinha, de sair a noite, de caminhar. Amava as artes, as paisagens das janelas, amava Demas em sua janela lhe apontando estrelas. Mais que isso, amava Demas. Estava mesmo se convencendo daquilo? Sim, amava Demas.

As outras possibilidades, os outros amores que encontraria, não mudavam o agora.