Vilarejo das Trevas escrita por Pamda


Capítulo 1
A Trintade Satânica


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/646355/chapter/1

Felipe, Júlia e Joaquim Vaz eram órfãos. Seus pais não tiveram o tempo suficiente com eles, por mais que quisessem. Um acidente trágico, que pôs à prova e quebrou todos os paradigmas possíveis na família foi a causa de tal destruição. Camila e Yago Vaz foram assassinados. Joaquim era novo na época, por ser o mais velho, Júlia era muito pequena para entender tal coisa, havia acabado de parar de mamar no peito da mãe. E Felipe, o mais novo do trio, havia acabado de nascer, praticamente. Os três irmãos acabaram por serem mandados à um orfanato, onde foram cuidados com o maior acolhimento possível, coisa que acabaria em apenas alguns dias depois.

Mas não vamos chegar nesta parte ainda.

O orfanato chamado “Orfanato” se localizava no interior de São Paulo, numa cidadezinha minúscula chamada de “Vilarejo dos Sonhos”, nome popular entre os habitantes, mas que antes se chamava “Vilarejo dos Caipira”. Moravam pessoas famosas lá, entre elas o McBrinquedo, Milene Pavorô e Paulinho Gogó. Mas infelizmente encontraram uma mansão maior onde morar, com comida de graça e serviço de quarto, e assim partiram do Vilarejo dos Sonhos.

Mas vamos voltar a falar dos nossos Heróis.

Ao lado da escola chamada “Escola” e perto da padaria chamada “Padaria”, Felipe, Júlia e Joaquim faziam coisas diversas. Felipe comia terra perto do berçário, Júlia espantava as outras garotas abanando o boné para que, segundo ela, as “galinhas ciscassem em outro galinheiro”, insinuando que ela própria fosse uma galinha.

Porém, vamos voltar para a história.

Do outro lado do orfanato, nos terrenos mais para o fundo, Joaquim fazia o que melhor lhe agradava. Pegava garotas. Beijava, no exato momento, Pietra Souza, colega de escola. Era a vigésima primeira do ano. Entusiasmada, a garota começou a tirar a toca de Joaquim, para acariciar seus cabelos, mas o garoto insistiu que ele ficasse com a toca. Seu xodó. E foi assim que a vigésima primeira “peguete” do ano se afastou, tudo por causa de uma toca roxa que ele usa todo o santo dia. Mal ele sabia que aquela toca ainda valeria muito para o seu futuro.

***

Depois de brochar uma menina preferindo uma toca, Joaquim volta para o seu quarto, desviando de crianças com ranho no nariz, gente sangrando e traficantes de doce, além das faxineiras e das inspetoras. Joaquim subiu as escadas e entrou no seu quarto ao final do corredor, se sentindo livre no seu canto, com pôsteres de Charlie Brown e revistas impróprias embaixo do colchão, uma cama enorme e macia, um sanduiche da noite passada e uma pilha de cartinhas recebidas no mês. Porém, depois de olhar sorridente para o teto, se lembrou de que dividia o quarto com os “pirralhos”.

– Joaquim, a terra estava boa, por que você não comeu comigo? – perguntou Felipe, desembestado na porta.

– Porque isso não é coisa que se faz né, Felipe! – disse Joaquim.

– Mas é tããããão bom – suspirou Felipe. – As balas perdidas na areia é a melhor parte!

Joaquim fingiu não ouvir. Continuou olhando para o teto, agora sem sorrir, apenas imaginando se queria mesmo continuar vivendo essa vida. Parou de pensar quando Júlia entrou bamba e raivosa no quarto minúsculo.

– Estou cansada dessas meninas com fogo no...

– Epa, epa, Júlia, sem palavrão, caramba! – disse Joaquim.

– Você acabou de falar Joaq... – começou Felipe, mas foi interrompido por Joaquim.

– Cala a boca Felipe! E Júlia, já falei pra você parar de bancar a valentona do bairro se você quer mesmo conquistar o Théo.

– Fica quieto Joaquim, eu não quero namorar com o Théo não. Parece que ele já tem dono, porque vive colado com o Mateus.

– Não fala besteira Júlia, o Théo tá de caso com a Ma... Manu... Manu... – gaguejou Joaquim.

– Quem quase tá de caso com a Manuela é você. Mas ela se faz de difícil – disse Júlia, caçoando do irmão.

– Tá, tá, já chega dessa conversa! – disse Joaquim, se levantando e sentando na cama. – Já, já vai ter show no vilarejo, e temos que nos arrumar.

