Você está sentada, tentando passar seu tempo com algo que sabe não ter tanta importância, mas que no momento te faz se distrair.

Se distrair de alguém que há muito vive em seus pensamentos e lhe povoa o coração no que parece ser um amor platônico.

A todo instante a imagem dele lhe vem a mente, e tem vezes que não sabe mais o que é real ou não.

Você sente um ar gelado percorrer seus pés e um leve arrepio na nuca, mas não olha para saber o que é, volta sua atenção para o que já não a distrai mais.

Ele lhe perturba mais uma vez.

Pensar nele se tornou algo rotineiro, algo substancial.

Lembrar-se de momentos antigos, cenas que nutrem esperanças de qualquer forma de afeto da parte de dele, se tornaram comuns. Automaticamente você puxa da sua mente o passado, onde um garoto torturado pela sede de vingança se perde e você não consegue ajudá-lo.

Você respira fundo e aquele aperto no peito a faz pensar novamente se tudo aquilo foi real. Se aqueles momentos com o time 7 foram vividos, se ele foi realmente parte de sua vida, se aquele sorriso charmoso e egoísta esteve naquele rosto invejado e amado.

Se tudo aquilo realmente aconteceu.

Você balança a cabeça pensando estar maluca. Não é mais uma criança para fantasiar com ele. Ele fazia parte de sua história, mas isso era algo longínquo, que não deveria a atingir assim.

Você volta a fazer o que fazia, porém o ar gelado em seus pés a deixa desconfortável. Puxa-os para cima e coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha.

O silêncio não a perturba. Ele até a relaxa, lhe faz esquecer os problemas e viajar para um mundo só seu, porém, algo a faz se assustar e a tira de seu estado.

Uma mão quente pousa suave em seu ombro direito. Você vira o pescoço lentamente e consegue vislumbrar a mão masculina calejada e uma parte da roupa roxa.

Você não consegue acreditar.

Volta-se novamente para frente e fecha os olhos respirando fundo. Aquilo só poderia ser coisa da sua imaginação. Ele não poderia estar ali, ele não é real.

— Olhe para mim.

Você arrepia. A voz dele é exatamente como se lembrava. O tom forte sendo amenizado no rouco de um sussurro, a intensidade que somente ele conseguia proporcionar sem ter a intenção.

Você se vira e, de novo, acha que seu cérebro a engana. Bem diante de si está o homem que aparece nos momentos mais oportunos e inoportunos de seus dias, dentro de sua mente.

Ele te olha com a mesma austeridade que se recordava. Os olhos tão negros como há muito já ouvira ser descrito. A pele tão branca e aveludada que parece não pertencer à um homem que teve uma vida tão sofrida. A boca, fina e sedutora, uma boca que você já sonhou beijar incontáveis vezes e depois se sentiu frustrada por saber ser impossível.

Ele é alto, te olha de cima, com a camisa branca meio aberta no peito definido pelo treinamento e o detalhe roxo em sua calça onde ele guarda sua katana.

Você o olha de volta, e ficam neste impasse até que ele troca o peso do corpo para a outra perna. Você pisca, e volta de seu deslumbramento parecendo ter saído de uma hipnose.

Ele está na sua frente, mas você ainda acho que seja algo surreal demais.

Ele sorri de canto vendo sua cara de espanto e levanta a mão tocando levemente em sua testa com os dois dedos. Do mesmo modo que você sonhou algumas vezes que aconteceria, e neste toque você sente o corpo reagir. O coração palpita, as pernas tremem e o lugar tocado esquenta.

Ele se aproxima mais e você está completamente sem fala, apenas sua respiração sai de sua boca semiaberta.

Você consegue ver, pela distância, cada poro em sua pele bonita, os traços castanhos que seus olhos negros escondem, a rala barba que começa a crescer em finos pelos, o cabelo negro e liso que desce pelo rosto dele. E o cheiro, um cheiro gostoso que a enebria.

Ele está na sua frente e está perto, analisando você com a mesma atenção que você dá a ele.

— Sasuke-kun? - Você pergunta receosa, com medo de ser somente um sonho realista.

A mão sai de sua testa e ele sorri mais uma vez. Se afasta um pouco dando-lhe as costas em sinal claro de despedida.

Você sente seu coração acelerar num ritmo absurdo só em imaginá-lo saindo de lá. Tenta dizer algo para que ele fique, para que você consiga mais tempo para crer no que está acontecendo, mas ele sobe na janela e se prepara para partir.

Sua mão está estendida, querendo que ele volte. Ele somente olha para trás e acena brevemente com a cabeça.

— Até a próxima vez. Obrigado.

Ele some deixando-a pasma para trás.

Você não sabe realmente o que pensar, então sorri pousando os dedos em sua testa, onde ele lhe tocou e aguarda que o que ele prometeu aconteça, com seu coração com prova de que foi real.