Acordei com o som do despertador, estiquei meu braço e desliguei o aparelho. Levantei-me da cama com relutância, meus olhos estavam pesados por conta do sono. Quantas horas eu havia dormido essa noite? Duas, três?

Tomei banho e desci para tomar café tentando não pensar no que hoje significava para mim, mas era impossível não me lembrar que Demi me deixaria. Ela conseguiu vaga em uma faculdade na Flórida e estava partindo para cursar arquitetura, seu sonho desde criança. Não é que eu não queria que ela vá tornar seu maior sonho realidade, só não é fácil para mim ficar longe do amor da minha vida. Eu mal consigo ficar longe dela por um dia, imagina a milhares de quilômetros durante anos.

Eu não me via longe de Demi, só a ideia de perde-la abria um enorme buraco em meu peito. Limpei a lágrima solitária que escorreu pelo meu rosto. Seja forte, Selena.

Fiz minhas torradas com o máximo de concentração possível, estava disposta a fazer qualquer coisa para não pensar em como seria a nossa despedida. Logo que comi as torradas peguei o carro da minha mãe e fiz o trajeto até o aeroporto. Eu odiava não ter um carro próprio. Fala sério, o que adianta ter habilitação e não ter um carro? Minha mãe insistia em dizer que era perigoso ter um carro e blá blá bá, mas eu já estava cansada de ter que lhe pedir o veículo sempre que fosse sair.

O avião partiria às 9:00 horas, meu relógio de pulso marcava 7:42. Teria que me apressar se quisesse passar algum tempo com minha namorada. Por sorte o tráfego estava tranquilo, então não demorou muito para que chegasse ao aeroporto. Tive uma grande surpresa ao ver quem me esperava no local. Mal estacionei o carro e ela veio correndo me receber.

Demi estava linda como sempre e um belo sorriso estava espalhado pelo rosto. Assim que saí do carro ela me abraçou forte e em seguida me deu um beijo, lento e demorado, senti arrepios assim que os lábios macios tocaram os meus. Demi terminou o beijo com selinhos e assim que nos separamos ela passou a analisar meu rosto.

-Você me parece cansada, dormiu bem? –Perguntou.

Neguei com a cabeça.

-Eu também não consegui dormir direito.

Antes que eu pudesse abrir a boca para lhe dizer as frases que eu tanto havia ensaiado em minha mente senti um par de braços abraçando minha cintura com força.

-Sel, você veio! – Maddie exclamou.

-Claro que vim, não poderia deixar Demi ir embora sem me despedir.

-Convence ela a ficar, Sel. Não quero que a minha irmã vá embora. –Pediu com lágrimas nos olhos.

Maddie sempre teve a capacidade de conseguir o que queria, bastava fazer a famosa cena “gato de botas”. Ela é muito fofa e quando faz uma carinha triste com os olhinhos brilhando como se fosse chorar fica difícil não ceder aos seus caprichos. No entanto isso não era mimo de criança, assim como eu, ela estava sofrendo de verdade com a partida de Demi.

Engoli o choro pela centésima vez essa manhã. Essa despedida será mais difícil do que esperava. Me ajoelhei com a finalidade de ficar da sua altura, tomei fôlego e lhe falei o mesmo que vinha repetindo a mim mesma nos últimos dias.

-Infelizmente não há nada que eu possa fazer, Maddie. Há uma fase em nossas vidas que as pessoas vão embora, e temos que ser fortes para lidar com isso, ok?

Ela assentiu e me abraçou forte, deixando as lágrimas molharem meus ombros. Olhei para Demi que estava limpando o rosto com a mão. “Eu te amo” Sussurrou. “Eu te amo muito mais” Sussurrei de volta.

Ouvi passos apressados em nossa direção, não precisei me virar para saber de quem se tratava, os reconhecia sempre.

-Hey! Vamos logo pro saguão antes que mamãe venha aqui e puxe cada uma pela orelha. –Dallas disse zangada.

-Oi pra você também, Dallas. –Fingi irritação.

-Desculpa não ter me cumprimentado, Sel. –Se explicou. -Mas aquela mulher tá me dando nos nervos. Não para de chorar um minuto e quer passar cada segundo restante perto de Demi.

Demi revirou os olhos, já estava acostumada com as criancices da irmã e apenas estendeu o braço para mim, segurei sua mão rapidamente e fomos procurar sua mãe. Eu entendia o que Dianna estava sentindo, também queria passar cada segundo perto de Demi.

Mal conseguíamos caminhar entre a multidão, o aeroporto estava completamente lotado. Quando finalmente chegamos até Dianna, fui recebida calorosamente e tive que aturar os olhares que Dallas me lançava.

Não que Dallas me odeie, ela apenas quer ter toda a atenção de sua mãe para ela. Não importa a circunstância, mesmo que a irmã esteja partindo e demore mais de um ano até se encontrarem de novo.

Olhei através da janela do aeroporto, o céu estava num tom cinza deprimente, refletindo meu estado de ânimo.

-Eu tenho uma coisa pra você. –Demi sussurrou ao meu ouvido, me pegando de surpresa.

Não pude deixar de notar o volume no bolso de seu moletom, tinha quase certeza que a tal “coisa” estava ali.

Ela tornou segurar minha mão e me guiou até um local mais afastado, minha curiosidade aumentava a cada segundo. Demi sempre soube surpreender pessoas, então se ela lhe der algum presente tenha certeza que você jamais se esquecerá daquilo. Ela torna até coisa mais simples em algo mágico.

