Contraposição escrita por Blue Butterfly


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu e o grilo falante no meu ouvido - não consigo deixar de escrever uma história quando uma idéia me aparece!



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Você vai matá-la. A voz sussurrava para ela da escuridão. É você quem irá matá-la. Lembre-se disso. Maura soltou um gemido de dor - de medo - e apoiou as mãos no chão antes de abrir os olhos. O rosto estava encostado no chão frio, empoeirado. Você será a ruína dela. O homem continuava sussurrando perto de seu ouvido, mas ela não conseguia se localizar. Ela tinha sido drogada - foi a conclusão que chegara quando avaliou seus sentidos. Eles estavam se entrelaçando em confusão, como se som e cores se misturassem e se perdessem tão longe do distinto. No momento em que ela relar as mãos em você, lembre-se: você acabará com a vida dela. Ela tentou abrir os olhos e procurar a fonte do som. Um homem estava agachado, olhando-a de cima, mas a cabeça estava coberta por um capuz. Ele continuava a falar. Suas palavras vão amaldiçoá-la. Encare-a nos olhos, e ela saberá que é você quem a destruirá.

Um sorriso se materializou por baixo do capuz quando Maura tentou empurrar seu o corpo para cima com as mãos, falhando miseravelmente. Ela não tinha controle de seus músculos ainda. Ele se inclinou para mais perto dela e um cheiro forte de menta invadiu seu nariz. Ou ela estava apenas delirando?

'O que você quer de mim?' Ela conseguiu dizer, ainda que com dificuldade.

'Nada mais.' O homem disse e antes que ela pudesse replicar, um pano novamente fora pressionado em seu rosto, mandando-a de volta para a inconsciência.

...

'Faz doze horas, Korsak. Nós não temos mais... O tempo já acabou...' Jane murmurou com tristeza, a garganta apertando terrivelmente por conta das lágrimas que se recusava a derrubar, do controle que se negava a perder.

'Isso não significa que não iremos encontrá-la.' O homem disse tentando consolá-la, sabendo no fundo que era em vão.

Ela se levantou com um estrondo, batendo a mão na mesa com um soco. 'E de que isso adianta agora, Korsak? Ela pode estar morta! Do que me adianta Maura morta?' Ela disse e sua voz quebrou ao quase gritar a última frase. Ela deveria fazer isso: ela deveria abrir uma janela e gritar sua dor para o mundo, dizer o quão estúpidas as pessoas eram, culpá-los por todo desespero que estava sentindo. Pedir ajuda. Implorar para que todos procurassem por sua amiga, por sua Maura. E talvez ela até rezasse. Talvez cruzasse as ruas em direção à capela que sua família às vezes frequentava e orasse com toda sua força, num pedido simples e humilde, para que trouxessem Maura de volta.

'Jane, nós ainda não sabemos se a hora naquele relógio - ' O mais velho tentou mais uma vez acalmá-la, mas algo lhe dizia que qualquer tentativa seria em vão.

'Foda-se o relógio, Korsak. Nós nem sabemos! Esse é o problema. Nós não sabemos!' Ela se sentou na cadeira de novo e enterrou as mãos na cabeça. As mãos apertavam os olhos com força, tentando conter as lágrimas. 'Eu não acredito que ela pagou um guarda-costas para mim. Era ela quem estava em perigo, Deus...' Ela se sentia extremamente culpada por ter perdido as pistas. Em seu momento de desespero por achar que sua mãe era o alvo, tudo o que conseguiu pensar foi em alcançá-la, levando todos os amigos dela - e de Maura - para seu lado. E então a loira tinha ficado sozinha, não consciente do perigo que corria.

'Isso foi imprevisível, Jane. As ameaças estavam todas apontadas para você.' O homem disse com a voz baixa, esperando que o tom trouxesse Jane de volta a si, mas ainda assim...

'Não. Não é óbvio, Korsak? Isso é uma tortura, mas não me atinge em primeiro grau!' Ela rebateu.

