Eu o acompanhei para fora.

– Eu venho todos os anos.

– Eu me lembro. Você me contou isso há anos atrás. Você foi criado por eles, antes de ser adotado por Bruce Wayne.

– Sim, você se lembra. - Ele sorriu

Começamos a caminhar para dentro. Admiti secretamente que ele havia feito, havia me impressionado. Todas aquelas luzes piscantes, músicas e cores em todos lugar. Eu adorava a sensação de estar rodeada por crianças felizes, me fazia acreditar que toda a maldade ficava para fora dos limites da entrada. Tentei me lembrar da última vez que me senti tranquila e feliz daquele jeito, falhei miseravelmente.

Percebi que ele olhava para mim de maneira intrigada e divertida. Voltei meus olhos para ele.

– O que há?

– Você parece uma deles! - Ele riu, apontando para as crianças que pulavam perto de nós.

– Não sei do que está falando. - Continuei andando, sem ceder nenhum sorriso. Dick deu risada.

Além do lugar onde aconteceria o show principal, havia algumas barracas menores, todas coloridas e pontudas no topo. Algumas delas eram lojinhas de bugigangas, e outras vendiam algodão doce e outras besteiras.

– Então, aonde quer ir primeiro?

– Escolhe você e talvez consiga me impressionar. - Fiz meu melhor olhar de desafio

Ele apertou os olhos, pensando. Logo em seguida, suavizou a expressão.

– Algodão doce.

– Como adivinhou?

– Você gostava de doces como ninguém. Pelo jeito, ainda gosta!

Abri um sorriso e caminhamos para a barraca de algodão doce.

Durante o espetáculo, os olhos de Dick brilhavam, como se ele estivesse em casa. Seus olhos azuis atraíam mais a minha atenção do que as incríveis acrobacias. Ao fim do espetáculo, ele permaneceu no lugar. Observei a maioria do público se retirar, mesmo assim, certa quantidade permaneceu imóvel. Olhei intrigada para Dick.

– Comprei ingressos para o espetáculo bônus. - Ele sorriu, ansioso

Recostei novamente e esperei as luzes se apagarem. Holofotes verdes e sinistros iluminaram o palco, mostrando o apresentador do show de horrores. Senti meu estômago gelar. Havia bruxas, monstros e sangue artificial, aranhas e outros bichos peçonhentos. Fechei os olhos assim que a música sinistra começou, instintivamente, apertei a mão de Dick.

Eu usava o nome de Black Angel durante a noite, acabava com assassinos e tinha a capacidade de provocar medo, mas terror me fazia tremer.

– Lis? - Dick chamou próximo do meu ouvido para se sobressair ao som. Não respondi - Lis, olha para mim - Ele pediu

Virei meu rosto e abri os olhos devagar. Seus olhos azuis eram intensos e divertidos.

– Você está com medo?

– Não... - Um urro me fez apertar sua mão

– Quer sair daqui?

– Não, tá tudo bem - Eu sorri, insegura

Ele acariciou meu rosto, tentando me consolar. Senti meu corpo relaxar e, agora, os monstros pareciam mais distantes. Ele aproximou seu rosto do meu até nossos lábios se tocarem. Não existia mais nenhum monstro para me impedir de retribuir.

Cedi ao desejo e mordi seu lábio inferior. Dick se afastou, olhando para mim, parecia olhar para algo além de mim.

– Quer sair daqui? - Ele sussurrou novamente

Balancei a cabeça em negativa e toquei seu rosto, eu o trouxe para mim, dessa vez, e nos beijamos.

Antes do show de horrores acabar, saímos do circo. Depois de aguentar o começo de um show desse tipo, achei que eu merecia outra nuvem de algodão doce cor-de-rosa.

– Talvez... - Enfiei um tufo de algodão doce na boca e engoli - Você tenha me impressionado. - Continuei a comer

– Eu sabia que você gostaria do doce - Ele parecia se divertir me olhando comer - Eu não sabia que você tinha medo de terror

– Ninguém sabe. Apenas você e Mike. Ele usava isso para me chantagear antigamente e eu fazia sua lição de casa.

– Hm, que ideia incrível.

Arregalei os olhos.

– Richard Grayson, eu juro que...

Ele começou a rir.

– Você não parece tão ameaçadora com açúcar no queixo!

Comecei a rir enquanto tentava livrar meu rosto do açúcar. Notei uma uma garota se aproximando: com o cabelo ruivo preso em um rabo de cavalo, sardas na pele e com roupas justas e coloridas. Ela era uma das mais belas acrobatas.

– Dick!

– Raya! - Ele se levantou do banco de madeira em que estávamos sentados e a abraçou. Eles se afastaram e ele olhou para mim - Lis, essa é Raya Vestri. Nós éramos uma equipe quando eu fazia parte do circo. Raya, essa é Alicia Amell.

– É um prazer conhecer uma namorada sua, Grayson Voador!

– Não somos namorados - Ele falou num tom de voz baixo

– Ah... Bom, é um prazer, de qualquer forma! - Nós rimos - Tenho que ir agora, Dick, mas adorei vê-lo! - Ela gritou enquanto corria para longe
Dick voltou a se sentar.

– Grayson Voador? - Perguntei

– Minha família tinha um número, o nome era Os Graysons Voadores.

Meus pais eram incríveis naquelas cordas. - Ele sorria enquanto falava

– Eu iria adorar vê-los. - Falei tentando passar a admiração que eu sentia

Horas depois, Dick parou o carro em frente ao meu prédio. Nenhum de nós se moveu. A noite parecia ter sido boa de mais para que eu quisesse vê-la acabar.

– Desculpe pelo show de terror, eu não sabia sobre seu medo secreto. Prometo que da próxima vez, vou escolher melhor.

– Próxima vez? - Arqueei a sobrancelha com um sorriso

– Sim. Se você quiser, é claro.

– Certo. Me surpreenda mais uma vez como hoje e eu escolho o terceiro.

– Vou me esforçar. - Ele sorriu