A Ponte Para Lugar Nenhum escrita por Sr Mokona


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/646088/chapter/1

Em um tempo em que o tempo não era contado; em que não morria gente, pois a morte não era conhecida e que pouco se sabia como agora sabe-se que nada sabem, uma ponte foi construída entre o Grande Mar Infinito e o Não Conhecido.

A ponte de madeira possuía seus primeiros pilares nas areias da praia e depois perdia-se de vista. Era uma ponte inexplorável nos primeiros anos após o concebimento de “anos”, do qual a humanidade apenas contentavam-se em observá-la enquanto casas eram construídas, famílias eram construídas, enquanto o pensamento era construído; e digo-os que o pensamento começou a construir a ponte, ou, o que se dizia a respeito da ponte, pois sem isso, os habitantes não encontravam uma ponto de ignição para abordá-la.

Enquanto a ponte parecia intacta e imutável, ela parecia assistir o cozinhamento das estrelas a sua vista enquanto o populacho reunia-se na cabana maior para debaterem o nome que a ponte teria. Com suas cabeças cobertas por um telhado de palha, aqueles homens e mulheres discursavam sobre. “Como podemos nomear algo que não nos foi dado espontaneamente?”, foi proferido inicialmente; Augusto conduziu o debate, pois logo retrucou: “Se nos mantermos alheio no que diz respeito a ponte, de nada valerá qualquer coisa”. Alguns tomaram aquilo como uma lição a ser aprendida: se manter longe dessas questões da ponte, seria como perpetuar o não saber, destituir o homem daquilo que ele escolhe e descobre, pois, até que se prove o contrario, tudo tem inicio, e o inicio começa-se desconhecido e de quem se é e do que se faz; a não ser que se inicie de um homem.

Após algum tempo, no tempo em que o tempo fazia-se de surdo-mudo para os questionamentos e caprichos do homem perante sua natureza, os habitantes saíram da cabana maior com o nome Teotanatocosmo para entregar a ponte, perceberam que estavam envelhecidos. Rugas onde não havia rugas, marcas onde não havia marcas e datas de validades perceptíveis para os novos olhos. A ponte, continuava imutável, com toda força da palavra. Algo exalava de todos, preenchendo todo aquele ambiente aparentemente aberto; uma nuvem de desafio havia nascido naquele local. Velhos mais temerosos em desafiá-la, criaram uma reação abominável e surpreendente de vassalagem. “Ausculta todos”, disse o que era mais preenchido com o tempo, completando: “vamo-nos manter na ponte um abrigo. O tempo nela não passa; abrigar-nos ela vai; em sua sombra cabem todos”; “Há uma sombra porque há uma luz, há uma ponte porque há uma Lua. Não deveríamos tomar partido”; “Dizes isso porque é jovem e imaturo. Não sabes o que dizes. A ponte protege-nos da Lua, a Lua é aninhada pelo Tempo e o Tempo é nosso inimigo”; “Todos somos aninhados pelo Tempo, ele não escolhe um, ele acolhe todos. Não há dicotomia entre a ponte e o tempo, assim como não há entre você e eu”; “O nome é Teotanatoscosmo, e há uma grande diferença entre você e eu, o tempo maltratou-me em demasia. Vamo-nos “; Augusto nada remendou, os mais velhos temeram serem levados pelo tempo antes de ponderar sobre o assunto, seguiram aquele que deu-lhes o evangelho: Tadeu.

Após se deixarem conduzir-se pelo sonho, reafirmaram que algumas de suas necessidades não eram saciadas em onírico, mas que haviam que se dispuserem em pé e fora de suas respectivas cabanas. Alguns antes, outros depois, mas foi-se saindo de suas cabanas e o que foi visto foi velhos homens e mulheres na sombra da ponte produzida pelo Sol. Haviam envelhecidos mais que os que haviam dormido em cabanas. “O que afligiam-lhes?” Perguntou Marta, que mantinha seus três filhos ao seu redor; “Marta! Marta! Olha com calma a ponte que a noite e o dia exaltam. Mas que percepção e olhar poderia, traçar-te a inconcebível sabedoria?”, disse um dos anciãos sob a sombra, que completou: “estivemos com Teotanatos a noite toda, aprendendo sobre, e vocês? entregaram-se ao sonho”; “Não foi bem assim”, disse Augusto, “exercitamos nossa mente refletindo sobre a ponte”; “E o que descobriram?”; “Que ela é apenas uma ponte”.

