Silent Hill - Dead Memories escrita por OrphicLady


Capítulo 1
Episódio Um - O Fim de Tudo




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O que é a morte senão a própria vida? Pergunte a qualquer um dos que já passaram por experiências do tipo, e eles lhe dirão como aprenderam um pouco mais sobre viver quando quase chegaram ao fim.

Qual a sua definição própria de pecado? Matar? Roubar? Estuprar? Não ir à igreja? Beber e usar drogas ilícitas? A minha é um pouco mais simples. Eu sou o próprio pecado, e é com tudo o que fui e sou que defino isto.

Eu estou em uma cidade. Ela é deserta, nevoada, de ruas asfaltadas e sem um pé de vida que seja. Ela é Silent Hill. Eu posso sentir o cheiro da carne podre daquelas criaturas imundas me perseguindo, mas tenho um objetivo. O meu objetivo é tão simples, mas há algo... Uma entidade? Um mortal? Uma lembrança? Não, eu não sei. Este empecilho que me desvia. Estes pecados que queimam a minha mente como se carne numa churrasqueira fosse. Eu gostaria de fugir deles, e por muito tempo o fiz. Sabe o que isso me trouxe? Caos. Agora estou aqui, e os enfrentarei. Não me importo com as consequências. Eu farei o que for possível para matar tudo aquilo que outrora matou a minha antiga eu.

A menina de cabelos lisos e negros, olhos grandes e brilhosos, sorriso verdadeiro e alma pura. A garotinha que com muita coragem, mesmo sendo julgada de fria e até mesmo levada ao psiquiatra pelo seu comportamento frio, não chorou no enterro da mãe. A irmã mais nova, que sempre foi mais madura psicologicamente falando do que o irmão. Aquela que acolheu a todos, mas nunca foi acolhida por ninguém. É dela que sinto falta, é por ela – também – que estou aqui.

Os pés tortos do monstro se arrastam atrás de mim, e eu posso ouvir a respiração pesar. Não tenho mais medo deles, e por isso, atinjo este com um golpe forte na cabeça, e a esmago, com raiva, porque é tudo que tenho.

É a raiva de fracassar que me move. É a raiva de perder que me faz esquecer o orgulho e lutar pelo o que amo. No fundo, a raiva sempre foi positiva para mim.

Corro freneticamente, e ignoro os outros monstros que me perseguem. A névoa fica cada vez mais intensa, e sinto cheiro de coisa queimando, mas ignoro, e continuo correndo. Adentro num edifício, cujas grades escalei, e subo até o terceiro andar.

É lá no fundo que o vejo. Aquela porcaria assustadora pra porra que me fita, mesmo não tendo rosto. Acredite, ser fitada por um monstro de cabeça piramidal, é mais assustador do que por olhos humanos. Ou qualquer que sejam os olhos.

Ele se arrasta, e também arrasta a enorme espada grotesca de metal enferrujado que carrega consigo. Veste trapos velhos de açougueiro, sujos de sangue – assim como tudo por aqui. Não há mais munição na pistola. Mas eu preciso passar pelo mesmo.

-Que se foda. – Penso, e corro. Corro em sua direção. É quando ele levanta lentamente – calculei o tempo exato para isso – a espada, que eu deslizo por debaixo da mesma e continuo correndo. Ele é tão lento, nunca me alcançará.

Não há nada que a adrenalina não o faça fazer. Nem mesmo um Pyramid Head pode assustar alguém tão desesperado, que o medo já não faz tanto efeito. Eu lembro desse apartamento, e lembro do que vi aqui.

Eu sei que Matt está aqui. Não tenho nada mais a perder, pois se ele não estiver, significa que foi pego ou morto. Eu corro e corro e corro.

Na minha mente, vejo como flashs rápidos e sobrepostos, confusos, todos os momentos em que estive com Matt. Como naquele dia que estávamos desvendando as formas das nuvens, ou no dia que Matt me explicou o que era menstruação, ou no dia que me levou até uma bela cachoeira e me fez rir, logo após descobrir que eu estava no fundo do poço, drogada e deprimida. E então eu vejo nesses monstros toda a minha dor, mas também vejo a minha inveja, a minha luxúria, a minha ira, e a minha discórdia. É então que eu descubro que eles representam tudo o que eu sou.

É quando vejo uma porta entreaberta. Apartamento 310, como ele bem disse. Entro, cautelosamente caminhando, com os punhos cerrados, as mãos segurando fortemente um bastão que havia achado por ali. Vejo uma luz. É ele.

Matthew.

E por um instante, eu me sinto realmente feliz. Mas, você sabe como funciona. Em Silent Hill, nada é bom. É uma cidade sem compaixão, foi tomada por demônios, e por todos os sentimentos que a eles são atribuídos. E não, não era meu irmão.

Era ela. A mulher que eu pensara ser minha mãe. O monstro que vestia o rosto sutil de minha doce mãe.

Não havia reação para aquilo, apenas...

Ela se aproximou, e tocou meu rosto. A mão era gélida e crespa. Os olhos não tinham vida, e naquele instante me vi cercada. E ela cravou a mão no meu peito, arrancando de mim, meu coração. Os olhos agora eram bolotas negras, e a boca, dentes podres e fedorentos. Ela comeu o meu coração, e não sabia que estava apenas se envenenando.

É quando percebo que nada daquilo aconteceu, ou quando me dou conta de que estou realmente morta? O que é Silent Hill? É o meu Inferno ou meu Paraíso? Apenas uma cidade do mundo dos mundanos, ou uma espécie de local sagrado onde somos punidos antes que nossas almas sejam levadas?

Estou correndo, frenética, desesperada. Sou arrastada pelos pés, meu rosto machucado, o peito ferido, mas meu coração ainda bate aqui dentro. Tento cravar minhas unhas no asfalto, pois estou a alguns metros da saída, mas eles não deixam.

Alcanço minha arma e enfio o cano em suas bocas, disparando com precisão. Sempre gostei de atirar. Matt me levava nos campos de treinamento. Estou fraca, mas consigo derrubar uns três dos vinte e tantos que ainda arranham minha carne, trituram-na, putrificam-na, cravam os dentes e unhas imundas nesta. A dor é absurda, mas eu sei que posso fugir. Eu sei, e eu vou fugir. Não há nada que você não possa fazer quando vê sua vida desvanecer-se por entre seus dedos, converter-se em pó em frente a seus olhos.

A minha respiração já está tão fraca que posso sentir meus pulmões sufocando-se, pois não há mais oxigênio para eles, e minha costa e pernas estão em carne viva.

Ouço tiros, sinto meu corpo pesado sendo levado por um alguém que se arrasta. E então, quase como uma última despedida, a última coisa da qual vejo é a placa enferrujada e caída, com letras descascadas.

“Bem Vindo à Silent Hill.”


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