Show me Now escrita por Sereny Kyle


Capítulo 1
one-shot


Notas iniciais do capítulo

essa é a 31ª fanfic da série. A anterior se chama "Mr. Deja Vu"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/646055/chapter/1

Novembro tinha começado tão gelado naquele ano que eu quase não sentia mais meus dedos no teclado do computador no final do dia. Mas parecia que os fins de ano naquela gravadora eram agitados como um ano inteiro e eu não tinha tempo nem mesmo de reclamar.

Desde que eu comecei a trabalhar na P.S. Company eu percebi que aquilo era mais uma prova de resistência do que um passeio por Tokyo, não que eu me importasse de ter de arregaçar as mangas e pegar no pesado... Era admirável como aqueles cinco músicos agüentavam tudo com um sorriso no rosto... O mesmo sorriso de satisfação...

Todos... Em especial o líder deles... O baterista de sorriso de covinhas que arrancava o fôlego das fãs sem nem se esforçar... Só ficando sem jeito... O moreno que arrancava o ar dos meus pulmões quando sussurrava meu nome ao pé do meu ouvido ou beijava meu pescoço...

O moreno que, naquele exato momento, era a última pessoa que eu queria encontrar!

Naquele dia, eu tinha evitado encontrar com Yutaka o máximo que pude porque eu acabaria deixando minhas emoções avançarem no meu profissionalismo e eu acabaria fazendo uma cena de namorada ciumenta não apenas imprópria para o ambiente de trabalho como inadequada para a sociedade japonesa e para a namorada de um baterista de uma banda tão famosa e popular... Era melhor evitar situações em que meu sangue brasileiro fervesse...

Antes mesmo de o dia começar, meu namorado recebeu várias mensagens no celular de uma mulher chamada Shion que o chamava por Yutaka e não por Kai... Aquilo tinha realmente me desestabilizado e eu me surpreendi ao ficar tão enciumada...

A única vez que nos vimos naquele dia inteiro foi quando ele apareceu em minha sala me perguntando se eu já estava pronta para ir embora e inventei uma desculpa para ficar além do horário em que ele foi embora para nosso apartamento.

Eu não sentia ciúmes das fãs que gritavam descabeladas pelo Kai-san, o lindo baterista do the GazettE de sorriso de covinhas... Elas viam o sorriso fofo e o músico dedicado... Eu via o homem que cairia na cama exausto no final da noite, que me abraçaria bem apertado pra dormir... Eu sentia ciúmes de uma mulher desconhecida via atrás do músico o homem que eu via... O meu homem!

- Mari-chan? Ainda aqui? – Sereny apareceu na porta de minha sala e eu encarei sua surpresa tentando sorrir. – Pensei que o Yuk-chan já tinha ido embora há um tempão...

- Ele foi... – eu respondi, hesitante. – Eu ainda tinha... Umas coisas pra terminar...

Ela me olhou desconfiada. É claro que saberia que tinha alguma coisa errada... Como assistente pessoal da banda era trabalho dela saber quando as coisas não estão bem...

- Vem! A gente te dá carona pra casa! – seu sorriso ingênuo me fez rir e me levantar para seguir com ela.

- Nossa... Que horas são? Se eu estou saindo no mesmo horário que o casal inabalável já deve ser bem tarde, né? Que horror! – brinquei e ela me olhou ofendida.

- Estamos saindo mais cedo do que de costume, se precisa mesmo saber... – ouvimos a voz grave do guitarrista principal do the GazettE às nossas costas.

- Um dia excepcional? – me virei para ele e o vi erguer as sobrancelhas e enfias as mãos nos bolsos para no acompanhar pelo corredor.

- O que ainda fazia aqui? – ele perguntou e vi em seu rosto a mesma expressão que passou pelo rosto de Sereny anteriormente. Era engraçado como as pessoas ficavam parecidas com a convivência, apesar de que eles já fossem parecidos o suficiente antes mesmo de se conhecerem...

Nós três andávamos pelo estacionamento quase vazio que ficava embaixo do prédio.

- Kouyou... Já ouviu falar de uma mulher chamada Shion? – eu perguntei de repente, não conseguindo conter a pergunta que me perturbara o dia todo e vi em sua expressão a resposta que eu temia.

- Hã? Quem é Shion? – Sereny perguntou, sem entender e ele consertou a confissão que eu vira em seu rosto imediatamente.

- Certo... Entendi... – eu disse, sentindo um vazio imenso e gelado comendo minha alma e minha felicidade como um agouro.

- Como assim, entendeu? Nunca ouvi falar dessa mulher! – ele se apressou em falar, mas o que quer que fosse que estivesse tentando esconder com aquela mentira, já era tarde demais...

Sereny fechou a cara emburrada e cobriu o espaço que nos separava do carro pisando duro e entrou sem dizer mais nenhuma palavra. Eu sentiria pena de Kouyou naquela situação e até tentaria ajuda-lo, se ele não estivesse acobertando Yutaka e aquela tal de Shion...

Fui o caminho todo em silêncio, mal ouvindo as tentativas do guitarrista de fazer a namorada desmanchar a cara emburrada e falar com ele... Nada mais importava...

Claro que eu tinha sido bem honesta comigo mesma desde o início... Mais do que o moreno, que sempre fazia declarações de amor cheias de afeto, com certeza... Eu sabia que as chances de um relacionamento entre um japonês e uma ocidental tinha pouca chance de dar certo, ainda mais se ele fosse músico! Mas, por mais que eu tivesse deixado isso sempre muito claro diante dos meus olhos, eu tinha acabado me afeiçoando muito com a imagem do futuro que ele tinha pintado para mim com suas palavras sempre tão doces e carinhosas... Não podia negar que ele era irresistivelmente um sonho! Um sonho verdadeiramente irresistível...

