Contraposição escrita por Blue Butterfly


Capítulo 25
Capítulo XXV


Notas iniciais do capítulo

E chegamos ao último capítulo. Obrigada por acompanharem toda a história =D



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'Maura?' A voz grave de Jane ressoou pelo corredor da casa, acompanhando o barulho de roupas sendo jogadas na máquina de lavar. Ela franziu as sobrancelhas ao parar no vão da porta e colocou uma mão na cintura em completa confusão. A médica estava vestindo apenas uma lingerie preta, parecendo agitada demais. Intrigada, a morena deu um passo para dentro do quarto mas a loira ergueu as mãos em sinal de impedimento.

'Não chegue perto de mim.' Ela disse irritada, as mãos ainda no ar enfatizando o quão ela estava falando sério.

'O que... O que eu fiz?' A detetive recuou um passo para trás, uma leve onda de medo percorrendo seu corpo. Ela tinha feito algo de errado? Quer dizer, ela tinha se livrado da almofada manchada de ketchup e substituído por uma identica. Isso tinha sido duas semanas atrás, e se Maura fosse desconfiar da mudança, teria sido logo no primeiro dia e não agora.

Maura trocou o peso do corpo sobre os pés e lambeu os lábios. A irritação tinha sido derretida em insegurança. De repente seus olhos se encheram de lágrimas e ela começou a falar sem parar.

'Essas crianças! Eu tento ensinar algo para elas e de nada adianta!' As mãos caíram do lado de seu corpo em frustração e Jane arregalou os olhos. Certo. Uma turma de alunos tinham ido visitar a delegacia naquele dia. Aparentemente isso tinha afetado Maura desse jeito. Ela achou melhor não interromper o discurso da outra.

'Elas só estão interessadas em ver gente morta. É claro que isso é inaceitável. O governador me demitiria no mesmo instante se acontecesse de um dos pais saberem sobre esse absurdo. Tudo que eu ouvi foi protestos por não deixá-los ver cadáveres.' Ela enfatizou a última palavra como se imitando uma das crianças pronunciando-a. 'E ainda como se não bastasse... Essa menina de repente vomitou no chão. Você sabe o que isso significa? Todas aquelas crianças entraram em pânico, Jane!'

E você também, a morena pensou mas não se atrevou a dizer as palavras em voz alta.

'Ela estava doente e ninguem sabia, até então.' Ela respirou fundo e apontou para a máquina de lavar já funcionando. 'Eu preciso lavar minha roupa e tomar um banho. Eu posso estar infectada, você sabe.'

É claro, aquilo explicava tudo. Se tinha uma coisa de que Maura tinha pavor, era de ficar doente. Jane tentou não sorrir mas aparentemente não conseguiu, porque no segundo posterior Maura fitava-a com um olhar afiado.

'Você não tá doente, querida.' Ela disse calmamente para a mulher e deu um passo a frente, numa tentativa de acalmá-la.

'Não me toque, eu posso muito bem estar e eu não quero transferir isso para você.' Ela recuou e sinalizou com as mãos de novo.

Jane fez um bico e deu de ombros. 'Eu não me importo, é só que eu acho que você não contraiu doença alguma.' Mais um passo, mais uma vez Maura recuou.

'Não. Você não sabe como esses vírus se espalham. Isso é perigoso, Jane.' E era, apenas porque ameaçava sua rotina de trabalho. E nada era mais irritante do que uma Maura proibida de aparecer em seu escritório e necrotério.

'Tá, tá bem. Já que você não quer se aproximar de mim, eu vou ler isso sozinha.' E com um gesto teatral Jane exibiu a revista que trazia consigo, recém retirada da caixa de correio.

'Isso é...?' Maura fanziu o cenho e olhou com dúvida para Jane. Quando a morena sorriu e balançou a cabeça, Maura esticou o braço e sinalizou com a mão para que Jane passasse a revista para ela. 'Me deixa ver.'