'Jane, seu apartamento foi queimado. Isso já é grave o bastante.' Ele disse, quase se dando por vencido.

'Ele tirou meu apartamento, e depois limpou minha conta bancaria. Ele achou um jeito de se arrastar até mim, eu deveria saber que o alvo não era eu! Korsak, eu deveria ter sabido. Ele poderia ter me machucado antes se quisesse.'

'Isso não significa que ainda não vai, Jane.' Ele suspirou.

'Dane-se!' Ela quase gritou. 'Dane-se! Não era eu quem precisava de um guarda-costas. Era, Korsak? Não!' Ela mesma respondeu a sua pergunta, alterando o tom de novo. 'E agora ela tá sumida, e algo me diz que não é como daquela vez que Paddy a levou. Esse é um perseguidor desgraçado! Ele-ele ainda vai tirar mais de mim. Eu sinto que vai.' O suspiro que saiu de seus lábios foi tremido, e ela sentiu as lágrimas inundando os olhos quando ela checou o relógio mais uma vez e viu que cinco minutos haviam se passado. E nenhuma notícia de Maura tinha chegado.

'Ela ainda está viva.' O homem disse, seguindo seu próprio raciocínio. 'Não faz sentido ele matá-la agora.'

Ela fez um barulho com a boca, deixando claro toda a sua dúvida. 'Como você pode estar tão certo?'

'Porque me parece óbvio que você esteja se comportando exatamente do jeito que ele espera.' O homem velho respondeu com dureza. 'Coloque sua cabeça no lugar. Vá para casa Rizzoli, e não volte até que você esteja mais calma.'

Com a raiva crescente no peito, ela apontou um dedo em ameaça para ele. 'Não se atreva. Eu não vou sair daqui.'

'É uma ordem. Eu sou seu superior.' Ele continuou firme.

'E você é meu amigo também!' Ela exclamou quase em desespero. Ela não queria ir para casa. Ela queria trabalhar para encontrar Maura.

'E é exatamente por isso que dei minha ordem.' Ele disse calmamente, mas sem ceder ao olhar desamparado da outra.

'Eu não vou embora, Korsak.' Ela disse duramente, se levantando. 'Isso é sobre mim, e eu vou ficar aqui.'

'Rizzoli!' Cavanaugh gritou o nome da detetive a pleno pulmões.

Ela se virou, os olhos bem abertos. O homem segurava a porta do seu escritório com uma mão, o dedo da outra apontado para dentro. 'Na minha sala agora.'

...

Você é a isca. Você irá condená-la à morte. A voz riu para ela, mas a risada era fria e distante, metálica, e Maura pensou que talvez ela tivesse confundindo o som com o arrastar de uma cadeira pesada. Os olhos estavam pesados e dessa vez ela não conseguia abri-los. Um toque: morte. Maura trincou os dentes. O que exatamente ele estava fazendo? Uma conversa? Ela morrerá enforcada. Um silêncio tenebroso se instalou então. Ela tentou mexer as mãos e conseguiu trazê-las para perto do rosto. No momento seguinte algo macio tocou seus dedos. Ela respirou o leve perfume de uma flor. Lírio? Ela finalmente conseguiu abrir os olhos e a forma embaçada da flor estava ali, alguns centímetros longe do seu rosto. Um lírio laranjado. Ela levou os dedos para sentir a textura da flor, mas a voz a advertiu. Não a toque. Não reconheça sua presença. O que era tarde demais, porque ela já tinha apertado a flor na mão. Entretanto, ele continuou a falar, e Maura soube que as orientações não era em relação à planta. Não converse. Palavras são sinônimos de morte. Veja: você a amassou com as próprias mãos. Toques são fatais. Não a toque.

Dedos gelados roçaram seu rosto e ela tentou se encolher, recuar por conta do medo. Shhhh. Você é a isca. Não vai morrer. Você a matará, se lembra? Lembre-se disso: você a destruirá. Maura apertou a flor na mão mais uma vez, o cheio forte da planta invadindo seu nariz. Onde ela estava? Ela se lembrava de tão pouco. O que iria acontecer a seguir?