“Espanta-me saberem apenas isso”; “Toda nossa observação leva a crer que é uma ponte”; “Onde está Tadeu? Não o estou vendo”, disse alguém na multidão; “Cala-te. Mas, pensando bem, não é de se estranhar que tenham tido apenas essa percepção dela”; “E vocês? O que sabem?”; “Sabemos demais; ela nos disse tudo”; “Disse Ela?”; “Disse”; “Ela quem?”; “Teotanatos”; “Teotanatocosmo falou a vocês?”; “Teotanatos falou”; “O que falou?”; “Que sua asa nos protege, pois mesmo do tamanho de tudo, ela protege apenas quem está em sua sombra”; “E o quê mais?”; “Que os filhos do Sol e da Lua virão para nos puxar e nós temos que segurarmos em seus pilares para não irmos”; “Disse isso tudo?”; “Disse”; “Disse o que era ela?”; “Disse que não era nada, pois quando foi concebido, não havia algo; que não foi feito, pois quando foi concebido, não havia ninguém para fazê-lo e que nos auxiliaria a nos escondermos do Sol e da Lua”; “Onde está Tadeu?”; “Foi explorar o fim da ponte. Pôs-se a caminhar e foi”; olharam todos para o horizonte caminhado pela ponte e nada viram.

As ondas prosaicas senis abateram sobre todos, porém, alguns mantiveram-se fixos; mas sabemos o quão fácil é idéias senis abaterem as pueris, a não ser se a pueril vier vorazmente de encontro. Do mais extrovertido ao mais introspectivo, a idéia de desbravar a ponte deu-lhes um golpe lancinante de desejo. Uma onda volitiva de curiosidade fixou-se ali como nunca mais algo se fixaria, desde antes do nascimento do tempo até o tempo em que o tempo de tão envelhecido, ficou-se esquecido e deixou de existir. Os anciãos perceberam que um cansaço mortífero alcançava aqueles fora da sombra e um deles disse-lhes: “Volte para suas vidinhas ou aconcheguem-se em nossa sombra”; “Por que estão tão envelhecidos?”; “Porque estamos mais próximos daquilo que sabemos que és a única verdade”; “Também a vejo como verdade, mas como uma ponte e só”; alguns rumaram para debaixo da ponte, na maioria velhos, e outros foram procurar comida para alimentar-se e depois foram viver suas vidas.

Passou-se um dia completo, um dia completo produtivo, as pessoas se tornaram mais produtivas a partir de uma maior produção; já não se preocupavam mais com a fome arrebentando-lhes pela manhã, pois produziram uma contra-ação. Então acordaram para servirem-se e produzir mais. Aquilo era algo que crescia com eles, essa fome de produzir; como escritor que escreve e escreve e termina e escreve mais e lê o que escreveu e escreve mais e escreve sobre o quê escreveu e quando termina, escreve algo novo. Mas a crença na ponte é atraente; não parece-lhes severa nem ranzinza, como os que acreditavam que a ponte era uma ponte suponhava, mas tão musical quanto as musicas das ondas. Ao sairem de casa, viram mais pessoas sobre a sombra do quê no dia anterior, mas não viram os mais velhos, incluindo o que debatia; mas viam-se homens e mulheres mais velhas do que acreditariam que estivesse. “Devo crer que aquelas que não estão mais aqui, caminharam para o fim da ponte?”; “Sim”.

Na medida em que os anos iam empilhando-se um em cima do outro, várias e várias vezes, as coisas pareciam iguais de um ponto de vista superficial: as pessoas que ficavam debaixo da sombra da ponte envelheciam mais rápidas e sumiam, e os outros membros sempre afirmando que eles tinham ido até o fim da ponte; as pessoas se mantinham em cabanas e plantavam, colhiam e caçavam, além de manter relações sexuais, procriar e manter a prole, continuavam a estudar a ponte, descobrindo seu diâmetro, sua estrutura, o modo como ela se sustenta e como se mantém absoluta. Augusto tornou-se o mais velho de todos e observava a ponte mais que os demais; algo ele sentia mais que os outros. Augusto chamou seu jovem filho, Augusto II, e disse-lhe: ”Filho, eu vou até o final da ponte”; “Por que, papai? Vai morar com os outros homens das sombras?”; “Não, eu passei minha vida toda longe deles, progredindo com a vila, não seria justo agora eu me juntar a eles apenas por estar velho; além do mais, eu acho que não precise”; “Então o que vai fazer caminhando?”; “Creio que todos devemos caminha por aquela ponte um dia”; “O que pretende fazer lá no fim?”; “Eu nem sei se terá um fim, mas vou buscar algo que no fim, todos devemos buscar”; “E o que seria?”; “Eu não sei”.

Augusto na calada da noite foi até a ponte e viu velhos homens dormindo debaixo dela, até que ouviu uma voz ao lado: “Posso acompanhá-lo?”, era um dos que estava debaixo da ponte, mas agora estava ao seu lado. Após tanto tempo recebendo a caminha do Homem, alguns descalços, outros com sandálias, a ponte mantinha-se imutável, o único objeto imutável. Ali, iam-se dois homens, lado a lado; parece que no fim, todos seguem a mesma direção.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que tenham interpretações diversas e que tenha acrescentado algo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Ponte Para Lugar Nenhum" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.