Fiz aquilo que pensei que não precisaria mais, que não queria mais. Fugi. Fugi de Asa Noturna e de Dick Grayson, de Black Angel e de Alicia Amell. Fugi o mais rápido que pude no meio daquela guerra. Tive tempo apenas para ver que o Capitão América estava no controle e que tudo daria certo. Eu não podia lutar aquela guerra quando estava atraçalhada por dentro, meu corpo não aguentaria.

Quando entrei no apartamento, Dave estava desligando o chuveiro. Ele me encontrou assim que saiu de seu quarto, eu estava sentada em seu sofá, abraçando minhas pernas.

– Lis? - Ele correu até o sofá - Você está bem? - Ele se sentou ao meu lado - Essas roupas, eu... - Ele finalmente havia notado - Lis, fala comigo.

– Dave, eu... - Fui interrompida por um soluço

– Shh... - Ele me abraçou - Está tudo bem, ok?

Ele não se afastou depois de algum tempo, permaneceu me abraçando para me confortar.

– Eu tinha treze anos. Estava voltando para casa e vi uns homens... Eles estavam atacando mulheres e eram como os homens que atacaram nossos pais. A arma de um deles caiu e eu peguei... Ele me chamou de "anjinho" antes do meu disparo. - Aquelas palavras faziam embrulhar meu estômago, mas não parei - Eu não sei o que houve... Tive medo e coragem. Tive raiva e... disparei. Depois disso eu mudei. Mudei com todo mundo, mudei comigo mesma. No ano seguinte eu mudei para Metropolis. Foi mais fácil estudar e treinar artes marciais sem os outros Lane por perto. Lois era jovem e ocupada, e eu sempre soube disfarçar. - O nó na minha garganta parecia se desfazer em lágrimas pelo meu rosto - Dick me fez lembrar quem eu era antes disso. Fez me lembrar que eu sou humana. E agora... Ele sabe quem eu sou. Uma assassina. - Cuspi a palavra

– Shh... - Dave me abraçou mais forte - Já passou. Eu estou aqui agora, vou cuidar de você, mesmo que você seja uma justiceira independente que sabe se cuidar. - Emendou com um quê de sorriso na voz

– Ele nunca vai me perdoar, Dave. - Solucei

– Ele é louco por você, irmãzinha. Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Deixei meus olhos inchados vencerem e dormi nos braços do meu irmão.

Antes que Dave acordasse, saí de seu apartamento em busca da minha casa. Cada peça do quebra-cabeças encontrava seu lugar na minha mente. Asa Noturna pediu proteção especial para Suzi, Dave e eu. Asa Noturna me vigiava todas as noites. Mesmo quando ele terminou comigo, ele cuidava de mim, e a maneira que ficou quando me viu sofrer pela perda de Selene. E todos aqueles encontros mascarados em que ele tentava me impedir de lutar, é porquê eu ia contra os códigos morais de Dick Grayson. Eu tinha meu próprio código moral, mas eu sabia o que estava fazendo e não ia me arrepender.

Abri a porta do meu apartamento e não me mexi mais. Fiquei feliz por estar usando roupas da Suzi, que eu havia pegado na casa de Dave. Agora, não havia Mike ou Grayson para me proteger. E é por isso que eu acabaria com ele.

– Fiquei te esperando para o café da manhã, Alicia, mas acho que não estou mais com fome.

– O que você quer aqui?

– Bater um papo. - Ele sorriu

– Hoje não, Johnny.

– Teve uma noite difícil?

– A manhã está sendo pior. Pode ir embora, por favor? - Apontei para a porta

– Como quiser, meu anjo.– Ele se levantou e eu gelei. - Só mais uma coisa: eu sei. Você tem até o meio dia para entrar em contato comigo e aceitar minha proposta.

– Do que você está falando?
Ele soltou uma risada desprezível.

– Eu tinha certeza que você falaria isso! Poderia ter apostado! - Ele riu - Eu sei de tudo, Alicia... Ou Black Angel, como você prefere? - Ele falou e eu dei um passo em sua direção - Opa, opa, opa! Você acha que eu viria até aqui sem segurança? Qualquer coisa que acontecer comigo, sua fotinho vai aparecer nos outdoors de Nova York, meu amor. Sua tentativa patética de uma vida normal está nas minhas mãos, querida. - Ele passou ao meu lado e se foi

Olhei para a porta aberta por onde Johnny acabara de passar, olhei para o meu apartamento vazio. Nada parecia tão vazio quanto eu. Bati a porta com toda a raiva que eu sentia e o barulho ecoou dentro de mim. Que se dane.

DICK

Ela fugiu de mim mais uma vez. A diferença é que, dessa vez, eu quis que ela fugisse. Mesmo assim, eu estava procurando por ela um segundo depois, e ela estava onde sempre esteve. Perdida bem no meio dos heróis e vilões. Ainda havia muito a se fazer naquela noite, mas eu fui para casa. Embora Batman e o cara da armadura de ferro estivessem discordando sobre quem tomava o controle da missão, tudo estava perto da ordem. E eu podia contar com o Capitão América para salvar a noite mais uma vez.

Encontrei meu novo apartamento tão vazio quanto podia estar. Quase tão vazio quanto a mim mesmo. Parei na porta por alguns instantes, antes de dar meia volta e correr para a rua. Eu tinha um carro e uma moto na minha garagem, mas escolhi correr. Correr noite a dentro até o prédio de Dave. Escalei o prédio até a varanda da casa certa e fiquei feliz por estar fechada. Por uma fresta aberta da cortina, eu podia vê-la. Ela estava deitada no sofá abraçada ao irmão. Lis parecia dormir, mas havia tormento em seu rosto. O mesmo tormento que eu confortei na minha cama. A mesma Lis que eu salvei. Lutei contra toda aquela vontade que eu tinha de salvá-la mais uma vez, aquela mulher deitada no sofá não era a Lis, era a Black Angel, uma justiceira cega e assassina. E foi com esse pensamento que eu voltei para casa.

"12h09 MENSAGEM PARA: Richard Grayson; Dave Reed Amell; Alicia Lane Amell" Dizia a mensagem que acabava de chegar em meu celular, me acordando apenas algumas horas depois do caos na minha cabeça. Na mensagem sem identificação, havia fotos de Black Angel sem máscara, no meio daquela bagunça de bandidos da noite anterior. As fotos foram tiradas depois que eu tirei sua máscara, a mesma que estava ao lado da minha cama. A identidade dela estava sendo exposta e a culpa era minha.