The Violet Hour escrita por Lelon Lancaster


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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– Onde você está me levando? – perguntei depois de cinco minutos que saímos da rua lotada do Club.

– Aonde você quiser ir. – Jake gritou para o vento ao mesmo tempo que pegou a minha mão e começou a correr. Comecei a rir e rezei para que eu não caísse por causa dos saltos e me ralasse toda.

– Jake! Jake. – gritei e parei de correr. Ele olhou para mim e percebi que ele estava ofegante. – Eu vou cair. Onde vamos?

Ele tirou um celular do bolso e procurou alguma coisa. Alguns segundos depois ele olhou para mim e deu um sorrisinho.

– Nós vamos invadir uma festa.

Jake chamou um táxi e deu algumas instruções e dez minutos depois, o motorista nos deixou em uma rua deserta. O bairro em que estávamos era industrial e antigo. Me lembrava um pouco de Liverpool. Os prédios de tijolo aparente se acumulavam na beira do rio e suas chaminés enfeitavam o céu noturno. Jake pegou a minha mão de novo e me guiou até um galpão abandonado, que eu não tinha notado pela ausência de luz.

De longe, eu podia escutar a música e podia ver as luzes que vinham de algum lugar do telhado. Algumas pessoas se acumulavam em uma porta dupla de metal, que dava entrada para o armazém, mas nenhum segurança. Nós demos a volta no prédio e procuramos por alguma porta extra. Quando estávamos quase desistindo, Jake avistou uma escada de incêndio que tinha entrada para os cinco andares.

Ele puxou uma escadinha para que subíssemos e balançou para ver se estava segura. Tirei meus sapatos e coloquei o pé no primeiro degrau. Jake esperou até que eu estivesse no primeiro andar, para subir e me ajudar a carregar os sapatos.

Nós subimos devagar e em silêncio até o último andar. Estiquei a minha cabeça para ver o que estava acontecendo e me surpreendi. O telhado era maior do que aparentava, com um pequeno parapeito, onde eu estava me apoiando. Um triângulo enorme de cimento com a chaminé estava no centro, tampando a minha visão do resto da festa, mas estava a nosso favor, porque ninguém nos veria entrar. Subi no telhado e esperei por Jake. Ele sacudiu a sujeira de sua roupa e me guiou até o outro lado da chaminé.

Cerca de cem pessoas compunham aquela festa. Algumas conversavam, outras dançavam e bebiam. No lado oposto de onde estávamos, alguém tinha montado um palco pequeno, onde uma banda desconhecida tocava alguns acordes no violão. A iluminação era promovida por lâmpadas pisca – pisca que estavam penduradas em postes grudados no parapeito e mesinhas pequenas estavam espalhadas pelo lugar.

Me virei para falar com Jake, quando eu vi. A vista da cidade não se comparava com a que eu tinha visto com Liv mais cedo. Ali era diferente. Londres estava distante, como um desejo que estivesse na minha frente, mas não pudesse ser alcançado. As luzes da madrugada brilhavam cheias de vida, como se soubessem que estávamos ali e estivessem brilhando exclusivamente para nós.

Segurei no parapeito e fechei os olhos. Senti o vento gelado batendo no meu rosto e não senti frio. O meu apartamento não de trazia a sensação de casa, nada naquele lugar trazia, mas naquele momento eu consegui acreditar que eu pertencia ali.

Abri os olhos e vi Jake me encarando. Ele me ofereceu um copo que estava na mão e eu tomei um gole do líquido branco. Engasguei assim que o líquido passou rasgando a minha garganta. Jake deu uma risadinha e bebeu um bom gole do copo dele. Ele estava mais acostumado a beber do que eu.

– Você é um ótimo arrombador de festas. – eu ri.

– Costume. – ele respondeu e eu ergui as sobrancelhas.

– Por que estamos aqui? Quero dizer, porque sair daquela festa e vim para cá?

– Porque lá quase todo mundo sabe quem eu sou e aqui estamos seguros por algum tempo. Eu conheci uma garota ontem e quero que ela me veja apenas como Jake e não como Jake Bugg.

– A garota poderia entender isso se você a avisasse.

– Mas qual é a graça de apenas falar, você tem que mostrar.

– Certo. Então me mostre, Jake, o que você veio aqui para me mostrar.