– Assim tá bom não é, Joaquim? – perguntou Felipe, mostrando a roupa cheia de areia e cocô de gato, além de papel de bala preso no peito.

– Claro que não, Felipe! Vou chamar a tia Vera pra te dar banho e eu vou pegar minha toca vermelha e verde da lavanderia lá embaixo.

– Credo Joaquim! – exclamou Júlia. – Quem vê parece até que você só tem essas três tocas!

– E não é verdade?

Júlia ficou calada por um momento, pensando, depois suspirou e disse:

– É, você tem razão...

Juntos, Felipe e Joaquim saíram do cubículo, sendo que Joaquim puxava o irmão mais novo, que sorria até para uma partícula de areia, mas Júlia permaneceu no quarto. Fechou a porta para pegar suas roupas, ao som de Henrique e Juliano, embora o som lá fora fosse do Nego do Borel.

***

O Vilarejo das Trevas estava agitado naquela tarde de sábado. Um ônibus maravilhoso de show estava parado na porta da igreja católica, a praça estava tumultuada, os preparativos para a festa no vilarejo estavam a mil. Entretanto, nem sinal da banda “Cúmplices De uUm Resgate”. Particularmente, Joaquim a ouvia todos os dias. A banda cantava desde músicas românticas, de fossa e de drama, até musicas mais altas, como rock ou pop. O maior sucesso deles era uma música de rock, chamada “Roube Minhas Tripas Mas Não Leve Meu Coração”. Aquela seria a primeira vez em que Joaquim iria ver a banda pessoalmente, ao vivo e como ela realmente era. A banda Cúmplices De Um Resgate não publicava fotos, não fazia entrevistas, nunca haviam feito shows e nunca se revelaram, pois a fama deles só havia começado a menos de um mês. A razão porque Joaquim se sentia tão feliz pela banda estar no vilarejo é que aquele seria o primeiro show da banda, o primeiro que estaria marcado na vida dos integrantes e na vidas das crianças catarrentas que teriam de pagar cinquenta reais para entrar na praça e ver a banda de perto. Quem não pagasse, apenas iria ouvir a vocalista, Manuela, cantando sua musica com uma voz suave.

Depois de levar as três tocas para lavar, Joaquim voltou para o seu quarto, enquanto a irmã tomava banho, para conferir se havia cem reais contados em seu cofre (Felipe não pagava porque tinha completado seis anos a duas semanas). O dinheiro ainda estava lá. Logo após ter conferido o seu dinheiro, arrumou sua roupa descolada em cima da sua cama, esperando a sua irmã sair do banho que acabara de completar meia hora.

– Júlia! Vai logo! A gente tem que sair em uma hora, e ainda tem o almoço! – gritou Joaquim na frente da porta do banheiro, fazendo sua voz ecoar pelo corredor e meia dúzia de meninas saírem para contemplá-lo.

– Não enche Joaquim! Ainda tenho que lavar... Te devo satisfações? – disse ela em resposta, com o som do chuveiro abafando algumas palavras.

– Você vai dever satisfações à tia Marivalda no final do mês, quando ela descontar do seu dinheiro pra pagar a conta. E também temos que economizar esqueceu?

– Tá, tá. Já vou desligar. Agora para de me irritar e vai chamar o Felipe!

– Ele tá brincando na caixa de areia de novo...

Júlia não voltou a responder. Joaquim pôde ouvir o som do chuveiro parar, passos em cima do chão molhado e um coro de ofensas. Depois, Júlia apareceu como uma foca irritada e saiu mancando feito um pinguim pelo corredor, com parte do corpo sendo mostrado (a toalha era muito pequena). Assim, Joaquim entrou no banheiro e tomou seu banho. Tendo seus primeiros efeitos da puberdade.

Depois de meia hora Júlia, Joaquim e Felipe estavam arrumados para a festa, sendo que Felipe tinha um pouco de sujeira da caixa de areia aqui e ali. A toca de Joaquim, hoje, era verde, representando sua cor predileta para o show da banda predileta. Júlia ostentava um boné dourado da marca do Mc Gui. E Felipe, bem, estava sujo depois de ter tomado um belo banho.

