Meu Psicopata de Estimação escrita por Felipe Araújo


Capítulo 3
Verdades


Notas iniciais do capítulo

Novos personagens estão surgindo, espero que gostem.



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O sol acaba de sair no céu azul sem nuvens, ainda fraco para esquentar o ar. O que faz Lucas assoprar e esfregar as mãos. Anda de um lado para outro na calçada da rua Alameda das Tulipas. Espera inquieto a vizinha que desperta sua curiosidade. Passa a mão no cabelo enumeras vezes deixando os fios para trás. Leva uma pasta de cor amarelada de baixo do braço. Lucas veste uma calça jeans azul escura, uma camisa social cor salmão com pequenas linhas azuis detalhando e um paletó preto aberto, não sabe se está vestido adequadamente para procurar emprego e indeciso se espera ou chama no portão ao lado. Observa atento o andar de poucas pessoas na rua, a coisa mais rara é ver um carro no asfalto. Talvez pelo horário, quase sete da manhã. Lucas é tirado de seu momento de impaciência pela mãe, que sai da garagem com seu irmão. Ela acena e sai rapidamente com o carro. Sua mãe ia trabalhar e deixar Patrick na escola, perguntou várias vezes se o filho mais velho gostaria de carona, entretanto o magricela quer mesmo ir com a misteriosa garota de cabelo vermelho. Seu maior desejo é conhecê-la, seu olhar para a nova vida mudou quando conheceu Ester. Agora se sente encorajado de viver na nova cidade, animado com o que o aguarda. O veículo Hyundai Hb20 vermelho da família vira a esquina e some, na mesma hora que Ester o cumprimenta.

— Oi Lucas, te deixei esperando? — Lucas vira e fica frente a garota, que veste um casaco azul de botões fechado até o seu pescoço, com uma golinha de seda branca. Saia com um tecido fino de cor claro e sapatilhas pretas. Ester está com o cabelo solto, fazendo os fios vermelhos brilhar no sol quase sem vida do inverno. Sorri discretamente e faz suas covinhas saltarem, em seu ombro uma bolsa marrom segurada pelos seus braços que se unem com os dedos entrelaçados uns nos outros. O rapaz repara até nas unhas da menina, delicadas e feitas perfeitamente com um esmalte preto. Bobo ele a cumprimenta sem saber o que fazer. Deu um passo para frente, foi selar o cumprimento com um beijo no rosto, mas Ester desvia e da sua mão para ele.

— Desculpe — sua mão encontra a dela. Lucas cora como um tomate. Sente a frieza da pele de Ester e por um segundo tem um arrepio. Fica ao lado da garota e os dois começam a andar.

— Não precisa pedir desculpas. — Consegue deixar o rapaz com mais vergonha.

— Não peguei o carro da minha mãe, porque ela foi trabalhar e levar meu irmão para escola. — Ao terminar de falar, Ester ergue as sobrancelhas e diz:

— Você tem um irmão? Ele é mais novo ou mais velho?

— Mais novo, ele tem doze anos. — Ester parece incomodada com a resposta de Lucas, e torce o lábio, — o que foi, disse algo de errado?

— Não, deixa para lá. Em questão do carro, não se preocupe, o centro é perto e vamos caminhar, adoro caminhar.

Conforme andam, Lucas conhece o bairro. Percebe que perto de sua casa, há poucos minutos, existe um parque de areá verde, com bancos, um lago de água espelhada e balanças de pneus. Uma vasta floresta de pinheiros enormes e verdes completam o visual deslumbre. Nota que a pequena cidade não é tão ruim, pelo contrário, está fazendo ele se sentir melhor, respirar um ar puro faz seus pulmões gritarem de felicidade.

Ester e Lucas conversam, trocam olhares e sorrisos. Até chegarem em uma parte movimentada de uma avenida grande e extensa. O rapaz percebe que aquela única avenida com algumas travessas é o centro da cidade. Lucas ri, e lembra como São Paulo é muito diferente, porém está satisfeito. Ester para em uma rua na frente de uma grande biblioteca e fala:

— Lucas está é a avenida principal, existem vários locais que recebem recomendações e currículos você pode dar uma volta, é aqui que trabalho. — Ester vira a cabeça para a biblioteca com duas janelas gigantescas servindo de vitrines uma porta de vidro e paredes vermelhas.

