Looking The Stars escrita por Kaori Sayuri


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem dessa one-shot. É a terceira fic que escrevo, mas uma eu já exclui, tanto do site como do computador. Bom, vamos ao que interessa. Boa leitura.



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Eu era apenas uma garota normal. Bem, eu quase não ficava em casa. As brigas eram constantes. Meus pais já eram separados, não eram eles que brigavam. Era eu e minha mãe que discutíamos todos os dias. Já havia virado rotina.

-Ei, Yasmim. –chamou minha mãe, Eliane, quando me viu voltando para casa depois de mais uma saída.

-O que foi? –perguntei fria, só de ouvir a voz dela já me irritava.

-Você não vai ajudar a limpar a casa?

-Eu sou sua empregada por acaso?

Eu sei que ajudar de vez em quando não mata, mas eu limpava aquela casa todo dia e sem ajuda. Sempre que eu sujava alguma coisa, já limpava. Ela não. Se precisasse, ela deixava o lugar sujo por um ano só para que eu limpasse.

-Você tem que me ajudar de vez em quando! –disse ela berrando, iniciando mais uma discussão.

-Ajudar?! De vez em quando?! Só pode ser piada. Sou em quem limpa essa casa sem ajuda de ninguém, sem ouvir um “obrigado” sequer a mais de cinco anos. Cansei disso.

-Você só vem para casa para comer e dormir. É mais do que sua obrigação limpar a casa.

-Agora é obrigação limpar, antes era só ajudar...

-Não me interrompa! Você não paga aluguel nem nada. Devia arranjar um lugar para morar. Eu queria ver você se virar sozinha.

-Ta bom, então. Tchau. –eu disse batendo a porta com força.

Não. Eu não tinha lugar para ir. Meu pai estava viajando. Dinheiro? Eu não tinha o suficiente, só me restavam alguns trocados. Amigos? São nessas horas que a gente percebe quem são realmente nossos amigos.

Eu caminhei pela cidade, sem rumo algum. Sem perceber, a noite chegou. A fome também. Fui a uma padaria e parei numa praça para comer o sanduíche que havia comprado. A noite estava tão estrelada. Eu adoro quando o céu fica assim, sem nuvens. Meus pensamentos, infelizmente, não estavam assim. Estavam nublados, parecia que minha cabeça iria estourar.

O tempo foi passando. Eu fiquei ali no banco da praça. Estava frio. As ruas foram ficando vazias. Mais nenhuma alma se encontrava naquele local.

Já passava das 23 horas quando eu vi alguém, distante, me observando. Era um homem, com um sobretudo preto. Eu não sabia o que ele queria, mas como estava sozinha fiquei com medo. O homem começou a se aproximar, na verdade ele parecia ter lá os seus 20 anos. Ele tinha um topete, usava maquiagem bem escura nos olhos e, pelo que pude ver, também pintava as unhas.

-O que você quer? –eu disse me levantando e me afastando dele, que se aproximava cada vez mais.

-Não, não vá embora. Não precisa ficar com medo. Eu não vou te fazer nada. –ele disse com uma voz tão linda, delicada, que me fez arrepiar.

-O que você quer? –repeti.

-Eu sempre venho aqui a essa hora para ver as estrelas. Eu acho as noites assim tão lindas. Você não acha? –falou ele olhando para o céu.

-Acho. Mas, por que você estava me olhando? Eu estou no seu banco? –disse rindo.

-Não. –ele disse também rindo. Um sorriso lindo. –Eu estava pensando no que você estaria fazendo aqui a essa hora e sozinha... –ele falou se sentando no banco.

Como por impulso, eu me sentei ao lado dele.

-Bom, como eu não tenho para onde ir...

-Não tem para onde ir?

-Não. Minha mãe e eu brigávamos muito e hoje ela praticamente me expulsou de casa. Meu pai está viajando, só volta daqui a um mês e amigos verdadeiros acho que nunca tive...

-E namorado?

Eu ri.

-Que foi? –ele perguntou com uma expressão facial tão boba, mas tão linda.

-Eu não tenho namorado.

-Hmm, certeza? –ele pediu sorrindo.

-Sim. –respondi também sorrindo. –Ei, eu estou aqui falando da minha vida e nem sei o seu nome.

-É mesmo. Meu nome é Bill e o seu?

-Yasmim. Mas e você? O que conta?

-Ah, sei lá. –ele disse rindo. A cada minuto eu me encantava mais por ele. –O que você quer saber?

-Você tem namorada? O que faz da vida? Por que esse visual diferente?

-Nossa! Calma. –ele disse mais uma vez rindo.

-Ah, você que pediu o que eu queria saber. E ainda tem mais perguntas.

