Natanael pôs a mão na base da minha coluna e me empurrou até a mesa. No caminho sussurrou para mim.

–Não deixe que ele faça você sofrer mais. Se ele fizer, me conte que eu cuido dele.

Eu me senti ao lado de Rose, que me olhava como se eu tivesse feito algo errado, Natanael se sentou com meu irmão, e recebeu um soco no braço e logo eles começaram a rir.

Aos poucos o Salão foi se recuperando do choque e voltando ao jantar. Hugo sentado ao lado de Louis me fitava descaradamente. Eu me virei para ele e dei um meio sorriso com uma piscadinha e comecei a comer.

Após o jantar Rose me arrastou até o dormitório e me exigiu detalhes.

–Nós não fizemos nada.

–Você viu a cara que ele fez para Hugo? Pensei que ele iria fuzilar ele ali mesmo. Então posso deduzir que vocês fizeram algo. O que você fez Lily Luna Potter?

–Nada. –Ela me olhou com uma cara de pervertida. –É sério. Eu estava indo até o lago e sem querer esbarrei nele, quando ele viu que eu estava chorando me abraçou e eu encharquei a blusa dele. Dai ele me arrastou até o Salão para comer algo. E foi só.

Ela me olhou com cara de sacana.

–Vou fingir que acredito. –E se jogou em sua cama. –Pra mim você ficou com ele para se vingar de Hugo.

–Não seria má ideia. Ele é lindo, aqueles olhos azuis e aquele cabelo loiro escuro. –Admito eu o achei lindo desde a primeira vez que James levou ele lá em casa. – Consegue ter aquela pinta de malandro, e ser querido ao mesmo tempo.

Ela riu e me apontou um dedo acusador.

–Acho bom cuidar, senão se apaixona de novo.

Revirei os olhos e apaguei a luz do quarto.

**

Eu estava descendo as escadas do dormitório para ir tomar café quando eu cheguei no Salão Hugo estava lá. Eu o ignorei e fui em direção ao quadro, mas ele segurou o meu braço.

–Me solta Hugo. –Falei sem me virar.

–O que você estava fazendo com aquele babaca do Robins?

Eu me virei irritada, sua mão apertando mais o meu braço.

–Não te interessa, até onde sei não te devo satisfação. Agora solta meu braço.

Ele me puxou para mais perto.

–Fique longe dele.

–Fique você longe de mim. Agora dá pra soltar?

–Olha aqui Lily...

–Eu acho que ela mandou você soltar o braço dela.

Natanael desceu a escada.

–E o que você tem haver com isso? É namorado dela por acaso?

–Não. Sou amigo. E se não soltar ela, eu vou quebra seu braço.

Hugo soltou meu braço, e saiu pela abertura.

–Obrigado. –Falei.

–De nada. Ele te machucou?

Puxei a manga do casaco e meu braço estava vermelho onde Hugo tinha apertado.

–Eu vou quebrar ele.

Natanael andou e eu o segurei.

–Não. Deixa para lá.

Ele acenou com a cabeça.

–Mas se ele chegar perto de você de novo ninguém vai me segurar.

Ele não estava brincando. Aquilo era realmente uma ameaça.

**

–ROSE!! VOLTA AQUI. –Malfoy corria atrás de Rose que nem um louco.

–VÁ SE FODER MALFOY. –Ela levantou um dedo do meio para ele e me puxou pelo braço para o banheiro feminino.

–O que aconteceu agora? –Eu perguntei me encostando em uma das pias.

–Aquela piranha da Parkinson. –Ela chutou a porta de um box e Murta saiu de lá.

–O que você pensa que esta fazendo? Eu vou contar para a diretora.

–Não encha Murta. Por que não vai nadar com os sereianos um pouco e larga do nosso pé?

Murta começou a chorar e entrou em uma privada a fazendo espirrar água e molhar nossos pés.

–Fantasma idiota. –Rose resmungou.

–Pegue leve com ela.

–Desculpa, é que Rebeka me deixa irritada.

–E aí o que aconteceu?