Desci do carro e me despedi do casal com monossílabos quase mudos e me dirigi pra entrada do prédio em que morava... Eu gostava tanto daquele lugar... Seria difícil sair para procurar outro pra morar... Mas era o certo... Aquele era o apartamento de Yutaka e não meu... Aquele era o país de Yutaka... E eu sempre fui muito boa em sair da vida dos outros e sumir...

Demorei mais do que de costume para chegar ao elevador... Por vários minutos pensei na possibilidade de subir pelas escadas para o nosso andar, para me dar tempo pra pensar, pra me preparar para ouvir o que eu sabia que teria de ouvir... Shion era o nome de uma japonesa, não era?

Mas quase que ao mesmo tempo em que essa ideia me passou pela cabeça, eu a rejeitei... Quando se está sufocando, você busca rápido pelo ar, não prende mais a respiração... Quanto mais rápido acabasse, mais rápido a dor iria embora... Não iria?

Cheguei à porta do apartamento talvez depois de uns vinte minutos de ter sido deixada no prédio pelo Takashima e ainda não tinha forças pra tirar minha chave do bolso e encarar a realidade. Eu estava evitando ao máximo, prolongando meu caminho. Girei a chave na fechadura e sussurrei, segurando o choro.

- Tadaima... – ouvi passos deslizando pelo soalho de madeira polida que vinham apressados até mim e meu coração desacelerou.

- Yokatta! – a expressão aliviada dele só fez pesar ainda mais em mim aquela dor. Até aquele momento, eu sentia a perda das sensações daquela vida, mas nada me doeria tanto quanto perder Yutaka...

- Gomen... Não pensei que eu fosse demorar tanto... – disse, porém minha voz não agüentava frases e pensamentos compridos como aquele e falhou miseravelmente no final.

- Estava querendo me dar uma lição por todas as vezes que eu fiquei até esse horário na gravadora? – ele brincou e eu não consegui suportar mais olhá-lo.

- Claro que não – abaixei meu rosto e caminhei para onde ele estava, sem parar ao seu lado.

Fui para o quarto, mas não comecei a me despir. Senti que ele tinha me seguido de perto, talvez sem perceber a minha apatia.

- O Gran Finale parece que promete grandes surpresas, não é? – eu disse quebrando o silêncio que pairava no ar. – Ruki-san parece estar cheio de ideias, então não quero... Ficar pra trás...

- Nada escapa de você não é? – ele deu risada, encostando no armário charmosamente e eu desviei os olhos. – Nem mesmo sobre a Shion.

Prendi a respiração quando ele tocou no nome dela.

- Mas por que perguntou ao Kouyou e não para mim? – ele perguntou, parecendo magoado e eu não consegui lhe responder. – Ficou constrangida de perguntar diretamente para o suspeito?

- Eu testei... – disse hesitante. – Tinha certeza de que Kouyou daria um jeito de te avisar logo. Por isso testei sua reação – ele me encarou surpreso. – Se você está me contando tudo sem esconder... É porque agora não há mais nada entre vocês dois, não é?

- Realmente você é muito esperta...

- Quer dizer que você realmente tiveram uma relação?! – Porco!

- Mas isso foi antes de começarmos a sair – ele se apressou em dizer. – Meu lema é nunca trair uma namorada.

- Mas continua falando com ela! Não adianta falar de “lema”. Além disso, Yutaka...

- Não se preocupe. O fã-clube também vai parar de funcionar. Era isso que estávamos conversando... Não vamos mais nos encontrar.

Eu fiquei atônita, tentando decidir se cavava um buraco no chão pra me enterrar antes ou depois de me desculpar demoradamente por tirar conclusões precipitadas. Yutaka riu e se jogou em nossa cama.

- Desculpe – eu disse quase sem conseguir respirar direito. Eu não sabia dizer se a vergonha conseguia ser maior do que o alívio... Só de pensar que ele poderia escolher outra mulher ao invés de mim... Até aquele momento, eu não tinha ideia de como eu me sentia em relação a ele... Como eu não queria dividi-lo com ninguém mais...

- Não precisa se desculpar – ele sorriu seu lindo sorriso de covinhas, mas eu vi alguma coisa diferente daquela vez... Como se aquela situação toda o tivesse divertido e transformado tanto quanto a mim. – Melhor falar tudo que tiver que falar, não acha?

Eu me sentei ao seu lado na cama e o encarei demoradamente nos olhos castanhos, buscando fôlego pra dizer alguma coisa e não encontrando as palavras certas. Ele deu risada e pressionou meus lábios antes que eu começasse.

- Você parece ter muito a dizer... Mas eu confesso que hoje estou exausto. Vou dormir. Você pode me dar sermão amanhã... – senti vontade de gargalhar.

- Certo... Oyasumi – contive minha risada e ele deitou sua cabeça em meu colo. – Você vai dormir assim?

- Que é que tem? – ele respondeu com simplicidade, se ajeitando. – Eu me sinto mais à vontade desse jeito...

Eu sorri, sentindo meu coração bater mais forte e afagando seus cabelos.

- Sem trocar de roupa? Escovou seus dentes? Você é mesmo um desleixado, Uke Yutaka...

- Gomenasai... – ele disse rindo e eu me inclinei para unir nossos lábios. Aquele gesto me mostrava mais do que qualquer outro poderia ver... O beijo de Yutaka me mostrava que minha vida estava agora presa a dele de verdade...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

mereço reviews??


a próxima fanfic da série se chama "When You're Here"



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Show me Now" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.