Vou te amar como se fosse te perder escrita por Olavih


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Como eu fiz essa one ouvindo Like I'm gonna lose you, eu recomendo a você a ouvir também *-*. Boa leitura.



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Katniss não sabia direito se era uma memória ou um sonho. Ela estava novamente na praia onde aceitara o pedido de casamento de Peeta. Eles caminhavam de mãos dadas, sorrindo um para o outro, ele mais que ela, é claro. Os cabelos loiros de Peeta estavam iluminados pela luz pálida do luar e seus olhos pareciam brilhar como as estrelas de tanta felicidade.

Depois de meses Peeta tinha novamente uma aparência mais forte. Seu rosto voltara a ser corado, seu físico estava perfeito e ele parecia ter recuperado a vontade e até mesmo a razão de viver. Uma esperança. Era tudo que ele precisava. E, por incrível que pareça, Katniss foi quem lhe forneceu isso a ele.

Depois, é claro, de ele tentar por meses fazê-la voltar à vida. Após tudo que passou naquela guerra, Katniss não conseguiria ser a mesma pessoa de antes nem se tivesse amnésia. Parecia impregnado em sua alma toda dor e sofrimento que os jogos e Snow haviam lhe propiciado. Mas, com o tempo e a ajuda de Peeta ela foi esquecendo. A dor foi amenizando. Ela já não sentia ódio por estar viva. Gale virara novamente seu amigo. Haymitch e Effie eram seus pais. E Peeta era seu futuro marido.

O loiro parecia contar alguma história que ela não ouvia direito. Estava distraída, olhando para o mar a sua frente, calmo e suave. A mente voava como a brisa que ela sentia bater em seu rosto. O cenário pareceu escurecer um pouco à medida que caminhavam. O mar se agitou. Ela sentiu Peeta paralisar ao seu lado e quando o olhou seu rosto era puro medo. Franziu o cenho preocupada e direcionou seu olhar para onde parecia ser a fonte de seu medo.

Eles estavam cercados dos soldados do Snow. Armas estavam apontadas para eles. Snow estava à frente deles sentado em uma espécie de trono feito pelos corpos daqueles que Katniss amava. Ela arfou, colocando a mão na boca. Não conseguiu tirar os olhos dos rostos mortificados de seus amados, por mais que tentasse. Lágrimas escorriam de seus olhos e ela se virou para Peeta, abraçando-o.

Quando se afastou, porém, notou sua aparência. Ele estava magro novamente, surrado como o dia em que a tentou mata-la no distrito treze. Buracos de balas estavam por todo seu corpo, sangrando. Os olhos vivos de Peeta, agora eram apenas um azul embaçado. Nem os cabelos ele tinha mais. Ela se afastou, apavorada. Olhou para ele sem conseguir acreditar. E se perguntava de onde viera tudo aquilo, já que eles estavam bem há cinco minutos.

Peeta caiu no chão e ela não pode alcança-lo. Porque os guardas do presidente estavam tocando-a, sufocando-a e a levando para longe de onde estava Peeta. Ela tentava, esmurrava, mas não conseguia alcança-lo por mais que quisesse. E ela queria. Sua respiração foi ficando cada vez mais desregulada. Ela fechou os olhos. E quando os abriu não estava mais lá.

Sentando-se rapidamente na cama, ela notou que chorava. Era só mais um pesadelo, apenas isso. Nada daquilo era real, ela tentou se convencer. Mesmo assim olhou para o lado, vendo o rosto sereno de seu marido dormindo tranquilamente. Quis tocá-lo e verificar que estava bem mesmo, mas não queria acordá-lo. Por isso só o observou atentamente, imediatamente aliviada. Passou as mãos pelos cabelos e controlou a respiração. Depois tirou o lençol de cima de si e jogou as pernas no chão, sentindo o chão frio causar-lhe arrepios. Caminhou até a cozinha em busca de um copo de água.

O pesadelo tinha sido tão real que ela sentia o suor brotando de sua nuca. Passou a mão secando-o e abriu a geladeira. Tinha tanto tempo que os pesadelos haviam parado que ela havia desacostumado deles. Pegou a garrafa de água e a deixou em cima da bancada, capturando um copo em cima da bandeja da mesa. Encheu-o e o bebeu sem pressa, analisando sua cozinha.