Ela sempre vem por você. É o que esperamos. Assim que ela te tocar - boom! Ela morre. Toque-a.

Ele estava falando de Jane? É, ele estava. Ela sabia e entendia agora. As peças se encaixavam. O caso não concluído, seu sequestro... Tudo tinha a ver com Jane. Ela cerrou os dentes e num acesso de raiva tentou chutá-lo com os pés - mas ele estava fora de seu alcance e riu de seu fracasso.

É sua escolha. Você sabe, você é a ruína dela. Mantenha-na por perto e mate-a.

E mais uma vez um pano foi pressionado com seu rosto, e entendendo claramente o recado, lágrimas morreram no tecido encharcado com clorofórmio.

...

'É a Maura!' Jane disse com a voz controlada, apenas porque ele era seu chefe e só isso.

'E você está perdendo o controle. Coloque a cabeça no lugar e trabalhe corretamente. Se você não consegue separar sua vida pessoal, cai fora.' Ele disse duramente, sabendo que o jogo com Rizzoli era difícil.

'Eu estou tentando, senhor. Fica um pouco difícil trabalhar se o senhor me manter aqui por muito tempo.' Ela retrucou e embora tentasse usar a nomenclatura destinada ao seu superior, ele não deixou de notar certa insolência em sua voz.

'Rizzoli, Deus sabe o quanto tento ter paciência com você. Não abuse da minha hoje, especialmente no dia de hoje, sabendo que um dos nossos está lá fora, possivelmente precisando de ajuda.' Ele suspirou depois de dizer num tom irritado.

'Eu estou tentando trabalhar nisso, senhor.' Ela disse sem sarcasmo ou imprudência.

'Coloque sua bunda fora daqui. E se eu ver você chegar ao ponto de perder a cabeça de novo, te dou uma semana de suspensão.' Ele fez um gesto com a mão quando ela estava prestes a protestar. 'Sem mas. Faça o que foi te destinado.' Ele mencionou a porta e ela deu-lhe as costas, revirando os olhos.

Não era a primeira vez que Cavanaugh a convidada em sua sala para lhe passar um sermão por ter perdido o controle sobre si - e possivelmente não seria a última. Quando ela fechou a porta atrás de si, Nina vinha a passos apressados pelo corredor.

'Nós conseguimos um endereço.' Ela disse, ofegante.

'Você tá falando sério?' O coração de Jane batia mais rápido agora, e seus olhos estavam arregalados.

'Cruzamos alguns dados. Telefonemas, placas de carro, assinaturas. Jane você não tem noção do trabalho que nos deu, mas enfim temos algo. Bom, é o que parece.' Ela dizia enquanto andava agora no caminho contrário, em direção ao elevador. Korsak vinha logo atrás das duas.

'Frankie.' Ele dizia ao celular. 'Chame algumas unidades, temos um endereço. Te mando por mensagem.' Ele terminou de falar assim que as portas se fecharam.

Jane respirava pesadamente, sentindo cada batida do coração ecoar em seu peito. Naquele momento ela se deu conta do quanto queria abraçar a médica de novo, do quanto queria segurá-la nos braços e salvá-la, protege-la, dizer que ela ficaria bem - que elas ficaram bem. Jane queria se desculpar por ter sido desatenta, por não ter lhe passado na cabeça de que a médica era quem estava em perigo. Ela se desculparia quantas vezes fosse preciso para que o sentimento que estava esmagando seu interior sumisse. Mas principalmente, ela queria sentir Maura em seus braços, o corpo macio e delicado contra o dela - o corpo vivo, sua presença que coloria seus dias. Oh, ela precisava tanto de Maura ao seu lado. Ela descansou as costas no elevador e fechou os olhos. Fez uma pequena e apressada oração, desejando com toda sua força de que aquela fosse uma pista concreta, e não outra falsa. Desejando que eles finalmente encontrassem Maura - e que ela ainda estivesse viva.


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