Lua Nova do Eduardo escrita por AmandaC


Capítulo 12
Amigos




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Foi simples esconder as motos – era só deixá-las na garagem de Julia. Ninguém ia ali além dela.

Juro que senti algo estranho ao ver Julia habilmente começar a desmontar as motos.

Enquanto isso conversávamos. Como nos últimos meses minha vida foi um fiasco, a única que tinha coisas a falar era ela. E me contou de seus melhores amigos: Emerson e Quimberli.

Percebi que ela gostava muito deles.

- É. Eles são meus amigos há muito tempo. – comentou, animada, enquanto remexia na moto.

Nesse momento, alguém chamou por Julia.

- É a sua mãe? – me ergui, pronto para esconder as motos.

Julia revirou os olhos.

- Não. São meus amigos. – resmungou.

Eu ri.

- Falando no diabo...

- O capeta aparece. – ela concluiu a frase e rimos juntos, para minha admiração.

Emerson e Quimberli entraram na garagem mas pararam assim que me viram rindo com a Julia. Quimberli olhava para mim e para a amiga, tentando entender a cena. Emerson ficava me olhando, um sorriso malicioso em seu rosto.

Perguntei-me se eu era assim. Já não lembrava mais.

Emerson tinha os cabelos negros e curtos, Quimberli os tinha até os ombros, amarrados num firme rabo de cavalo, suas peles douradas eram perfeitas.

- Oi pessoal. – Julia cumprimentou, desanimada.

- Ei, Ju. – Quimberli lançou um olhar para mim.

- Oi gente. – cumprimentei, rindo das expressões deles.

- Ei, Quimberli, Emerson, esse e meu amigo Eduardo. – Julia apresentou.

- O filho da Renata? – eles me analisaram.

- Sim. – apertei a mão de Emerson e depois de Quimberli.

- Então, o que vocês estão fazendo? – Quimberli olhou para Julia e acenou para mim.

- Eduardo e eu vamos concertar essas motos. – Julia comentou, fiquei feliz que tivesse me colocado no meio, embora eu não fizesse nada.

Os dois voltaram suas atenções para a moto. Começaram a falar sobre ela e até a tal Quimberli parecia acompanhar alguma coisa.

Mas eu não me sentia mal. O fantasma de algo dizia que eu devia sentir.

Depois de algum tempo me levantei para ir embora.

- Já? – Julia parecia triste.

- Não quero preocupar a Renata. – mentira. Não queria que ela viesse ali. – Tchau. E foi um prazer conhecê-los. – acenei para os colegas dela.

- Quando você volta? – perguntou, ansiosa demais.

- Pode ser amanha? – seus amigos trocaram olhares maliciosos.

- Claro. Até amanhã.

Enquanto saia escutei eles discutindo.

- Uh, Ju. – Emerson provocou.

- Calado. Não quero nenhum de vocês aqui amanhã, entenderam? – Julia ameaçou.

- Hm, sei sei. – Quimberli continuou provocando.

Depois disso nada mais escutei, e me descobri rindo sozinho enquanto caminhava para a caminhonete.

Foi uma surpresa me descobrir sorrindo, mas achei que aquilo era muito bom.

Cheguei em casa antes de Renata, por um milagre, fiquei na sala com a TV ligada, embora não lhe desse a atenção. Ela se surpreendeu ao me encontrar ali.

- Oi, bebê. Como você está?

- Ótimo. – percebi que isso a deixou mais surpresa ainda.

- Se divertiu com a Julia? – ela estava me observando muito.

- Sim. Bastante. – comentei.

- E o que vocês fizeram? – ela estava cautelosa.

Foi minha vez de ser cauteloso.

- Fiquei observando ela montar carros em sua garagem. Quem sabe não aprendo um pouco. – era uma meia verdade. Demais até para mim.

- Que ótimo. Está com fome? – ela foi para a cozinha, preparar nossa janta.

- Muita.

Protelei ao máximo que pude o momento de voltar para meu quarto. De todos os cômodos da casa, aquele era o pior. Mesmo que eu estivesse razoavelmente bem, eu sabia que isso não era uma melhora. Apenas um provável efeito de minha amiga Julia.

Deitei na cama, esperando ser assolado pelo pesadelo. Confesso que até tive medo e raiva – queria que começasse logo para acabar logo. Fechei os olhos com força e... acordei na manhã seguinte.

No café da manhã, Renata me perguntou o que planejava fazer.

- Vou encontrar a Julia.

Ela parecia muito feliz com minha resposta.

- Quero dizer, se isso não incomodá-la. – provoquei, podia ver que era totalmente o contrário.

- Não, que isso. Vou me reunir com minhas amigas. Estarei ocupada o dia todo. – ela comentou.

- Convide a Daiane para ir junto. – propus.

- É uma ótima ideia.

Assim que cheguei na casa da Julia, ela veio ao meu encontro com um guarda chuva – para variar estava chovendo.

- Renata ligou avisando que estava vindo. – contou ela. – Ótima ideia chamar minha mãe para ir junto. Ela levou meu pai também. – Julia piscou para mim.

- Melhor ainda. – sorri para ela.

Eu estava tão animado, tão espontâneo, tão vivo... Aquilo era muito estranho.

- E então minha Mecânica, o que vamos fazer?

Julia já havia desmontado as motos e feito uma listinha do que iríamos precisar. Primeiro passamos num ferro velho, a procura de algo que pudesse ser útil. Uma peça em especial fez Julia dar saltinhos – e eu não tinha nem ideia do que era. No geral, foi bem divertido.

Depois passamos numa loja e compramos o resto que faltou. Eu fui irredutível quanto a pagar pelos gastos – afinal, a moto era minha.

O bom de passar o dia com a Julia, era que ela não me olhava como um maluco deprimido, ou ficasse esperando que eu fosse surtar. Ela era normal comigo e sempre carregava uma aura própria de felicidade.

Como se fosse o sol. Meu sol.

Quando voltamos para sua casa, eu estava me divertindo muito. Eu não tinha esquecido meu plano original – eu ainda iria trapacear. Mas me divertir enquanto isso parecia um bônus maior do que eu merecia.

 Descarregamos nossas compras e Julia se pôs logo a trabalhar. Tempo depois, alguém me chamou. Estava escuro e eu nem tinha notado.

- Eduardo? – era minha mãe.

- Droga! – resmunguei. – Já vou. – respondi, ansioso.

Julia sorriu para mim e apagou a luz, no escuro fiquei desnorteado. Julia pegou minha mão e me guiou para fora de casa. Renata estava na varanda, nos esperando. Daiane junto com ela.

- Oi mãe. – dissemos juntos e acabamos rindo.

Percebi que Renata me observava com a Julia e parecia muito feliz com o que via.

- Nós já vamos? – soltei a mão dela, disfarçadamente.

- Que isso. Vocês ficam para a janta. – Daiane comentou.

Conosco ainda se reuniram Harry e Suelen, vizinhos e também amigos de minha mãe e seus dois filhos, Sara e Léo.

E eu me diverti. Me diverti tanto e de um modo que eu achei que nunca mais fosse possível. Era muito, muito estranho, mas eu não queria ir embora.

Ali não havia lembranças tristes.


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