– Muito obrigada, senhor Inácio! Tchau, Ludmila! Tenham um bom dia!

Fechei a porta do carro, entrando na minha casa em seguida. O automóvel do meu pai ainda não estava na garagem, então ele provavelmente não tinha chegado. Ótimo!

– Oi, filha! Veio de ônibus? - perguntou minha mãe, que estava mais arrumada que o normal, lavando um pano na pia da cozinha.

– Oi, mamãe. Uma amiga me deu carona.

– Belinda, você sabe que é falta de educação ficar aceitando carona por aí! E precisa ter cuidado, também. Ninguém conhece ninguém.

– Peraí, peraí, pera lá... quem é você e o que fez com a minha mãe?

Ela me olhou surpresa, e soltou levemente o pano na máquina de lavar.

– Como assim, querida?

– Você nunca me trata boazinha desse jeito! Não quando temos visita! Mãe, por acaso o...

– Belinda, o hóspede...

Meus olhos se arregalaram e corri em direção ao meu quarto.

– FILHA, NÃO! - gritou a mamãe, dando rápidos passos até mim.

Abri a porta do meu querido cômodo e vi que ele se transformou no que eu temia: no quarto de hóspedes! Ouvi o som do chuveiro ligado no meu banheiro. Dei um passo para fora do dormitório e olhei seriamente para minha mãe.

– Meu quarto! Meu banheiro! O que aconteceu com meus móveis? Só tem minha cama aí dentro!!!

– Belinda, querida... você precisa entender! O estrangeiro...

– QUEM ESTÁ TOMANDO BANHO NO MEU BANHEIRO???

Vi que já havia irritado minha mãe, pois ela liberou um grave tom de voz.

– Ouça aqui, mocinha! Se continuar a falar desse modo comigo, vai ficar de castigo! Uma semana ou mais sem internet, celular, piscina... sem tudo o que você gosta, para aprender.

Meus olhos se encheram de lágrimas.

– QUE CASTIGO PIOR EU PODERIA TER?? ME DIZ, MÃE! ME DIZ! - gritei, correndo até o quarto de "hóspedes", que agora seria meu por um bom tempo. Tranquei a porta e me deitei na minúscula e desconfortável cama, caindo em prantos.

O quarto era bem pequeno em relação ao meu - que agora seria do Juan -, e foi bem difícil me adaptar. Quando as lágrimas finalmente cessaram, pude ver que meus móveis estavam todos lá. Inclusive meu notebook. Mas pelo visto terei que ter cuidado para não perdê-lo, se ficar de castigo outra vez.

Ouvi várias vezes a mamãe me mandando abrir a porta, mas só o fiz porque não estava entendendo uma coisa.

– Mãe... então quer dizer que o garoto da Espanha já chegou? - indaguei, limpando as lágrimas.

– Sim. Era sobre isso que eu queria conversar, mas você não me deu chance... - disse ela, pegando um copo d'água.

– Mas... o papai me mandou uma mensagem na escola, dizendo que iria resolver uma coisa sobre o intercambista... por que ele já está aqui, afinal? E cadê o meu pai?

– Belinda, é que o vôo do Juan se atrasou. Ele deveria ter chegado às oito, mas o avião só pousou às doze.

"Bem que deveria estar voando até agora...", pensei.

Mamãe continuou:

– Seu pai o trouxe para casa, pois o Juan estava muito cansado, e voltou para o aeroporto, para falar com o pessoal da agência de intercâmbio. Não é nada de mais. Já está tudo bem agora.

– Ah...

Fiquei no canto da parede fingindo que estava olhando minhas unhas, envergonhada. No fundo, no fundo, eu até estava com vontade de dar uma espiadinha no menino. Só para ver como ele era, mesmo. Depois disso, tinha certeza de que nunca mais iria olhar pra cara dele de novo.

Até que...

– Hã... olá... - disse uma voz masculina, de um rapaz alto e branquelo saindo do meu quarto.

Senti um grande e assustador frio na barriga, de um jeito que nunca havia sentido antes.