A nuvem cinzenta da ressaca pairava sobre a minha cabeça, assim como mais uma centena de nuvens cinzentas de uma enorme tempestade que se aproximava. Além da enorme dor, na minha cabeça haviam duas perguntas.

Pergunta número 1: Como eu consegui dormir em uma boia de piscina?

Pergunta número 2: Como eu não caí na água?

Talvez seja como diz aquele velho ditado “Deus protege os bêbados”. Isso não é um velho ditado? Bem, se não é um velho ditado, então é um novo ditado criado por euzinho. Enfim, eu tinha que encontrar um jeito de sair da piscina e arranjar algum lugar que eu pudesse me deitar e ter uma maravilhosa manhã de sono.

Comecei a remar como se não houvesse amanhã. A parte de chegar na borda da piscina foi mais fácil que tirar doce de criança. Foi na parte de sair da piscina que tudo deu errado. Eu acabei me desequilibrando e caindo na água mais gelada do universo. Eu tive medo que os meus testículos sumissem e nunca mais aparecessem.

— O nome disso é Carma. – Theo disse sério.

Ele estava parado na beira da piscina usando as mesmas roupas da noite passada, ele segurava uma xícara de café em cada uma das mãos e sua expressão era a mesma de sempre que eu faço merda. Ou seja, eu havia feito algo de muito errado e além disso eu ganharia uma bela lição de moral de brinde.

— Você podia ter me ajudado. – Reclamei enquanto tentava sair com certa dificuldade da piscina. – O que eu fiz?

Ele me entregou uma das xícaras.

— Bem, você falou que eu queimo a rosca, provavelmente deu uns beijos ardentes no Kyle, se portou como uma prostituta...

— Desculpe. – Sorri com cara de santo.

Cara de santo. Uma das coisas que eu tenho e sei aproveitar. As mães me amam, eu sou pequeno, tenho um sorriso cativante e sou especialmente fofo. Isso por fora. Eu levo as pessoas para o mal caminho depois eu ergo as sobrancelhas, faço um pequeno biquinho e digo “Desculpe” com um tom de voz doce e simpático. Não faço a mínima ideia de como as pessoas caem nessa, mas elas caem e eu me aproveito. Se a vida te dá limões pegue a tequila e o sal.

— Maxwell Ross, eu não acredito que você está tentando usar esse truque comigo. – Theo abriu um sorriso, mas se lembrou que estava com raiva e fechou a cara alguns segundos depois. – Vá trocar de roupa, a mãe do Leo chega em algumas horas, por favor, se comporte.

— Max Deluxe?

— Max Deluxe.

***

De certa forma nós criamos uma paranoia quando vamos tomar banho na casa dos outros. Sempre achamos que tem alguém nos espiando ou que o banho está muito demorado, coisas do tipo. Então eu sempre tento tomar um banho rápido enquanto eu tento olhar para todos os cantos possíveis. Porém, a vida é cheia de exceções, então acabei não me precavendo tanto dessa vez. Não sei se isso foi a coisa certa a se fazer ou se foi um tremendo erro.

— Coraçãozinho fofo. – Alguém disse.

Meu corpo deve ter ficado sete vezes mais frio do quando eu caí na piscina. Quando eu me virei me deparei com Kyle me olhando com a maior cara de safado, era meio perturbador porque junto com o olhar safado havia um pouco de inocência.

— Que diabos você está fazendo aqui? – Perguntei me cobrindo com a toalha.

— Eu vim ver o que eu perdi ontem. – Ele respondeu com a maior cara de pau.

— Você pode sair? Eu estou um pouco constrangido. – Falei corando. – Desculpe por ontem, eu não lembro de muita coisa, mas se eu fiz algo de errado.

— Puta que me pariu. – Kyle disse entre os dentes.

— O que foi?

— Estramos trancados. – Ele murmurou. – A porta está emperrada ou a maçaneta quebrou, eu não sei, só não consigo abrir a porta.

— Theo vai achar que nós estávamos transando. – Falei assuntado. – Theo vai ficar puto, eu odeio deixar ele puto, ele já está puto e eu estou fodido.

Kyle me olhou assustado, então começou a rir. Por um segundo eu achei que a história da maçaneta era mentira, mas ele não abriu a porta e saiu.

— Por que o Theo vai achar que nós transamos? – Ele perguntou.

— Eu estou pelado no banho e você entrou aqui. – Desliguei o chuveiro. – Você costuma entrar no banheiro para bater um papo com os seus amigos quando eles estão no banho?

— Se for o Leo, ou o Miles ou o Rato, sim. – Ele deu de ombros.

— Que tipo de pervertido sexual você é?

O moreno não se deu o trabalho de me responder, apenas pegou o celular e começou a digitar, alguns segundos depois ele murmurou alguma muito baixo e eu não pude ouvir, mais alguns segundos sendo ignorado e a maçaneta começou a se mexer.

— Bem. – A voz era de Miles. – A porta não está abrindo, acho que os dois vão ter que ficar aí por mais algum tempo.

— Droga. – Kyle murmurou.

— Kyle, você tem que parar de entrar no banheiro para conversar com as pessoas enquanto elas tomam banho. – A voz de Miles estava abafada. – Se eu não te conhecesse acharia que vocês estavam transando.

— Viu? – Kyle olhou para mim. – Você não precisava ter se vestido.

— Cale a boca seu pervertido.

— Ok, o Max não quer que o Theo saiba que eu fiquei trancado com ele no banheiro, então manda o Leo ir passear com o Theo e tira a gente daqui. – Kyle falou.

— Acha que eu sou a sua empregada? – Miles rebateu do outro lado da porta.

— Acho que eu poderia contar para a sua mãe que você fez seu pai criar uma poupança para a sua faculdade e você vai usar o dinheiro para se mandar daqui. – Kyle já estava impaciente.

— Quando você ficou tão malvado?

— Miles!

— Tudo bem.

— Então. – Kyle se virou para mim. – Quer conversar ou a gente podia se pegar um pouco, mas só se você quiser.

— Tudo bem. – Disse dando de ombros.