Nunca pensou que teria algo assim em sua vida. Quando era adolescente, não costumava pensar muito no futuro. Só queria garantir que sobreviveriam hoje e do amanhã depois ela se preocupava. Ela nunca se imaginou vivendo em uma casa decorada com flores e eletrodomésticos, casada e com filhos lindos. Nunca se imaginou numa família feliz, nem nos seus melhores sonhos.

Porque aquela realidade não era possível no mundo que a pequena Katniss nasceu e cresceu. Ela não poderia ter filhos e uma família feliz porque Snow sempre estaria ali para mata-los, tira-los dela e fazer coisa pior. Não, ter filhos era a última coisa que Katniss pensava em fazer. E agora ela tinha dois, Melody e Tobias.

Ambos tinham nascido com saúde e cresciam com graça e beleza. Melody puxara o espírito do pai: era sempre sorridente, fazia amizades fáceis e era apaixonada pela vida. Tinha uma luz dentro dela, uma agitação que era a mistura perfeita de Katniss e Peeta. Ela também era boa no arco e tinha puxado os cabelos castanhos da mãe, embora os olhos e o sorriso fossem do pai.

Já Tobias tinha os cabelos loiros do pai e habilidades incríveis para qualquer tipo de arte. Entretanto era reservado como sua mãe, às vezes até agressivo e, mesmo sendo o mais novo, era mais preocupado que Melody. Ele era, claramente, um garoto pé no chão. Sorria pouco e se expressava, muitas vezes, nos rabiscos que seu pai lhe ensinara a fazer. Ele pintava todos os dias, mesmo tendo apenas oito anos de idade.

Katniss estava perdida em seus devaneios, mas isso não fez seus cinco sentidos estarem totalmente fora de órbita. Ela conseguiu ouvir, muito bem, o momento em que Peeta se aproximava, tentando ser sorrateiro, com as mãos raspando “silenciosamente” a parede e seus pés pisando como se afundasse o chão com tal ato. Ela sorriu, balançando a cabeça e, quando não ouviu mais as mãos encostando-se à parede ela se virou, exclamando um grande “BUH” e quase matando Peeta de susto.

—Katniss Everdeen Mellark! Como ousa me assustar quando eu devia lhe pegar desprevenida? — ele exclamou impressionado e levemente irritado, colocando a mão no coração de forma exagerada. Katniss soltou uma gargalhada que amoleceu o coração do marido.

—Você anda com a força de mil elefantes e quer que eu não ouça? — ela falou meio convencida. Peeta revirou os olhos.

—Você e essa sua audição sobre humana. Qual foi mesmo a desculpa que você deu para ter ouvido o campo de força aquela vez, na arena? — embora ambos ainda tivessem pesadelos sobre os três piores anos que viveram, depois de dez anos eles aprenderam a falar sobre aquilo com mais naturalidade, entendendo que tempos como aquele não apareceria mais por enquanto.

—Culpei os médicos da Capital, foram eles quem fez minha cirurgia. — ela deu de ombros. Peeta rodeou o balcão e a enlaçou pela cintura. Katniss abriu um sorriso de imediato, mas notou um semblante sério nele.

—Teve outro pesadelo? — ela acenou, baixando os olhos. — Porque não me contou, Kat?

—Não quis te acordar. Você estava tão lindo dormindo... — ela tentou seduzi-lo para que ele esquecesse esse assunto. Quase funcionou, ela pode ver em seus olhos que ele estava prestes a beija-la e esquecer suas preocupações. Mas então ele balançou a cabeça e ela soube que era uma batalha perdida.

—Sobre o que era?

—O de sempre. — ela deu de ombros, passando suas mãos pelos braços musculosos do marido. — estava perdendo todos que eu amo para o Snow. Estávamos na praia, no dia que você me pediu em casamento. Tudo estava tão tranquilo e tão... Real. Quando de repente um exército enorme estava a nossa volta. Snow estava sentado em um trono feito dos corpos de pessoas que eu amo todas mortas. E quando eu me virei para te abraçar você também estava. Foi tão real, Peeta, tão real! — ela se queixou, quase chorando. Peeta a abraçou, parecendo sentir a sua dor. Ele a apertou forte e recebeu em dobro o aperto.

Katniss não viu sua necessidade de abraçar Peeta até que ele começou a soltá-la. Ela o agarrou, forte, as cenas do pesadelo invadindo sua mente. Ela não queria perde-lo, não iria perdê-lo. Quebraria as mãos de quem ousasse tocar nele. Seria capaz de quebrar por inteiro quem tentasse tocar em seu marido, seu padeiro, sua família. Ela não perderia mais ninguém. Ela não perderia seu precioso amado.