'Não.' Ela respondeu provocação e sorriu quando viu Maura abrir a boca em descrença. 'A não ser que você leia comigo. Eu ainda não tive tempo, acabei de pegar. E para ler comigo, você tem que se aproximar de mim.' O sorriso agora havia dobrado de tamanho já que se sentia tão vitoriosa.

'Jane, eu quero ler!' Maura exclamou, mas sua pose de brava nada adiantou para Jane.

A morena esticou o braço com a revista para frente, e quando a médica tentou alcançá-la, num gesto rápido a detetive segurou sua mão e a puxou para si, prendendo-a em seus braços. 'Você só pode ler comigo!' Ela disse enquanto entregava vários beijos no pescoço de Maura que a princípio pareceu resistir, mas depois acabou rindo.

'O que há de errado com você?' Ela disse enquanto segurava nos ombros da morena, tentando se afastar apenas para encará-la.

'Na saúde ou na doença. Se lembra?' Jane brincou e plantou um beijo na bochecha rosada da mulher. Maura riu divertida e devolveu um beijo doce em seus lábios.

'Eu só queria te poupar de uma virose, mas já que você insiste...' Ela inclinou a cabeça e beijou Jane de novo, dessa vez usando a língua enquanto os dedos da morena apertavam sua cintura. Com a distração perfeita, a médica roubou a revista da mão da outra, mas quando achou que poderia escapar do abraço, Jane apertou sua cintura e ela riu alto.

'Não se esqueça de que eu sou a polícia, Maura.' A observação fez a médica rir de novo, e num movimento ensaiado ela pulou e laçou a cintura de Jane com as pernas.

'É você que me prende ou eu que prendo você?' Ela franziu o nariz, achando que o trocadilho não tinha soado tão bem quanto imaginava.

Jane sorriu e beijou seu pescoço. 'Vamos apenas concordar que... Eu gosto de me prender em você, e você em mim.'

'Soa melhor assim, você tem razão.' Maura acariciou getilmente a bochecha de Jane e entregou um novo beijo em seus lábios. 'Agora será que nós podemos ler isso logo? Eu quero saber o que Amanda escreveu sobre nós.'

'Sim, minha senhora.' Jane deu um tapa de leve no quadril da médica e como tantas outras vezes a carregou no colo - dessa vez para a sala mais próxima. Depois de se situarem no sofá - Maura havia sentado entre as pernas de Jane, suas costas apoiadas contra o peito da morena, como faziam toda noite - e a médica, surpreendentemente mais ansiosa do que Jane, folheou a revista até encontrar a página certa.

'Oh, aqui está.' ela disse passando o dedo sobre a folha, quase como se admirando-a.

'Hm...' Jane abraçou sua barriga e apoiou o queixo em seu ombro. 'Vamos ver...'

Foi Maura quem começou a ler em voz alta. 'Esse pode ser um mundo de homens, mas não seria nada se não fosse pelas mulheres.' Maura virou o rosto para Jane e sorriu. 'Eu gosto como ela dá importância a figura feminina, considerando que...'

''Maura! Apenas leia sem comentários, ou eu vou ler sozinha.' Jane resmungou e a ajeitou em seu colo de novo.

A loira revirou os olhos e suspirou, e então murmurou, 'É referência à uma música', e só então voltou a ler. 'Inseridas em um ambiente de trabalho masculino, Detetive Rizzoli e a Médica Legista Maura Isles formam uma dupla indiscutivelmente implacável. A parceria entre as duas se formou há mais de seis anos atrás, e desde então essas mulheres tem colocado centenas de assassinos atrás das grades.'

'Assassinos e malucos, devo dizer.' Jane murmurou com sarcasmo e Maura encolheu o nariz em reprovação.

'Pare de me interromper, Jane. Você mesma disse: sem comentários durante a leitura.' Ela rebateu um tanto brincalhona, ajeitou a revista nas mãos e correu os olhos pelas letras tentando encontrar a mesma linha que havia sido perdida.