Nós comemos uma gelatina que eu suspeitava que estava batizada, dançamos um pouco e no final, nos deitamos no chão e ficamos olhando as estrelas. Estávamos um pouco bêbados, mas isso não estragou a diversão. Já passava das duas da manhã, quando Jake pegou a minha mãe e disse que queria ir para outro lugar. Nos levantamos e começamos ir para a saída, quando alguém o chamou.

– Jake Bugg? – uma garota ruiva e com sotaque americano falou no microfone da banda. Todos olharam para nós no momento em que abrimos a porta do telhado.

– Parece que temos uma celebridade aqui, pessoal. Jake, por que você não sobe aqui e toca alguma coisa com a nossa banda? – todos começaram a concordar e a cara de Jake ficou péssima.

– Toque alguma coisa para mim. – pedi antes que ele me puxasse para a saída. Jake me olhou por alguns segundos e depois olhou para a plateia. Ele suspirou e subiu no palco improvisado. As pessoas ajeitaram as cadeiras e se sentaram de frente para o palco. Eu fiquei distante, no fundo da multidão, de pé.

Jake afinou um violão que entregaram a ele e ajustou o microfone. Todos ficaram em silêncio. O violão começou com uma melodia suave e depois a voz dele começou a complementar a canção. Reconheci como uma das músicas que Liv estava cantarolando no dia anterior. Ela não falava sobre amor dessa vez, falava sobre escapar do lugar onde você estava preso e se sentir livre. Era linda do mesmo jeito, talvez até mais, pois era tão pessoal.

Todos começaram a aplaudir quando ele terminou, e a pedirem mais. Jake apenas agradeceu e disse que precisava ir embora. Algumas pessoas pediram fotos e autógrafos, então dez minutos depois estávamos fora dali.

– Você foi ótimo. – o incentivei.

– Obrigado. Eu não estou tão sóbrio quanto gostaria, então não tenho certeza disso.

– Pare de ser tão duro consigo mesmo.

– Tudo bem. O que você quer fazer agora?

– Quero tomar chá. – olhei para ele e me surpreendi com a intimidade de seu olhar. Era como se ele estivesse tentando me ler.

– Eu conheço um lugar.

– A essa hora? Eu estava brincando.

– Você quer tomar chá, vamos tomar chá. – Jake pegou minha mãe e voltamos a correr.

Ele não estava brincando quando disse que conhecia um lugar. Nós voltamos para o centro da cidade e paramos na frente de uma loja em uma esquina. A fachada era toda pintada de vermelho escuro e as paredes externas eram cobertas de vidraças, para que os clientes pudessem ver a rua. Olhei o interior e não avistei ninguém. O lugar parecia fechado a horas, como tudo naquela rua. Jake ligou para alguém e cinco minutos depois, uma mulher que lembrava a minha avó apareceu e abriu a porta para nós.

– Jake! Quanto tempo. Oi para você também – a senhora me deu um abraço de urso.

– Ele costumava vir aqui quase todas as noites, mas de um tempo para cá, não veio mais. Eu sei, você disse que estava ocupado no estúdio, mas podia ter dado uma passadinha aqui. Vamos torcer para que você coloque algum juízo na cabeça dele – ela apontou para mim e eu corei. Jake pigarreou.

– Nina, essa é minha amiga Maya. Maya, essa é Nina. Ela é dona desse lugar. – ele nos apresentou e apertamos as mãos.

– Desculpe por acorda-la a essa hora.

– Vocês não me acordaram, uma vez por semana, eu fico acordada para falar com a minha filha que esta no Japão, então está tudo bem. O que vocês vão querer?

A loja por dentro parecia uma casa de bonecas. As mesas eram perfeitamente colocadas para que quando alguém saísse da cadeira, não batesse na pessoa ao lado. As toalhas eram de renda branca e no fundo, um armário guardava todas as caixinhas de chá, deixando a mostra para que os clientes escolhessem. Jake me levou até um balcão que tinha mais bolos e bolinhos do que eu poderia contar.

– Vou querer chá de camomila.

– Vou querer o mesmo. Nina, nós queremos também alguns bolinhos de chocolate e aquele com sorvete de recheio.

– Vou preparar a mesa para vocês.

– Não precisa. Não vamos comer aqui.