— Você trabalha na biblioteca da cidade, que legal.

— Foi um jeito que encontrei de ficar próximo dos livros.

— Ester cada vez mais me surpreendendo. Deixa eu ir agora. — Lucas sabe que Ester não aceita seu beijo na bochecha, então estende a mão, — obrigado.

— Nos vemos mais tarde, — entretanto ela desvia da mão do rapaz e beija seu rosto. Lucas não tem reação, apenas balança a cabeça positivo e dá de ombros, enquanto Ester entra em seu trabalho.

Lucas anda e para em várias lojas, comércios, mercados e pontos que recebem currículos. Não vai deixar passar nada, qualquer trabalho por agora é uma vantagem. Depois de esvaziar a pasta que está com ele, Lucas procura um lugar para comer algo. Escolhe a lanchonete do Bob. Um lugar aconchegante, de esquina com uma fachada amarela e paredes de vidro que dá para ver os clientes comendo antes mesmo de entrar. Quando pisa no lugar as pessoas o encaram, talvez por nunca ter sido visto por lá antes, ele ignora e senta em um banco alto colado ao balcão.

— Olá, o que vai querer? — Uma moça oferece o cardápio, mas sem necessidade. Olha para uma tela de preços variados sobre sua cabeça e faz seu pedido.

— Por favor, um suco de laranja natural e um sanduíche de peito de peru, sem mostarda. — A moça anota e diz que ficará pronto em alguns minutos. Lucas se acomoda no banco e joga os braços no balcão entrelaçando os dedos. Distraído não percebe uma garota ao seu lado que não para de encará-lo. Ela olha para Lucas dos pés a cabeça, e joga um sorriso para o rapaz, que percebe e disfarça. Mas volta a olhar, e não deixa de reparar na mesma. Olhos castanhos vivos e brilhantes, que faz seu cabelo louro transparecer em uma pele branca e lisa. Veste uma camisa regata branca e sobre ela um casaco de couro marrom, calça jeans e botas sem salto. A menina não demora em puxar assunto.

— Perdão, mas você é novo na cidade, certo?

— Sou sim, mudei ontem.

— Não é que eu conheça a cidade toda, mas o Bob é um lugar muito tradicional e é difícil entrar pessoas que não conhecemos. — Ela parece ser meiga, por falar com um delicioso sorriso estampado, — meu nome é Anne e o seu?

— Me chamo Lucas.

— E está morando aonde Lucas?

— É aqui no bairro mesmo, na Alameda das Tulipas. — Assim que ele fala o sorriso da doce garota desaparece e um ar de curiosidade inunda a conversa.

— Não acredito você mora lá, em que altura da Alameda?

— Bom, moro ao lado da Ester Castrinni. — Neste instante a curiosidade de Anne transforma-se em animação, ela sem dizer nada puxa o braço do rapaz tirando-o de cima do banco e o leva até uma mesa, onde senta mais quatro jovens que aparentam a mesma idade dele.

— Acho que não é uma boa ideia Anne. — Lucas murmura, e os quatro jovens que conversam alto param e o encaram. Uma garota levanta a cabeça e diz:

— Quem é ele Anne? — A menina veste uma camisa decotada e em seu pescoço, colares destacam sua pele pálida. O seu cabelo preto ondulado cai em seu ombro e a cor do mesmo mescla com seus olhos azuis cristalinos, mas um azul sombrio pela pesada maquiagem preta.

— Gente vocês não acreditam, esse é o Lucas — Anne senta em uma cadeira ao lado da menina que falara, — ele mudou-se para a rua azarada e mora do lado da Ester.

Todos da mesa ficam em silêncio e o encaram ainda mais, agora com olhos que quase o devora. Lucas tímido não sabe o que fazer, olha para o lado e tenta não encontrar o olhar dos jovens que nunca vera na vida. Mas por causa da doce menina, ele se senta junto com eles. E o interrogatório começa. Anne apresenta o pessoal.

— Essa que acabou de falar comigo é a Samantha.

