Bestas de Mármore escrita por Filipe


Capítulo 13
Cortar e queimar, siga em frente.




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Vejo a luz logo há minha frente, ela insiste em se acender mesmo depois que alguém lhe apaga, a cada segundo ela pisca novamente. Eu fico confuso, perdido, tenho medo que ela se apague para sempre, como um raio que desce do céu, em um estrondo, como uma luz flamejante que chama toda atenção, um medo constante, mas depois vem o nada, o vazio e talvez, a chuva. Claro, cada vez que bato na tela, novamente ela escurece, como uma noite predominante que dominou nosso espaço, nossa mente e principalmente nossos corações.

Existe um motivo para o qual eu tenha tanto medo do escuro, mesmo tendo sempre me guiado na escuridão e não acreditando que forças ocultas possam me atacar, é a solidão que ele me traz, me afogo no invisível, acredito ser corajoso, mas quando se fecha os olhos para o mundo, toda definição que se têm, é o medo.

Quando se têm medo, tememos procurar algo que acabe com ele, entretanto, sempre iremos achar alguém que nos faça sentir uma sensação nova, muito longe do pânico de se afogar em milhares de paranoias diárias. Ela sabia de tudo, pegou em minha mão, estávamos lá, subindo e enfrentando juntos aquilo que eu mais temia, a altura que penetrou toda minha vida, rapidamente, sem um aviso prévio, eu estava me acalmando sem que a mesma precisasse dizer uma única palavra, senti meu coração disparar, depois se aquietou. Por aquele tempo não existia passado, sem um futuro, apenas eu e ela, juntos em uma canção que não se podia ouvir além de algo feito por dentro, meu único medo era não estarmos altos o suficiente, pois minha mente se centrava nela, onde todos os destroços e magoas se esvaíram em um tempo que não era relacionado à dor, apenas um sentimento que eu nunca consegui entender.

Se você pegar o relógio e girar seus ponteiros, não importa, o tempo continuará o mesmo, contudo, pegue seu tempo e viva com alguém, cada hora, minuto ou segundo será uma versão acelerada de um átomo inexplicável, que não se adaptou e sim se destruiu. Cada medo meu estava escrito em um pedaço de papel que ela mantinha escondido e longe de mim, eu também tinha minhas listas, sorrisos, frases momentâneas ou eternas, seus lindos olhos, o amor que eu sentia ao seu rosto e até mesmo seu silêncio, tudo girando em minha mente, formando seu nome de um modo que ninguém podia pronunciar, apenas eu e minha nova vida.

Não temia mais a solidão, pois tinha certeza que ela nunca me abandonaria em algo assim, o meu medo de uma morte próxima também se acabou, quando ela garantiu que não se esqueceria de mim, o temor que ela partisse se acabava em cada sílaba que pronunciava, eu tinha medo que ela não me amasse, mas ela garantia que me amava, sempre iria me amar, mas promessas são tão frágeis.

Eu tinha decorado o tom de sua voz, cada som que criava em uma maneira reformulada, o modo que ria, algo que não foi muito frequente nos últimos tempos, suas bochechas que ficavam rosadas sem que notasse, páginas que virava e como seu olhar podia se desviar, mas entramos em pânico quando algo que nos preenche é uma coisa que temos que esquecer, se não irá nos corroer cada vez mais, não adiantando fechar as gavetas que permanecem nossos caixões. Não existe família para um coração congelado, amigos são pessoas que vão e vêm, poucos ficam para sentar conosco e ficar assistindo as gotas da chuva caírem, se misturando com nossa lágrima, pois não são aqueles que dizem que tudo vão ficar bem, são aqueles que te fazem ficar bem, pessoas raras. Eu não quero continuar nessa estrada, não sozinho, o modo como fui largado, tudo o que eu queria é que aquilo não fosse passado, que ela não tivesse mentido ou se arrependido, o amor que existiu no passado não importa, é tudo o que é, distante e longe de ser resgatado, eu acredito no presente, mesmo que muitos neguem, a dor do agora é muito maior do que a dor que foi embora se perdendo nos números, pois a cada dia essa dor foi atualizada comigo, caminhando junto, pegando em minha mão e dizendo em meu ouvido que nada vai dar certo sem você.

A idade ou falta dela, nunca fizera doer menos, mesmo cometendo novos erros com novas pessoas que conhecerei, do que adiantam novos sinos se tocam como os antigos? O tempo passa tão devagar quando não acreditamos no amanhã, um sorriso tímido é a única coisa que pode me acelerar. Todos os medos voltaram, da altura, do futuro, do abandonado, de que seu olhar nunca mais se desvie no meu em vergonha, estar caindo sem ninguém pra me segurar, jogar a corda, me salvar, o medo que o amor seja apenas uma reação química, de partir sozinho e nunca esquecer, medo de amanhã acordar vendo que tudo aconteceu, que nada foi um pesadelo cruel, a cada dia essa esperança morre mais.

Eu tento parar de pensar nisso, pego cada memória que se traduz em uma dor inconsolável, mesmo que uma parte de mim diga que vou morrer outra continua a repetir:

– Cortar e queimar, siga em frente. – A estrada que fica a sua frente não é o suficiente, você tem medo de a seguir, então volta para sua casa sem olhar para trás, quando tudo o que tinha de fazer era cortar e queimar, ir a algum lugar, contudo, algo tão belo só será possível quando fecharmos os olhos, então mentindo a nós mesmos voltamos ao conforto que a cada dia se transforma em pedra. – Eu cansei do tormento, apenas voltarei para minha cama…

Viver sem ela é viver para sempre assim, sem mim. Minha luz está ficando cada vez mais fraca, piscando cada vez mais, até que uma hora se apague e eu fique só na escuridão, no momento que não caia nenhum raio, não tenha nenhum som, então eu tenho que acabar isso. Minhas palavras são um código que poucos podem entender. Eu tenho medo que ela se torne uma memória distante em um curto passado, enquanto tudo segue de um modo linear, sem ouvir nenhuma batida em meu coração, eu temo, eu me transformo em um covarde por vários motivos, mas existe um maior, eu tenho medo, ele se alonga e se distorce, o medo que sem ela, eu volte a ter medo.


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