– Tudo bem – Nina voltou para a cozinha, nos deixando sozinhos na loja vazia.

– Bolinho de sorvete, nesse frio?

– É a melhor época de se comer sorvete. Ela não vai derreter e o chá quente não vai deixar que fiquemos com frio.

– Com certeza. – sorri.

Nina voltou dez minutos depois com um saco grande de papelão e nossos copos. Ela não deixou que pagássemos, alegando que estava contente com o ato de que Jake tinha voltado, e dessa vez com uma garota. Eu corei mais ainda.

Dessa vez, Jake não quis correr. Nós andamos devagar, bebericando os nossos chás. Jake me contou que conheceu Nina quando se mudou para a cidade. Ele costumava ir para lá quase na hora de fechar e sempre reclamava que eles fechavam cedo, até que um dia, Nina falou que ele podia parecer a hora que quisesse, porque ele aparecia quase todos os dias e realmente parecia gostar de chá.

Entramos em uma bairro residencial e a postura de Jake relaxou um pouco. Ele realmente não gostava de paparazzis e talvez ali, ele se sentisse seguro, com todas aquelas casas abrigando famílias dormentes.

Nós andamos por alguns minutos em silêncio, até que chegamos onde Jake queria me levar. Ao lado de uma casa grande, daquelas que aparecem com frequência em filmes, havia um campo aberto. A grama estava aparada e o lugar me lembrava um tipo de praça, na qual as crianças gostavam de brincar. Um balanço brilhava solitário no meio do mato verde e era quase como se ele estivesse nos convidando a chegar mais perto. Eu dei uma risada e os olhos de Jake brilharam, como se essa fosse a reação que ele esperava.

– Vamos lá. – ele puxou a minha mão e me guiou até o balanço.

Sentei no banco de metal frio e segurei nas correntes prateadas. A última vez que eu tinha brincado em um parquinho, foi quando eu tinha oito anos e minha mãe me levou no centro da cidade.

As mãos frias de Jake se apoiaram nas minhas costas e senti uma onda de calafrios que não tinha nada a ver com o clima. Ele estava mais perto do que eu imaginava. Pude sentir seu hálito quente na minha orelha contando até três e depois ele me empurrou. Fechei os olhos e tirei meus pés do chão. Nesse momento, eu senti tudo. Senti o vento frio batendo no meu rosto, o frio na barrida quando o balanço subia, pude ouvir os grilos ao longe, a risada baixinha do garoto bonito que me empurrava. Me senti quase viva.

Pulei do balanço e me deitei na grama úmida do sereno. Jake se deitou ao meu lado e me passou um bolinho de sorvete. Ele estava certo. A massa estava quente nas minhas mãos, mas o sorvete de morango não derretia, nem perdia o sabor. O olhei para agradecer e ele me encarava.

– Você nunca me disse o que vai fazer na faculdade. – ele sussurrou tão baixo que quase duvidei que ele tinha falado alguma coisa.

– Escrita criativa – respondi no mesmo volume.

– Uma escritora, então. – ele estava chegando mais perto.

– Esse é o plano.

– Suas aulas começam na segunda? – ele estava quase perto o suficiente para que eu sentisse o cheiro de seu perfume.

– Eu tenho um mês de aulas preparatórias, mas as minhas aulas mesmo só começam em setembro. E a sua turnê?

– Daqui a alguns meses eu viajo. Talvez em junho, ou no final de maio, ainda não me decidi. – Jake estava tão perto que eu nossos narizes estavam quase se tocando.

– Deve ser legal viajar o mundo.

– É sim. Quer saber de uma coisa?

– É para isso que estou aqui. – eu podia sentir o calor de seu hálito quando ele falava.

– Eu gosto de conversar com você, Maya. E eu não gosto de conversar com ninguém. – ele se aproximou o suficiente para me beijar.

– Vocês ai! – alguém gritou da janela da casa ao lado, nos assustando. Jake pulou na hora e eu me levantei. Tínhamos esquecido de onde estávamos e fiquei vermelha instantaneamente. Jake olhou para mim e a pessoa continuava a gritar algo da janela. Ouvimos uma porta abrindo e Jake pegou a minha mão.

– Corre. – ele gritou e corremos até acharmos um táxi, enquanto o sol nascia no horizonte.


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Notas finais do capítulo

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