— Prazer. — Educado ele dá a mão em cumprimento para a menina de olhos maquiados. Que nada diz só o observa.

— Este monstro é o Vitor. — Um rapaz alto e forte estende a mão para Lucas, seu cabelo louro mais claro que ouro quase some em sua pele branca, veste uma camisa sem estampa destacando seus músculos.

— Tudo beleza? — Vitor tem um sotaque estranho, e Lucas percebe que o rapaz é Alemão ou tem parentesco.

— Érica. — Anne apresenta uma menina negra de cabelo enrolado até os ombros. Veste um casaquinho azul e uma camisa lisa por baixo, tem um sorriso largo e bonito. Educada fala:

— Tudo bem Lucas, deixa que eu apresento meu irmão — coloca a mão sobre o ombro de um rapaz negro de cabelo em um corte alto e crespo, — esse aqui é o George meu irmão mais velho.

— Cara é verdade que mora do lado da Ester?

— Sim, qual o problema? — E o ar de mistério volta, mas é quebrado pela garçonete que leva o pedido de Lucas até ele.

— Ninguém te contou? — Samantha fala animada, e Anne balança a cabeça para ela não contar, mas Vitor completa em um tom claro.

— Ela é a menina mais estranha de Santa Monica, ninguém ousa conversar com ela. — Lucas frange a testa e levanta o lábio, vocifera largando o sanduíche no prato.

— Eu conversei com ela, e Ester é normal. — George abaixa o tom de voz e olha para trás, que faz parecer um pecado o que dirá.

— Há um ano, aconteceu uma coisa naquela casa... — Érica puxa a gola da camisa do irmão e ele se cala. Mas Lucas quer saber da história.

— Continuem eu quero saber. — Érica e Anne parecem não gostar da ideia, mas Samantha ri e termina o que George começa.

— O irmão mais velho de Ester matou os pais a machadadas, e depois se matou. Poupou apenas a vida da Ester. — Os olhos de Lucas quase saltam, e parece que não digere o que a garota do seu lado acabara de falar, e Vitor completa.

— Antes mesmo disso acontecer os pais de Ester nunca deixavam ela sair, passou a vida toda naquela casa e seu irmão que todos acreditavam estar em uma clínica por ser bipolar, na verdade morava debaixo da casa no porão estes anos todos, ai enlouqueceu e faz o que fez.

— Não pode ser, vocês estão errados, Ester e completamente normal, e conversou comigo, foi ela que me trouxe no centro da cidade e me mostrou o lugar.

— Desculpe Lucas, mas é tudo verdade. — Anne diz, e Lucas retruca.

— Se fosse verdade ela não poderia ter morado sozinha, era de menor idade na época. — E Érica dá a voz.

— Quando ocorreu o massacre, uma tia veio morar na sua casa com ela. Nos primeiros meses os vizinhos viam a velha mulher, mas depois de um tempo ela sumiu e nunca mais foi vista. Ester ficou de maior idade e passou morar sozinha legalmente.

— Essa história é terrível — Lucas afasta o sanduíche e o suco e se levanta. — Perdi a fome, vou ir nessa galera.

— Desculpe mesmo se fizemos algo errado, mas se conseguiu falar com Ester você deveria saber. — Érica parece preocupada e Anne levanta.

— Vou até a rua com você. — Lucas termina e diz

— Prazer em conhecer todos. — E os jovens se despedem. Quando Lucas da de ombros com Anne os comentários começam, ele até consegue escutar, mas não dá atenção. Os dois saem da lanchonete e o rapaz se despede de Anne.

— Vou nessa Anne.

— Espere marque meu celular, nessa cidade não tem muita coisa legal para fazer, mas nos reunimos para trocar ideias e conversas, vamos marcar de sair com a galera. Juro que a próxima conversa será mais agradável.

— Com certeza. — Lucas passa o número de seu celular para Anne. E vai embora, incomodado. Pensa em passar na biblioteca onde Ester está, mas lembra de todas as palavras das pessoas daquela mesa, e passa reto pela biblioteca.


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Notas finais do capítulo

Agora que leu, por favor comentem! Quero saber o que estão achando da história.