–Eu estava esperando o Malfoy na porta da sala, eu estranhei a demora dele e entrei para ver. Quando eu entrei a Parkinson tava praticamente esfregando a bunda nele e ele não afastou ela.

–O que ele estava fazendo enquanto ela tava sendo puta?

–Ajuntando um livro que caiu. E ela com a bunda na cara dele.

–Ele olhou para a bunda dela?

–Não. –Ela abaixou a cabeça.

Eu revirei os olhos.

–Vai logo.

Ela saiu correndo a procura de Scorpius. Eu fiquei dentro do banheiro um pouco mais, vendo minha imagem refletida. Eu estava com olheiras, olhos meio avermelhados, parecia que eu tinha chorado por dias a fio e ficado dias sem dormir. Isso não estava aqui há três dias.

Eu percebi que a Lily que se cuidava tinha sumido. Aquela Lily que usava maquiagem e fazia Babyliss para ter cachos perfeitos, eu parei de fazer tudo a pedido de Hugo. Ele disse que me amava sem nada daquilo e que me preferia assim. Eu decide que eu ia voltar a ser a velha Lily. E até melhor.

Sai do banheiro e fui em direção a mais uma aula. Jessica passou por mim sorrindo e conversando com uma amiga. Sem querer ouvi parte da conversa.

–Ele me ama, Katie. Me ama.

–Vocês podem ser felizes sem a Weasley perto.

Acho que ela não percebeu que a “Weasley” estava escutando. Senti as lágrimas instantes antes de elas caírem. Me esgueirei para uma sala vazia, escorreguei pela parede até o chão e chorei.

–Lily? Você está aí? –Alguém batia na porta delicadamente.

–Quem é? –Disse com a voz embargada pelas lágrimas.

–Natanael. Posso entrar?

–Pode.

Ele abriu uma fresta da porta e entrou. Ele se sentou ao meu lado, eu sequei as lágrimas com as costas da manga do casaco.

–Temos que parar de nos encontrar assim. –Ele brincou.

Eu sorri.

–Você fica linda sorrindo. Deveria fazer mais isso.

–É meio difícil quando seu coração está partido em dois.

–Se eu consigo aposto que você consegue.

Eu olhei para ele, e seu rosto estampava uma dor, antiga até, e aquilo doeu em mim.

–Quem partiu seu coração?

–Você não conhece ela.

–Faz tempo?

–Faz. Muitos anos.

–Você sente até hoje?

–Não é fácil esquecer quando eu há vejo todo dia. Com outro.

Algumas lágrimas correram por seu rosto, ele rapidamente as limpou e me deu um sorriso. Ele chorou, jamais tinha visto um garoto chorar.

Ele se levantou e me estendeu a mão.

–Vem. Quero te mostrar uma coisa.

–Mas e a aula?

–Bom eu já perdi a minha e você?

Aceitei a mão dele sem falar nada.

Ele me puxou até uma parte do lago que ficava a beira da Floresta Proibida, onde ninguém podia nos ver.

–Fica olhando para o lago.

A água começou a brilhar, um brilho dourado e vermelho, pequenos fios de água se levantavam com se tivessem vida própria e vinham em minha direção. Eles dançavam de um lado para outro, alguns formando um belo arco e dos fios restantes um leão se formou ele passou pelo arco e se ergueu nas patas traseiras. Igual ao leão no brasão da Grifinória.

–É lindo. –Eu disse deslumbrada.

Aos poucos o leão e o arco se desfizeram. E apenas o brilho ficou.

–Eu descobri isso à quase um ano. Eu ficava aqui para matar aula, e em uma dessas vezes o leão apareceu. E eu notei que ele aparecia apenas quando alguém esta triste ou com medo. Trouxe James aqui várias vezes, ele zombava de mim dizendo que eu tinha visto coisa, mas, uma vez ele viu. E reagiu igual a você.

Eu estava sem palavras.

–Cada casa vê seu animal símbolo quando sente algo que contraria as características da sua casa. Lily, o leão não é nosso símbolo à toa. Ele significa força e coragem. E ele apareceu para te mostrar que você é uma Grifina, e que você é forte.

Ele estava certo eu era uma Grifina. Eu era uma Potter. Eu era forte.