—Katniss, olha para mim. — Peeta pediu, com a voz suave. Ela, porém, continuava abraçada a ele, os olhos fechados apertados. — Meu bem, olhe para mim! Eu estou aqui. Nós estamos bem. Você não está perdendo nada.

—Mas eu sinto que estou Peeta. Sinto que a qualquer momento alguém vai entrar por essa porta e tirar você de mim. Tirar as crianças. Eu não posso perder você, Peeta. Não posso perder toda a minha família. Eu não vou... Eu coloco uma flecha em quem se atrever a tirar vocês de mim. — o tom raivoso de Katniss assustou Peeta. Ele tocou o rosto dela, que agora olhava para ele de forma desesperada. Peeta acariciou suas bochechas com o polegar, explorando aquele rosto com quase adoração.

—Você não vai nos perder. — ele disse e abaixou a cabeça, beijando-a calma e ternamente. Ele a levantou, colocando-a sentada sobre a bancada, onde ela ficou poucos centímetros mais alta que ele. Katniss se entregou ao beijo e todo seu desespero se desfez. Seu peito se aqueceu com o amor que sentiu e suas mãos apertaram o rosto dele, trazendo-o mais para si. Quando Peeta se separou dela, ele a encarou novamente, quase sorrindo. Então virou o rosto para o lado ao falar: — droga, como você continua linda depois de todo esse tempo?

Katniss riu alto, tapando sua própria boca e olhando pelo corredor. Nenhum sinal de criança acordada com seu barulho, então ela respirou aliviada. Olhou novamente para ele e ambos ficaram em silêncio enquanto as mãos de Katniss percorria o rosto de Peeta. Sua testa branca e lisa, os cantos de seus olhos com algumas marquinhas de tanto sorrir, suas bochechas rosadas; seu nariz um pouco alongado e sua boca fina e perfeitamente desenhada. Peeta fechou os olhos e Katniss sentiu sua pele lisa provocando arrepios nela.

—Eu te amo. Muito. Desesperadamente; como se eu fosse te perder. — Katniss falou em um dos raros momentos onde diz o que o seu coração está cheio. Peeta pegou a mão dela, levando-a aos lábios e ali plantou um beijo delicado.

—Eu poderia olhar em seus olhos até a noite amanhecer, sabia? São incríveis! — ela sorriu com a declaração dele. Peeta mexeu em seus cabelos enquanto falava. — eu... Estou muito, muito feliz por nós. Por tudo que construímos.

—Eu também. Nossa padaria, nossa casa, nossos filhos... Quem diria que chegaríamos tão longe?

—Eu não diria. Honestamente, achei que nunca fosse me amar. — ele soltou meio receoso.

—É esse o seu maior medo? — o silêncio de Peeta lhe revelou tudo. — saiba que isso não aconteceria nem se eu sofresse amnésia! Eu te amo, Peeta Mellark. — ela se abaixou e deu um selinho nele, repetindo a ação depois de cada palavra. — intensamente. Dolorosamente. Infinitamente. E esse amor não vai acabar nem tão cedo.

—Fico feliz em saber. — ele sorriu, envolvendo os cabelos dela e a trazendo para si. Eles se beijaram na sintonia construída por anos de casamento e parceria. Uma sintonia forte que foi quebrada com uma exclamação sonolenta de uma voz infantil.

—Mamãe? — Tobias estava no corredor, coçando seus olhos cinzentos fechados e carregando na outra mão um coelhinho de pelúcia que ele considerava como seu melhor amigo. Katniss se separou do marido e olhou para o filho, meio constrangida.

—Sim, querido? — ela desceu da bancada e ambos foram até a criança. Tobias abraçou a mãe que ficou de sua altura ao se ajoelhar.

—Perdi o sono. — ele disse olhando para os pais enquanto esperava uma solução milagrosa. O rosto de Peeta se iluminou.

—Sabe de uma coisa, filhão? Eu e sua mãe temos uma história perfeita, infalível contra perda de sono. Quer ouvir? — Katniss olhou para ele de modo curioso e fraternal enquanto ele encarava o filho. Tobias sorriu e assentiu, já indo para o quarto. Peeta piscou para ela e eles se levantaram, seguindo a criança. E no fundo de seu peito, o pesadelo parecia agora um medo irracional.


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Notas finais do capítulo

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