- Só quero que você saiba que sempre estarei com você, por mais que estejamos longe uma da outra. –Falou rapidamente, ficando de frente para mim. E sem esperar por uma resposta pegou o pequeno embrulho de seu bolso e me entregou. –Abra. –Pediu.

Desfiz o embrulho e abri a caixa, dentro estavam duas alianças. Levei minha mão a boca, mal podia acreditar nisso.

-É de compromisso. –Explicou e pegou uma das alianças. –Quero que se lembre que sempre serei sua, não importa a distância. - Pensei que a colocaria em meu dedo, mas ela colocou a aliança em um ângulo que dava pra ver a pequena frase escrita em seu interior: My love is like a star.

Seus olhos marejaram, mas ela não chorou. Peguei a outra aliança com a mão trêmula, lágrimas caíam livremente pelo meu rosto.

-Lembra? –Perguntou, recordando a música que compôs. –Sabe que eu compus essa música pensando em você. –Assenti, mesmo que ela não tivesse feito uma pergunta. –Quando chegar em casa olhe a segunda gaveta da sua escrivaninha, nela tem um CD no qual eu gravei essa e outras músicas para que você ouça quando sempre sentir minha falta.

Senti um aperto no peito. Não sabia se teria coragem de ouvir um CD gravado por Demi, tê-la distante de mim já era torturante o suficiente. Abri a boca algumas vezes, no entanto demorou para que o som finalmente saísse.

-Eu nunca pensei que você faria algo desse tipo, mas a cada dia você me surpreende mais, Dem. Eu...eu... –Merda, Selena, é só falar. Diga a ela tudo o que você queria ter dito esse tempo todo e não teve coragem. –Eu te amo. –Disse com a voz trêmula. - Mais que tudo, mais que a mim mesma. Eu jamais encontrarei alguém como você, alguém me entenda e me complete tão bem. Quando eu te vi pela primeira vez tive certeza de que já estava apaixonada por você, depois do nosso primeiro beijo sabia que você era a mulher da minha vida. E agora, tendo que viver longe de você o que eu mais quero é ir contigo, mesmo que não seja possível. Você não faz ideia do quanto te ter por perto me faz bem, você tem luz própria, Dem. Qualquer ambiente passa de preto e branco à colorido quando você chega e assim será minha vida sem você ao meu lado, sem cor, sem luz, totalmente sem ânimo. Eu sentirei muito a sua falta, provavelmente mais do que você sentirá de mim.

Demi colocou o dedo sob meus lábios.

-Shh, eu que sentirei mais saudades de você, jamais te esquecerei. Todas as músicas que escrevi, cada verso, cada palavra nunca serão suficientes para mostrar o quanto eu te amo. Sempre serei sua, Sel. Não importa quanto tempo a gente passe longe uma da outra. -Falou enquanto colocava a aliança em meu dedo. Limpei as lágrimas que insistiam em cair do meu rosto, em seguida repeti seu gesto.

Demi me puxou lentamente para si e sem importar com mais nada nos beijamos. No início o beijo foi lento e calmo, apenas queríamos demonstrar o amor pela outra, mas logo o beijo se tornou ardente. Sua língua invadiu minha boca e eu não mostrei resistência, enlacei seu pescoço a puxando para cada vez mais perto, intensificando nosso contato. Beijei os lábios macios com vontade, aproveitando cada momento daquele que pudesse ser, talvez, o nosso último beijo.

Um voo foi anunciado e eu presumi ser o de Demi pois seu aperto se tornou possessivo e o beijo mais intenso –se é que era possível. Eu não me importava com quem estivesse vendo aquela cena, no momento a única coisa que me importava estava em meus braços e prestes a partir.

Uma segunda chamada foi feita e nos separamos com leves selinhos.

-Isso não é o fim do mundo. –Dallas disse. Eu não havia percebido, mas a família de Demi estava ao nosso lado. Espero que alguém tenha tapado os olhos da Maddie para que ela não tivesse visto o beijo.

Dei espaço para que Demi pudesse se despedir de sua família, o que demorou certo tempo pois Dianna não queria larga-la. Nenhuma de nós conseguia parar de chorar. Maddie também não queria largar Demi, o que fez a despedida ainda mais comovente.

-Eles estão fazendo as chamadas muito rápido. –Dallas resmungou. –Geralmente o intervalo é maior.

-Acho que querem sair antes que as nuvens atrapalhem mais a visão dos pilotos. –Dianna explicou e limpou algumas lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

Quase que comprovando a afirmação de Dallas, a última chamada foi feita e tivemos que correr para que Demi não perdesse o voo. Antes de atravessar o portão de embarque ela me beijou mais uma vez.

-Filha. –Dianna pôs a mão no ombro de Demi. –Você terá que ir agora.

Senti aquela dor no peito agora tão conhecida por mim e um forte aperto na garganta. Chegara a hora, eu teria que deixa-la partir, mesmo que isso me destruísse por dentro.

-Eu te amo. –Sussurrei.

-Eu te amo muito mais, amor. –Sussurrou de volta.

Demi se afastou lenta e relutante, quando nossas mãos se separaram ela correu para que não perdesse o voo.

-ESPERE POR MIM, SELENA! –Foi a última coisa que disse antes de sumir através do portão de embarque e levar minha vontade de viver consigo.