Jane não rebateu, apenas abriu um sorriso paciente e observou enquanto a médica continuava a leitura, prestado mais atenção na maneira em que sua voz soava e pronunciava as palavras delicadamente antes de se perder pelo ar. A leitura ela mesma poderia fazer sozinha, mais tarde. Era difícil prestar devida atenção em outra coisa quando Maura estava ao redor. Era hipnotizante: a maneira como os lábios mexiam-se, os gestos preciosos e cautelosos das mãos. Os olhos piscando vez ou outra, se apertando entre linhas de idéias e expressões duvidosas.

'Eu estou definitivamente feliz com isso.' Maura disse enquanto fechava a revista, trazendo Jane de volta à realidade.

Ela piscou os olhos furiosamente e sorriu para a médica. 'Eu concordo, Amanda é uma boa redatora.' Ela disse, mesmo perdendo metade da matéria a respeito de si mesma e de Maura.

'E amiga.' Maura acrescentou com a mesma gratidão que demonstrava desde o dia que Amanda, sem nem mesmo saber, ajudou a trazer de volta o conforto que a médica precisava sentir estando perto de pessoas – e só ela sabia como tinha sido difícil confiar em desconhecidos depois do sequestro.

A morena concordou com a cabeça e ponderou o tipo de amizade que tinham com a jornalista. 'Bem, eu fico feliz que ela tenha parado ali, antes de entregar demais nossa vida pessoal.'

'Oh, você quer dizer depois de mencionar o casamento?' Maura fez um bico e encolheu os ombros. 'Ainda bem que ela publicou esse artigo depois de nos casarmos. Quer dizer... Anunciá-lo por uma revista não era exatamente o tipo de coisa que eu queria fazer.' Ela riu delicamente e acariciou o rosto de Jane.

'Mas você precisa admitir que ela foi bem discreta. Ela não mencionou... Você sabe o quê.' Ela disse timidamente e beijou o pescoço de Maura, em partes para esconder parte do entusiasmo – ela nao queria pressionar a loira – em partes apenas porque ela podia beijá-la quando quisesse, sem desculpa alguma.

A médica deslizou um pouco mais para baixo e apoiou a cabeça no ombro da detetive. 'Isso porque era só uma idéia que foi cogitada numa noite agradável, depois de algumas taças de vinho.' Ela brincou com o botão da camisa azul marinho da outra, numa timidez que não podia ser contida. 'A não ser que... A não ser que você esteja pensando seriamente nisso.' Ela murmurou a última parte e ergueu os olhos para especular o rosto de Jane, ler cada uma de suas expressões.

'Eu não... Eu não...' Ela suspirou. Era algo que ela desejava profundamente, desde que TJ entrara em sua vida – desde que perdera seu bebê. Mas ela não queria que Maura tomassse a decisão por conta de desejos que talvez fossem só da parte dela. 'Você mencionou isso alguns anos atrás, e eu só pensei que talvez você ainda quisesse. Você sabe que... Bem, a escolha é tua.'

Maura se remexeu no colo da morena e depois de hesitar apenas por um minuto, sorriu discretamente. 'Quanto tempo você acha que leva até que a gente consiga adotar um bebê?'

Jane deu de ombros; era algo que ela não fazia a menor idéia, mas ela não conseguiu evitar o sorriso que apareceu em seus lábios. Era a primeira vez que elas falavam abertamente sobre isso. Se naquele jantar com Amanda a idéia parecia algo distante da realidade das duas, agora a conversa parecia ter mais comprometimento com a realidade.

'Eu não sei, não. Mas se você decidir carregar... Bem, um pouco mais de nove meses até que a gente tenha um bebê.' Ela laçou os braços em volta da médica e beijou carinhosamente o rosto.

Maura suspirou e refletiu sobre a idéia por um instante. Sua primeira alternativa era adoção. Ela não estava ficando mais nova com o passar do tempo, e seu trabalho exigia demais dela. Carregar um bebê dentro de si por nove meses a esgotaria, e chegaria a um ponto de que ela teria que se distanciar do trabalho – razão pela qual Jane não iria se voluntariar para engravidar. O trabalho da morena era ainda mais perigoso do que o seu próprio. Mas mesmo assim... Agora que Jane dissera, carregar um bebê parecia tão sedutor, mesmo considerando todo o resto.