Os três atravessaram a multidão de crianças com cara de maracujá de gaveta, que não podiam ir para a festa porque não tinham cinquenta reais (foram crianças muito más para receber mesada das tias do orfanato, como se Júlia fosse um anjo perto deles). Entretanto, Mais duas crianças puderam pagar para ir ao show: Diogo, um menino magrelo com um cabelo pontudo que se assemelhava a espinhos – sendo que ele era amigo de Felipe nas horas vagas – e Sabrina, uma garota jovial por fora, mas que pega fogo por dentro, sendo considerada uma cobra com pernas e braços – comparsa de Júlia quando deseja fazer alguma maldade. Os dois juntam-se à Trindade Satânica e juntos os cinco saem batendo palminhas, feito um bonde dos “top”. As crianças catarrentas voltam a brincar, com menos animação do que antes.

Júlia, Joaquim, Felipe, Sabrina e Diogo pagam suas entradas para o show e entram na praça lotada. O “palco”, que ficava no centro, era muito improvisado, porém estava arrumadinho. Várias mesas estavam lotadas de gente faminta, em outras alguns empresários de grande porte, e no resto o pessoal mais educado do vilarejo, incluindo o padre, o pastor e as famílias mais conhecidas. Só uma coisa estragava tudo aquilo: as “véias”. Eram chamadas assim pelas crianças, o que não gostavam muito. Basicamente eram duas mulheres já idosas, cada uma representando as duas famílias mais conhecidas do vilarejo, que brigavam sempre que se encontravam.

Joaquim avistou sua colega de sala, Isabela, reclamando da vida junto com sua mãe, Rebeca, sua tia, Helena, e sua avó – uma das duas “véias” – Nina. Joaquim chamou a atenção dos outros quatro para sentarem junto de Isabela, e assim fizeram, reclamando de como a garota era mesquinha e metida. Chegaram no meio dos lamentos de Isabela.

– Eu não estou mais aguentando ser pobre, mãe, é sério! Eu quero cantar, pra ganhar dinheiro e sair daqui, viver numa mansão, contratar uns capangas, sei lá!

– Não faça drama, filha! – disse Rebeca – Se estamos com Jesus nossa vida sempre será feliz!

– Mas porque Jesus não me dá dinheiro?

– Minha filha, por favor...

– Ah, com licença, mas vocês sabem quando o show vai começar?

A voz vinha de Nico, um homem de baixa estatura que reclamava da vida dia e noite. Isabela o amava.

– Ah, Nico! – disse Isabela, felizarda – já, já vai começar e, ah, já começou!

Um locutor com uma voz de taquara rachada começou a dizer que o show iria começar. Um minuto depois, seguidos de vários efeitos especiais, surgiu primeiro André, o baixista da banda, com a ponta dos cabelos loiros batendo no ombro. Mas não se via nada por que as luzes do palco ainda não estavam acesas. Depois, por entre as sombras, uma bateria com uma garota por trás, que, como se via pela silhueta, era magra. Em seguida um guitarrista de óculos de grau, juntamente com um garoto pequeno que portava um pandeiro. Por ultimo, surgiu uma garota de turbante e óculos charmosos. As luzes se acenderam.

Foi uma coisa bem rápida.

Joaquim avistou a sua copia idêntica com uma guitarra, e o guitarrista o olhou intrigado e assustado. Júlia viu sua versal mais afeminada e bonita por de trás da bateria, que estava assombrada. Felipe sorriu e acenou para o garoto com pandeiro, que saiu correndo do palco logo após ver a sua copia suja de areia. Isabela e a vocalista, Manuela, mal trocaram olhares. A vocalista da banda já havia largado o microfone e saiu correndo por de trás do palco. Foi grande o tumulto pois, depois dessa troca de olhares, os integrantes da banda sumiram do palco, ficando apenas André, perdido e confuso.

Rebeca batia na mesa e ordenava que tivesse um show, reclamando que não havia pagado cinquenta reais para sua filha ver um palco vazio. Nina e Fiorina, a outra “véia”, brigavam, pois uma defendia o vilarejo e outra a banda. Entretanto, Joaquim, Júlia, Felipe e Isabela, apenas se olhavam, sem saber se tudo aquilo era real ou ilusão.

FOI ISSO PESSOAL! ESPERO QUE TENHAM GOSTADO DO PRIMEIRO CAPÍTULO DESSA HISTÓRIA QUE, JÁ DIGO, VAI SER DEMAIS. JÁ TENHO UMA IDEIA DA HISTÓRIA TODA, MENOS O FINAL, MAS ENFIM, TUDO VAI SENDO CONSTRUÍDO POUCO A POUCO. FIQUEM LIGADOS PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO, BEIJOS E ATÉ!!!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

NÃO ESQUEÇAM DE COMENTAR SOBRE A HISTÓRIA, HEIN.
AMO CÚMPLICES.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vilarejo das Trevas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.