-Ta. Primeira: não. Segunda: sou vocalista de uma banda...

-Por isso parecia que eu já tinha te visto. –eu o interrompi. –Continua.

-Terceira: eu gosto desse visual. Você não gostou?

-Não, não é isso. Ao contrário, eu amei. Mais perguntas... O que você gosta em uma garota? Você acredita em amor à primeira vista?

-Você ta ficando interessada ein? –ele disse mais uma vez rindo. –O que eu mais gosto em uma garota é que ela me faça rir.

Eu sorri.

-E sobre acreditar em amor à primeira vista?

-Depois de hoje não tem como não acreditar.

Ele tocou meu rosto com as mãos frias, por causa do clima, o que me fez arrepiar de novo. Eu fechei os meus olhos e ele passou a acariciar delicadamente meu rosto. Abri os olhos e ele passou as mãos para a minha nuca. Eu toquei o seu rosto com as pontas dos meus dedos, depois, delicadamente, estiquei as palmas das minhas mãos em seu rosto. Então, com a benção das estrelas, nós nos beijamos. Começou com o toque gelado dos nossos lábios, depois a sua língua pedindo passagem em minha boca. A massagem delicada que a língua dele fazia na minha completou aquele beijo demorado.

Nós distanciamos nossos rostos, ele retirou, rapidamente, as mãos da minha nuca e se virou, fazendo com que eu retirasse minhas mãos do seu rosto.

-Me desculpe. –ele disse sem olhar para mim, fitando o chão.

-Não, não se desculpe por isso.

Ele virou para mim e sorriu.

-Você pretende dormir aqui?

-Como eu já disse, não tenho para onde ir.

-Agora tem. –ele falou se levantando e estendendo a mão para mim.

Eu, sem hesitar, peguei na mão dele e nós fomos para a sua casa. Ele morava com o irmão, mas o mesmo estava dormindo. Bill me mostrou aonde eu iria dormir e se despediu.

Na manhã seguinte, eu acordei pelas 10 horas. Os dois irmãos já estavam acordados.

-Eu já vou ta, Bill. Obrigada por tudo. –disse quando encontrei os dois tomando o café-da-manhã.

-Não Yasmim, você fica. –disse ele.

-Não Bill, eu preciso procurar um lugar para ficar.

-Você é a Yasmim então? –falou o irmão dele, Tom.

-Ah sim, me desculpe por não me apresentar.

-Que nada, mas sobre um lugar para você ficar, o Bill me contou tudo e nós concordamos em deixar você ficar aqui.

-Não. Obrigada, mas eu não posso aceitar.

-Pode sim, por favor. –insistiu Bill.

-Ta bom, mas só mais um dia.

-Uma semana. –falou Bill sorrindo.

Bom, eles conseguiram me convencer a ficar uma semana lá. Eu só fui para casa para pegar umas roupas, mas nem falei com a minha mãe. Ela não estava em casa, mas eu ainda tinha uma cópia da chave.

A semana passou rápida. Eu e o Bill íamos todas as noites àquela praça para vermos as estrelas. Incrivelmente nenhuma das noites era nublada. E sempre, na praça, nós acabávamos nos beijando e ele pedindo desculpas logo em seguida. Eu não entendia o porquê. Nós estávamos apaixonados, então por que pedir desculpas?

Na sexta-feira eu fui para casa. Bill me convenceu a tentar falar com a minha mãe. Ele e Tom iriam viajar no fim de semana e o Bill e eu combinamos de nos encontrarmos na praça segunda à noite.

Eu e minha mãe nos entendemos e não brigamos mais. Eu estava muito feliz. Não via a hora de me encontrar com Bill e contar-lhe.

Chegada a noite de segunda, eu fui para a praça esperar ele por lá, no mesmo banco do primeiro dia que a gente se encontrou. Aquela noite estava nublada, não dava para ver nenhuma estrela.

Quando chegou a hora marcada, eu não vi ele, mas o irmão dele, que caminhou cabisbaixo até mim.

-O Bill pediu para que eu te entregasse isso. –ele falou me entregando uma carta e deixando lágrimas caírem.

Tom logo foi embora. Eu abri a carta rapidamente.

Eu não podia acreditar no que tinha lido, não podia ser verdade. Eu o amava muito.

Lágrimas insistiam em cair dos meus olhos. Logo começou a chover. As gotas de água gelada escorrendo pelo meu rosto me lembravam os primeiros toques das mãos dele em minha face, agora, salgada. As gotas escorrendo pelos meus lábios me lembravam o primeiro toque dos nossos lábios, o primeiro beijo. Eu fiquei na praça, sentada no banco, pensando em tudo que aconteceu com a gente. Pensando nele, nas estrelas.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Mereço reviews? Bjss