Foi então que algo estalou dentro dela. Oh Deus, ela queria um bebê. Ela queria mesmo um ser humano em miniatura dependente dela. Alguém que a reconheceria pelo cheiro e sorriria pelo som de sua voz. Amanda estava certa em dizer naquele jantar, um mês antes, de que ela tinha um instinto maternal. Maura tinha achado que era apenas uma provocação porque elas tinham falado tanto de TJ para a convidada, mostrado suas fotos e contado suas histórias. Mas a quem ela queria enganar? Jane também estava certa. Ela queria um bebê anos atrás, e o desejo só tinha sido esquecido em um canto de sua mente porque o trabalho, a rotina corrida e incessante havia feito com que ela quase se esquecesse desse instinto.

'Você... Você quer que eu o carregue?' Ela murmurou, a pergunta entregando sua decisão final sobre o assunto.

Jane deu de ombros e sorriu. 'Se você decidir por isso. E de novo, Maura, eu não quero que você se decida por mim. Eu vou entender se você decidir contra e nada vai mudar entre nós. Eu espero que –'

'Eu quero.' Ela beijou os lábios de Jane para calá-la. 'Eu quero mesmo.' Ela sussurrou, os lábios colados aos da detetive.

A morena sorriu por um longo tempo, sem dizer nada, encantada demais com o brilho que pareceu brotar nos olhos da médica. 'Então eu assumo que daqui um ano, mais ou menos, nós vamos estar sentadas aqui com um recém-nascido no colo.'

Maura riu e bateu gentilmente a mão na própria barriga. 'Mas antes de sonhar acordada com isso, Jane, nós precisamos nos certificar de que eu posso realmente carregá-lo.'

Num movimento rápido, mas gentil, Jane virou a médica e a dietou no sofá e em seguida beijou diversas vezes seu pescoço, fazendo-a rir desesperadamente. 'Eu não tenho dúvidas de que você pode.'

Maura concordou com a cabeça, mesmo sentindo um arrepio de medo percorrer sua coluna. Ela esperava mesmo que pudesse, porque decepcionar Jane – e a si própria – era a última coisa que queria naquele momento.

'Estamos seguindo a lógica, não estamos? Primeiro o cachorro.' Ela disse e Jane franziu o cenho, até que se lembrou da piada que Amanda tinha feito quando se conheceram. E então ela riu alto.

'Você foi lembrar disso bem agora.' Ela se inclinou para baixo e beijou os lábios da médica, depois sentou-se sobre suas pernas, as mãos segurando gentilmente a cintura da outra. E lá estava ela sorrindo de novo – ela quase não se reconhecia mais, sorrir frequentemente era tudo o que fazia quando estava com Maura – ao imaginar que aquela mesma barriga estaria maior e maior ao decorrer dos meses.

'Eu mal posso esperar para contar para Amanda.' Ela disse com um tom de provocação na voz. 'Aposto que ela vai querer escrever sobre isso também.'

'Oh, Jane!' Maura arfou, indignada. 'Você tá gostando dessa atenção toda, não é? Apenas lembre-se que tua mãe tem que ser a primeira a saber. Caso contrário ela te deserda! E o que é pior: a mim também!' .

A morena fez uma careta, fingindo odiar a menção da mãe, mas abandonou a atuação logo depois, feliz demais para não comemorar o que estava por vir.

Ela estava prestes a se inclinar de novo para beijar Maura, quando a médica levou as duas mãos ao rosto e espirrou. Horrorizada, Jane deu um pulo para trás e arfou alto.

'Oh não.' Ela disse com olhos arregalados – do mesmo jeito como Maura estava. 'Você tá doente. Não fique perto de mim.' Ela ergueu as mãos e inclinou-se para trás, para longe da médica.

Maura apertou os olhos em falsa irritação, laçou a cintura da detetive num movimento rápido e se recusou a deixá-la se afastar ainda mais.

'Você disse que não se importava, Jane Clemintine Rizzoli-Isles!'


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